O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Movimento Consulta Popular: das origens à formação de uma organização política


Deu no Instituto Humanitas Unisinos:
Entrevista especial com Ricardo Gebrin

Em 1997, alguns setores de esquerda resolveram se reorganizar em busca de uma maior unidade na sua luta. Depois de algumas conferências, para sistematizar as idéias e propostas construiu-se um Projeto Popular para o Brasil. Surgiu, então, o Movimento Consulta Popular, ao qual aderiram militantes de movimentos sociais contra a chamada “esquerda eleitoral”. IHU On-Line entrevistou, por e-mail, Ricardo Gebrim, membro da Coordenação Nacional do Movimento Consulta Popular.

Gebrim narra as origens do movimento e a sua constituição numa organização política. Gebrim fala, ainda, sobre o que chama de Revolução Brasileira e sobre o governo Lula. “O governo Lula é um fracasso histórico do ponto de vista da perspectiva da transformação social”, afirma.

Ricardo Gebrim começou como militante político em 1978 com a reconstrução da UNE. Militou também na Solidariedade com a Revolução Nicaragüense e foi assessor jurídico do Departamento Rural da CUT. Atualmente, é Presidente do Sindicato dos Advogados de São Paulo e membro da Coordenação Nacional do Movimento Consulta Popular. É formado em Direito pela PUC-SP.

Confira trechos da entrevista:

IHU On-Line - Como, onde e quando surge o Movimento Consulta Popular?

Ricardo Gebrim - O início dos anos 1990 foi marcado por uma nova fase na luta de classes. A derrota eleitoral para Collor (1), a nova correlação de forças no plano mundial com o fim da União Soviética (2) e das experiências socialistas no leste europeu, a ofensiva neoliberal do governo FHC e a derrota do movimento sindical na greve dos petroleiros em 1995 conformam um conjunto de eventos marcantes que anunciam o início de um longo período de descenso da luta de massas. Neste contexto, o sucesso da marcha nacional realizada pelo MST em abril de 1997 reacendeu muitas esperanças. Muitos militantes buscavam o MST, desgostosos com os rumos que a esquerda brasileira ia tomando. A Consulta Popular surgiu em dezembro de 1997, numa Conferência Nacional realizada em Itaici. Foi numa plenária convocada pelos movimentos sociais, em especial pelo MST, que reuniu pouco mais de trezentos militantes de várias regiões do Brasil. As idéias centrais que empolgaram o debate foram, por um lado, a necessidade de se resgatar um Projeto Popular para o Brasil e, por outro, a compreensão de que um ciclo político da esquerda brasileira já dava sinais de esgotamento e exigia todo um esforço de refundação, tanto no plano teórico e ético quanto no plano da ação e proposta organizativa. Nos primeiros anos, nossa grande tarefa foi a de estimular e multiplicar os militantes que não foram tragados pela crise ideológica que se disseminou no início dos anos 1990. Em 1999, viemos a público com a Marcha Popular pelo Brasil (3), um feito memorável que constituiu um grande exemplo pedagógico. Avançamos muito no trabalho de formação política e participamos de lutas importantes que possibilitaram avançar num projeto organizativo.

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IHU On-Line - Outro tema importante nos debates da III Assembléia foi o da categoria “sujeito político”. A que decisão a Assembléia chegou? Quem é hoje o “sujeito político” da transformação da realidade brasileira?

Ricardo Gebrim - Compreendemos que o mais adequado é falar em “sujeitos sociais coletivos”. Realmente, este foi um debate intenso e que permaneceu incompleto. Os últimos anos foram marcados por alterações significativas no mundo do trabalho e precisaremos nos esforçar muito para entender as conseqüências geradas por este processo. Temos claro que os sujeitos sociais se constroem na luta e a luta constrói os sujeitos. Temos claro que o sujeito social é o proletariado, mas o debate nos mostrou a complexidade da atual configuração deste proletariado. Compreendemos que é preciso saber diferenciar o que é um setor dinâmico, com maior capacidade de luta, e o que é um setor cujas condições materiais de existência possibilitam a construção de uma proposta socialista. Nossa principal conclusão neste debate é que a construção do Projeto Popular nos coloca o desafio de construir a unidade de classe entre os trabalhadores formais, com os trabalhadores em tempo parcial, precarizados, subproletarizados e desempregados. Desse modo, iremos estimular as lutas que possibilitem a construção desta unidade.

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IHU On-Line - Internacionalmente, de quem o Movimento Consulta Popular se sente mais próximo?

Ricardo Gebrim - Reconhecendo nossos limites e fragilidades, queremos estar ao lado das forças anticapitalistas e de todos os setores que lutam contra o imperialismo. Em nosso continente ocorreram, nos últimos anos, importantes vitórias. Elegemos governos antineoliberais, derrotamos a proposta da ALCA (4) e, por diversos momentos, frustramos as tentativas estadunidenses de ampliar suas bases militares. Durante a campanha continental contra a ALCA, participamos de uma importante frente que aglutinou as principais forças populares e organizações sociais de nosso hemisfério. Somos muito otimistas em relação a propostas como a ALBA – Alternativa Bolivariana (5) para os Povos das Américas, que busca integrar todos os povos, países, governos e movimentos sociais que lutam por uma alternativa popular no continente americano. Temos claro que somente a ampliação dos movimentos de massa e o reascenso das lutas no plano continental possibilitarão uma nova ofensiva da classe trabalhadora que altere a correlação de forças. Estamos próximos de todos que lutam contra o império.

Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_entrevistas&Itemid=29&task=entrevista&id=8819

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