O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910
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terça-feira, 4 de março de 2008

A realpolitik de Uribe, golpe certeiro

Deu no Ralações Internacionais:
Tente imaginar guerrilheiros anti-Chávez escondidos na floresta amazônica, para lá da serra do Caparaó, em algum lugar de Roraima. Imagine se, por isso, o presidente venezuelano ordenasse uma incursão de tropas da Venezuela através da fronteira, usando seus recém-comprados jatos Sukhoi para dizimar a oposição armada, em pleno Brasil. Que grita não haveria por aqui, hein? E com razão.

Como a estridente agressividade de Chávez o transformou em vilão da vez na imprensa estabelecida, não vão faltar comentaristas que defendam como aceitável a invasão do território equatoriano por tropas da Colômbia, para um sensacional ataque aos guerrilheiros das Farc. É inaceitável. O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, está errado nesse episódio, e cabe ao Brasil condenar o desrespeito das Forças Armadas colombianas aos limites territoriais com o Equador.

Ah, o Equador e a Venezuela abrigam guerrilheiros em seu território, usado como refúgio seguro de onde partem agressões à Colômbia? O direito internacional prevê isso, e há instituições na América do Sul e na comunidade internacional para denunciar esse tipo de ação. Uribe poderia denunciar a conivência das autoridades vizinhas,e teria justo direito de cobrar apoio do Brasil nisso. Errado seria o Brasil não apoiá-lo caso agisse assim.

Não acredito em guerra nos Andes. Acuado pela tremenda crise econômica que seu modelo voluntarista criou, Chávez, claro, aproveitará a oportunidade para apontar mais um inimigo comum da sociedade venezuelana, o Uribe lacaio do Império, que invade os vizinhos na repressão aos opositores guerrilheiros. Se o discurso colar, a beligerância na retórica chavista vai ser ensurdecedora. E inócua, como costuma ser. Não há fato concreto que apóie algum tipo de conflito armado entre os dois países, e nem Uribe nem Chávez ~estão dispostos a serem o primeiro a jogar a pedra do outro lado.

Rafael Correa, do Equador, fez o que devia fazer, retirou seu embaixador de Bogotá, chamou o embaixador colombiano para exigir explicações, acusou Uribe de agressão. Tem um problem,a constrangedor a resolver, se forem verdadeiros os documentos capturados pelas forças de segurança colombiana, que mostram um estreitamento de relações entre as Farc e o governo equatoriano. Conversas com Raul Reyes, o vice-comandante e porta-voz das Farc morto na invasão, não são suficientes para dizer que Correa era conivente com a guerrilha. Reyes era o "embaixador" das Farc, e todos os países da região buscam contatos, sigilosos ou não, com as Farc para tentar um acordo de paz e desmobilização da guerrilha. Mas podem surgir outtros documentos comprometedores, e a posição do Equador tornar-se, no mínimo, incômoda.

Uribe agiu erradamente, mas deu um golpe de mestre. O governo colombiano (e outros, no continente) trabalha com a informação de que Marulanda, o grande chefe das Farc, está doente, e os grupos guerrilheiros enfraquecidos e sujeitos à desagregação. Com a invasão do Equador, matou não só o segundo no comando, como um dos principai8s ideólogos da guerrilha, Guillermo Enrique Torres, o "Julián Conrado". Sabiamente, já visou que não enviará tropas à fronteira, para onde Chávez e Correa dizem ter enviado regimentos armados. Menor o risco de algum incidente ter desdobramentos incontroláveis.

Na Colômbia, a esquerda já pede moderação. No Equador, porta-vozes das Forças Armadas informam que entregarão ao governo colombiano as três guerrilheiras que foram apenas feridas no ataque, e que estão em tratamento em um hospital militar na região. O Brasil _ país que vendeu à Colômbia os jatos (correção, a pedido do hermenauta: turbohélices! turbohélices!) usados no ataque, aliás, os nossos bravos Supertucanos _ pode ajudar a desarmar os conflitos, mas não pode cair na retórica chavista nem ignorar que Uribe transgrediu normas sagradas no convivio entre nações.

Correa, como Chávez, também passa por maus momentos na economia: inflação em alta, queda de investimentos, aumento do desemprego e desaceleração do produto interno bruto. POde querer aproveitar o incidente para desviar atenções da incomodada opinião pública equatoriana. Ou pode ter interesse em aplcara logo a crise, para concentrar-se na recuperação econômica.

Para o Brasil, além do desafio diplomático, o que sobra é o melancólico pesadelo em que se tornou o sonho de integração sul-americana. Se conseguir escapar das armadilhas políticas, o governo brasileiro pode até comer a crise pelas beiradas, tocando bilateralmente os projetos de infra-estrutura, de coperação técnica e econômica com os vizinhos, à espera de um melhor momento para falar em algum projeto continental.

Fica evidente, nesse momento, a posição privilegiada do Brasil, construída com a diplomacia condescendente dos últimos anos: o país é o único que tem franca interlocução e livre acesso em todos os governos do continente. A questão é, ainda, saber o que fazer com esse patrimônio.

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2º clichê: Na CBN, o especialista da Unicamp coronel da reserva Geraldo Cavagnari ressalta um fator importante para entender por quê é improvável que o envio de tropas à fronteira seja mais que um ato histriônico de Chávez: apesar da histeria em torno do armamentismo venezuelano, as Forças Armadas colombianas ainda são muito mais fortes e preparadas que as venezuelanas ou ecuatorianas. E têm as costas aquecidas pelos Estados Unidos. Os EUA endossam qualquer ato ofensivo contra a guerrilha apoiada pelo narcotráfico (ainda que Uribe tenha manchas sérias no passado, no que diz respeito a relações com o tráfico) , e adoriariam esse pretexto para desmoralizar o poderio bélico chavista.

Chávez, apesar do que dizem, não é bobo, burro ou maluco. E é militar, entende de estratégia. Não se lançaria num embate suicida.
Extraído de http://ralint.blogspot.com/2008/03/o-golpe-certeiro-de-uribe.html

domingo, 23 de setembro de 2007

Chávez, Virgílio e o império

Deu na Agência Carta Maior:
Por Gilson Caroni Filho - do Rio de Janeiro

Os tucanos costumam dizer que o Mercosul está estagnado pelas diferenças político-culturais entre seus parceiros, pela assimetria entre as economias do subcontinente sul-americano, e por medidas protecionistas, tomadas em momentos de crise. Se as dificuldades existem, tomá-las como impossibilidade de uma integração soberana faz parte da estratégia do liberalismo-conservador derrotado nas urnas em 2006.
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Quando o líder venezuelano lamenta a demora na concretização de projetos vitais para o região como o Gasoduto do Sul e o Banco do Sul - sabe perfeitamente o que move as protelações. Ao dizer que por trás de atrasos e desencontros está a mão do império estadunidense, toca em questão cara a uma classe dominante que sempre pensou inserção subalterna como projeto ideal. O lamento de colônia costuma vir sob o argumento de que "fracasso das negociações para a criação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca) também não foi bom para o Mercosul, porque abriu aos Estados Unidos espaço para promover acordos comerciais bilaterais"
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O que o senador amazonense não tolera é o que dá mais sustentação a um projeto estratégico regional , aquilo que setores conservadores, dentro de um viés funcionalista, têm chamado de crise política. Ou ''retórica nacionalista imprecisa''. É a reafirmação soberana de uma região que não constrange nenhuma instituição democrática, pelo contrário a confirma como instância de poder.
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Em 07/10/2006, escrevemos aqui mesmo, na Carta Maior: "o governo Lula tem uma política externa que fortalece o Itamaraty e aposta no Mercosul como futuro espaço de integração. Sabe que toda movimentação regional está sob a espada de Dâmocles do Império e suas 22 bases militares na região. A oposição, ao contrário, defende uma integração subalterna, controlada por megacorporações". Infelizmente o texto não perdeu a atualidade. Virgílio e seus correligionários continuam a atualizá-lo. A inclusão da Venezuela como membro pleno é questão de soberania regional. O resto é tergiversação de candidatos a Vice-Rei.

Quem assistiu ao documentário de Kim Bartley e Donnacha O’Briain sabe que, a depender das oligarquias latino-americanas, assim como a revolução, integrações que interessem aos povos latino-americanos também “ não serão televisionadas”.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa. Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=3728

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Comunicação interfere no processo democrático

n ChavesDoutor em Relações Internacionais, Marco Cepik leciona no
programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, ele comenta a efervescência política que vive a Venezuela, principalmente no que tange à
inserção da mídia no debate político.

Jornal do Comércio - Como a comunicação se insere no processo democrático?
Marco Cepik -
Ao longo do século XX, informações e imagens se tornaram cruciais na organização do sistema político. A televisão foi usada pela primeira vez pelos nazistas, na II Guerra Mundial, como arma de propaganda para formar consciências. Nos ambientes democráticos, a mídia é um dos sistemas mais importantes a influenciar a percepção do desempenho governamental e das alternativas colocadas pelos partidos políticos.

JC - Qual a avaliação da atuação da mídia na Venezuela?
Cepik -
Houve, desde a chegada de Chávez ao poder, uma oposição clara dos principais meios de comunicação. O presidente também passou a usar os meios estatais. E, desde o início, jogou-se com a carta da ameaça à liberdade de imprensa.

JC - A não-renovação da concessão da RCTV seguiu os meios constitucionais ou foi uma ação intempestiva de Chávez?
Cepik -
Não há dúvida de que foi legal, acho que mesmo no Supremo Tribunal venezuelano. A operação dos meios de comunicação é uma concessão pública e há a necessidade da renovação de tempos em tempos. O que causa espécie é que não é comum que alguém não renove a concessão de um canal de televisão tão poderoso, com cerca de um terço da audiência.

JC - Foi um erro político?
Cepik -
É uma questão de interpretação. Há um cálculo político da parte do governo em tentar fortalecer a televisão estatal e diminuir o poder dos grandes meios. Até para poder barganhar a atitude dos outros que continuam fazendo forte pressão contra o governo.

JC - Chávez pretende estatizar a mídia?
Cepik -
A idéia de que o fim da RCTV seria a partida para a estatização total é exagerada neste momento. Continua existindo um grande número de empresas independentes e oposicionistas. Os dados que o Le Monde Diplomatique compilou, em janeiro, mostram que as notícias contrárias a Chávez são bastante predominantes.

Publicado no Jornal do Comércio.
Porto Alegre, 29 ago. 2007. P. 20.
Extraído de
http://www.clipping.ufrgs.br/restrita.php?palavra=&data_ini=&data_fim=&filtrodata=&midia=jornal&cod=52684&cliente=14322&palavra