Deu no Vi o Mundo, por Luiz Carlos Azenha:
O Estadão lançou uma campanha publicitária tirando uma onda dos blogueiros, como se eles fossem incapazes de produzir informação de qualidade.
A resposta veio logo, na ilustração que aparece acima.
Quando uma sociedade muda muito rapidamente, o que está acontecendo agora - numa velocidade de 100 km por segundo - afloram o medo e a ansiedade.
Temos visto o desalento de pensadores brasileiros expresso aqui e ali - o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, disse que o Brasil não tem jeito, "é isso aí". Cansou?
Leram a Christiane Torloni na Folha?
Ela aderiu a um movimento de protesto sem saber no que vai dar.
É política sem projeto, sem raízes sociais, política de coluna social, política de oportunismo, política do medo - tudo isso misturado num caldeirão.
Fiquemos, no entanto, no FHC, que afinal leu bem mais do que um livro.
As teorias que ele usou a vida inteira para "entender" o mundo passaram a valer tanto quanto uma nota de dois reais.
E vocês sabem que um trem tem muita dificuldade para mudar de trilho, feito o cérebro treinado para reagir de maneira automática às novidades.
Como FHC deixou de entender o mundo, passou a achar que o mundo acabou, ou está para acabar.
Sim, FHC, o SEU mundo acabou. Já era. Vem coisa nova aí. Pode ser melhor, pode ser pior, com certeza será diferente.
Alguns têm medo de mudanças, outros não.
Eu não quero preservar ESTE mundo que está aí - quando eu digo aí, FHC, não estou falando do Higienópolis, ok?
O mundo em que vivo tem 22 milhões de jovens que não trabalham e nem estudam, só na América Latina.
Por isso não sou reacionário.
É mesmo difícil entender um mundo em que a globalização cria atritos tão fortes com nossos impulsos "tribais", com o renascimento do nacionalismo em contraposição a essas forças que chegam de fora, em impulsos, "invisíveis", fazendo cabeças e fortunas especialmente através da internet.
O novo é angustiante porque gostamos da previsibilidade. Buscamos todas as noites, nos noticiários da televisão, a confirmação de que o mundo ainda existe e a segurança de que aquilo que o Bonner noticia não nos toca, estamos salvos da "crueldade" dos bandidos, das guerras, das tragédias "dos outros".
A televisão conforta pela repetição, a gente se emociona com a mãe que perdeu o filho, desliga e vai jantar. Francamente? Uma sociedade que "se vê" pela televisão está morta.
Mas isso é assunto para sociólogos e estou falando da mídia.
Enquanto a TV é o conforto do "previsível", a não ser pelas blusas da Fátima Bernardes, o jornal impresso é estático. Você lê e as letras continuam ali. Você lê, reflete, e as letras continuam no mesmo lugar. Ninguém muda de opinião no jornal impresso.
Já a internet traz um mundo diferente e ameaçador para dentro de sua casa.
É uma cacofonia incrível, gritos que se multiplicam, opiniões conflitantes, baixarias e muita, muita vida inteligente.
Os intelectuais perderam o monopólio do saber.
Sentem-se inúteis. Bate o banzo, a angústia de quem se sente "descartado" porque desnecessário.
Os jornalistas perderam o monópolio da informação.
Os "especialistas" perderam o monopólio da opinião.
Qual é o motivo que me levaria a acreditar mais num repórter do Estadão que foi a Maresias do que num morador de Maresias com o qual converso pelo Messenger?
O sujeito vive lá, conhece a praia, conhece as pessoas, ele sim é um "especialista" em Maresias.
E não cobra nada.
Recebo dele informações e fotos de Maresias sem pagar um tostão.
Posso me dar ao luxo de ter um "correspondente" em cada praia do litoral.
Mas não é só.
O documentário A Revolução não será Televisionada, sobre o golpe de 2002 na Venezuela, já foi visto por centenas de milhares de pessoas no You Tube.
No Brasil, só passou na TV Câmara e na TV Educativa do Paraná.
Mesmo a supressão da informação tem seus dias contados.
Hoje eu me informo sobre a Venezuela lendo na internet o Tal Cual, de oposição a Chávez, além da Agência Bolivariana de Notícias, que dá sua versão dos fatos.
Basta um clique e eu faço o milagre de teletransportar o internauta até a Venezuela:
http://www.talcualdigital.com/
Também leio sobre a Venezuela no blog do Eduardo Guimarães, que é vendedor de autopeças, conhece toda a América Latina e em quem eu confio "pessoalmente", apesar de nunca tê-lo encontrado.
http://edu.guim.blog.uol.com.br/
Essa intimidade eu não tenho com a Ana Maria Braga, nem com o Louro José, porque já tentei várias vezes falar com eles pelo aparelho de televisão e eles não me ouvem.
Meu ponto: a linguagem do jornal, da rádio e do telejornal é distante, é fria. E a gente não pode responder. Nem debater. Nem xingar.
A linguagem da internet é uma balbúrdia.
A linguagem da internet produzida pela mídia corporativa é caduca, é a linguagem de jornal transferida para o mundo digital.
Os internautas escrevem de forma apaixonada, debatem, discutem, trocam informações, fofocas, teorias conspiratórias, textos fajutos ou de altíssima qualidade.
O Luiz Alphaplus, engenheiro do ramo de telecomunicações que mora em Curitiba, escreveu - e publiquei no site - uma das análises mais interessantes sobre a privatização da telefonia que aconteceu no Brasil.
Duvido que um repórter teria um insight como o do Luiz, que matou a charada porque é do ramo: as empresas da área, segundo ele, focalizam seus esforços no marketing e nas finanças, terceirizando serviços, atendimento ao cliente e assim por diante.
São como embrulhos bonitos por fora mas feios por dentro.
Depois de ler o texto dele eu entendi melhor porque é que a gritaria dos consumidores não chega ao alto escalão de uma empresa telefônica com a mesma rapidez que chegava antes.
É a terceirização do atendimento ao cliente, que passa a ser feito, de graça, pelo Procon.
Essa nova arquitetura corporativa também é novidade.
Mal sabemos o impacto que tem em nossas vidas, além de produzir vagas com baixos salários.
O Hudson Lacerda, que ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente, é um incansável batalhador contra o modelo atual de urnas eletrônicas que, segundo ele, são vulneráveis à fraude.
Não é jornalista mas tem um blog.
Veio dele a informação de que o governo da Califórnia acaba de tirar a certificação das urnas eletrônicas no estado, depois de um estudo que demonstrou que os modelos analisados são vulneráveis.
Não vi nos jornais brasileiros, mas achei relevante porque as eleições brasileiras são 100% dependentes de urnas eletrônicas.
O que quero dizer é que não tenho motivo para trocar os meus blogueiros pelo Estadão.
Mesmo porque o Estadão impresso não responde às perguntas que eu faço.
Outro dia travei o seguinte diálogo com o jornal que estava em minhas mãos:
Eu: Eu acho que essa informação que você escreveu está furada.
Jornal: [Mudo]
Eu: Responda, cara, eu quero saber mais dessa história.
Jornal: [Mudo]
Eu: Vou te rasgar todo, desgraçado, se você não responder agora!
Jornal: [Mudo]
O meu amigo do Messenger, aquele que me passa informações de Maresias, nunca fica mudo.
No máximo demora um pouco para responder porque "conversa" com 20 pessoas ao mesmo tempo.
Para todos os efeitos, é meu repórter.
Se a mídia brasileira está ansiosa e insegura diante de tantas mudanças, se os intelectuais estão perdidos com o desmoronamento de suas teorias, se a classe média medrosa aderiu maciçamente ao milenarismo, vocês que trabalham em agências de publicidade que se preparem.
Vai chegar o dia em que as grandes empresas, donas das maiores contas, vão descobrir que são vítimas de embromation.
Isso já aconteceu nos Estados Unidos.
Se eu fosse vendedor de automóveis e tivesse recursos limitados, jamais gastaria todo o meu orçamento dando tiros de canhão com o alcance da Globo.
Eu faria economia atirando em nichos específicos de mercado.
Graças à expansão da internet e da banda larga no Brasil isso vai se tornar possível.
Tiros menores, pontaria melhor, redução de custos.
Também os publicitários vão perder o monopólio da propaganda, seja ela política ou institucional.
Eu só sei que estamos em plena revolução da informação. Aposto que quem viveu em plena revolução industrial também não entendeu direito o que estava acontecendo.
Quem está no meio de um tornado não consegue enxergar o todo.
Sente medo, ansiedade, desalento, angústia.
Tudo isso se expressa socialmente: os cansados, por exemplo, nem sabem direito onde querem chegar e espero que andem, apesar do cansaço; espero que fundem um partido de direita genuíno, que dê voz às suas angústias existenciais, ou que ao menos façam psicanálise de grupo na Vila Belmiro.
O mesmo serve para o FHC, para os executivos de televisão e os editorialistas dos jornalões.
Segurem firme na cadeira, meus caros, que lucro garantido num momento como esse só o da fábrica de ansiolíticos.
Extraído de: http://viomundo.globo.com/site.php?nome=MinhaCabeca&edicao=1138 acesso em 17 ago. 2007.
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