Deu na Agência Carta Maior:Sobre a incursão do exército colombiano em território do Equador para eliminar um grupo de guerrilheiros das FARC, parece estar tudo dito; principalmente se parece como um caso encerrado, encerrado com sucesso. Mas a verdade é que não é bem assim. O que é revelado sobre a situação é tão importante quanto aquilo que se oculta.A guerra global contra o terrorismo chegou à América Latina – chegou com o Plano Colômbia, mas a incursão no Oriente Médio provocou algum atraso – e assume aqui as mesmas características que adquiriu em outros continentes: utilizar um aliado privilegiado (seja a Colômbia, Israel ou Paquistão).Boaventura de Sousa Santos
A guerra contra o terrorismo inclui ações muito visíveis e outras secretas. Entre as últimas estão os atos de espionagem e de desestabilização; Bolívia, Venezuela, a tríplice fronteira (Paraguai, Brasil, Argentina) são os alvos privilegiados. Na Bolívia, bolsistas norte-americanos da Fundação Fulbright são chamados pela Embaixada dos EUA para dar informação sobre a presença de cubanos e venezuelanos e sobre movimentos indígenas suspeitos; enquanto os separatistas extremistas de Santa Cruz são treinados na selva colombiana pelos paramilitares. Novos fatos: nas ações de desestabilização podem participar empresas militares e de segurança privada, contratadas pelos EUA sob o parapeito do Plano Colômbia que, além disso, dota-as de imunidade diplomática e, portanto, de impunidade diante da Justiça nacional.
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Pela mesma razão, a intervenção humanitária a favor dos reféns teve que ser desmontada para que Hugo Chávez não obtivesse crédito político. As forças políticas progressistas ameaçam a dominação territorial dos EUA através de medidas que buscam fortalecer a soberania dos países sobre os recursos naturais e alterar as regras da distribuição dos benefícios da sua exploração.[ . . . ]
Uma vez conhecido tudo isto, não surpreende que o presidente do Peru se pergunte "se não haverá uma internacional terrorista na América Latina". Também não surpreende que atualmente centenas de líderes indígenas do Peru e do Chile tenham sido acusados, ao amparo de leis antiterroristas promulgadas nestes e outros países (por pressão dos EUA), por defender seus territórios. A estratégia fica, então, delineada: transformar os movimentos indígenas na próxima geração de terroristas e, para enfrentá-los, seguir as receitas apontadas no relatório: tolerância zero, reforços para gastos militares, estreitamento das relações com os EUA. A responsabilidade das forças políticas progressistas é conseguir que esta estratégia fracasse.Artigo publicado originalmente no jornal Página 12 (Argentina)
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3845