O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910
Mostrando postagens com marcador terrorismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador terrorismo. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 25 de março de 2008

Estratégia continental

Deu na Agência Carta Maior:
A guerra global contra o terrorismo chegou à América Latina – chegou com o Plano Colômbia, mas a incursão no Oriente Médio provocou algum atraso – e assume aqui as mesmas características que adquiriu em outros continentes: utilizar um aliado privilegiado (seja a Colômbia, Israel ou Paquistão).
Boaventura de Sousa Santos
Sobre a incursão do exército colombiano em território do Equador para eliminar um grupo de guerrilheiros das FARC, parece estar tudo dito; principalmente se parece como um caso encerrado, encerrado com sucesso. Mas a verdade é que não é bem assim. O que é revelado sobre a situação é tão importante quanto aquilo que se oculta.
[ . . . ]
A guerra contra o terrorismo inclui ações muito visíveis e outras secretas. Entre as últimas estão os atos de espionagem e de desestabilização; Bolívia, Venezuela, a tríplice fronteira (Paraguai, Brasil, Argentina) são os alvos privilegiados. Na Bolívia, bolsistas norte-americanos da Fundação Fulbright são chamados pela Embaixada dos EUA para dar informação sobre a presença de cubanos e venezuelanos e sobre movimentos indígenas suspeitos; enquanto os separatistas extremistas de Santa Cruz são treinados na selva colombiana pelos paramilitares. Novos fatos: nas ações de desestabilização podem participar empresas militares e de segurança privada, contratadas pelos EUA sob o parapeito do Plano Colômbia que, além disso, dota-as de imunidade diplomática e, portanto, de impunidade diante da Justiça nacional.
[ . . . ]
Pela mesma razão, a intervenção humanitária a favor dos reféns teve que ser desmontada para que Hugo Chávez não obtivesse crédito político. As forças políticas progressistas ameaçam a dominação territorial dos EUA através de medidas que buscam fortalecer a soberania dos países sobre os recursos naturais e alterar as regras da distribuição dos benefícios da sua exploração.
[ . . . ]
Uma vez conhecido tudo isto, não surpreende que o presidente do Peru se pergunte "se não haverá uma internacional terrorista na América Latina". Também não surpreende que atualmente centenas de líderes indígenas do Peru e do Chile tenham sido acusados, ao amparo de leis antiterroristas promulgadas nestes e outros países (por pressão dos EUA), por defender seus territórios. A estratégia fica, então, delineada: transformar os movimentos indígenas na próxima geração de terroristas e, para enfrentá-los, seguir as receitas apontadas no relatório: tolerância zero, reforços para gastos militares, estreitamento das relações com os EUA. A responsabilidade das forças políticas progressistas é conseguir que esta estratégia fracasse.
Artigo publicado originalmente no jornal Página 12 (Argentina)
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
Boaventura de Sousa Santos
é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3845

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Inépcia da gestão Bush no Oriente Médio fortalece grupos terroristas

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por
Virgílio Arraes
22-Ago-2007


Diante do insucesso militar e político no Iraque, o que havia motivado a ascensão de um governo xiita, a gestão Bush anunciou, há apenas poucos dias, a possibilidade de vendas significativas de armamentos de alto teor tecnológico para países aliados no Oriente Médio – basicamente Arábia Saudita, Israel, avaliado como a única democracia da região, e Egito -, sob a justificativa de oposição ao terrorismo e de contraponto ao Irã. Apenas para o governo saudita, a quantia está em torno de 20 bilhões de dólares.
[ . . . ]
Registre-se que quinze dos seqüestradores dos quatro aviões do 11 de setembro de 2001 eram de nacionalidade saudita e haviam sido financiados a partir de seu próprio país – todos eles obtiveram seus passaportes e receberam seus vistos norte-americanos normalmente, sem nenhum tipo de aviso ou de intercâmbio entre os respectivos serviços de espionagem de ambos os governos. Ademais, a Arábia Saudita foi um dos poucos países a manter relações diplomáticas regulares com o Afeganistão, no período em que era administrado pelo Taleban.
[ . . . ]
Na visão dos planejadores estadunidenses, o comércio bilateral de armas reiteraria os bons vínculos políticos entre os governos, de maneira que haveria melhores condições para conter a movimentação fundamentalista de teor anti-americano em território saudita e, por conseguinte, refrear o apoio à oposição de permanência de tropas estrangeiras.
[ . . . ]
A despeito de o governo saudita não ter tido êxito até o momento em estancar o extremismo, ele será premiado com uma modernização tecnológica em seu setor bélico, o que, por sua vez, poderá desembocar em uma corrida armamentista regional vigorosa e de longo prazo, em função da alta contínua dos preços do petróleo desde o início da segunda versão da Guerra do Golfo.
[ . . . ]
Quanto ao Egito, é factível indicar que o apoio ao governo Hosni Mubarak ocorre em face da repressão aos grupos extremistas, diferentemente da Arábia Saudita – lá, desde 1981, em função do assassínio do Presidente Anwar Al Sadat, administra-se o país, de maneira praticamente ininterrupta, por meio do estado de emergência, o que permite reforçar o poder Executivo em detrimento do Judiciário na execução de determinadas medidas, como a efetivação de prisões por tempo indeterminado, se ligadas a suspeitas de terrorismo. Em muitos casos, são meros opositores da gestão Mubarak.

Acrescente-se que há outros fatores como o livre acesso ao canal de Suez e o relacionamento regular com Israel. Democracia e direitos humanos, de modo similar à Arábia Saudita, são minimizados pela diplomacia norte-americana, ao valorizar a estabilidade. Nesse sentido, o modelo egípcio pode inspirar vários formuladores norte-americanos com vistas a esboçar uma saída menos vexaminosa do Iraque e do Afeganistão.

Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais na UnB
Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/748/9/