Raras vezes terá sido tão repetidamente anunciado aquilo que agora está finalmente a acontecer. Há meses que os augures profetizam a grande queda, a próxima crise económica mundial. A recordação da crise nos mercados de valores que em Outubro de 2000 forçou a New Economy a uma aterragem de emergência das suas enormes altitudes de voo, destruindo num abrir e fechar de olhos milhões e milhões de capital fictício, ainda não se manifestou. Todos sabem ou intuem que o boom das borbulhas especulativas recebe estímulos deliberados. O que os governantes aplaudem é um auge que não só é fundamentado no viver do fiado como tem base especulativa. Na última vez, a borbulha ia junto com uma onda de inovações na tecnologia da comunicação e da informação; desta vez não. A actual conjuntura repousa sobre a especulação com preços imobiliários, com preços de matérias-primas e com derivados financeiros. Em Fevereiro/Março, e a seguir novamente em Maio, houve os primeiros anúncios do dilema que se foi abrindo caminho. [ . . . ] Nos EUA, a famosa Universidade de Harvard perdeu de um dia para outro 700 milhões de dólares num "investimento em dinheiro" desse tipo. Muitos bancos hipotecários norte-americanos estão na bancarrota e seus credores europeus, como o Deutsche Bank, o Commerzbank, p francês BNP Parisbas ou o belga Fortis, tem que contar as perdas em centenas de milhares de euros. [ . . . ] Mas não experimentámos senão o estalido de uma borbulha especulativa que ainda vai mais de 10 mil milhões de dólares, para não falar das restantes borbulhas especulativas que se formaram no último período. O acto seguinte no drama pela nova repartição do mundo entre os países capitalistas será com certeza representado, mas o intermezzo entre a actual crise do mercado monetário e a crise que vem aí do comércio mundial ainda pode durar semanas ou meses. Contudo, todos os "dados fundamentais" da economia mundial apontam para super-capacidades e super-produção.
19/Agosto/2007 [*] Estudou economia e ciência política em Berlim e Paris. Actualmente é professor em várias universidades alemãs e no estrangeiro, desde 1981 principalmente em Amsterdam. Co-editor da revista alemã SPW (Revista de política socialista e economia) e da nova edição crítica das Obras Completas de Marx e Engels (Marx-Engels Gesamtausgabe, nova MEGA). Investigador associado do Instituto Internacional de História Social, em Amsterdam. Autor de numerosos livros sobre economia política internacional. O original encontra-se em http://www.sinpermiso.info/
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