Deu no Resistir.info:Ultimamente parece que toda a gente quer dar um pontapé no dólar. Na semana passada, foi a super-modelo brasileira que exigiu euros para as suas voltinhas na passarela, ao invés de US dólares. Na semana anterior, Jay-Z, aquele empresário de hip-hop, divulgou um vídeo denegrindo o dólar e louvando o euro como o melhor sujeito na 'floresta'.
Por Mike Whitney [*]
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O fogoso presidente venezuelano, Hugo Chavez, seguiu Ahmadinejad ao prever que o enterro do dólar significaria o "fim do Império".Chavez pode ter alguma razão. O dólar é o calcanhar de Aquiles da América; se o dólar afunda, assim acontecerá com o império. Isto significa que o contribuinte terá de pagar a conta das sangrentas intervenções de Bush no Iraque e no Afeganistão, e não os chineses. Isto também significa que os EUA terão de exportar alguma coisa de maior valor do que bombas Daisy Cutter e prisões. Isto poderia ser uma encomenda excessiva agora que Bush despachou as fábricas, esvaziou a base industrial e exportou três milhões de empregos na manufactura. Teremos de lixar a ferrugem da maquinaria e obtê-la de volta a fim de fazermos negócios como acontecia antes do fracasso do Livre Comércio.
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O Kuwait, Venezuela, Irão, Rússia, e Noruega já optaram por ignorar os efeitos desestabilizadores da "conversão" do dólares e estão em diversas etapas de liquidação. Outros países os seguirão. Os EAU, o Bahrain, Qatar, Oman e Arábia Saudita estão a considerar uma comutação da ligação ao dólar para um cabaz de divisas de modo a que possam precaver-se contra a inflação que assola as suas economias. É apenas uma questão de tempo antes de o Sistema Petrodólar – que liga o dólar a vendas de petróleo e cria de facto uma "divisa internacional" – ser completamente dissolvido, precipitando o colapso final de Bretton Woods.[ . . . ]
Mas então, claro, o plano chocou-se com um obstáculo. A resistência iraquiana cresceu com tremenda rapidez, os EUA ficaram atolados numa guerra "invencível", e o outrora poderoso dólar murchou de valor. Agora estamos num ponto de viragem e os nossos líderes estão num estado de negação. Bush ainda está a brincar de Teddy Roosevelt, ao passo que Paulson e Bernanke estão simplesmente em estado de choque. Eles provavelmente sabem que o jogo está acabado. Como o dólar continua a murchar, a frustração começa a subir na Europa. Liam Halligan resume-a assim:"A Europa já tem o quanto baste no que se refere à 'displicência benevolente' da América em relação à política do dólar. Como grande área económica, com taxa de câmbio flutuante, a eurozona sofre mais. Ao longo dos últimos sete anos, a divisa única ascendeu uns chocantes 82 por cento em relação à nota verde. Isso martelou as exportações da eurozona – provocando sérias disputas comerciais entre a UE e os EUA, os dois maiores blocos comerciais do mundo. Não é de admirar que o presidente francês Nicolas Sarkozy descreva o dólar em queda da América como "um precursor da guerra económica". ( UK Telegraph, "Bet Your Bottom Dollar tensions Will Follow")
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Assim, quanto dinheiro Sarkozy está disposto a avançar para impedir o dólar de desmoronar-se ainda mais — US$100 mil milhões, US$500 mil milhões, US$1000 mil milhões? E onde está a base?[ . . . ]
Mais de dois terços de todos os haveres de divisas estrangeiras soberanas são denominados em dólar. Quando aqueles dólares forem convertidos outra vez em divisas estrangeiras e começarem a reciclar dentro dos EUA, estaremos em profunda perturbação. A inflação levantará voo. Certamente o Fed deve ter sabido que este dia chegaria quando começou a bombear milhões de milhões de dólares nas hipotecas subprime e nos complexos instrumentos de dívida que não serviam para qualquer finalidade senão engordar os fundos de banqueiros predadores e administradores de hedge-funds. O Fed também sabia que a riqueza da nação não estava a ser "eficientemente distribuída" por melhorias capitais em fábricas, tecnologia ou indústria. Ah, não. Isso teria assegurado que a América permaneceria competitiva no mercado global do novo século. Ao invés disso, o dinheiro foi despejado às pazadas no sumidouro abissal das casas de estuque com telhados em juros compostos e tóxicos incumprimentos de crédito.[ . . . ]
Lawrence Summers, professor de Ciências Económicas de Harvard, apresentou ontem esta sóbria advertência no artigo "Wake up to the dangers of a deepening crisis" publicado no Financial Times:"Três meses atrás era razoável esperar que a crise do crédito subprime seria um evento financeiramente significante mas não algo que ameaçasse o padrão global do crescimento económico. Isto ainda é um resultado possível mas já não é mais a probabilidade preponderante. Mesmo se mudanças necessárias na política forem implementadas, as probabilidades agora favorecem uma recessão americana que reduziria significativamente o crescimento no âmbito global. Sem respostas políticas mais fortes do que as que têm sido observadas até à data há, além disso, o risco de que impactos adversos venham a ser sentidos durante o resto da década e mais além. Varias correntes de dados indicam a medida em que a situação é mais séria do que estava claro uns poucos meses atrás".
Summers não é o rapaz mais inteligente do quarteirão. Se fosse não teria dito que os homens são mais inteligentes do que as mulheres e ainda seria presidente de Harvard. Mas é um economista capaz e pode farejar o desastre quando a correria da fuga já está na esquina.
27/Novembro/2007
[*] fergiewhitney@msn.com
O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/whitney11272007.html
Leia na íntegra em http://www.resistir.info/financas/whitney_dollar_27nov07.html