O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910
Mostrando postagens com marcador Emir Sader. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Emir Sader. Mostrar todas as postagens

domingo, 11 de maio de 2008

Críticas - de direita e de esquerda - ao governo Lula

Deu no Blog do Emir:
O governo tem sido alvo de muitas críticas e elogios, de direita e de esquerda, contraditórios entre si, de forma alternada e, às vezes, simultânea. A virulência com que a direita critica e os massivos meios monopólicos de comunicação com que ela conta, provocam tanto uma defesa exacerbada de quem tem críticas, como a impressão de que essas posições são compartilhadas
por muita gente na sociedade.
[ . . . ]
Suas críticas são tipicamente as da direita, as mesmas que compartilham com o bloco tucano-pefelista: menos Estado – o que significa, para eles, não menos financiamentos privados, isenções, mas menos contratações de pessoal, menos gastos com políticas sociais, menos impostos; trocar a integração latino-americana e com o Sul do mundo, por aquela tradicionalmente submissa com o Norte; nenhum tipo de regulamentação estatal, nem no mercado de trabalho, nem na política de comunicações, nem na circulação de capitais; mais privatizações. Sua utopia se realizava no governo FHC, com quem se identificaram plenamente. Gostam de qualquer candidato que derrote Lula ou tire votos de quem seja o candidato mais forte a dar continuidade ao seu governo.
[ . . . ]
É fundamental situar essas posições, para que críticas de esquerda não se confundam com elas, porque estas são absolutamente contraditórias com aquelas. Cito um caso de confusão entre as duas, que favorece a direita: na discussão sobre a CPMF, na versão final da proposta, se tratava do que a esquerda deveria pregar: um imposto difícil de ser sonegado, pago por quem dispões de mais recursos e todo ele para a saúde pública. Tudo o que a direita não quer: tributação sobre os mais ricos, que não podem contornar e que vai para políticas sociais. O senador do Psol votou contra, cometendo um grave equívoco, somando-se à direita e ajudando a confundir ainda mais o quadro de polarização entre direita e esquerda.
[ . . . ]
Em lugar de ser um crítico de esquerda, que apóia o que governo tem de esquerda – como veremos na segunda parte deste artigo, entre outros, a política externa, a política social, a política cultural, etc. -, atacam tudo e rifaram a possibilidade de construir uma alternativa à esquerda do PT, ficando relegados à intranscendência política.
[ . . . ]
As ambigüidades do governo são inúmeras e o próprio Lula afirma que nunca os ricos – e aqui é preciso dizer, antes de tudo os bancos – nunca ganharam tanto e nunca os pobres melhoraram tanto de vida. Condenável a primeira, elogiável a segunda. Uma não é condição da outra, ao contrário, quanto mais ganhe o pior capital possível – não cria bens, nem empregos, chantageia com ameaças de forjar crise com fugas, etc -, menos recursos para impulsionar o desenvolvimento, criar riqueza, gerar emprego, aumentar os recursos para políticas sociais, etc.
[ . . . ]
Manter as taxas de juros mais altas do mundo, atraindo o pior tipo de capital, não cobrar-lhe impostos para que circulem livremente para dentro e para fora do país, dar autonomia para que sua representação direta no governo defina uma variável fundamental para a economia do país, mas também para os recursos para políticas sociais, é um erro que tem que ser reiteradamente criticado pela esquerda. Mas como toda esquerda politicamente séria, não apenas crítica crítica e dogmática, é preciso apresentar alternativas e elas existem, recentrando a economia nos investimentos produtivos e as políticas sociais na criação de empregos.
[ . . . ]
Um terceiro aspecto central do governo, que deve ser objeto de crítica da esquerda, é a não caracterização dos EUA como cabeça do imperialismo mundial, com todos os danos que causa à humanidade, a começar pela política de “guerras infinitas”. O Brasil não pode se relacionar com os EUA como se fosse apenas um país rico, tem que levar em conta que é a cabeça do bloco imperialista que, de todos os pontos de vista – econômico, financeiro, tecnológico, político, militar, ideológico, mediático – representa o que de pior tem o mundo hoje, responsável pela concentração de renda, pelas políticas de livre comércio, pela miséria, pela degradação ambiental, pelas guerras, pela especulação financeira, pelos monopólios da mídia, pela propaganda de um estilo de vida mercantilista, etc, etc. Não tomar o imperialismo como referência central no mundo de hoje leva a cometer graves erros e a correr sempre riscos de se deixar levar pelas políticas do império.
[ . . . ]
Esta a primeira parte do artigo, a segunda, com os aspectos positivos do governo, que deveriam ser apoiados e incentivados pela esquerda, vem em seguida. Mas também com os elogios da direita, contraditoriamente distintos do da esquerda.

Postado por Emir Sader às 20:04
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=180

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A direita hoje

Deu no Blog do Emir:
As vitórias eleitorais de Angela Merkel na Alemanha, de Sarkozy na França e de Berlusconi na Itália, servem para lembrar-nos da força da direita hoje no mundo. Na Europa ocidental, com as exceções da Espanha e da Noruega, a direita está no governo. Aqui mesmo, na América Latina, os governos do PAN no México, de Uribe na Colombia, são representantes indiscutíveis da direita latino-americana. No Brasil, a direita está representada politicamente pelo bloco tucano-pefelista e ideologicamente pelas grandes empresas mercantis da mídia.
[ . . . ]
O primeiro dos seus pontos programáticos é o privilégio do mercado em relação ao Estado e, em particular, a qualquer tipo de regulação estatal, favorecendo a livre circulação do capital. O que significa o privilégio do dinheiro em relação aos direitos, do consumidor em relação ao cidadão, dos interesses privados em relação aos interesses públicos. Um de seus corolários mais importantes é o papel estratégico que atribuem às grandes empresas privadas, identificadas com o dinamismo e a eficiência econômica, em contraposição ao Estado, desqualificado como ineficiente, burocrático, corrupto.
[ . . . ]
A direita está pelas alianças – sempre subordinadas, pela força que tem esses possíveis – com as grandes potências do centro do capitalismo, às expensas das alianças latino-americanas e no Sul do mundo. São adeptos da grande imprensa privada – isto é, não pública, da imprensa mercantil - e contrários à mídia pública, democrática.
[ . . . ]
Odeia os movimentos sociais, a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas, a sindicalização dos trabalhadores, os programas de alfabetização popular, a politização como forma de acesso à consciência social do que passa no país e no mundo. São conservadores, gostam do mundo tal qual eles mesmos o produziram ao longo de toda a história, com todas suas iniqüidades, e lutam ferozmente contra qualquer mudança nas relações de poder que afete seus interesses.
[ . . . ]
Em suma, a direita é de direita – se me permitem a tautologia. Resta que a esquerda seja de esquerda, para combatê-la e fazer avançar a democracia política, a justiça social, a soberania nacional e a integração regional.
Postado por Emir Sader às 08:07 Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=176

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Voto obrigatório ou optativo

Deu no Blog do Emir:
O tema volta sempre: se votassem apenas os que se interessam, o país seria melhor. O problema estaria no voto dos alienados. Assim a democracia seria melhor, votariam os conscientes, os interessados.
[ . . . ]
Mas será mesmo que é assim?
[ . . . ]
O resultado é que, no país que, por seu caráter imperial, mais influência tem sobre o conjunto da humanidade, o presidente é eleito – mesmo quando não há fraude visível – por uma minoria dos norte-americanos. E quem deixa de votar? Os negros, os latinos, os idosos, os pobres - todos os que vivem mais marginalizados na sociedade, com menos informação, menos organização, maiores dificuldade para dispor de tempo livre. Votam, em geral, maciçamente, a classe média branca e a burguesia. Os que mais necessitam reivindicar direitos postergados – os mais pobres, os mais discriminados, os que menos grau de instrução. Assim, com o voto optativo, a democracia é ainda mais restrita. Os democratas, que costumar ser menos direitistas que os republicanos, só ganham – como pode ser o caso agora – quando conseguem mobilizar maciçamente aos negros, aos latinos, aos pobres. Os republicanos são mais organizados, mais informados, costumam votar maciçamente. Os EUA são ainda menos democráticos, tem menos participação política, com o voto opcional.
[ . . . ]
Hoje passa algo igual. Fora das eleições, a direita - PSDB, DEM, Folha, Globo, Veja, Estadão – acha que defende os interesses do país e tenta passar essa idéia pelo tom em que falam. Reparem que costumam escrever editoriais e artigos com construções que buscam enganosamente passar essa idéia, cheios de “É mister”, “Faz-se necessário”, “É indispensável” –com sujeitos ocultos, tentando passar a idéia de que defendem um bem comum. Na realidade “É mister”, “Faz-se necessário”, “É indispensável” – para os interesses que eles defendem e de que são porta vozes, os grande monopólios privados, bancários, industriais, comerciais, agrícolas. Esses são os sujeitos ocultos cujos interesses expressa a direita na sua imprensa mercantil.
[ . . . ]
Mas esses 2/3 da população são claramente os mais pobres, os que não assinam e não lêem essa imprensa de direita, não prestam atenção no que diz o jornalismo televisivo. São os que teriam mais dificuldades para ir votar caso as eleições se realizassem em dia de semana, por exemplo. (Na eleição de Evo Morales, na Bolívia, mais de um milhão de indígenas, que votaram maciçamente por Evo, não puderam votar porque não estavam informados de que os que não tinham votado nas eleições municipais anteriores, teriam que ter feito um trâmite na Justiça Eleitoral para poder votar e assim a grande vitória de Evo poderia ter sido maior ainda, poderia ter-lhe dado maioria também no Senado e nos governos dos estados, caso isso não tivesse acontecido.)

O sentimento da direita é de que gastam todo o seu tempo em denunciar irregularidades – supostas ou reais – no governo e nos aliados do governo, mas isso não tem efeito algum sobre a opinião pública. A proposta de abolição do voto obrigatório seria um instrumento a mais para tentar diminuir a importância do voto dos pobres que, pelas políticas que secularmente a própria direita desenvolveu – são a grande maioria da população.
Postado por Emir Sader às 16:31
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=167

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

TV Pública e TV Mercantil

Deu no Blog do Emir:
A polarização imposta pelo neoliberalismo – estatal x privado - como acontece com quem reparte, fica com a melhor parte – a esfera privada –,mas para isso tem que fazer desaparecer o essencial – a esfera pública. A primeira armadilha
montada pelo neoliberalismo é a camuflagem do verdadeiro sentido da esfera de que eles promovem a hegemonia : a esfera mercantil. Afinal de contas, esse é o objetivo das suas políticas: transformar tudo em mercadoria – direitos, água, empresas, informação. Privatizar é submeter ao mercado, mercantilizar.
[ . . . ]
Quando tratamos de mídia – e, no caso específico do Brasil, hoje – de TV, a mesma polarização se reproduz, sob formas específicas. Um dos pólos foi ocupado pela TV mercantil, que se orienta por critérios comerciais, suportada pelas agências de publicidade – intermediárias do seu financiamento pelas empresas privadas – e voltada para a conquista de audiência – suporte da publicidade. Esta tv se dirige aos consumidores que, em grande parte, ela mesma produz. É formada por empresas que visam o lucro, que se financiam através da publicidade. São empresas que competem entre si em busca de mais espectadores, mais publicidade, mais lucros.
[ . . . ]
Hoje, uma TV pública precisa lutar contra o pensamento único da mídia mercantil, monocórdia, repetitiva, cinzenta, mera reprodutora das pautas da imprensa produzidas nos grandes centros da globalização. Cada jornal parece repetir os demais e cada articulista quase se limita a oferecer uma nova versão aos editoriais do mesmo jornal. As grandes idéias, os grandes debates, os grandes temas contemporâneos não estão nessa mídia ou só aparecem para serem desqualificados. É uma mídia antidemocrática, propriedade de algumas famílias, cuja direção não é eleita, mas herdada por critérios de transmissão familiar, da qual os jornalistas são assalariados, contratados e descontratados segundo as decisões de uma direção que se sucede de geração a geração.
[ . . . ]
A mídia mercantil, ou seja, fundada no mercado, demoniza o Estado e, com ele, as despesas através das quais o Estado atende, ou deveria atender – e o mercado, certamente não atende, não quer e nem poderia atender - às muitas dezenas de milhões de pessoas que precisam da educação pública, da saúde pública, de saneamento básico, de transporte público, de cultura pública. Em suma, a mídia mercantil privilegia os consumidores e o seu poder de compra. A mídia pública precisa privilegiar os cidadãos e seus direitos.
[ . . . ]
É necessário enfatizar as diferenças existentes entre a TV pública e a TV estatal. Em primeiro lugar, é preciso dizer que um governo, eleito e reeleito pela maioria dos brasileiros, tem a necessidade e a obrigação de se dirigir constantemente aos cidadãos, para informar suas políticas, explicá-las, debatê-las. Mais do que qualquer pesquisa de audiência - esta que a mídia mercantil utiliza para manter privilégios da publicidade governamental -, a mais ampla e democrática pesquisa é aquela das próprias eleições e elas deram ao governo um mandato pelo qual está obrigado a responder cotidianamente diante da cidadania. Portanto, não é crime, mas sua obrigação utilizar todos os espaços possíveis para informar, explicar e debater com os cidadãos. Aliás, a mídia mercantil se comporta como se fosse sua propriedade um espaço que, de fato, é concessão do Estado. Por outro lado, mais do que se diferenciar de uma TV estatal, a TV pública precisa se distinguir das TVs mercantis. Elas estão submetidas a lógicas diferentes, e até contraditoras, Graças a esta diferença substantiva, seus horizontes são diversos: uma visa o lucro e, a outra, quer a democracia.
Leia na íntegra http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=164

domingo, 17 de fevereiro de 2008

É o Estado, estúpido!

Deu no Correio do Brasil:
Por Emir Sader - do Rio de Janeiro
O clima político brasileiro continua agitado, com a reiteração das polarizações produzidas desde
as denúncias de 2005 sobre o que a imprensa convencionou chamar de “mensalão”. De um lado, os
partidos de oposição, com seu núcleo coesionador – PSDB e DEM – acompanhados de partidos aliados,
como o PPS e tendo no bloco monopolista da grande mídia privada seu carro-chefe -, de outro o
governo e expressões da mídia alternativa.
[ . . . ]
Então de onde vem e a que corresponde essa virulência da oposição ao governo? Por que até mesmo uma
parte significativa do grande empresariado, atendido pelo modelo econômico, se soma à campanha
opositora? Por que a afirmação de setores radicalizados da esquerda de que se trata de um governo
neoliberal não consegue dar conta do enfrentamento central do campo político em todo o período
político atual? O que está em jogo? O que se disputa, além de cargos eleitorais?
[ . . . ]
O que incomoda centralmente à oposição, refletido nas manchetes e campanhas da imprensa opositora,
presente nos seus colunistas, soldados das causas do bloco direitista de oposição? A alta taxa de
juros? A lentidão na reforma agrária? O incentivo aos agro- negócios e o uso extensivo dos
trangênicos? A injusta tributação, que concentra renda, ao invés de redistribuir? A repressão às
rádios comunitárias? A falta de demarcação das terras indígenas? A não abertura dos arquivos da
ditadura?
[ . . . ]
A “livre circulação do capital” segue sendo a utopia da direita. Que o capital circule e a
sociedade se povoará de felicidades! Que o Estado seja reduzido à sua mínima expressão: sem
impostos, sem funcionários, sem leis, sem instituições políticas, sem partidos, que as eleições
sejam o mais parecido possível a um shopping-center e os candidatos a vendedores de mercadorias,
a ideologia reduzida a marketing, o cidadão transformado em consumidor, os direitos em bens
negociáveis na compra e venda, a sociedade identificada com o mercado.
[ . . . ]
A plataforma da direita tem, como primeiro item, a diminuição dos impostos, base econômica do
Estado. Daí a campanha contra a CPMF, contra o “inchamento” do aparelho de Estado, contra as
normas estatais – que atrasariam, por exemplo, com as normas ambientais, a liberação de licenças
de investimentos, contra os aumentos de salários dos servidores públicos. Pela independência do
Banco Central, pelo superávit fiscal.
[ . . . ]
As classes dominantes que sempre detiveram poder sobre o Estado, ressentem não poder fazê-lo a seu
bel prazer. Na última vez que haviam perdido o controle sobre o aparelho de Estado – no governo
Jango, de 1961 a 1964, há quase meio século – se puseram imediatamente a preparar o golpe militar,
com o apoio desses mesmos órgãos de imprensa – Folha de São Paulo, Estadão, Globo, entre outros.
Recuperaram o poder sobre o Estado, que foi militarizado e se colocou completamente à disposição
do grande empresariado privado nacional e estrangeiro.
[ . . . ]
Acostumadas a usar o Estado como “comitê executivo das classes dominantes” – conforme a expressão
de Marx no Manifesto Comunista – acusam o golpe de perder esse controle absoluto. Seguem ocupando
espaços determinantes no aparato de Estado – a começar pelo estratégico Banco Central -, além de
serem contemplados por créditos fáceis e incentivos amplos, mas para quem sentia o Estado como seu
território, para nomear a quem quisessem, privatizar o que desejassem, acusam o golpe e se tornam
raivosamente e totalitariamente opositores furibundos.
[ . . . ]
A campanha de denúncias morais vai na mesma direção de criminalizar o Estado, quando os maiores
escândalos contemporâneos são protagonizados por empresas privadas, entre elas os bancos. Não
importa o que seja, como seja, são os neo-conservadores no Brasil, defensores do mercado contra o
Estado – o verdadeiro tema de disputa, cuja importância explica a virulência das agressões
opositoras, na sua ânsia de recuperar o que consideram seu, por definição – o Estado brasileiro.
Emir Sader é jornalista e escreve para o Blog do Emir
Leia na íntegra em
http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=133963

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Esquerda e direita na América Latina

Deu no Blog do Emir:
Como julgar um governo hoje na América Latina? Como não se julgam as pessoas pelo que elas dizemque são, não se deve julgar um governo pelo que ele diz que é, nem pelo que se diz que ele é, nemtampouco pelo que gostaríamos que ele fosse.
[ . . . ]

No período histórico atual, o poder dominante se assenta sobre a hegemonia imperialnorte-americana e o modelo neoliberal. Cada governo deve ser julgado pela medida em que seenfrente a elas e aja concretamente na construção de alternativas que as superem.

[ . . . ]

Nesta lista estão os governos do México, do Chile,da Costa Rica e do Peru – que, recentemente,decidiram essa adesão – e da Colômbia – quepleiteia o tratado de livre-comércio com os EUA,mas teve sua solicitação rejeitada pela oposiçãodos democratas no Congresso norte-americano.

[ . . . ]

Essa é linha divisória na América Latina e oCaribe, aquela que divide governos que aderiramaos tratados de livre-comércio, se articulamdiretamente com os EUA, se distanciam dos outrospaíses do continente e hipotecam o futuro dosseus países, renunciando à soberania para definirtemas fundamentais do país.

[ . . . ]

Isto é possível pelas mudanças nas políticasinternacionais desses países em relação às deseus antecessores, assim como por flexibilizaçõesdo modelo econômico, o que lhes permitedesenvolver políticas sociais redistributivas,com revigoramento do Estado em alguns aspectos,assim como aumento do trabalho formal – mesmo semajoritariamente com empregos de baixa qualificação –, elevação do poder aquisitivo dos saláriose expansão do mercado interno de consumo, entre outros aspectos positivos.

[ . . . ]

Tudo isso, em detrimento da democratização econômica e social, da mobilização e da consciênciapopular, da democratização da formação da opinião pública, de políticas econômicas centradas noconsumo interno de caráter popular, na criação de empregos, na diminuição da jornada de trabalho,na reforma agrária, no fortalecimento da economia camponesa, na segurança alimentar, na regulaçãoda circulação do capital financeiro, no apoio às pequenas e medias empresas.

[ . . . ]

Em outro grupo se situam países que romperam ou nunca haviam aderido ao neoliberalismo – comoCuba – ou que estão em processo de ruptura com o neoliberalismo – como a Venezuela, a Bolívia, oEquador –, que, além de participarem integralmente nos processos de integração citados, puderamcriar um espaço superior de integração – a Alba –, em que cada país dá o que tem e recebe o quenecessita, no melhor exemplo alternativo ao “livre-comércio” da OMC, como exemplo do que o FSMchama de “comércio justo”, um embrião do “outro mundo possível”.

[ . . . ]

A luta central deve ser pela revogação dos tratados de livre-comércio, mediante mobilizações populares que reivindiquem consultas populares e proponham alternativas de integração regionalcomo opção popular e democrática, recuperando a soberania dos Estados e a participação no Mercosule na Alba.

[ . . . ]

O objetivo é reconstruir a unidade da esquerda, buscando evitar tanto a subordinação ao governo,assumindo e justificando tudo o que ele faça, quanto o erro oposto, o de perder a visão global doquadro política – incluindo centralmente a direita nacional, regional e o imperialismo – e exerceroposição frontal a tudo o que o governo faça, até mesmo a posições progressistas – como as defortalecimento do papel do Estado, de integração regional, de resistência às políticas de Guerrados EUA – e confundir-se, assim, com as posições da direita.

[ . . . ]

Daí a necessidade das mais amplas formas de mobilização, consciência política e organização,assim como de crítica construtiva, desde dentro desses processos. Nunca somar-se, conscientementeou não, às posições da direita, sempre buscar fortalecer o processo, atuando desde o seu interior.Nunca a América Latina teve, simultaneamente, um número tão grande, diverso e expressivo degovernos progressistas. Tem que saber zelar pela unidade interna da esquerda, pelo enfrentamento àhegemonia imperial dos EUA e ao neoliberalismo, e trabalhar na perspectiva de construção de umaAmérica Latina pós-neoliberal.

Postado por Emir Sader às 14:12

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

O nacionalismo como enigma

Deu no Blog Do Emir:

Os anos 20 e os anos 60 foram chaves no século 20. Dois momentos de crise e de desarticulação do sistema imperial de dominação e, como conseqüência, de sonhos de “assaltar o céu”. Do desenlace das décadas dependeu muito do que aconteceria posteriormente na história contemporânea. A derrota da revolução alemã provavelmente condenou precocemente a revolução soviética ao isolamento e à derrota. Tanto assim que a crise de 1929 não produziu alternativas de esquerda na Europa, mas de direita. A incapacidade de concretizar politicamente as barricadas dos anos 60 levou a nova maré conservadora e à não “transformação de nossos sonhos em realidades”.

A década de 1920 não poderia deixar de estar marcada pela Primeira Guerra — o final de uma época de aparente vida pacífica no mundo, que incubava o conflito bélico mais selvagem, ainda não o dos bombardeios aéreos, mas o das baionetas, da morte cara a cara —, incluindo, necessariamente, o acerto de contas com a questão do nacionalismo. Foi naquele agosto de 1914 que o movimento operário e a esquerda viveram o primeiro grande trauma, quando tiveram que decidir a prioridade entre a questão social — os interesses de classe defendidos pelos que, posteriormente, se assumiram como comunistas — ou a questão nacional — os interesses dos governos burguesas em guerra, defendidos pelos socialdemocratas. A fratura produzida nunca haveria de ser fechada.
[ . . . ]
Faltava entender que, na Europa, o liberalismo havia sido a ideologia da burguesia ascendente contra as travas feudais, enquanto o nacionalismo apareceria como ideário conservador, chauvinista, da contraposição dos interesses de cada nação contra a outra. Enquanto que, na periferia, o liberalismo era a ideologia dos setores primário-exportadores, interessados no livre comércio, a do nacionalismo aparecia como protecionista, industrializador, expandindo o mercado interno, contraponto à dominação externa.
[ . . . ]
Um historiador argentino — Pedro Enrique Ureña — expressava, naquele momento: “Não é que tenhamos perdido nossa bússola, é que perdemos a dos outros”. Foi uma década de crise de identidade, em que a questão central foi a de “quem somos”, mas também a de “como somos” e também “por que não somos como...” O conceito de nação vinha preencher esse vazio — de forma real ou imaginária.
[ . . . ]
Movimentos como a revolução mexicana de 1910 e a boliviana de 1952 foram apenas expressões políticas mais explosivas, mas foi o nacionalismo que dominou a história política do continente ao longo do século 20, com o peronismo, o getulismo, o PRI mexicano, entre outros.
[ . . . ]
As novas formas de aparição do nacionalismo — agora antineoliberal, anticapitalista, indigenista, militar, latino-americanista — colocam novos desafios para a esquerda. Decifrá-los é um dos temas fundamentais na era da globalização neoliberal e da hegemonia imperial.

Postado por Emir Sader às 13:09
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=145

domingo, 23 de setembro de 2007

Quem tem medo de Lula e Hugo Chávez?

Deu no Blog Do Emir:

Pânico nos arraiais da direita – a cabocla e a globalizada: Lula e Hugo Chávez se entendem. Depois de acalentar tanto as desavenças – saudá-las, aumentá-las, extrapolá-las -, volta o alarme. “Recaída populista, chavista de Lula?” “O Brasil se rende à petrodiplomacia venezuelana?” “Estamos cutucando onça com vara curta?” – entendendo por onça a águia do império estadunidense.
[ . . . ]
Na reunião de Manaus, foram retomados acordos pendentes, que se referem à refinaria Abreu Lima, em Pernambuco, e à exploração do campo de Carabobo, na faixa venezuelana do Orinoco, pela Petrobrás e pela Pdvsa, com 60% e 40% de capitais de uma e outra, em cada um dos investimentos. Assumiram também compromissos para acelerar a construção do gadosuto continental, já iniciado na sua primeira parte, que vai até Belém e Recife, bem como em relação ao ingresso da Venezuela no Mercosul – desmentindo que haveria resistências mtuas insuperáveis.
[ . . . ]
Perdem os setores empresariais intrinsecamente vinculados ao livre comércio, à exportação para os mercados centrais, os que se opõem à prioridade da integração regional, os que temem a unidade do continente, os que se subordinam à política imperial dos EUA. Perde a direita, interessada em desfazer a frente do Mercosul e de outros espaços de integração relativamente autônomos diante dos EUA, que privilegiam o Sul do mundo.
[ . . . ]
No entanto, os dois têm em comum – assim como o Uruguai, a Argentina, a Bolívia, o ·Equador, Cuba, Nicarágua, Paraguai – privilegiar a integração regional, em detrimento dos tratados de livre comércio com os EUA. Mais do que isso, os acordos reafirmados na reunião entre Lula e Hugo Chávez, estendem a integração regional para o plano energético. Acordos e bom entendimento entre os governos da Venezuela e do Brasil, que têm que ser saudado por todos os que entendem que a integração regional é um espaço de autonomia em relação à hegemonia dos EUA e aos projetos de livre comércio, apontando para a construção de um mundo multipolar, integrado e solidário.

Postado por Emir Sader às 09:25 Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=138

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O povo, a guerra e a paz de Portinari

11/09/2007
Do Blog Do Emir:

Neste ano, cumprem-se 40 anos da inauguração dos painéis Guerra e Paz, de Candido Portinari, no prédio da ONU, em Nova York. Quadros que não puderam ser inaugurados pelo pintor brasileiro, que teve sua entrada nos EUA impedida por negação de visto de parte do governo estadunidense, sob acusação de “comunista”. Até hoje os quadros estão no Conselho de Segurança, sem identificação, a ponto que os guias não sabem inidicar aos visitantes a autoria dos painéis. Este ano está prevista uma cerimônia que “inaugure” uma das obras primas do maior pintor brasileiro, 50 anos depois. Este artigo celebra os quadros, mais do que atuais, de Portinari.



O POVO, A GUERRA E A PAZ DE PORTINARI

Desde que Portinari pensou na idéia dos painéis de guerra e paz, muitos canhões dispararam, muitos acordos de paz foram obtidos. Mas o que aconteceu com esses dois temas cruciais que têm cruzado toda a história da humanidade, desde então?

[ . . . ]

Em 1967 o Che se referia a esse período:

"Já se cumpriram vinte e um anos desde o fim da última conflagração mundial e diversas publicações, em infinidade de idiomas, celebram o acontecimento simbolizado pela derrota do Japão. Há um clima de aparente otimismo em muitos setores dos distintos campos em que o campo se divide.”

[ . . . ]

Enquanto Portinari escolhia o tema dos seus painéis e começava a ideá-los, segundo o Che:

Na Coréia, “depois de anos de luta feroz, a parte norte do país ficou submetida à mais horrível devastação que figure nos anais da guerra moderna; devastada por bombas; sem fábricas, escolas ou hospitas; sem nenhum tipo de casa para abrigar a dez milhões de habitantes.”

[ . . . ]

E concluia o Che:

“Tudo parece indicar que a paz, essa paz precária a que se deu esse nome, só porque não se produziu nenhuma conflagração de caráter mundial, está outra vez em perigo de ser rompida diante de qualquer passo irreversível e inaceitável, dado pelos estadunidenses.”

[ . . . ]

Ficam claras, nesse cenário, as razões que levaram Portinari a - convidado, em 1950, a fazer os painéis -, tivesse escolhido o tema da guerra e da paz. Consciente politicamente do período que a humanidade passava a enfrentar, apesar do fim do conflito mundial, um ano antes, ele escrevia:

[ . . . ]

Vítima, ele também, entre outros, da repressão advinda dos inícios da “guerra fria” - quando os partidos comunistas foram ilegalizados, conforme a linha ditada por Washington -, Portrinari buscou, em 1948, refúgio no Uruguai. Não faltava a Portinari a consciência do vínculo entre seu destino individual e os maiores enfrentamentos do novo período histórico, que fazia enfrentar a paz e a guerra.

[ . . . ]

O historiador britânico Eric Hobsbawn, depois de analisar as guerras no século XXI, se arrisca a prever:

“...no século XXI, a guerra não será tão sangrenta como foi no século XX, mas a violência armada, que dará lugar a um grau de sofrimento e umas perdas desproporcionais, continuará onipresente e será um mal endêmico e epidêmico por momentos, em grande parte do mundo. Fica longe a idéia de um século de paz.”

Assim, os painéis de guerra e paz de Portinari continuam dramaticamente atuais no século XXI. Não apenas seus riscos, mas principamente as caras, as expressões humanas dos seus indizíveis sofrimentos de mulheres chorando, com filhos mortos, ajoealhadas diante dos seus corpos. As caras do povo – vítima da guerra e sujeito da paz -, que ninguem soube retratar melhor do que Portinari - o pintor da guerra e da paz, o pintor do povo.

Postado por Emir Sader às 10:30
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=136

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Quem fala em nome dos direitos universais?

Do Blog Do Emir: 20/08/2007

- Que bom vir tão longe para conhecer uma experiência tão importante, dizia um líder estudantil italiano ao então ministro de Relações Exteriores da China, Chu-En-Lai. E recebeu a resposta correspondente:
[ . . . ]
Immanuel Wallerstein, em seu último livro publicado no Brasil – O universalismo europeu, da Boitempo – afirma: “A luta entre o universalismo europeu e o universalismo universal é a luta ideológica central do mundo contemporâneo.” Toda força hegemônica pretende falar em nome da universalidade. O ocidente o fez apropriando-se do conceito de “civilização”. O lema “civilização ou barbárie”, do argentino Domingos Faustino Sarmiento, segue sendo determinante no seu modelo hegemônico.
[ . . . ]
Essa expansão seria “natural”, benéfica e historicamente inevitável.
[ . . . ]
Quando os EUA conseguiram apenas 4 dos 15 votos do Conselho de Segurança da ONU ao propor a invasão do Iraque, alegaram que agiam “em legítima defesa” sob o pretexto de que o governo do Iraque possuiria armas de destruição massiva. Quando este argumento se revelou uma falácia, passaram a apelar para o argumento de que tirar um ditador do poder seria um “bem moral”. Se trataria de “defender inocentes”, argumento que levou a Norberto Bobbio, Jurgen Habermas e John Rawls defenderem a “guerra humanitária” na Bósnia.

“Na prática a intervenção é um direito apropriado pelos fortes”, diz Wallerstein. Como resultado, ninguém se atreveu a falar em punição – mesmo que moral – para os invasores do Iraque. A ênfase nos direitos humanos como eixo das políticas internacionais acabou sendo o instrumento dessas intervenções, sua cobertura “humanitária”, fortalecendo o argumento do “dever dos civilizados de suprimir a barbárie”.

Postado por Emir Sader às 10:44
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=132

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Pós-neoliberalismo: da luta social à luta política

Do Blog DO Emir:
31/07/2007

Os movimentos sociais desempenharam o papel estratégico central nas lutas de resistência contra os programas e os governos neoliberais. Seja porque a grande maioria dos partidos aderiram a esses programas, seja porque o neoliberalismo é uma máquina cruel de expropriação de direitos sociais, afetando diretamente aos setores congregados ou representados pelos movimentos sociais.
[ . . . ]
A partir desse momento os movimentos sociais passaram a enfrentar dificuldades maiores, porque sua característica está adaptada para a resistência, mas teriam, desse momento para frente, que construir alternativas políticas. Três caminhos distintos trilharam os movimentos sociais: o da renúncia a partir da disputa político-institucional, como foram os casos dos piqueteiros argentinos na eleição presidencial de 2003 e dos zapatistas em todas as eleições mexicanas desde sua aparição em 1994. Um segundo caminho foi o dos movimentos sociais no Brasil e no Uruguai, que não apresentaram alterantivas próprias, nem se abstiveram mas, com críticas, apoiaram os candidatos da esquerda – Lula e Tabaré Vazquez. O terceiro caminho foi o da Bolívia, em que os movimentos sociais construíram seu proprio partido político – o MAS. Um caso especial foi o Equador, em que os movimentos sociais – da mesma forma que na Bolívia – protagonizaram a derrubada de sucessivos governos, que pretendiam manter o modelo neoliberal. Delegaram politicamente a um candidato – Lucio Gutierrez – e foram traídos ainda antes de que este assumisse a presidência. Nas eleições recentes, Rafael Correa triunfou e canalizou a força social e política acumulada para um projeto pós-neoliberal.
[ . . . ]
Na Bolívia, no Equador e também na Venezuela – cada um de forma distinta – se caminha para conseguir uma rearticulação entre as lutas sociais e as lutas políticas. Não por acaso é nesses países que se dá a ruptura com o modelo neoliberal, com os que souberam acumular força popular na luta de resistência ao neoliberalismo, mas puderam transformar essa energia em força política.

Postado por Emir Sader às 16:23

Leia na íntegra em: http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=128