Deu no Correio da Cidadania:
por Virgílio Arraes,
professor de Relações Internacionais na UnB
Na visão neoconservadora, a II Guerra do Golfo despertou posicionamentos antiamericanos mais incisivos, submersos temporariamente em função do ataque terrorista de 11 de setembro de 2001. Afirma-se que a postura dinâmica da política externa americana, voltada, em princípio, para o estabelecimento de democracias, conduz necessariamente a desgastes, materializados em posições hostis ao país. Seria o ônus natural da liderança dos Estados Unidos, ao ansiar por preservar a estabilidade do sistema internacional, principalmente após a extinção da União Soviética.
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O que fundamenta a contrariedade em relação aos Estados Unidos não são antigos dissabores, da época da dicotomia da Guerra Fria, onde houve apoio, mesmo sem ser, às vezes, tão visível, a golpes de Estados e a ditaduras, em nome da contraposição ao comunismo – vide o caso da América do Sul nos anos 60 e 70. O abatimento advindo de tal comportamento orientaria o governo Carter a modificar a política externa, de sorte que se valorizassem mais os direitos humanos.[ . . . ]
Premente se fez a necessidade de dividir, portanto, os países ditatoriais em dois campos, haja vista a impossibilidade de, no curto prazo, migrá-los - desde que aliados dos Estados Unidos - diretamente para a esfera democrática, em face da necessidade de anular o (filo)comunismo, o que acarretaria, por vezes, medidas extremadas, distantes dos padrões ambicionados pelo governo Carter.[ . . . ]
Contemporaneamente, a inevitabilidade das ditaduras - ainda mais se localizadas na região médio-oriental - não é mais aceita pelos formuladores da política externa norte-americana desde o início dos anos 90, porquanto anacrônicas, isto é, resquícios indesejáveis de uma era finda politicamente em favor das democracias liberais.[ . . . ]
Contudo, nenhuma das intervenções – Afeganistão ou Iraque – desaguou no aguardado pelo governo norte-americano. O resultado provisório indica a ampliação do grau de turbulência de toda a região e, por conseguinte, repúdio da população local. Além do mais, o desrespeito aos direitos humanos materializou-se na base de Guantánamo, minimizado posteriormente em virtude das constantes denúncias de organizações não governamentais e dos meios de comunicação.[ . . . ]
Deste modo, o desgaste do poderio norte-americano não é gerado, a princípio, pela sua presença externa em si, mas pela postura desagarrada em relação a sua própria pregação política, onde se conjugam democracia e liberalismo, estando a primeira bem afastada do cotidiano do Iraque e do Afeganistão.Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/691/102/
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