Deu no Correio do Brasil:
Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro
"Impressionante o poder de mobilização da internet". Essa frase deveria estar gravada em praça pública, por ser absolutamente lapidar. Sem dúvida, a rede mundial de computadores é, hoje, o meio mais abrangente e sedutor que a humanidade já pretendeu inventar. Por aqui, trafega tudo. É um corte vertical e simétrico na forma de ser, de pensar, de agir dos seres humanos. Por isso mesmo, demanda um certo cuidado conferir algum crédito ao que se lê e se assiste, aí na sua telinha de cristal líquido. Mas uma coisa é verdade absoluta: Não há maior poder mobilizador ao alcance das pessoas, de todas as pessoas, do que a internet. Só faltam os bons motivos para que homens e mulheres de todo o mundo se mobilizem.
Sinto, porém - embora os gansos e patos mereçam toda a minha consideração -, que não tenha havido uma mobilização maior quando, no próprio Correio do Brasil, noticiamos os incêndios criminosos na Floresta Amazônica, a morte dos sem-terra no Pará, a miséria nas favelas do Rio de Janeiro, a violência surda na Grande São Paulo. A mesma internet que permite aos nossos milhares de leitores protestar pela morte rápida e indolor, após uma vida digna e frugal, dos patos de todo o mundo, também pode abrigar reações mais efetivas para a humanidade. A mesma indignação manifestada contra o foie gras deve ser canalizada também para ações que possam, por exemplo, acabar com o cinismo na política e nos políticos.
Imaginem o dia em que o CdB publicar a notícia de que milhões de brasileiros, por e-mail, protestaram contra a privatização da Vale do Rio Doce e, diante da avalanche de mensagens aos juízes do STF (a mesma corte de julga o caso do mensalão), o processo contra a maior expoliação do solo brasileiro seja julgado e a companhia devolvida à União. Essa manchete, com certeza, eu gostaria de publicar, com a mesma admiração com que vejo os defensores dos animais de um lado, e do foie gras, de outro, praticar o sentido mais direto e viceral de democracia, na sua literalidade.
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Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil.
Leia na íntegra em http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=124960
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