O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910
Mostrando postagens com marcador petróleo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador petróleo. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Agua e petróleo, a mesma moeda

Deu no Vi o Mundo:
Por Amyra El Khalili*
A América Latina vive hoje uma guerra intestina, mas silenciosa, em pequenos focos espalhados pelo continente, mas que podem eclodir a qualquer momento num emaranhado de ações e convulsões sociais se não estivermos preparados para novos enfrentamentos econômicos e políticos.
[ . . . ]
Se o Oriente Médio sofre por ter seus recursos naturais espoliados, a América Latina sofre com a servidão ao sistema financeiro internacional. Sofre com a usura das altas taxas de juros, a especulação financeira, o endividamento e é vitimada pela corrupção endêmica.
[ . . . ]
Construímos na América Latina a nossa cultura americana árabe, agregando valor à cultura miscigenada dos povos latino-americanos. O carisma, a vontade de trabalhar, a diplomacia e nossa maneira de ser deram a nós, árabes e descendentes, uma vantagem comparativa para negociar e realizar parcerias.
[ . . . ]
Não faz sentido que os recursos obtidos pela exploração do petróleo árabe funcionem como lastro para o sistema financeiro que hoje os bombardeia.
[ . . . ]
Contra uma globalização que tenta extorquir nossos recursos naturais e estratégicos, somente uma nova globalização cultural, inter-racial e inter-religiosa.
[ . . . ]
O mundo árabe tem sua economia centrada nos recursos energéticos não renováveis, um “privilégio” pago com milhares e milhares de vidas. Faz-se estratégico e vital migrar para a energia renovável, com todo conhecimento e tecnologia acumulados ao longo de décadas por aqueles produtores de petróleo.
[ . . . ]
Infelizmente, pouco exportamos em linha reta para o mundo árabe, pois as rotas de comercialização ou foram reduzidas ou foram fechadas para os países em desenvolvimento. Produzimos laranja no Brasil, exportamos in natura ou suco para a Itália, onde é reprocessada e embalada com a marca "made in Italy" e reexportada para os países árabes. Assim, ficamos com todos os riscos de produção, custos de financiamento, encargos e tributos, enquanto as indústrias estrangeiras ficam com a parte gorda dos lucros.
[ . . . ]
Os fundos islâmicos não aplicam em juros, mas podem muito bem financiar a produção de longo prazo, desde que tenhamos também nesses contratos, a contrapartida dos investimentos de base em educação, saúde, agricultura, ciência, cultura, cooperativas de produção, entre outros.
[ . . . ]
No âmbito nacional e continental, é vital que parcerias e acordos garantam a preservação e o uso público e social das bacias hidrográficas e águas subterrâneas transfronteiriças. Trata-se não só de uma questão ambiental e social, mas de soberania e segurança internacional. A crise hídrica mundial que se prenuncia pode transformar o ora pacífico continente no cenário de disputas cruentas como as que têm lugar hoje no Oriente Médio.
[ . . . ]
A alternativa é a estruturação de uma rede de investimentos, parcerias e comercialização, que garanta o monitoramento, a fiscalização e a orientação de negócios e projetos sócio-ambientais na América Latina.
[ . . . ]
Estes são, em resumo, os principais pontos do pronunciamento elaborado por Amyra El Khalili, Eduardo Felício Elias e Além Garcia e encaminhado por Claude Fahd Hajjar ao Primeiro Congresso Fearab América-Liga de Estados Árabes, realizado no Cairo, Egito, entre 10 e 12 de julho de 2006. Esperamos que sirvam de ponto de partida para um amplo debate sobre o futuro deste nosso planeta.

Fontes:

Entrevista por Sandro C. Cardelíquio com Amyra El Khalili - Água e Petróleo, a mesma moeda - para a Revista Eco Spy - Ano 2, n. 07 - Novembro/2006. Editora Risc. www.ecospy.com.br.

Misleh, Soraya. Entrevista com Amyra El Khalili. Do Oriente à América Latina, a cobiça por recursos naturais. Revista Al Urubat - Sociedade Beneficiente Muçulmana de São Paulo. Fevereiro 2007 - nº 785. www.sbmsp.org.sp

El Khalili, Amyra. Elias, Eduardo Felício. Garcia, Além. Boletim 0999 [BECE REBIA] Cúpula do Cairo: Tratado Água e Petróleo, a mesma moeda. Pronunciamento encaminhado por Claude Fahd Hajjar ao Primeiro Congresso Fearab – Federação das Entidades Árabes Americanas e Liga de Estados Árabes, realizado no Cairo, Egito, entre 10 e 12 de julho de 2006 (Documento BECE). 06 de Agosto de 2006.
(*) Amyra El Khalili* é economista, presidente do Projeto BECE (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais. É também fundadora e co-editora da Rede Internacional BECE-REBIA (www.bece.org.br), membro do Conselho Gestor da REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental, do Conselho Editorial do Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br) e da Revista do Meio Ambiente (www.rebia.org.br). É professora de pós graduação com a disciplina "Economia Sócioambiental" na Faculdade de Direito de Campos de Goytacazes, pela OSCIP Prima Sustentabilidade e MBA pela UNOESC, entre outras. Indicada para o "Prêmio 1000 Mulheres para o Nobel da Paz" e para o Prêmio Bertha Lutz. email: (bece@bece.org.br)

Leiam na íntegra em http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/agua-e-petroleo-a-mesma-moeda/

Entrevista de
Amyra El Khalili para a Gazeta do Povo (Paraná): http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/agua-para-promover-a-paz/

terça-feira, 29 de julho de 2008

"É o petróleo, estúpido!"

Deu no Brasil de Fato:
Acordo entre o ministério iraquiano do Petróleo e quatro companhias petrolíferas ocidentais levanta questões delicadas sobre a invasão do Iraque pelos EUA
29/07/2008
Noam Chomsky
O acordo que se perfila entre o ministério iraquiano do petróleo e quatro companhias petrolíferas ocidentais levanta questões delicadas quanto aos motivos da invasão e da ocupação do Iraque pelos Estados Unidos. Estas questões deviam ser levantadas pelos candidatos às eleições presidenciais e discutidas seriamente nos Estados Unidos, assim como no Iraque ocupado, onde parece que a população desempenha apenas um papel menor - se é que desempenha - na definição do futuro do país.
[ . . . ]
"O mundo árabe e parte das população americana suspeitavam que os Estados Unidos tinham entrado em guerra precisamente para proteger a riqueza petrolífera que estes contratos procuram garantir" escreveu Andrew E. Kramer no New York Times. A referência de Kramer a uma suspeita é um eufemismo. É além disso mais provável que a ocupação militar tenha ela própria impulsionado a restauração de uma odiada Companhia Petrolífera Iraquiana, instalada na época da dominação britânica afim de "se alimentar com a riqueza do Iraque no quadro de um acordo notoriamente desequilibrado", como escreveu Seamus Milne no Guardian.

Os últimos relatórios evocam atrasos na apreciação das ofertas. O essencial desenrola-se sob o signo do segredo e não seria surpreendente que surgissem novos escândalos.
[ . . . ]
Em novembro último, estas preocupações tornaram-se explícitas quando o Presidente Bush e o Primeiro ministro iraquiano, Nouri Al-Maliki, assinaram uma "Declaração de princípio", com total desprezo pelas prerrogativas do Congresso americano e do Parlamento iraquiano, assim como da opinião das respectivas populações.
[ . . . ]
A declaração encobre igualmente uma descarada afirmação quanto à exploração dos recursos do Iraque. Nela se afirma que a economia iraquiana, isto é os seus recursos petrolíferos, deve ser aberta aos investimentos estrangeiros, "especialmente americanos". Isto é quase como um anúncio de que vos invadimos para controlar o vosso país e dispor de um acesso privilegiado aos vossos recursos.
[ . . . ]
O recurso extensivo aos "signing statements", que permitem ao poder executivo estender o seu poder, constitui outra das inovações práticas da administração Bush, condenada pela American Bar Association (Associação de advogados americanos) como contrária ao Estado de direito e à separação constitucional dos poderes".
[ . . . ]
Segundo a propaganda de Washington, é o Irã que ameaça a dominação americana no Iraque. Os problemas americanos no Iraque são todos imputados ao Irã. A Secretária de Estado Condoleeza Rice sugere uma solução simples: "as forças estrangeiras" e os "exércitos estrangeiros" deveriam ser retirados do Iraque - os do Irã, não os nossos.
[ . . . ]
Uma ironia é que o Iraque está se transformando pouco a pouco num condomínio americano-iraniano. O governo de Maliki é a componente da sociedade iraquiana sustentada ativamente pelo Irã. O chamado exército iraquiano - exatamente uma milícia entre outras - é largamente constituído pela brigada Badr, treinada no Irã e que foi constituída do lado iraniano durante a guerra Irã-Iraque.
[ . . . ]
O Irã, segundo Rosen, "apoiou claramente o Primeiro ministro Maliki e o governo iraquiano, na altura do recente conflito em Bassra, contra o que eles descrevem como 'os grupos armados ilegais' (do exército Mahdi de Moqtada)", "o que não é surpreendente tendo em conta que o seu principal testa de ferro no Iraque, o Conselho Supremo Islâmico Iraquiano, apoio essencial do governo Maliki, domina o Estado iraquiano."

"Não há guerra por procuração no Iraque", conclui Rosen, "porque os Estados Unidos e o Irã partilham o mesmo testa de ferro".
[ . . . ]
Em termos de relações externas, Steven Simon sublinha que a estratégia contra-insurrecional atual dos Estados Unidos "alimenta as três ameaças que pesam tradicionalmente na estabilidade dos Estados do Médio Oriente: o tribalismo, os senhores da guerra e o sectarismo." Isto poderia desembocar no surgimento de um "Estado forte e centralizado, dirigido por uma junta militar que poderia assemelhar-se" ao regime de Saddam. Se Washington conseguir os seus fins, então as suas ações estão justificadas. Os atos de Vladimir Putin, quando conseguiu pacificar a Tchechênia de uma maneira bem mais convincente que o general David Petraeus no Iraque, suscitam contudo comentários de outra natureza. Mas isto são eles, nós somos os Estados Unidos. Os critérios são portanto totalmente diferentes.
[ . . . ]
De fato, a invasão no seu conjunto constitui um crime de guerra - crime internacional supremo, que difere dos outros crimes de guerra porque gera, segundo os próprios termos do julgamento de Nuremberg, todo o mal causado em seguida. Isto está entre os assuntos impossíveis de abordar na campanha presidencial ou em qualquer outro quadro. Porque estamos no Iraque? Qual é a nossa dívida para com os iraquianos por ter destruído o seu país? A maioria do povo americano deseja a retirada das tropas americanas do Iraque. A sua voz tem importância?
Noam Chomsky é professor de Linguística no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT)

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O preço da gasolina e o futuro

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por
Diomedes Cesário da Silva
13-Mai-2008
Você já deve ter lido que a gasolina nos postos dos EUA é mais barata que no Brasil. Mas, se lá os moradores têm poder aquisitivo superior ao daqui e se importam mais da metade do petróleo consumido internamente, por que isso acontece? Considerando nossa baixa estima de subdesenvolvidos, a resposta imediata poderia ser: porque são mais eficientes e capazes que nós. Na verdade, não é bem assim.
[ . . . ]
A diferença, entretanto, aparece nos impostos: são cerca de US$ 1,20 na Europa, US$ 0,60 no Brasil, US$ 0,40 no Chile, US$ 0,30 na Argentina e apenas US$ 0,10 nos EUA. Os dados, com informações mais detalhadas sobre outros combustíveis e o detalhamento dos impostos pagos, podem ser vistos no sítio http://www.petrobras.com.br/, clicando no título ‘Para você e seu automóvel/Composição de Preços’.
[ . . . ]
Os engarrafamentos cada vez maiores nas grandes cidades como Rio e São Paulo, o aumento desenfreado de venda de carros, os gastos com estradas, viadutos e desapropriações para abrir espaço para os novos veículos devem nos fazer parar para pensar qual o modelo que devemos seguir: o americano que está sendo forçado a mudar, ou o europeu, incentivando o transporte de massas?
[ . . . ]
O petróleo é matéria prima para milhares de produtos, do plástico ao remédio e a química fina. Temos de ter em mente que é um recurso não renovável, formado ao longo de milhões de anos e não temos o direito de esgotá-lo predatoriamente em detrimento das futuras gerações, vendendo hoje o que terão que importar a um custo muito superior amanhã.
Diomedes Cesário da Silva é vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET). Leia na íntergra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1798/58/

terça-feira, 18 de março de 2008

O pré-sal e o enigmático futuro brasileiro

Deu no Brasil de Fato:
Lula anteviu um "Iraque" em nosso território e suspendeu o leilão da ANP; agora é necessário retirar da Petrobras a missão de "honrar seus acionistas"
17/03/2008
Carlos Lessa
Toda profissão tem cacoetes lingüísticos. O geólogo brasileiro denomina os campos submarinos de petróleo existentes abaixo de um enorme e espesso lençol de sal de pré-sal. O geólogo ordena o mundo de baixo para cima. O sal dificulta e encarece a extração, porém preserva um óleo leve e de ótima qualidade.
[ . . . ]
A Petrobrás foi em frente. Perfurou ao longo do mar, desde Espírito Santo até a Bacia de Santos, em busca do pré-sal. Tudo leva a crer que existam campos no mar em uma área de até 800 quilômetros de extensão por 200 quilômetros de largura. As estimativas oscilam entre 30 e 50 bilhões de barris no pré-sal - não é um delírio nacional, esta é a avaliação do Credit Suisse. Hoje temos 14 bilhões de barris provados. Com Tupi, Carioca, Júpiter e seus `compadres`, chegaríamos às reservas atuais da Rússia e da Venezuela.

Um novo Eldorado

O óleo do pré-sal é leve. O Brasil pode confiar nos geólogos, cientistas, engenheiros e tecnólogos que desenvolveremos a tecnologia para estes campos muito profundos e com espessas camadas de sal. Ao Eldorado Verde da Amazônia, descobrimos um Azul, no pré-sal; um novo Eldorado pelo brasileiro e para o brasileiro. Este é o sonho. Pode-se converter em um pesadelo.
[ . . . ]
Após o 11 de setembro, os EUA destruíram os talibãs e, desde então, acusaram o Iraque (100 bilhões de barris) de dispor de armas nucleares. Destruído Saddam, não se descobriu nenhum armamento não convencional. Transferiram, imediatamente, para o Irã a acusação de estar se nuclearizando. Mergulharam de ponta-cabeça no Oriente Médio, pois têm sede de petróleo - aliás, a China e a Índia também.
[ . . . ]

Leilões da ANP

A primeira pergunta que ocorre é: o petróleo do pré-sal é nosso? Logo depois: até quando? O neoliberalismo já promoveu nove rodadas de leilões.

A ANP - instituição que no passado seria denominada de 'entreguista' - pretendeu acelerar uma nova rodada nos blocos do pré-sal. Com clarividência, o presidente Lula suspendeu a rodada e solicitou à ministra Chefe da Casa Civil que estudasse uma nova legislação de regulamentação da economia do petróleo. Creio que Lula anteviu um possível 'Iraque' em nosso território. O presidente sabe que a Petrobrás pode, técnica e financeiramente, desenvolver Tupi e outros campos do pré-sal. Sabe que não se brinca com soberania na 'Amazônia azul'. Nossa Marinha de Guerra precisa do submarino nuclear; nossa Aeronáutica precisa de mísseis e da Base de Alcântara, porém quem garante que não seremos acusados de belicismo?
[ . . . ]
A premissa maior é reassumir a Petrobrás como empresa estratégica para o futuro desenvolvimento brasileiro e escudo protetor de uma geopolítica potencialmente ameaçadora. Para tal, é necessário retirar da companhia sua medíocre missão atual: "honrar seus acionistas". Aliás, o Dr. Meirelles, com o desejado fundo soberano, poderia converter o Banco Central em 'acionista', recomprando as ações que os governos liberalizantes venderam para estrangeiros.

A diretoria da Petrobrás, em vez de saber a cotação da ação em Wall Street, deveria estar articulada com o presidente da República, expondo ao Brasil o modo de manter o Eldorado em nossas mãos.
Carlos Lessa é economista e ex-presidente do BNDES. Artigo publicado originariamente no jornal 'Valor Econômico'
Leia na íntegra em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/o-pre-sal-e-o-enigmatico-futuro-brasileiro

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

A economia pós-petrolífera: Depois da tecno-reparação

Deu no Resisitir.Info:
por Peter Goodchild [*]
Mesmo quando lutam com a ideia da desintegração económica, os americanos tentam ultrapassá-la em termos de progresso tecnológico ou económico: eco-aldeias, desenvolvimento sustentável, eficiência energética e assim por diante. Sob as presentes circunstâncias, tal tecno-optimismo compulsivo parece inadequado". — Dmitry Orlov, "Our Village"

O caminho para além do petróleo começa pela consideração de cinco princípios: de que as fontes alternativas de energia são insuficientes; de que os hidrocarbonetos, metais e electricidade são inseparáveis; de que a tecnologia avançadas é parte do problema e não parte da solução; de que agricultura pós-petrolífera significa uma população mais pequena; e de que a base do problema é psicológica e não tecnológica.
[ . . . ]
1. As fontes alternativas de energia são insuficientes

As fontes alternativas de energia nunca serão muito utilizadas, principalmente devido ao problema da "energia líquida": a quantidade do output de energia das fontes alternativas não é suficientemente maior do que a quantidade de input de energia (a qual são hidrocarbonetos). As fontes alternativas não são suficientes para abastecer as necessidades anuais da "sociedade industrial" tal como é geralmente entendida tal expressão.
[ . . . ]
As pilhas de combustível (fuel cells) não podem ser tornadas práticas porque tais dispositivos exigem hidrogénio derivado dos hidrocarbonetos. Os biocombustíveis (exemplo: do milho) exigem enormes quantidades de terra e resultam em quantidades insuficientes de energia líquida. As barragens hidroeléctricas estão a atingir os seus limites práticos. A energia nuclear dentro em breve estará a padecer da falta de combustível e já cria sérios perigos ambientais.
[ . . . ]
O gasto mundial de energia primária foi de 11 x 10 9 toneladas equivalentes de petróleo (tep) em 2006. É difícil imaginar um número de tal grandeza – é muitíssimo. Por volta de 2030 o abastecimento mundial de petróleo estará tão esgotado que a Era Industrial estará ultrapassada, para todos os propósitos práticos. Mas os proponentes da "energia alternativa" esperam transformar todo o planeta num espaço de tempo que seria implausível mesmo num trabalho de ficção científica.
[ . . . ]
2. Os hidrocarbonetos, os metais e a electricidade são inseparáveis

O minério de ferro daquela espécie que pode ser processada com equipamento primitivo está a tornar-se escasso, e apenas as formas menos tratáveis estarão disponíveis quando a maquinaria movida a petróleo já não estiver disponível — um problema do tipo do ovo e da galinha. O cobre, o alumínio e outros metais também estão a desaparecer rapidamente. Os metais foram úteis à espécie humana apenas porque outrora podiam ser descobertos em bolsões concentrados na crosta da Terra, agora eles estão irremediavelmente dispersos entre as montanhas de lixo do mundo.
[ . . . ]
Os hidrocarbonetos, os metais e a electricidade estão todos intrincadamente conectados. Cada um deles é acessível — à escala moderna — só quando os outros dois estão presentes. Qualquer dos dois desaparecerá sem o terceiro. Se imaginarmos um mundo sem hidrocarbonetos, devemos imaginar um mundo sem metais ou electricidade. Não há meio de romper este "triângulo".

3. A tecnologia avançada é parte do problema e não parte da solução

Sejam quais forem as opções disponíveis no futuro, elas não serão encontradas na tecnologia avançada, em soluções "high-tech". Há três razões porque isto é assim. Em primeiro lugar, quaisquer dispositivos de "energia alternativa" teriam de ser criados de plásticos e metais. Em segundo lugar, eles teriam de ser controlados pela electricidade. Finalmente, teriam de ser criados por máquinas grandes e refinadas e transportados a longas distâncias. Mas toda a questão ao especular acerca da "energia alternativa" é em primeiro lugar encontrar uma resposta para aquela crise particular — o facto de que nenhum destes três factores existirá em anos futuros.
[ . . . ]
A tecnologia avançada é parte do problema a ser resolvido, não a própria solução. Pode haver alguma forma de tecnologia que possa salvar-nos do esgotamento de hidrocarbonetos, mas não certamente não é "high". Falar em "métodos high-tech" como se eles fossem em grande medida sinónimos de "métodos empregando fontes alternativas de energia" é em última análise contraditório e auto-derrotante.
[ . . . ]
4. Agricultura pós-petróleo significa uma população mais reduzida

A agricultura moderna está dependente dos hidrocarbonetos para os fertilizantes (o processo Haber-Bosch combina gás natural com nitrogénio atmosférico para produzir fertilizante azotado), pesticidas e a operação de máquinas para colheita, processamento e transporte. A Revolução Verde foi a invenção de um meio de converter petróleo e gás natural em alimento. Sem hidrocarbonetos, os métodos modernos de produção alimentar desaparecerão. A produção alimentar será grandemente reduzida, e não haverá meios práticos de transportar comida a longas distâncias.
[ . . . ]
No entanto, uma pequena população humana pode sobrevier com a agricultura, pelo menos se ela reverter a alguns métodos primitivos. Algumas culturas asiáticas trazem material de plantas silvestres das montanhas e usam-no como fertilizante, assim utilizando o N-P-K (etc) das mesmas. Muitas outras culturas utilizam cinzas de madeira. A "fonte" nutriente das plantas silvestres alimenta o "sumidouro" ("sink") de nutrientes da terra cultivada. (Isto é um dos princípios básico por trás de toda a "jardinagem orgânica", embora poucos praticantes o admitam ou mesmo saibam disto).
[ . . . ]
5. A base do problema é psicológica, não tecnológica

Quando a crise petrolífera piorar haverá várias formas de comportamento aberrante: negação, raiva, paralisia mental. Haverá um aumento do crime, haverá estranhos cultos religiosos ou movimentos políticos extremistas. A razão para tal comportamento é que no fundamental o problema do pico petrolífero não é acerca tecnologia, não é acerca da ciência económica, e não é acerca da política. Ele é em parte acerca da tentativa da humanidade de desafiar a geologia. Mas é principalmente acerca da psicologia: a maior parte das pessoas não pode apreender aquilo que William Catton denomina "ultrapassar os limites" ("overshoot").

Nós não podemos encarar o facto de que como espécie ultrapassámos a capacidade do planeta para nos acomodar. Nós nos multiplicámos para além dos limites. Consumimos, poluímos e expandimo-nos para além dos nossos meios, e após vários milhares de ano de soluções tecnológicas superficiais estamos agora a esgotar as respostas. Biólogos explicam tal expansão em termos de "capacidade biótica máxima" ("carrying capacity"): roedores e lebres da neve — e um grande número de outros espécies — têm o mesmo problema; a super-população e o super-consumo conduzem à extinção (die-off). Mas os humanos não podem encarar tal conceito. Ele vai contra o cerne de todas as nossas crenças religiosa e filosóficas.

22/Dezembro/2007

Outras leituras:
BP Global Statistical Review of World Energy. Annual. http://www.bp.com/statisticalreview
Campbell, Colin J. The Coming Oil Crisis . Brentwood, Essex: Multi-Science, 1997.
Catton, William R., Jr. Overshoot: The Ecological Basis of Revolutionary Change . Champaign, Illinois: U. of Illinois P, 1980.
Deffeyes, Kenneth S. Hubbert's Peak: The Impending World Oil Shortage . Princeton: Princeton UP, 2001.
Gever, John, et al. Beyond Oil: The Threat to Food and Fuel in the Coming Decades . Cambridge, Massachusetts: Ballinger, 1986.
Meadows, Donella H. et al. Limits to Growth: A Report for the Club of Rome's Project on the Predicament of Mankind . 2nd ed. New York: Universe, 1982.

Do mesmo autor:
Pico petrolífero: A energia alternativa e o Princípio Poliana

[*] Autor de Survival Skills of the North American Indians . Contacto: petergoodchild@interhop.net

O original encontra-se em http://www.countercurrents.org/goodchild221207.htm
Leia na íntegra em http://www.resistir.info/peak_oil/goodchild_22dez07.html