Deu no Vi o Mundo:A América Latina vive hoje uma guerra intestina, mas silenciosa, em pequenos focos espalhados pelo continente, mas que podem eclodir a qualquer momento num emaranhado de ações e convulsões sociais se não estivermos preparados para novos enfrentamentos econômicos e políticos.
Por Amyra El Khalili*
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Se o Oriente Médio sofre por ter seus recursos naturais espoliados, a América Latina sofre com a servidão ao sistema financeiro internacional. Sofre com a usura das altas taxas de juros, a especulação financeira, o endividamento e é vitimada pela corrupção endêmica.[ . . . ]
Construímos na América Latina a nossa cultura americana árabe, agregando valor à cultura miscigenada dos povos latino-americanos. O carisma, a vontade de trabalhar, a diplomacia e nossa maneira de ser deram a nós, árabes e descendentes, uma vantagem comparativa para negociar e realizar parcerias.[ . . . ]
Não faz sentido que os recursos obtidos pela exploração do petróleo árabe funcionem como lastro para o sistema financeiro que hoje os bombardeia.[ . . . ]
Contra uma globalização que tenta extorquir nossos recursos naturais e estratégicos, somente uma nova globalização cultural, inter-racial e inter-religiosa.[ . . . ]
O mundo árabe tem sua economia centrada nos recursos energéticos não renováveis, um “privilégio” pago com milhares e milhares de vidas. Faz-se estratégico e vital migrar para a energia renovável, com todo conhecimento e tecnologia acumulados ao longo de décadas por aqueles produtores de petróleo.[ . . . ]
Infelizmente, pouco exportamos em linha reta para o mundo árabe, pois as rotas de comercialização ou foram reduzidas ou foram fechadas para os países em desenvolvimento. Produzimos laranja no Brasil, exportamos in natura ou suco para a Itália, onde é reprocessada e embalada com a marca "made in Italy" e reexportada para os países árabes. Assim, ficamos com todos os riscos de produção, custos de financiamento, encargos e tributos, enquanto as indústrias estrangeiras ficam com a parte gorda dos lucros.[ . . . ]
Os fundos islâmicos não aplicam em juros, mas podem muito bem financiar a produção de longo prazo, desde que tenhamos também nesses contratos, a contrapartida dos investimentos de base em educação, saúde, agricultura, ciência, cultura, cooperativas de produção, entre outros.[ . . . ]
No âmbito nacional e continental, é vital que parcerias e acordos garantam a preservação e o uso público e social das bacias hidrográficas e águas subterrâneas transfronteiriças. Trata-se não só de uma questão ambiental e social, mas de soberania e segurança internacional. A crise hídrica mundial que se prenuncia pode transformar o ora pacífico continente no cenário de disputas cruentas como as que têm lugar hoje no Oriente Médio.[ . . . ]
A alternativa é a estruturação de uma rede de investimentos, parcerias e comercialização, que garanta o monitoramento, a fiscalização e a orientação de negócios e projetos sócio-ambientais na América Latina.[ . . . ]
Estes são, em resumo, os principais pontos do pronunciamento elaborado por Amyra El Khalili, Eduardo Felício Elias e Além Garcia e encaminhado por Claude Fahd Hajjar ao Primeiro Congresso Fearab América-Liga de Estados Árabes, realizado no Cairo, Egito, entre 10 e 12 de julho de 2006. Esperamos que sirvam de ponto de partida para um amplo debate sobre o futuro deste nosso planeta.
Fontes:
Entrevista por Sandro C. Cardelíquio com Amyra El Khalili - Água e Petróleo, a mesma moeda - para a Revista Eco Spy - Ano 2, n. 07 - Novembro/2006. Editora Risc. www.ecospy.com.br.
Misleh, Soraya. Entrevista com Amyra El Khalili. Do Oriente à América Latina, a cobiça por recursos naturais. Revista Al Urubat - Sociedade Beneficiente Muçulmana de São Paulo. Fevereiro 2007 - nº 785. www.sbmsp.org.sp
El Khalili, Amyra. Elias, Eduardo Felício. Garcia, Além. Boletim 0999 [BECE REBIA] Cúpula do Cairo: Tratado Água e Petróleo, a mesma moeda. Pronunciamento encaminhado por Claude Fahd Hajjar ao Primeiro Congresso Fearab – Federação das Entidades Árabes Americanas e Liga de Estados Árabes, realizado no Cairo, Egito, entre 10 e 12 de julho de 2006 (Documento BECE). 06 de Agosto de 2006.
(*) Amyra El Khalili* é economista, presidente do Projeto BECE (sigla em inglês) Bolsa Brasileira de Commodities Ambientais. É também fundadora e co-editora da Rede Internacional BECE-REBIA (www.bece.org.br), membro do Conselho Gestor da REBIA - Rede Brasileira de Informação Ambiental, do Conselho Editorial do Portal do Meio Ambiente (www.portaldomeioambiente.org.br) e da Revista do Meio Ambiente (www.rebia.org.br). É professora de pós graduação com a disciplina "Economia Sócioambiental" na Faculdade de Direito de Campos de Goytacazes, pela OSCIP Prima Sustentabilidade e MBA pela UNOESC, entre outras. Indicada para o "Prêmio 1000 Mulheres para o Nobel da Paz" e para o Prêmio Bertha Lutz. email: (bece@bece.org.br)
Leiam na íntegra em http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/agua-e-petroleo-a-mesma-moeda/
Entrevista de Amyra El Khalili para a Gazeta do Povo (Paraná): http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/agua-para-promover-a-paz/