O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910
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terça-feira, 6 de maio de 2008

Novo sinal vermelho nas contas externas

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por Paulo Passarinho
05-Mai-2008
O Banco Central divulgou na última segunda-feira, 28/04, os resultados das contas externas brasileiras do mês de março. Com isso, tivemos o resultado consolidado desses indicadores para o primeiro trimestre do ano. Os números são mais que preocupantes.
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A piora nas contas externas já era esperada, por uma combinação de fatores. A aceleração das importações, de uma forma mais acentuada do que as receitas das exportações, é um desses fatores e muitos o atribuem à dinâmica do crescimento econômico em curso. Para esses analistas, a compra no exterior de máquinas e equipamentos, principalmente, indicaria que a economia estaria passando por uma fase de modernização, de ganhos de produtividade que acabariam fazendo com que o aumento da competitividade de diversos setores da economia logo viesse a apresentar melhores resultados, especialmente em termos de receitas de exportações, e, com isso, voltaríamos a ter uma ampliação do saldo de comércio do país.
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Daí a importância dos saldos comerciais, para a manutenção de um modelo econômico perverso, antinacional e antipopular. Entretanto, desde 2006, quando alcançamos um saldo recorde de 46,5 bilhões de dólares, esse resultado vem se apresentando em queda. No ano passado, houve um recuo no resultado acumulado da balança comercial, com um saldo de US$ 40 bilhões. E, para esse ano, a partir de uma estimativa inicial de um resultado positivo de US$ 30 bilhões, já há projeções que apontam que dificilmente chegaremos a um saldo de 20 bilhões. Até o mês de março desse ano, por exemplo, o saldo comercial alcançou a cifra de US$ 2,8 bilhões – no mesmo período do ano passado, esse resultado foi de US$ 8,7 bilhões.
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Esses resultados da balança comercial, e os números dessa conta de serviços e rendas, incluindo o resultado das transferências de recursos de empresas e indivíduos brasileiros do exterior para cá, nos fornece o resultado das transações correntes do país com a economia mundial. O resultado acumulado dessa chamada conta corrente, no ano, já está negativo em US$ 10,8 bilhões, até o mês de março.
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Toda essa mudança visível a que estamos assistindo nos números relativos às nossas transações correntes com o resto do mundo vem se dando em um quadro onde as conseqüências da crise financeira internacional ainda não nos atingiram. A principal razão, por exemplo, da rápida diminuição do saldo comercial do país é a forte valorização do real em relação ao dólar, estimulada e agravada pela elevada taxa de juros real que se mantém como a mais alta do mundo.
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Esperam, também, contar com o ingresso de investimentos diretos, na área produtiva, através da aquisição de empresas ainda brasileiras, ou em novos investimentos, principalmente na área do agronegócio, onde Lula tem se apresentado como uma espécie de garoto-propaganda pelo mundo afora.
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A mudança deve se dar no conjunto da obra. Na forma como o Brasil se relaciona economicamente com os outros países, e na própria maneira como concebemos o que vem a ser a economia produtiva do país.

São mudanças que implicam alterar, por completo, a atual ordem macroeconômica, para que possamos voltar a pensar em um Brasil com reforma agrária para valer, e uma nova política agrícola; com a recuperação e a universalização de serviços públicos de alta qualidade; e com uma política de industrialização, sob controle dos brasileiros, e com respeito ao meio-ambiente. É o mínimo que devemos exigir, em um momento em que o mundo do capital reedita suas terríveis crises, e, ao mesmo tempo, a nossa América clama por mudanças substantivas.
Paulo Passarinho é economista.
Lei an íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1759/124/

sexta-feira, 2 de maio de 2008

“Investment”, continuidade de quê?


Deu na Agência Carta Maior:
Há seis anos o cenário era de terra arrasada. Renda estagnada, taxa de desemprego em patamares altíssimos e dívida pública de 58% em relação ao PIB compunham a aquarela de “uma política econômica clássica". Também fez parte dessa política do consórcio PSDB/PFL um processo de privatização criminosa do Estado brasileiro.
Gilson Caroni Filho
Embora não sejam os olhos de Capitu, os jornalistas brasileiros costumam produzir textos oblíquos e dissimulados. A decisão da agência de risco Standard & Poor's de promover o país à condição de "investment grade” fez com que a grande imprensa se esmerasse na produção da sinuosidade tão apreciada pelo "leitor Bentinho" de todo dia. Aquele que tem ressaca cívica na retina e não percebe que o arrazoado conservador, para o qual dobram os sinos de todas as editorias, é o cemitério da ética.
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Carlos Alberto Sardenberg, comentarista econômico da TV Globo e âncora da rádio CBN, escreveu em seu blog que "a classificação não depende de um ponto exclusivo, mas do conjunto da obra. E a obra é uma política econômica clássica, cujo construção começou com o lançamento do real em 1994, e seguiu com vários passos, sendo os principais: a introdução do regime de metas de inflação em 1999, do regime de câmbio flutuante também em 1999 e a definição de leis e normas que colocaram as contas públicas sob controle". Ou seja estaríamos diante de um processo evolutivo, sem rupturas ou descontinuidades. Pura prestidigitação. O que se apresenta como registro jornalístico é uma peça ideológica que busca, através do falseamento, ocultar agendas totalmente distintas.
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Há seis anos o cenário era de terra arrasada. Renda estagnada, taxa de desemprego em patamares altíssimos e dívida pública de 58% em relação ao PIB compunham a aquarela de “uma política econômica clássica". Em oito anos, o índice de inflação acumulada foi de 100,7%. Não esqueçamos que fez parte do "equilíbrio macroeconômico” do consórcio PSDB/PFL (atual DEM) um processo de privatização criminosa do Estado brasileiro que torrou, a pretexto de sanear a dívida pública, US$100 bilhões de ativos públicos. E, aos que hoje vociferam contra uma política fiscal expansionista, lembremos que nos tempos da insensatez tucana a carga tributária pulou de 28,3% para 35,7% do PIB. Nesse ponto cabe uma inflexão.
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Quando Fernando Henrique Cardoso diz que “já deveriam ter dado a nova classificação há mais tempo", paira uma ambigüidade: há nessa afirmação uma autocrítica inédita ou ela revela uma privação de sentido? Com a palavra, os saudosistas do cassino.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3878

sexta-feira, 25 de abril de 2008

O preço do aumento dos juros

Deu na CTB:
Por
Paulo Nogueira Batista Jr*
Peço ao leitor licença para voltar ao tema dos juros e publicar hoje um artigo um pouco mais técnico. Há uma razão para mudar o registro. É que os defensores dos juros altos costumam se refugiar no argumento de que é deles o monopólio do saber técnico. Os críticos da política monetária seriam economistas desencaminhados ou pessoas politicamente motivadas -"populistas", em suma, que não conhecem a importância do combate à inflação e o papel dos juros.
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Ao desacelerar a demanda interna, o aumento dos juros reduz a pressão sobre os preços dos "non-tradeables", isto é, dos bens e serviços que são determinados domesticamente pela interação entre oferta e demanda. Ao provocar apreciação cambial, juros mais altos diminuem os preços dos "tradeables", isto é, dos bens e serviços importados ou exportáveis, cujos preços em reais refletem essencialmente os preços internacionais e a taxa de câmbio.
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Em outras palavras, juros mais elevados costumam cobrar o seu preço em termos de crescimento da economia e desemprego. Normalmente, o efeito antiinflacionário se faz sentir quando ocorre a redução da demanda interna, deprimindo as vendas e a produção. Ou seja: as quantidades se ajustam antes dos preços. Enquanto isso, o efeito antiinflacionário da apreciação cambial induzida pelos juros mais altos se traduz em perda de competitividade dos setores que exportam e dos que competem com importações no mercado interno. O produto e o emprego acabam prejudicados pela contração da demanda, pela perda de dinamismo das exportações e pela substituição de produção doméstica por importações.
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Concentram a renda, pois beneficiam a minoria de privilegiados (brasileiros e estrangeiros) que são credores diretos e indiretos do governo. E, como se isso tudo não bastasse, contribuem para agravar a valorização do real, ameaçando recriar o problema da vulnerabilidade externa no médio prazo.
*Economista e diretor-executivo do FMI Fonte: jornal Folha de S. Paulo, edição do dia 24 de abril de 2008 Leia na íntegra em http://portalctb.org.br/site/index.php?option=com_content&Itemid=&task=view&id=166

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Bloqueios do crescimento

Deu no Vermelho:
por
Luciano Siqueira*
O Banco Central, conluiado com o sistema financeiro privado e com amplo apoio da mídia conservadora, fomenta o ambiente para o bloqueio do crescimento da economia. E avança: fez com que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentasse a taxa de juro básica (Selic) em 0,5 ponto – de 11,25% para 11,75% –, e agora comemora cortes substanciais no Orçamento da União.

Segundo o Decreto nº 6.439, publicado ontem no Diário Oficial da União, estão contingenciados R$ 19,2 bilhões no Poder Executivo, com destaque para o Ministério das Cidades, que terá o maior corte nominal no orçamento do Executivo neste ano: R$ 2,720 bilhões – prejudicando programas de ciclovias, de habitações de interesse social e de infra-estrutura. Péssimo para nossas cidades, tão carentes de recursos para investimentos em intervenções físicas em favor da melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes.
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O pretexto é falacioso: pressão inflacionária. Entretanto, a rigor não se pode afirmar que o país esteja ameaçado pela inflação. Há, sim, uma expansão expressiva do consumo impulsionado pelos aumentos reais do salário-mínimo e da massa salarial, e pela ampliação do crédito. Porém nada que a base produtiva em incremento não suporte.
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E os banqueiros, como ficam? Segundo informa o Valor Econômico, nem esperaram o anúncio do aumento da Selic, na semana passada, para elevar os juros. Novas tabelas das taxas para financiamento de veículos chegaram às revendas de automóveis um dia antes. Enquanto o crédito para empresas também ficou mais caro, com elevação média de 0,12 ponto percentual na taxa efetiva do capital de giro e desconto de duplicatas.

Enquanto isso, no noticiário dominante pontificam o denuncismo irresponsável e a seqüência de factóides fabricados pela oposição, como se o Brasil real fosse movido a dossiês e a cartões corporativos.
*Luciano Siqueira, Médico
Leia na íntegra em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=36522

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Hora de reavaliar o movimento de desregulação financeira?

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:

Artigo de Fernando Cardim de Carvalho "Não deve surpreender ninguém que turbulências financeiras de maior ou menor gravidade fizeram sua reentrada no cenário mundial exatamente depois que a contra-revolução liberal persuadiu lideranças políticas de vários países a promover a chamada desregulação", afirma Fernando Cardim de Carvalho, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) em artigo publicado no jornal Valor, 24-08-2007.

Segundo ele, "as ineficiências de mercados financeiros insuficientemente regulados não são pragas apenas de países em desenvolvimento. A crise atual foi gerada nos Estados Unidos e expandiu-se pelos centros financeiros mais avançados da Europa e da Ásia. Países em desenvolvimento, como o Brasil, sofrem o impacto dessa crise porque também tomaram o bonde da desregulação, mas nada têm a ver com sua origem".

Eis [trechos d]o artigo.

A reação dos principais mercados financeiros nesta semana, após os repetidos acenos de altas autoridades, especialmente americanas, de que utilizariam os instrumentos que fossem necessários para impedir que as turbulências se agravassem, podem dar ao público em geral uma falsa sensação de segurança e conforto. Não é impossível que os mercados financeiros passem a se comportar de forma mais estável daqui para diante, mas é altamente improvável. As medidas tomadas pelos principais bancos centrais do mundo, especialmente o Federal Reserve e o BCE, foram até certo ponto surpreendentemente inspiradas, contribuindo para desacelerar a degradação do mercado de títulos imobiliários, mas, neste ponto, a probabilidade maior ainda é a de que estejamos vivendo no intervalo de duas ondas de um tsunami, em que a calmaria do mar é apenas temporária.

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Já para outros economistas, mercados financeiros são inerentemente instáveis, propensos a gerar exageros, seja exagerando altas até transformá-las em bolhas especulativas, seja exagerando as quedas, gerando as chamadas crises sistêmicas. Essa instabilidade não resultaria da intervenção pública, nem seria acidental, mas, sim, do fato da vida de que investimentos dependem de expectativas e essas, ao contrário da ficção proposta pelos adeptos das "expectativas racionais", são influenciadas por fatores subjetivos, como o estado de confiança e o animal spirits de que falava Keynes. Todo investimento implica na aceitação de um risco, muitas vezes incalculável, em troca da perspectiva de um ganho. A avaliação desse risco é inevitavelmente subjetiva, mas sofre também a influência da experiência do investidor. Os investidores que perderam o que tinham na crise das Bolsas brasileiras em 1971 certamente se tornaram instintivamente pessimistas. Já aqueles investidores e operadores americanos que se acostumaram com o longo impulso expansivo dos mercados nos anos 1990, naturalmente foram se tornando sempre mais ousados. A experiência desse período foi a de que não havia como perder dinheiro, por mais exótico que fosse o investimento.

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Neste quadro, a intervenção pública deve estar sempre dirigida à contenção de excessos, embora nem sempre isso seja viável. O primeiro instrumento a ser utilizado é a regulação financeira. Não deve surpreender ninguém que turbulências financeiras de maior ou menor gravidade fizeram sua reentrada no cenário mundial exatamente depois que a contra-revolução liberal persuadiu lideranças políticas de vários países a promover a chamada desregulação. As ineficiências de mercados financeiros insuficientemente regulados não são pragas apenas de países em desenvolvimento. A crise atual foi gerada nos Estados Unidos e expandiu-se pelos centros financeiros mais avançados da Europa e da Ásia. Países em desenvolvimento, como o Brasil, sofrem o impacto dessa crise porque também tomaram o bonde da desregulação, mas nada têm a ver com sua origem. Os já lendários fundos de hedge, que levaram o mundo à beira da catástrofe, em 1998, com a crise do LTCM, continuam atuando de forma livre e desimpedida, a ponto de incomodar até líderes conservadores como a primeira-ministra Merkel ou o presidente Sarkozy.

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Por outro lado, o impacto dessas turbulências em países como o Brasil devem levar também a uma nova reflexão sobre um aspecto importante do processo de desregulação, que foi o desmantelamento dos controles de capitais. O Brasil, com a liberalização da conta de capitais, se expõe aos efeitos dessa crise, com a entrada e saída repentina de capitais tanto de residentes quanto de não-residentes, a troco de nada. A crise, e seus desdobramentos futuros, abrem uma oportunidade de corrigir este erro."

Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=9111