Há pelo menos trinta anos, a reflexão de Paul Virilio gira em torno da idéia de que a velocidade com a qual se processa a inovação tecnológica não permite mais nenhuma possibilidade de controle da parte de um indivíduo político racional. Nos anos noventa, o filósofo e urbanista francês interveio no “caso Berlusconi”, que leu como um incidente específico de alcance mundial, devido ao desenvolvimento exponencial da informação enquanto poder. Suscitou assim um notável interesse pelo movimento ciberpunk da época, também graças aos seus apelos a uma espécie de guerrilha midiática e aos seus contatos com a comunidade hacker de Amsterdã.
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Antecipado por Merleau-Ponty, que já em 1953 constatava que “a obediência cega é o início do pânico”, Virilio – tendo experimentado a ditadura do olho insone de um sistema da informação totalizante – pode relançar o seu alarme, definindo com a metáfora da “tele-objetividade” a condição de quem pode apenas olhar “além do horizonte das aparências objetivas”. A superação dramática “daquilo que era apenas esboçado com a reprodução industrial das imagens, analisada por Walter Benjamin”, é evidenciada assinalando, na era da webcam e da tele-vigilância, a destruição definitiva da experiência estética, construída nos séculos das artes visuais. Por este motivo, na paisagem da destruição provocada pela difusão e pelo desenvolvimento ilimitado das tecnologias audiovisuais, “a arte de ver” se tornou “a arte do cegamento”.
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Aquilo que se torna verdadeiramente humano é, então, o cuidado dos vestígios do vivido, da literatura, da arte e da poesia. Aqui não se trata de preservar obras boas para um museu; está em jogo a defesa de uma condição da experiência humana que corre o risco de ser definitivamente dissolvida. A exigência explícita é por uma “filosofia política” que esteja em condições, mais do que de descrever uma passagem crucial, de individuar estratégias através das quais “o conjunto dos viventes reunidos diante de suas telas” possam libertar-se desta nova versão de capitalismo global que se apossa sempre mais das tecnologias da informação e de uma nova estratégia da comunicação. Os poderes que atravessam estas novas tecnologias criam agora dispositivos centrais da biopolítica, entendida como produção dos corpos vivos.Artigo de Nando Vitale, publicado no jornal Il Manifesto, de 17 de julho de 2007.
Leia na íntegra em http://diariogauche.blogspot.com/2007/08/mdia-elimina-possibilidade-de-ver.html
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