O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

A engenharia da destruição

Deu na Agência Carta Maior:

DEBATE ABERTO
Os incansáveis empreendedores da destruição não se cansam. Mas batem, batem, batem, e não adianta. Como bolo de forno, quanto mais leva bordoada na imprensa, mais cresce a popularidade do governo Lula. Afinal, o que está acontecendo neste país?
Lula Miranda


Até para destruir é preciso engenho – e, talvez, “arte”. Esse é um lema que serve, como uma luva, àquelas empresas que executam serviços de demolição – como as que se utilizam da técnica da implosão, por exemplo. Mas serve, também como uma luva, aos grupos – econômicos, políticos e de mídia – que, desde praticamente o primeiro dia do primeiro mandato, golpeiam, sem cessar, o governo Lula. Utilizando-se, inclusive, sobejamente, de golpes baixos, de ataques a amigos e parentes mais próximos do presidente (filhos, esposa, irmãos etc): uma covardia inominável. Com o intuito sabido de fragilizar e, por fim, interditar, “implodindo” assim o seu governo.
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Assim, lançando mão de técnicas engenhosas de destruição, engenheiros e operários ruinosos, a serviço de certos “donos do poder”, tentaram (e ainda tentam) “desconstruir” e impedir o governo Lula e a imagem do PT. Você deve se lembrar: um a um, homens que seriam supostos “pilares” do governo foram atacados, acuados, “fragilizados”, “demonizados” e, em alguns casos, efetivamente derrubados: Zé Dirceu, Palocci, Gushiken, Marcio Tomaz Bastos, dentre outros. A estratégia era simples, como as da implosão: derrubados os pilares, o prédio ruiria. Em síntese essa era uma das técnicas utilizadas pela engenharia da destruição (e do golpismo). Veremos outras a seguir.
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O “erro de cálculo” foi que, assim como por vezes ocorre nas demolições controladas e sincronizadas, dinamitados os que supostamente seriam os pilares do governo, este prosseguiu incólume, teimoso, de pé. O que não fora, em absoluto, previsto pelos engenheiros e operários da destruição golpista.

Para surpresa e assombro de muitos, assim como em certas obras do comunista Niemeyer, a laje de sustentação desse governo se projeta e avança inefável e imponente no ar. Aparentemente [mas só aparentemente], tal qual a poesia, “mágica” e a técnica subversiva da arquitetura do comunista centenário: sem sustentação, sem pilares. Os verdadeiros e inexpugnáveis pilares ocultos, descobriu-se mais tarde, eram as dezenas de milhões de votos recebidos do povo brasileiro, e o desejo, desse mesmo povo, de que o governo Lula prosseguisse firme. Notadamente agora que o país, ao que indicam todos os índices, estudos e projeções, parece entrar definitivamente na rota do crescimento e do desenvolvimento. Não é hora de destruir, é hora de construir.
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Assim, num gesto extremado, os “engenheiros” chegariam ao paroxismo de cortar na própria carne. Exporiam em público suas vísceras pútridas, numa espécie de imolação estratégica, grandiloqüente e “marketeira”. Era o episódio do suposto escândalo do “mensalão” quando o deputado Roberto Jefferson traiu a omertà. A grande mídia recrudesceria novamente sua artilharia, e bateria incessantemente, sem dó nem piedade, nos parlamentares da base governista, tentando jogar a crise (ou a bomba) no colo do governo.
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O Congresso expôs suas vergonhas. A sua revelia, decerto, a partir de uma iniciativa marota de um dos seus, que resolvera, num gesto calculado, e de modo espetacular, tornar público seus inconfessáveis segredos e procedimentos escusos, uma vez que aqueles procedimentos (caixa 2, troca-troca de partidos, negociação no “varejão” de emendas orçamentárias etc.) agora serviam à sustentação política daquele governo que precisavam, com urgência, derrubar. Derrubado aquele governo, aquelas práticas, ora condenadas e devidamente expostas à execração pública, voltariam, silenciosas e cínicas como antes, a vigorar.
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Porém, o engenho da destruição (e do golpismo) não desiste, prossegue. Prossegue através de manchetes que alardeiam/estimulam maledicências e supostas “crises institucionais” e, em um outro front, apregoam ser este “o governo mais corrupto da história” – meras falácias, venenosas e vazias de conteúdo e sentido. Prossegue, de modo estratégico e malicioso, fomentando atritos, intrigas e arestas entre os três poderes da República, entre ministros e entre os membros da coalizão.
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Por último, peço-lhe que analise e reflita um pouco sobre o episódio envolvendo o senador Renan Calheiros – hoje, independente da sua iminente cassação, politicamente um cadáver insepulto. Não que eu ache que Calheiros, que serviu a tantos e tortos governos, não tenha cometido alguns dos crimes a ele atribuídos. Mas... Você acredita sinceramente que essas denúncias publicadas pela revista Veja, e prontamente repercutidas em toda mídia (se saiu na Veja, você sabe, dificilmente terá uma intenção nobre), visam realmente moralizar a política no país, condenando, como aparentemente procura deixar transparecer, a falta de ética e a promiscuidade entre o público e o privado? Eu não acredito em duendes. Você acredita? Não seria legítimo inferir que os engenheiros da destruição teriam marcado como alvo da vez um destacado membro do PMDB – portanto, um integrante do maior partido da coalizão que dá sustentação ao governo – numa tática para causar fissuras ou danos irreparáveis à coalizão e, conseqüentemente, ao governo?

Qual será o próximo ardil do engenho da destruição (e do golpismo)? Quem será o próximo alvo? Dilma, Tasso, Guido Mantega, Marta? Qual será a próxima denúncia seletiva? Aguarde atento aos próximos episódios e desdobramentos.

* N.A: Peço a todos que dêem uma “olhadela” no blog de Eduardo Guimarães (http://edu.guim.blog.uol.com.br) e se inteirem da manifestação que ele está convocando contra a mídia conservadora (e golpista) a ser realizada na porta do prédio da Folha de S.Paulo, no próximo sábado, 15/09.

Lula Miranda é poeta, cronista e colabora semanalmente com a Carta Maior. É Secretário de Formação para a Cidadania do Sindicato de Trabalhadores em Editoras de Livros de São Paulo.
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/analiseMostrar.cfm?coluna_id=3719

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