Adital - Sob o forte impacto do julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), o PT realizará o seu 3º Congresso Nacional de 31 a 2 de setembro, na capital paulista. Ele contará com 931 delegados eleitos em todo o país. Destes, 332 provêem de São Paulo, principal base de apoio do ex-campo majoritário, que se rebatizou como "Construindo um Novo Brasil" (CNB), o que já dá uma vaga amostra da correlação de forças no evento. Segundo especulações da mídia, essa tendência, que reúne algumas das principais referências petistas (Lula, José Dirceu, Ricardo Berzoini e o grosso dos deputados, prefeitos e governadores da legenda), terá, sozinha, mais de 50% dos delegados.
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Mais à esquerda no espectro partidário, a Articulação de Esquerda, mais influente e liderada por Valter Pomar, apresentou a tese "A esperança é vermelha". O Trabalho, que recentemente sofreu grave cisão, surge com duas teses, uma encabeçada por Julio Turra e Markus Sokol e outra por Serge Goulart. A Tendência Marxista, que também sofreu um racha recente, apresentou a tese "Por um PT militante e socialista". Há ainda outros grupos mais frágeis, como o encabeçado pelo ex-deputado carioca Wladimir Palmeira, que inscreveu a tese "Socialismo é luta".Ressurreição dos moderados
Pelas teses inscritas, pelo perfil dos delegados e pelas possibilidades de alianças, tudo indica que o ex-campo majoritário confirmará sua hegemonia neste congresso. Abalado pelas denúncias de corrupção que dizimaram o seu "núcleo duro", ele mostrou invejável capacidade de recuperação. Em curto espaço de tempo, renasceu das cinzas para surpresa dos petistas mais críticos. Fruto da crise que abateu o PT, todas as 12 teses (com seus 900 mil caracteres) reafirmam o socialismo, apontam limitações no governo Lula e criticam as distorções partidárias. O tom mais à esquerda, entretanto, não deve gerar falsas expectativas. A correlação de forças não se alterou no partido.
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Quanto ao partido, terceiro item da pauta, a CNB aponta os erros, mas sem assumir diretamente a sua responsabilidade ou tirar lições para o futuro. "Erramos na forma de consolidação da base de sustentação político-parlamentar"; "a governabilidade institucional foi a única que buscamos"; e houve "certa exclusividade para as tarefas governamentais e institucionais". Ela também critica "o funcionamento de núcleos de poder paralelos à direção partidária" e a política de finanças, "sem o devido debate interno" e que colocou em risco a credibilidade do partido. Apesar disto, a tese prioriza a via institucional e dá poucas linhas para as relações com os movimentos sociais.Um novo centro petista?
A novidade deste 3º Congresso é a tese "Mensagem ao Partido", que reuniu forças que sempre se digladiaram na história petista. Numa aliança arriscada, que dilui as diferenças entre concepções, a Democracia Socialista se juntou ao grupo do ministro Tarso Genro e a lideranças do ex-campo majoritário. A articulação foi fruto do descontentamento com os rumos do PT, em especial com as ações "alopradas" que quase derrubaram o governo Lula e destruíram o partido. Num primeiro momento, conseguiu a simpatia de governadores e deputados, como Marcelo Deda, Wellington Dias e "outros com quem jamais havia assinado documento conjunto", registrou a Carta Maior.
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Numa entrevista ao jornal Valor, o ministro Tarso Genro, que não comunga as mesmas idéias da Democracia Socialista, foi mais explícito na definição do republicanismo. Disse que o conceito de classe no estado burguês é "um ranço ideológico" e defendeu que "a democracia deve admitir a desigualdade social relativa, senão não será democracia". Para ele, "as pessoas têm de ter o sentimento de pertencer às classes sociais porque assim elas participam de um diálogo de coesão. Isto é que dá estabilidade e força à democracia". Não poderia ser mais explicito na defesa da sua visão social-democrata, sugerindo que esta aliança congressual optou por uma visão centrista!O isolamento das esquerdas
Por último, as correntes mais à esquerda no espectro partidário - e aqui não vai nenhum juízo de valor - novamente apareceram divididas e também com muitas confusões teóricas e políticas. A Articulação de Esquerda, que goza de influência no interior do PT - foi a terceira mais votada no processo de eleição direta (PED) de 2005 - é dura nas críticas às distorções vividas pelo partido nos últimos anos. Aponta a ausência de um projeto estratégico como o responsável pelo processo de burocratização e institucionalização do PT. Critica a manutenção da política macroeconômica no governo Lula e defende o socialismo, sem qualquer fase transitória desenvolvimentista.
Em entrevista à Carta Maior, Pomar fez questão de alfinetar a rival Democracia Socialista. "Não vamos fazer inflexão agora, porque o papel da Articulação de Esquerda é concentrar esforços na reconstituição da hegemonia socialista no PT, uma tarefa de médio prazo". As demais correntes à esquerda, como O Trabalho e a TM, sequer nutrem esta expectativa otimista. Pomar insiste que a adversa correlação de forças neste congresso não se repetirá, necessariamente, no próximo PED. Mas tudo indica que não será nada fácil a vida das forças petistas mais à esquerda após o evento deste final de semana. A não ser que haja uma hecatombe decorrente do julgamento do STF.
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As teses do ex-campo majoritário
"Concebemos o socialismo como um projeto de tomada de consciência e conseqüente construção de hegemonia. O socialismo petista é, sobretudo, um projeto político e cultural de emancipação das classes trabalhadoras e dos excluídos, uma conquista cotidiana que permite a efetivação de revoluções democráticas, de consolidação de valores republicanos e afirmação da cidadania".
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"O socialismo não deve ser confundido com estatização, mas entendido como socialização da política. Essa noção deve ser cara ao PT, já que recupera a idéia da cidadania ativa, reconhece a democracia como espaço de explicitação de dissensos e propõe a ampliação da participação popular e controle social do Estado".[ . . . ]
"O governo Lula é um governo de esquerda; que constrói os fundamentos de uma verdadeira revolução democrática, essencial para caminharmos na direção de uma sociedade socialista".[ . . . ]
"O governo Lula é mais de esquerda do que foi caracterizado pela imprensa e, algumas vezes, por discursos de membros do próprio governo, revelando certa falta de compreensão sobre os avanços propostos e alcançados nesses quatro anos".[ . . . ]
"No Brasil que queremos, os partidos de esquerda devem estar juntos, empunhando as mesmas bandeiras e ocupando as mesmas trincheiras. Para isso, o PT deve buscar, junto ao PCdoB e ao PSB, compor o núcleo da coalizão do governo Lula, de maneira a contribuir para a consolidação de uma hegemonia de esquerda no país e para sedimentação dessa aliança estratégica para o projeto socialista".* Jornalista, editor da revista Debate Sindical, autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi)
Leia na íntegra em http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=29322
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