Deu no Brasil de Fato:A África ocupou mais da metade do tempo da última reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta terceira semana do mês de abril de 2008. Na pauta: o impasse nas eleições presidenciais do Zimbabwe e as crises políticas da República Democrática do Congo e da Kenya, além dos conflitos armados, na Somália, e em Darfur, no Sudão. Trazendo de volta a imagem de um continente aparentemente inviável com "Estados falidos", "guerras civis" e "genocídios tribais", com apenas 1% do PIB mundial, 2% das transações comerciais globais e menos de 2% do investimento direto estrangeiro dos últimos anos.A África é, hoje, o grande espaço de "acumulação primitiva" asiática e uma das principais fronteiras de expansão econômica e política da China e da Índia23/04/2008 José Luis Fiori
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A independência africana, depois da Segunda Guerra Mundial, despertou grandes expectativas com relação aos seus novos governos de "libertação nacional" e seus projetos de desenvolvimento, que foram muito bem-sucedidos - em alguns casos - durante os primeiros tempos de vida independente. Este desempenho inicial, entretanto, foi atropelado por sucessivos golpes e regimes militares e pela crise econômica mundial da década de 1970, que atingiu todas as economias periféricas e provocou um prolongado declínio da economia africana até o início do Século XXI. Mesmo na década de 90, depois do fim do mundo socialista e da Guerra Fria e no auge da globalização financeira, o continente africano ficou praticamente à margem dos novos fluxos de comércio e de investimento globais.Novo ciclo
Depois de 2001, entretanto, a economia africana ressurgiu, acompanhando o novo ciclo de expansão da economia mundial. O crescimento médio, que era de 2,4% em 1990, passou para 4,5, %, entre 2000 e 2005, e alcançou as taxas de 5,3% e 5,5%, em 2007 e 2008. E, no caso de alguns países produtores de petróleo e outros minérios estratégicos, estas cifras alcançaram níveis ainda mais expressivos, como em Angola, Sudão e Mauritânia. Esta mudança da economia africana - como no resto do mundo - deveu-se ao impacto do crescimento vertiginoso da China e da Índia, que consumiam 14 % das exportações africanas no ano 2000 e hoje consomem 27%, igual à Europa e aos Estados Unidos, que são velhos parceiros comerciais do continente africano.
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Depois da frustrada "intervenção humanitária" dos Estados Unidos na Somália, em 1993, o presidente Bill Clinton visitou o continente e definiu uma estratégia de "baixo teor" para a África: democracia e crescimento econômico, através da globalização dos seus mercados nacionais. Mas, depois de 2001, os Estados Unidos mudaram radicalmente sua política africana em nome do combate ao terrorismo e da proteção dos seus interesses energéticos, sobretudo na região do "Chifre da África" e do Golfo da Guiné, que até 2015 deverá fornecer 25% das importações norte-americanas de petróleo.[ . . . ]
Interesse europeu
Este aumento da presença militar americana, entretanto, não é um fenômeno isolado porque a União Européia e a Grã-Bretanha, em particular, têm dedicado uma atenção cada vez maior à África. E a Rússia acaba de assinar um acordo econômico e militar com a Líbia e, logo em seguida, assinará um outro, com a Nigéria, envolvendo venda de armas e dois projetos bilionários de suprimento de gás para Europa, através da Itália e do deserto do Saara. Num jogo de xadrez que se complicou ainda mais nos últimos dias com a descoberta de um carregamento de armas chinesas enviadas para o governo de Robert Mugabe, no Zimbabwe, através da África do Sul, e com o apoio do governo sul-africano de Thabo Mbeki, segundo denúncia do líder da oposição, no Zimbabwe, Morgan Tsvangirai.
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Depois, de novo, na "Era dos Impérios", no final do século XIX, as potências européias conquistaram e submeteram - em poucos anos - todo o continente africano, com exceção da Etiópia. E agora, neste início do século XXI, tudo indica que a África será - pela terceira vez - o espaço privilegiado da competição imperialista que está recém começando. A menos que exista um outro Deus, que seja africano.
José Luís Fiori é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ
Leia na ítegra em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/provavelmente-deus-nao-e-africano
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