Deu no Vermelho:Alguns dos grandes jornais no Brasil e no mundo noticiaram nos últimos dias, uma crise no maior país árabe do Oriente Médio, que é o Egito. Trata-se da “crise do pão”, que é como a imprensa desse país árabe vem chamando. O governo, envolto em problemas financeiros, acabou por racionar o principal item da dieta egípcia.por Lejeune Mirhan*
O problema não é o pão...
No último domingo, dia 6 de abril, uma greve geral foi convocada no Egito (lembremos que por lá se trabalha normalmente nesse dia, pois os muçulmanos guardam as sextas-feiras). Seria de um dia apenas. Não temos ainda um balanço da extensão das paralisações, mas foi convocada principalmente pela internet, por panfletos nas portas de fábricas e nas escolas. O grupo político que faz a convocação é o de maior expressão na oposição ao governo do ditador egípcio Hosni Mubarak, no poder desde 1981 (quando assumiu em função da morte de Anuar El Sadat, que por sua vez ocupava o poder desde 1970, com a morte de Gamal Abdel Nasser). Mubarak governa a mão de ferro e em 27 anos de presidência do país, foi reeleito sucessivas vezes (ao menos cinco pelos registros e com percentuais elevadíssimos, sob acusação de fraudes pela oposição).
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Irmandade Muçulmana
A organização político-religiosa que conhecemos hoje como irmandade muçulmana completa este ano 60 anos [i.e. 80 anos] de existência. Ela foi fundada no Cairo em 1928 por Hasan Al Bana e seus colegas e intelectuais jovens que estavam insatisfeitos com os rumos que estavam tomando o islamismo. Aproveitaram o sucesso dos wahabitas na península arábica e o fim do Império Otomano após a I Guerra Mundial.
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Essa era uma época que as forças políticas no Egito eram divididas quase que em três partes idênticas. Uma parte significativa era composta pelos comunistas, uma segunda parte pelo grupo chamado de Oficiais Livres do exército, composto por jovens oficiais com patentes acima de capitão e até coronéis, que deu origem a Gamal Abdel Nasser, que viraria presidente após o golpe em 1952 e a terceira parte, da Irmandade Muçulmana. Na maioria das vezes esses grupos políticos se digladiavam entre si, mas em alguns momentos fizeram alianças e governaram o Egito.[ . . . ]
No golpe de 1952, que destituiu a monarquia do Rei Faruk, houve uma aliança entre esses três grupos, comunistas, Irmandade e Oficiais Livres. A história registra que dos oito oficiais majores e coronéis que perpetraram esse famoso golpe de estado, quatro eram da Irmandade (Anuar El Sadat, que viraria presidente depois da morte de Nasser em 1970; Amer, Hussein e Mehanna) e três eram marxistas ou tinham influência de idéias marxistas (Khaled Mohiedin, Riffat e Saddik). Todos os outros eram da linha chamada nacionalista, do chamado pan arabismo, na qual Nasser se incluía.[ . . . ]
É preciso registrar que todos os grupos islâmicos e fundamentalistas que atuam hoje no Oriente Médio, como a Jihad Islâmica e o Hamas, que são palestinos como a Al Qaeda, de Osama Bin Laden, beberam como fonte inspiradora dos textos de Bana e Kutb. Sua ação política tem como base uma ação assistencialista que ajuda os menos favorecidos da sociedade, uma doutrinação constante na linha do estado islâmico e de forte oposição ao governo egípcio, um grande aliado do imperialismo norte-americano.Não são e nem nunca foram alternativa para nós, de esquerda, patriotas e nacionalistas, socialistas. Mas, cumpre um papel importante neta conjuntura política adversa, de correlação de forças que nos é profundamente desfavorável. Devemos monitorar netas eleições o seu crescimento, ainda que a maioria de seus candidatos tenha sido impedido de disputar as eleições. Mas, eles estão crescendo politicamente.
*Lejeune Mirhan, sociólogo da Fundação Unesp, arabista e professor. Presidente do Sindicato dos Sociólogos, membro da Academia de Altos Estudos Ibero-árabe de Lisboa e da International Sociological Association
Leia na íntegra em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=35660
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