Deu no Correio do Brasil:O clima político brasileiro continua agitado, com a reiteração das polarizações produzidas desde
Por Emir Sader - do Rio de Janeiro
as denúncias de 2005 sobre o que a imprensa convencionou chamar de “mensalão”. De um lado, os
partidos de oposição, com seu núcleo coesionador – PSDB e DEM – acompanhados de partidos aliados,
como o PPS e tendo no bloco monopolista da grande mídia privada seu carro-chefe -, de outro o
governo e expressões da mídia alternativa.
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Então de onde vem e a que corresponde essa virulência da oposição ao governo? Por que até mesmo uma
parte significativa do grande empresariado, atendido pelo modelo econômico, se soma à campanha
opositora? Por que a afirmação de setores radicalizados da esquerda de que se trata de um governo
neoliberal não consegue dar conta do enfrentamento central do campo político em todo o período
político atual? O que está em jogo? O que se disputa, além de cargos eleitorais?
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O que incomoda centralmente à oposição, refletido nas manchetes e campanhas da imprensa opositora,
presente nos seus colunistas, soldados das causas do bloco direitista de oposição? A alta taxa de
juros? A lentidão na reforma agrária? O incentivo aos agro- negócios e o uso extensivo dos
trangênicos? A injusta tributação, que concentra renda, ao invés de redistribuir? A repressão às
rádios comunitárias? A falta de demarcação das terras indígenas? A não abertura dos arquivos da
ditadura?
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A “livre circulação do capital” segue sendo a utopia da direita. Que o capital circule e a
sociedade se povoará de felicidades! Que o Estado seja reduzido à sua mínima expressão: sem
impostos, sem funcionários, sem leis, sem instituições políticas, sem partidos, que as eleições
sejam o mais parecido possível a um shopping-center e os candidatos a vendedores de mercadorias,
a ideologia reduzida a marketing, o cidadão transformado em consumidor, os direitos em bens
negociáveis na compra e venda, a sociedade identificada com o mercado.
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A plataforma da direita tem, como primeiro item, a diminuição dos impostos, base econômica do
Estado. Daí a campanha contra a CPMF, contra o “inchamento” do aparelho de Estado, contra as
normas estatais – que atrasariam, por exemplo, com as normas ambientais, a liberação de licenças
de investimentos, contra os aumentos de salários dos servidores públicos. Pela independência do
Banco Central, pelo superávit fiscal.
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As classes dominantes que sempre detiveram poder sobre o Estado, ressentem não poder fazê-lo a seu
bel prazer. Na última vez que haviam perdido o controle sobre o aparelho de Estado – no governo
Jango, de 1961 a 1964, há quase meio século – se puseram imediatamente a preparar o golpe militar,
com o apoio desses mesmos órgãos de imprensa – Folha de São Paulo, Estadão, Globo, entre outros.
Recuperaram o poder sobre o Estado, que foi militarizado e se colocou completamente à disposição
do grande empresariado privado nacional e estrangeiro.
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Acostumadas a usar o Estado como “comitê executivo das classes dominantes” – conforme a expressão
de Marx no Manifesto Comunista – acusam o golpe de perder esse controle absoluto. Seguem ocupando
espaços determinantes no aparato de Estado – a começar pelo estratégico Banco Central -, além de
serem contemplados por créditos fáceis e incentivos amplos, mas para quem sentia o Estado como seu
território, para nomear a quem quisessem, privatizar o que desejassem, acusam o golpe e se tornam
raivosamente e totalitariamente opositores furibundos.
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A campanha de denúncias morais vai na mesma direção de criminalizar o Estado, quando os maiores
escândalos contemporâneos são protagonizados por empresas privadas, entre elas os bancos. Não
importa o que seja, como seja, são os neo-conservadores no Brasil, defensores do mercado contra o
Estado – o verdadeiro tema de disputa, cuja importância explica a virulência das agressões
opositoras, na sua ânsia de recuperar o que consideram seu, por definição – o Estado brasileiro.Emir Sader é jornalista e escreve para o Blog do Emir
Leia na íntegra em http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=133963
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