O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Fúria do Opus Dei na América Latina

Deu no Vermelho:
por Altamiro Borges*


O jurista Ives Gandra da Silva Martins, principal expoente da seita fascista Opus Dei no Brasil,
está preocupado com o avanço das esquerdas na América Latina. Num artigo raivoso na coluna

Tendências/Debates da Folha de S.Paulo, ele destilou ódio e preconceito contra Hugo Chávez,
Evo Morales, Fidel Castro e Lula. Ele aproveitou também para criticar a “falta de preparo” de
governantes pelo mundo afora e para oferecer seus cursinhos às novas gerações de dirigentes
políticos. “Neste mundo atormentado por falsas lideranças e fantástica mediocridade, creio que
valeria a pena a idéia, que propus em meu livro, de uma ‘escola de governo’... financiada pelos
governos”. No meio do arrazoado direitista, um merchandising para os seus lucrativos negócios!

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A influência da seita fascista
Após criticar o presidente Lula por elevar impostos que atingem principalmente os bancos, IvesGandra encerra a safra latino-americana com mais uma esquizofrenia fascistóide. “É de lembrarque os três presidentes são amigos de um ditador que fuzilou, sem julgamento – os homicídiosperpetrados nos famosos ‘paredóns’ –, muito mais pessoas que Pinochet”. Além de mentir sobre arealidade dos direitos humanos em Cuba, ele não consegue esconder a sua simpatia pelo regime ditatorial do Chile, que sempre teve o ativo apoio do Opus Dei. Até quando critica a “desastrada presidência de George W. Bush”, Ives Gandra alerta para “o risco do voto num outro populista despreparado para conduzir seus destinos” – talvez numa referência doentia a Barack Obama.
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“Catequese” na América Latina
Nos anos 50, a seita aliciou seus primeiros fiéis entre as velhas oligarquias que procuravam se diferenciar dos povos indígenas e pregavam o fundamentalismo religioso. Mas o Opus Dei só adquiriu maior pujança com a onda de golpes a partir dos anos 60. Até então, a sua ação ainda era dispersa. Segundo excelente artigo de Marina Amaral na revista Caros Amigos, “em 1970, Josemaría Escrivá [fundador da seita na Espanha] viajou para o México dando início às ‘viagens de catequese’ pelas Américas que duraram até as vésperas de sua morte em Roma, em 1975”.
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No Chile, a seita fascista foi para o ditador Augusto Pinochet o que fora para Augusto Franco na Espanha. O principal ideólogo deste regime sanguinário, Jaime Guzmá, era um membro ativo da seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Ela ainda apoiou os golpes e participou dos regimes autoritários na Argentina, Paraguai e Uruguai. Segundo Corbière, ela financiou o regime do ditador nicaragüense Anastácio Somoza até sua derrota para os sandinistas. Na década de 90, ainda deu “ativa assistência” à ditadura terrorista e corrupta de Alberto Fujimori, no Peru.
O fundamentalismo neoliberal
Outra fase “próspera” se dá com a ofensiva neoliberal nos anos 90. Gozando da simpatia do papa e de autonomia frente às igrejas locais, ela se beneficia da invasão de multinacionais espanholas, fruto da privatização das estatais. Muitas delas são influenciadas por numerários do Opus Dei. Segundo Henrique Magalhães, em artigo na revista A Nova Democracia, “a Argentina entregou as suas estatais de telefonia, petróleo, aviação e energia à Telefônica, Repsol, Ibéria e Endesa. A Ibéria já havia engolido a LAN [aviação], do Chile, onde a geração de energia já era controlada pela Endesa. Os bancos espanhóis também chegaram ao continente neste processo”.
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Os tentáculos no Brasil
No Brasil, o Opus Dei fincou a sua raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada à importância da filial, a seita deslocou o numerário espanhol Xavier Ayala, o segundo na hierarquia. “Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano II, o clero progressista da América Latina clamava pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à ‘opção pelos pobres’, fundamentos da Teologia da Libertação”, explica Marina Amaral.
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Crescimento na ditaduraDurante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex-deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do STF pelo ditador Garrastazu Médici em 1972, e tio do candidato tucano a presidência em 2006. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário. Ele tinha quadros em posições importantes, mas sem uma atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita.
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Ofensiva recente na região
Na fase recente, o Opus Dei fixou planos mais ousados para conquistar poder político na região. Em abril de 2002, participou ativamente do frustrado golpe contra o presidente Hugo Chávez, na Venezuela. Um dos seus fiéis, José Rodrigues Iturbe, virou ministro das Relações Exteriores do fugaz governo golpista. A embaixada da Espanha, governada na época pelo franquista Partido Popular (PP), de José Maria Aznar – cuja esposa é do Opus Dei –, deu guarita aos seus fiéis. Outro golpista ligado à seita, Gustavo Cisneiros, é o maior empresário das comunicações no país.
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A sua jogada mais ousada, porém, foi a tentativa de eleição de um seguidor no Brasil. Segundo Henrique Magalhães, “as esperança do Opus Dei se voltaram para Geraldo Alckmin, que hoje é um de seus quadros políticos de maior destaque. A Obra tentou fazer dele presidente para formar um eixo geopolítico com os governantes da Colômbia e do México”. A mídia e os tucanos até tentaram esconder esta sombria ligação. Numa sabatina à Folha de S.Paulo, Alckmin garantiu: “Não sou da Opus Dei; respeito quem é, mas não conheço”. Mentiu ao esconder suas estreitas relações com a seita fascista – desde seus tempos de infância, no convívio com seu pai e o tio-ministro do STF da ditadura, até às ilícitas “palestras do Morumbi”. Mas o povo não se deixou enganar. Isto explica as recentes lamúrias elitistas de Ives Gandra, o chefão do Opus Dei.
*Altamiro Borges, Miro é jornalista, Secretário de Comunicação do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição)
Leia na íntegra em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=32039

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