Deu na Revista do Brasil:O mundo se encontra em suspenso, com a crise iniciada com a queda da Bolsa de Nova York. As
O governo deve inspirar-se em Roosevelt: o Estado deve agir, criar empregos e ampliar o
mercado interno. E manter o Brasil longe de sucumbir à crise mundial, como torce a oposição
Por Mauro Santayana
medidas tomadas pelo governo norte-americano, a fim de conter o desabamento do mercado
financeiro, se mostram débeis, frente ao temor de uma recessão globalizada como a dos anos 30,
vencida corajosamente por Roosevelt, com o New Deal. O jornalista William Greider, em denso
ensaio sobre o FED (o Banco Central de lá), mostra como o controle monetário é instrumento de
domínio do capitalismo. “Acima de tudo”, diz, “a moeda é uma questão de fé.” É a mais bem
elaborada das convenções humanas.
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Quando a moeda era metalizada – ouro, prata ou cobre –, tinha referência sólida. Valia o peso.
Hoje, quase nem circula. Usamos cartões de crédito, cheques, transferências eletrônicas. A moeda
é convenção na qual devemos acreditar, mas perde o valor se seu emitente (o emitente do cheque
ou da nota promissória, ou o Estado emitente do papel-moeda e outros títulos) perde a
credibilidade.
Embora o peso maior da guerra tivesse sido o da União Soviética, que perdera 20 milhões de
pessoas no conflito, a liderança dos aliados se encontrava com os Estados Unidos. Essa liderança foi
tão arrogante naquele momento – oito meses antes da chegada dos russos a Berlim –, que Stalin
decidiu não assinar o acordo. Decidiu-se que o dólar seria a moeda de reserva e de referência
mundial, garantida pelo ouro do Tesouro norte-americano, na base de US$ 35 por onça troy (mais
ou menos um dólar por grama de ouro). Estabeleceu-se que os EUA pagariam em metal a
qualquer país portador de reservas em dólar, quando isso lhes fosse exigido.
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Com US$ 9 trilhões de dívida em títulos do Tesouro, US$ 1 trilhão em títulos em poder da China e
despesas de quase US$ 300 milhões ao dia com as guerras do Iraque e do Afeganistão, era natural
que se previsse uma crise. Como a queda americana significará a erosão de todo o sistema, Europa
e China, credores dos americanos interessados em preservar seus ativos, ajudarão. Mas de crise
em crise o sistema inteiro acabará ruindo. Mais para o bem do que para o mal.
No Brasil, a oposição tudo faz para imobilizar o governo e torce para que a crise nos atinja. Pouco
lhe importa se o Brasil sucumbir. O governo deverá inspirar-se na ação de Roosevelt. Para salvar
o capitalismo, é necessária a intervenção do Estado na criação de empregos e ampliação do
mercado interno.
Mauro Santayana trabalhou nos principais jornais brasileiros desde 1954. Foi colaborador de Tancredo
Neves e adido cultural do Brasil em Roma nos anos 80. É colunista do Jornal do Brasil e de diversas
publicações
Leia na íntegra em http://www.revistadobrasil.net/ponto_de_vista.htm
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