Deu no Instituto Humanitas:
Entrevista com Manuel Castells
Se alguém estudou o que é, por dentro, a sociedade da informação, é o sociólogo Manuel Castells. A sua
trilogia A era da informação foi traduzida para 23 línguas. Ele voltou para a Espanha em 2001 e dirige a
pesquisa na Universitat Oberta de Catalunya, depois de ter lecionado, durante 24 anos, na Universidade da
Califórnia, em Berkeley. Uma das pesquisas mais recentes é o Projeto Internet Cataluña, em que durante seis anos
analisou, com 15 mil entrevistas pessoais e 40 mil pela internet, as mudanças que a Internet introduz na cultura
e na organização social. Ele acaba de publicar com Marina Subirats, Mujeres y hombres, ¿un amor imposible?
(Alianza Editorial), onde aborda estas mudanças. A reportagem e a entrevista é de Milagros Pérez Oliva e publicada
pelo jornal El País, 6-01-2008. Eis a entrevista.
Esta pesquisa mostra que a Internet não favorece o isolamento, como muitos acreditam, mas que as pessoas
que mais usam o chat são as mais sociais.
Sim. Para nós não é nenhuma surpresa. A surpresa é que esse resultado tenho sido uma surpresa. Há
pelo menos 15 estudos importantes no mundo que dão esse mesmo resultado.
Porque tem medo do novo?
Exatamente. Mas medo de quem? A velha
sociedade tem medo da nova, os pais dos seus filhos, as pessoas que têm o poder ancorado num mundo
tecnológico, social e culturalmente antigo do poder que lhes abalroa, que não entendem nem
controlam e que percebem como um perigo. E no fundo é mesmo um perigo. Porque a Internete é um
instrumento de liberdade e de autonomia, quando o poder sempre foi baseado no controle das pessoas
por meio do controle da informação e da comunicação. Mas isto acaba. Porque a Internet não pode
ser controlada.
[ . . . ]
Se a Internet é tão determinante da vida social e econômica, seu acesso
pode ser o principal fator de exclusão?
Não. O mais importante segue sendo o acesso ao trabalho e à carreira
profissional e, ainda anteriormente, ao nível educativo, porque sem educação, a tecnologia não
serve para nada. Na Espanha, a chamada exclusão digital é por questão de idade. Os dados estão
muito claros: entre os maiores de 55 anos, somente 9% são usuários da Internete, mas entre os
menores de 25 anos, são 90%.
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Nesta sociedade que tende a ser tão líquida, na expressão de Zygmunt Bauman, em que tudo muda constantemente e que é cada vez mais
globalizada, aumenta a sensação de insegurança, de que o mundo se move debaixo dos nossos pés?
Há uma nova sociedade que eu busquei definir teoricamente com o conceito de sociedade-rede e que
não está distante da que define Bauman. Eu creio que, mais que líquida, é uma sociedade em que
tudo está articulado de forma transversal e onde menos controle das instituições tradicionais.
[ . . . ]
Qual é o papel da Inernet neste processo?
Por um lado, ao nos permitir aceder à toda informação, aumenta a incerteza, mas ao mesmo tempo é
um instrumento chave para a autonomia das pessoas, e isto é algo que demonstramos pela primeira
vez na nossa pesquisa. Quanto mais autônoma é uma pessoa, mas ela utiliza a Internet. Em nosso
trabalho definimos seis dimensões da autonomia e comprovamos que quando uma pessoa tem um forte
projeto de autonomia, em qualquer uma dessas dimensões, ela utiliza Internet com muito mais
freqüência e intensidade. E o uso da Internet reforça, por sua vez, a sua autonomia. Mas, claro,
quanto mais uma pessoa controla a sua vida, menos ela se fia das instituições.
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Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=11632
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