Deu no Instituto Humanitas Unisinos:
"Fortalecido pela nítida manifestação popular no segundo turno de 2006, pelo bom
desempenho da economia em 2007 e pela compreensão que sindicatos e movimentos sociais
mostram da conjuntura, a situação objetiva permite que o Executivo escolha o caminho da
esquerda para resolver o impasse criado pelos conservadores no Senado". A proposta é de
André Singer, jornalista e cientista político, é professor do Departamento de Ciência Política
da USP e ex- secretário de Imprensa e Porta-voz da Presidência da República (governo Lula),
em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 22-01-2008.
Eis o artigo.
Talvez sem consciência do que fazia, a oposição criou as condições mais propícias, desde 2003,
para o governo alterar, em alguns graus para a esquerda, o percurso seguido até aqui. É que, ao
decretar o fim da CPMF no final do ano passado, PSDB e DEM tiraram um dos suportes sobre os
quais estava apoiada a estratégia de fazer distribuição de renda sem confrontar o capital.
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É verdade que, pela reação de parte do empresariado de São Paulo, animado com a derrota
imposta ao presidente, ou o acordo anterior só servia ao setor financeiro -o que não parece ser o
caso, a julgar pelas altas taxas de lucro e índices de atividade do setor industrial-, ou não foi só a
direita senatorial que deu um tiro no pé.
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Em todo caso, não terá sido a primeira, nem certamente a última, vez que classes sociais e seus
representantes se deixam enganar por preconceitos e refrações ideológicas. De tanto afirmar a
urgência de aliviar a carga tributária, escapou-lhes que a CPMF era parte essencial de um modelo
que, longe de representar "gastança" inútil, garante a margem necessária para, ao mesmo tempo,
aumentar o investimento social e pagar juros que, embora declinantes até setembro de 2007,
ainda consomem parte muito significativa do orçamento público.
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Qualquer diminuição do investimento público prejudica as classes populares. Bolsa Família,
vencimento dos funcionários públicos e salário mínimo pago pelo INSS são transferências diretas
do Tesouro para o bolso de assalariados e aposentados.
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No caso da infra-estrutura, atingiria a sustentabilidade do crescimento econômico, que, embora
beneficie também empresários que apoiaram o fim da CPMF, é prioridade absoluta para os que
dependem de um emprego para sair do inferno e ingressar em uma vida mais ou menos civilizada.
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Em resumo, o gesto talvez impensado da oposição produziu uma polarização das opções
governamentais. Imaginar que se consiga economizar R$ 40 bilhões diminuindo o número de
membros do governo que viajam de avião é daquelas mitologias que só continuam a se propagar
pois há interesse em manter cidadãos confusos.
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Ao fazê-lo, ajudaria, mesmo em um cenário de incertezas internacionais, a que o país mantivesse
o ritmo de expansão em 2008 e a que os setores progressistas pudessem fazer das eleições
municipais oportunidade de conscientizar o povo sobre o conteúdo da disputa hoje existente no
Brasil.
Cabe ao PT, como maior partido do governo, mas também principal partido socialista do país, cujo
novo Diretório Nacional se reúne pela primeira vez no próximo dia 9, deixar claro qual caminho
convém aos trabalhadores.Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=11791
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