Deu no Correio do Brasil:Emmanuel Mounier, mestre do personalismo comunitário, que marcou minha geração de JUC e de AP, Betinho e outros, em Feu la chretienté, 1950, pouco antes de morrer, tantos anos atrás, dizia que não se pode ser monarquista ou socialista porque cristão. Ele era um cristão que, com os instrumentos de análise social, fez uma opção socialista, não um socialista cristão, o que seria instrumentalizar a Fé e reduzi-la a uma ideologia e, além disso, não saber usar as categorias próprias das ciências sociais.
Por Luis Alberto Gómez de Sousa - do Rio de Janeiro
(Pensando em meus mestres H. C. Lima Vaz e Ernani Maria Fiori)
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Optemos ou rejeitemos valentemente projetos políticos e técnicos, sem nos esconder nos pretextos da profecia, que é um gesto muito menos comum do que se pensa e seria uma arrogância querer aplicá-lo à ligeira. Muito menos o martírio. Já falei disso em texto anterior. Jung Mo Sung nos está ajudando a pensar.
[ . . .]Um dos apoiadores disse ontem que agora o governo resolveu dialogar! Que loucura, desde o começo Gilberto e outros, incansavelmente, estão tentando. Claro, com rigidezes e simplificações de um ministro do próprio governo. Mas seu trabalho paciente topou com a inflexibilidade de Cappio e de seus assessores. Agora, o médico e o irmão dizem que acabou e greve e os assessores dizem que não. Porque não se substituem a ele? É fácil empurrar o outro para a morte. Aliás, nos jejuns, em princípio, ninguém morre. Gandhi sempre parou um pouco antes, mas manteve sua aura.
[ . . .]Uma profecia que se reduziria aos ribeirinhos, que não são os donos do rio e ao próprio rio, esqueceria todos os outros pobres nordestinos. Houve muitos debates técnicos e sempre um projeto pode ser melhorado, mas um governo não pode suspender tudo pelo gesto extremado de alguém, seja bispo ou não. A Justiça, por maioria, não viu argumentos técnicos sérios para parar o projeto. E o texto de Bernardo Kucinski, em Carta Maior, desmontou brilhantemente. um a um, os argumentos contrários ao projeto. Do ponto de vista teológico, Jung Mo Sung, em outras publicações mais de Igreja, também desocultou fundamentalismos ocultos.
[ . . .]Terminando com Mounier, seu último e aceso debate foi com os católicos progressistas de seu tempo, um dos quais, que depois esteve em tantas posições, se chamava Garaudy. Há que ler seus textos publicados postumamente com o título: As certezas difícieis” (Oeuvres, vol. 4, Seuil, Paris, 1963, pp.11-284). Ali ele dizia: “Quando um monge começa a se agitar, a Igreja se pergunta com angústia se ele será um Lutero ou um São Francisco de Assis. Mas se essa efervescência de fronteiras é eliminada, nos separamos talvez de Lutero e nos privamos de São Francisco” (139).
Num texto antigo, retomado neste livro: “... esta exigência (sair da tentação de uma ideologia e reflexos de esquerda ou de direita) nos dá um parentesco com os homens livres, especialmente este verdadeiro povo, talvez minoritário, aquele que não aceitou o sonho burguês e que dará sua alma à civilização que ele mantém por uma liberdade de coração, ainda que desajeitado em se exprimir. Será ele que salvará as forças da esquerda: o mais humilde serviço que nós poderíamos fazer, não seria renunciar à lucidez, mas unir nossa clarividência à sua generosidade, desembarassando-o e nos desembarassando das ideologias mortais” (pg.75). E o título de outro artigo é significativo: “Para um certo sangue frio espiritual” (107). Ali está aquela declaração que coloquei na introdução de uma das partes de meu último livro: “O cristão não abandona o pobre, o socialista não abandona o proletário, ou eles abjuram seu nome” (fevereiro de 1950, dias antes de sua morte). Vejam que ele não mistura cristão e socialista, sendo ele próprio as duas coisas.
Num texto antigo, retomado neste livro: “... esta exigência (sair da tentação de uma ideologia e reflexos de esquerda ou de direita) nos dá um parentesco com os homens livres, especialmente este verdadeiro povo, talvez minoritário, aquele que não aceitou o sonho burguês e que dará sua alma à civilização que ele mantém por uma liberdade de coração, ainda que desajeitado em se exprimir. Será ele que salvará as forças da esquerda: o mais humilde serviço que nós poderíamos fazer, não seria renunciar à lucidez, mas unir nossa clarividência à sua generosidade, desembarassando-o e nos desembarassando das ideologias mortais” (pg.75). E o título de outro artigo é significativo: “Para um certo sangue frio espiritual” (107). Ali está aquela declaração que coloquei na introdução de uma das partes de meu último livro: “O cristão não abandona o pobre, o socialista não abandona o proletário, ou eles abjuram seu nome” (fevereiro de 1950, dias antes de sua morte). Vejam que ele não mistura cristão e socialista, sendo ele próprio as duas coisas.
Luis Alberto Gómez de Sousa, sociólogo e ex-funcionário das Nações Unidas, é diretor do Programa de Estudos Avançados em Ciência e Religião da Universidade Cândido Mendes.
Leia na íntegra em http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=131819
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