Deu no Correio da Cidadania:A semana começou com o recrudescimento da greve agropecuária, que já faz sentir seus efeitos sobre a classe trabalhadora, com o desabastecimento de carne e outros alimentos e a brutal alta dos preços do que se pode conseguir. Pela noite de terça-feira, 25, desde tradicionais centros da grande burguesia, como a Recoleta, Bairro Norte e Belgrano, se organizaram piquetes em 'apoio ao campo' e uma marcha à Praça de Maio. A que se deve isto? Quem está por trás da 'greve do campo'? Que responsabilidade tem o governo K (Kirchner)? Que posição devemos tomar os trabalhadores?Escrito por Juan Jose Funes
28-Mar-2008
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O estopim da medida de protesto foi o aumento do governo nas retenções das exportações de soja, girassol, azeite de soja (comestível e biodiesel) e azeite de girassol. Também fixou uma faixa flutuante de retenções, que no caso da soja, por exemplo, se chega a subir para 600 dólares a tonelada (FOB, quer dizer, colocada sobre o barco) aumentaria o imposto em 49% e daí para cima congelaria o preço líquido do setor em 280 dólares a tonelada.[ . . . ]
Uma greve reacionária
Desde o início há de se dizer que a greve do campo contra o governo é uma medida reacionária: ou seja, não expressa interesses populares, dos explorados e oprimidos, mas sim que a Sociedade Rural e os grandes proprietários agrícolas arrastam as entidades representativas dos pequenos produtores em uma luta que se amarra em volta da extraordinária renda agrícola que se gerou, entre outras coisas, devido aos altíssimos preços das matérias primas no mercado mundial.
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Com esse manual, o Ministro da Economia, Lousteau, saiu dizendo que "não é o mesmo um pequeno armazém e um grande pool de soja (...); o governo utiliza as retenções para impedir que a alta dos preços internacionais se transfira totalmente aos domésticos (...); diante do risco da 'sojização' da economia, devemos zelar pelo equilíbrio (...); a medida retrai os valores dos grãos a dezembro de 2007, que já eram altíssimos (...); o setor continua sendo muito rentável" (Clarín, 14/03/08).[ . . . ]
Os pequenos produtores não podem ir atrás da Sociedade Rural
A Sociedade Rural foi ao choque dizendo que "as medidas são confiscatórias e atentam contra a rentabilidade do setor" e para a CRA (Confederações Rurais Argentinas) "são medidas de puro traço fiscalista, que têm um único objetivo: arrecadar mais". Por sua vez, Eduardo Buzzi, presidente da FAA (Federação Agrária Argentina, pequenos e médios produtores) afirmou que "potencializará ainda mais a concentração da propriedade da terra em poucas mãos".
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"O país vive de nós, porque injetamos dinheiro e porque o Governo sempre nos mete a mão para tirar dinheiro fácil", se exalta e se queixa, ao volante de sua caminhonete Toyota Hilux 0Km, Cristian Villarreal, médio-grande produtor agropecuário de Casilda (Santa Fé), capital nacional da soja. Do sudoeste da província de Buenos Aires, zona trigueira não muito apta para a soja, Juan Casas, pequeno produtor, diz que "os armazenadores nos pagam o que querem, ainda por cima está fechada a exportação de trigo". Duas realidades muito distintas as de Villarreal e Casas.[ . . . ]
Quando a SRA critica as medidas por serem "confiscatórias" e a CRA as qualifica como de "puro traço fiscalista", só estão dizendo que, sob a base de leis que resguardam a propriedade privada, corresponderia a eles, de maneira íntegra e total, algo que lhes vêm de forma absolutamente gratuita: a abundância do campo argentino, em condições onde, além de tudo, os preços das commodities estão nas nuvens.[ . . . ]
Mas, então, o que faz uma organização de pequenos e médios produtores - que são os que põem as pessoas nos bloqueios de estradas no interior - na trilha dos interesses dos grandes tubarões do campo? Não têm nada a fazer ali, junto aos que queremficar com toda a renda agrária e liberalizar os preços, o que só podia se fazer às custas dos trabalhadores e setores populares do campo e da cidade.Por uma aliança independente dos explorados e oprimidos da cidade e do campo
Dirigentes como D'Elia, Depetris e outros saíram a convocar uma marcha até a Sociedade Rural. Esses setores 'K' pretendem repudiar a greve do campo a partir do posicionamento de defesa cerrada do governo. Não é disso que se precisa. Porque os problemas dospequenos e médios produtores são reais e, na realidade, o próprio governo que agora sofre a greve agrária, em todos esses anos, como está dito, não tomou uma só medida contra o processo brutal de concentração da terra e da renda agrária.
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Não é alinhando-se, portanto, ao governo K que se poderia dar uma saída tanto aos problemas desses produtores como à escalada dos preços e o desabastecimento que se começa a notar nos açougues e verdurarias. O que é necessário é outra coisa: a unidade desses pequenos produtores com os trabalhadores urbanos e rurais, em via tanto de impulsionar medidas de autêntica reforma agrária e socialização do campo como de um estrito controle dos preços dos produtos de primeira necessidade, assim como a expropriação de todos aqueles grandes proprietários que especulem com os preços e/ou provoquem desabastecimento.Isto é, para resolver os problemas dos pequenos produtores e trabalhadores do campo é necessária uma aliança de classe oposta: nem com a SRA nem com o Governo K, mas com os trabalhadores.
Juan José Funes
Publicado originalmente no periódico Socialismo o Barbarie.
Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1612/59/
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