Deu no Blog Do Emir:
Os anos 20 e os anos 60 foram chaves no século 20. Dois momentos de crise e de desarticulação do sistema imperial de dominação e, como conseqüência, de sonhos de “assaltar o céu”. Do desenlace das décadas dependeu muito do que aconteceria posteriormente na história contemporânea. A derrota da revolução alemã provavelmente condenou precocemente a revolução soviética ao isolamento e à derrota. Tanto assim que a crise de 1929 não produziu alternativas de esquerda na Europa, mas de direita. A incapacidade de concretizar politicamente as barricadas dos anos 60 levou a nova maré conservadora e à não “transformação de nossos sonhos em realidades”.
A década de 1920 não poderia deixar de estar marcada pela Primeira Guerra — o final de uma época de aparente vida pacífica no mundo, que incubava o conflito bélico mais selvagem, ainda não o dos bombardeios aéreos, mas o das baionetas, da morte cara a cara —, incluindo, necessariamente, o acerto de contas com a questão do nacionalismo. Foi naquele agosto de 1914 que o movimento operário e a esquerda viveram o primeiro grande trauma, quando tiveram que decidir a prioridade entre a questão social — os interesses de classe defendidos pelos que, posteriormente, se assumiram como comunistas — ou a questão nacional — os interesses dos governos burguesas em guerra, defendidos pelos socialdemocratas. A fratura produzida nunca haveria de ser fechada.
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Faltava entender que, na Europa, o liberalismo havia sido a ideologia da burguesia ascendente contra as travas feudais, enquanto o nacionalismo apareceria como ideário conservador, chauvinista, da contraposição dos interesses de cada nação contra a outra. Enquanto que, na periferia, o liberalismo era a ideologia dos setores primário-exportadores, interessados no livre comércio, a do nacionalismo aparecia como protecionista, industrializador, expandindo o mercado interno, contraponto à dominação externa.[ . . . ]
Um historiador argentino — Pedro Enrique Ureña — expressava, naquele momento: “Não é que tenhamos perdido nossa bússola, é que perdemos a dos outros”. Foi uma década de crise de identidade, em que a questão central foi a de “quem somos”, mas também a de “como somos” e também “por que não somos como...” O conceito de nação vinha preencher esse vazio — de forma real ou imaginária.[ . . . ]
Movimentos como a revolução mexicana de 1910 e a boliviana de 1952 foram apenas expressões políticas mais explosivas, mas foi o nacionalismo que dominou a história política do continente ao longo do século 20, com o peronismo, o getulismo, o PRI mexicano, entre outros.[ . . . ]
As novas formas de aparição do nacionalismo — agora antineoliberal, anticapitalista, indigenista, militar, latino-americanista — colocam novos desafios para a esquerda. Decifrá-los é um dos temas fundamentais na era da globalização neoliberal e da hegemonia imperial.Postado por Emir Sader às 13:09
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