Deu na Carta Maior:
Outro dia, a ministra Marina Silva referiu-se a um “ambientalismo romântico”, que deveria ser superado. Creio que esse deveria ser o primeiro item de uma nova agenda ambientalista: rediscutir sua estratégia, seus objetivos e seus métodos.
Bernardo Kucinski
Está lá no Estadão desta segunda-feira (8), com fotografia e tudo, a notícia que eu só esperava ver numa edição de primeiro de abril: “Melancia quadrada faz sucesso na Europa”. Além de fácil de transportar e guardar na geladeira, a tal melancia não tem sementes. A quadratura é conseguida à força. Assim que nasce, enfiam a coitada dentro de uma caixa. Já a eliminação das sementes não é explicada. A reportagem diz apenas que o método foi importado há dois anos da Coréia do Sul. Deve ser engenharia genética; uma melancia transgênica.
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Foi assim que quatro ONGs conseguiram suspender a licença dada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, a CTNbio, para o plantio do milho transgênico Liberty Link, da Bayer. A liminar também proíbe a CTNbio de analisar qualquer outro pedido de liberação de milho transgênico, enquanto não criar normas de monitoramento para cada produto. Há seis variedades de milho, três de algodão e uma de arroz na fila dos pedidos. Essa do Liberty já espera há nove anos.[ . . . ]
As primeiras culturas de grãos aproveitáveis na alimentação humana, o trigo, a cevada e a ervilhas, foram domesticadas no Oriente Médio há onze mil anos a partir de variedades silvestres. Salzano pega pesado em alguns grupos opositores da transgenia e do uso de células-tronco. Acusa-os de não apenas ignorarem a ciência, também de hostilizá-la.[ . . . ]
Além de demonizar o transgênicos, também conseguimos demonizar as hidroelétricas, que no meu tempo de imprensa alternativa e crise do petróleo eram consideradas a forma mais limpa e ecologicamente interessante de gerar energia. E as estradas que deviam ligar o Brasil ao Pacífico e integrar fisicamente a América do Sul? Um ambientalista, depois de admitir a contragosto na semana passada, no Estadão, que os projetos eram ecologicamente corretos, advertiu em tom dramático que, se forem construídas, em 40 anos a floresta vai desaparecer. Qual é então a solução se nem os projetos ecologicamente corretos podem ser realizados? Não construir as estradas, vitais para o acesso das populações pobres aos recursos da modernidade e até mesmo para o policiamento eficaz do meio ambiente? Não integrar a América do Sul?[ . . . ]
Bandeiras que combatem projetos localizados são eficazes, fáceis de serem propagadas e necessárias, cada uma delas isoladamente, em alguma medida. Também são necessárias para que haja no Brasil um movimento forte contra-hegemônico, capaz de refrear a ganância de alguns grandes grupos econômico e pressionar nossos legisladores e nossos executivos.[ . . . ]
Outro dia, a ministra Marina Silva referiu-se a um “ambientalismo romântico”, que deveria ser superado. Creio que esse deveria ser o primeiro item de uma nova agenda ambientalista: rediscutir sua estratégia, seus objetivos e seus métodos.* Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é colaborador da Carta Maior e autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).
Leia na íntegra: http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3740
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