Deu na Agência Carta Maior:É o momento de amplificar o alerta de Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz: "O anúncio da recriação da Quarta Frota norte-americana, destinada a realizar missões navais agressivas nas regiões do Caribe, América Central e América do Sul é uma grave ameaça à paz, à segurança e à soberania de todos os povos e nações da América Latina".Gilson Caroni Filho
Ao anunciar a reativação da Quarta Frota, desativada há 58 anos, para “patrulhar os mares da América Latina", a marinha estadunidense encena, em versão farsesca, a sina do capitão magistralmente criado por Wilhelm Richard Wagner, em 1841.
A nova constelação governos latino-americanos que, assumindo posições contrárias às do governo dos Estados Unidos, opõe-se à concessão de bases para as forças militares do Império, é o mar revolto a ser vencido. Se o personagem wagneriano tinha em “Senta” sua possibilidade de redenção, ao governo americano resta apenas Uribe como promessa de rendição.
O que movia o cenário internacional podia, sem riscos de reducionismo, ser descrito em poucas linhas. O maior império da história, governado por uma "junta" oriunda do segmento petrolífero, precisava desesperadamente invadir o Iraque, ex-aliado no Oriente Médio, para se apossar de uma reserva estimada em 112 bilhões de barris. Às voltas com um crescente déficit público e uma produção doméstica de combustível que correspondia a 50% do consumo interno, ao governo americano parecia não haver outra alternativa que não fosse o uso de sua inconteste supremacia militar.
Tendo chegado ao poder em eleições marcadas por fortes evidências de fraude, George W. Bush, apoiado pela direita fundamentalista americana, é a expressão acabada de uma superpotência que, enfraquecida como projeto hegemônico, busca manter a supremacia pela truculência bélica e a chantagem econômica. Unilateralismo na política externa e a elisão de direitos civis são as duas faces da mesma moeda.
Política expansionista e Estado policial são a marca distintiva dos Estados Unidos desde o fim da Guerra Fria. Ante-sala do horror contemporâneo, a cruzada americana teve em seu aparelho propagandístico o pânico interno como dispositivo para construção do consenso.
Sua maior colaboração residiu, como ainda reside, na capacidade de transformar em evento o que é processo, tirando da história qualquer possibilidade de apreensão dialética. Operam em restrita lógica binária, usando, para potencializar sua eficácia , o que Ignacio Ramonet classificou como "fascínio pelo espetáculo do evento".
É o momento de amplificar o alerta de Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz:
"O anúncio da recriação da Quarta Frota norte-americana, destinada a realizar missões navais agressivas nas regiões do Caribe, América Central e América do Sul é uma grave ameaça à paz, à segurança e à soberania de todos os povos e nações da América Latina. Recentemente, ao respaldar a ação militar da Colômbia em território equatoriano, o governo estadunidense intentou dar vigência em nosso continente aos pressupostos da guerra preventiva, uma doutrina fascista a serviço do terrorismo de Estado". O que os Estados Unidos anunciam é o fomento à militarização do continente, a corrida armamentista e a ameaça nuclear.
O mais caro, sem dúvida, seria a retomada das discussões em torno de uma Nova Ordem Informativa. Mesmo levando-se em conta a mudança radical da configuração geopolítica existente à época e o surgimento de novas meios de produção, difusão e intercâmbio de dados, a atualidade do relatório produzido, em 1980, pela Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicação (a Unesco sediou os debates) é inconteste. Como não deixar de referendar as palavras do presidente da comissão, Sean MacBride, no prólogo do relatório?
"Gostaria de parafrasear H. G. Wells e dizer que a história humana se transforma cada vez mais numa corrida entre a comunicação e a catástrofe. O emprego total da comunicação é vital para assegurar que a humanidade venha a ter mais história (...) do que nossos filhos tenham futuro" (Um mundo e muitas vozes)"
É uma agenda inadiável.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa. Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3884
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