Deu no Correio da Cidadania:O Informe do Latinobarômetro 2007, estudo realizado em 18 países da América Latina, demonstrou que, entre 2003 e 2007, o desempenho econômico e social dos latino-americanos tem melhorado nos últimos 25 anos. Houve uma redução da pobreza, diminuição do desemprego, melhor distribuição de renda, redução da inflação e um aumento no nível de consumo da população. Por outro lado, os percentuais ligados à dimensão da solidariedade têm piorado. O estudo demonstra que, ao examinar as atitudes individuais efetivamente da região, ela se situa como pouco solidária e individualista (as pessoas têm-se ocupado apenas com seus próprios problemas e não tratam de ajudar os outros). Há uma evidente tensão entre as atitudes coletivas e as atitudes individuais. Entre os mais solidários, encontram-se os venezuelanos e porto-riquenhos. Os chilenos, equatorianos e paraguaios são os mais individualistas. Os brasileiros ocupam a 11ª colocação no quesito solidariedade, ficando abaixo da média dos demais países do continente.
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Para o autor, o espírito insolidarista tem sua origem nos primórdios da “colonização”. Dessa maneira, criou-se, no Brasil o homo colonialis, tendo como característica fortes traços de individualismo e desconfiança: “um amante da solidão, do deserto, rústico e anti-urbano”. Na questão do trabalho, o homem brasileiro, comparado com outros homens do mundo, caracterizou-se pelo particularismo e individualismo: “O trabalho agrícola, em nosso país – ao contrário do que aconteceu no mundo europeu – sempre foi essencialmente particularista e individualista: centrifugava o homem e o impelia para o isolamento e para o sertão” (p.151). Não houve a formação da solidariedade social, hábitos de cooperação e de colaboração, nem mesmo espírito público. O que houve, na verdade, foi uma solidariedade social negativa. Em relação a outros povos latino-americanos, e também na formação social e econômica, o brasileiro é, segundo Vianna, essencialmente, individualista, não necessita da ajuda comunitária e vive de forma isolada. Estas manifestações têm raiz na tradição cultural. O que existe, no Brasil, é apenas uma solidariedade parental, isto é, desde que se mantenham os interesses fechados entre as famílias dominantes: “Esta solidariedade inter-familiar e clânica é, assim, peculiar e exclusiva à classe senhorial” (p.272).[ . . . ]
Por fim, o pioneirismo dos estudos de Oliveira Vianna, mais os dados do Informe do Latinobarômetro 2007 evidenciam que práticas individualistas e insolidárias persistem nas relações interpessoais dos brasileiros. Sem a dimensão da solidariedade, do civismo e do espírito público, o projeto da construção de um Estado-nação estará sendo novamente adiado, ou, na pior das hipótese, suplantado.Dejalma Cremonese é cientista político e professor do Departamento de Ciências Sociais e do Mestrado em Desenvolvimento da Unijuí (RS)
Site Pessoal: http://www.capitalsocialsul.com.br
E-mail: dcremo@hotmail.com
Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1157/47/
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