Deu no Correio da Cidadania:
Ainda em 2006, depondo diante do Congresso americano, o embaixador americano Zalmay Khalizad foi taxativo: “Não temos nenhum objetivo de estabelecer bases permanentes no Iraque”.
[ . . . ]
Com isso, desdenhou a opinião pública americana que, nas últimas pesquisas, contestara a Ocupação por 66 a 22%. Fez-se surdo ao clamor das massas dos demais países, enrouquecidas de tanto vaiar o presidente americano por sua ação no Iraque, apoiada somente por Israel - por razões óbvias- e pela Albânia – talvez um caso de síndrome de Estocolmo, adquirida durante o brutal regime de Enver Hodja.[ . . . ]
No Iraque, os protestos foram gerais, mesmo os dos políticos aliados.Recém-chegado de Washington, onde fora fazer lobby no Congresso contra a retirada imediata das tropas, Mowaffak al Rubaie, conselheiro especial do primeiro-ministro Maliki, assegurou que os planos americanos de "permanência até o Dia do Julgamento Final” eram inaceitáveis. “Seria um casamento forçado para o qual esqueceram de avisar a noiva”, acrescentou.
[ . . . ]
Mas Bush não deu a mínima. Em fins de novembro, ele e o primeiro-ministro Maliki anunciaram um acordo estratégico que punha uma pá de cal na controvérsia sobre a retirada das forças de ocupação. Dispunha que, em fins de 2008, o exército americano passaria suas funções para os iraquianos. Cerca de cinqüenta mil soldados permaneceriam ad aeternum em 4 mega-bases, para proteger o governo e a democracia do Iraque contra agressões internas ou externas. Em troca, o governo iraquiano se comprometia a favorecer os investidores americanos - leia-se, as companhias de petróleo.[ . . . ]
O preço pago pelo povo americano foi alto: cerca de 3.900 soldados mortos, 25 mil feridos e cerca de 1,3 trilhão de dólares (gastos projetados pela Comissão Mista de Economia do Congresso). Para Bush, barato, diante dos lucros gigantescos vislumbrados.[ . . . ]
Com os 50 mil soldados nas bases, Washington teria força para garantir os contratos petrolíferos e também enquadrar o governo iraquiano, sempre que contrariasse a política externa americana. E assim o Iraque poderá se tornar um protetorado dos Estados Unidos.[ . . . ]
Refletiram a opinião do povo. Pesquisa recente da ABC/BBC mostrou que 78% dos iraquianos acham que as o país vai mal, 47% apóiam a retirada imediata das tropas , 79% se opõem à presença da coalizão e 57% apóiam a violência contra elas.[ . . . ]
Em julho de 2008, o acordo estratégico seria convertido em tratado, incluindo detalhes como número de soldados e os privilégios às empresas americanas. Previamente, teria de ser aprovado pelo congresso iraquiano, que costuma ouvir a opinião pública.[ . . . ]
Não se pode negar que foi um lance brilhante, capaz de fazer Bush emergir vitorioso do pântano da guerra do Iraque.[ . . . ]
Sem tratado, Bush ficaria a pé, legítimo lame duck, sem influência na eleições presidenciais. Esperando ansiosamente pela hora de se retirar para as doçuras do seu rancho no Texas.Luiz Eça é jornalista.
Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1175/51/
Nenhum comentário:
Postar um comentário