Deu na Agência Carta Maior:Conhecido nacionalmente por sua cruzada contra a corrupção e em defesa da moralidade pública, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) pouco tem a dizer sobre as denúncias de corrupção envolvendo correligionários e aliados políticos no RS. Na geografia moral do senador, seu Estado parece não existir.Marco Aurélio Weissheimer
O senador Pedro Simon (PMDB-RS) é conhecido nacionalmente por sua cruzada contra a corrupção e pela defesa da moralidade pública. A retórica inflamada do senador gaúcho na tribuna do Senado é cantada em prosa e verso por seus correligionários, eleitores e admiradores.
Um estranho fenômeno, porém, atingiu o senador desde novembro de 2007, quando a Polícia Federal desencadeou a Operação Rodin no Rio Grande do Sul. A operação prendeu uma quadrilha acusada de desviar recursos públicos do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) no Estado. Para surpresa da população gaúcha, figuras até então respeitáveis da política local foram denunciadas como chefes da quadrilha, dando início a uma grave crise que atingiu em cheio o governo de Yeda Crusius (PSDB).
[ . . . ]
Atendendo a pedido da Procuradoria Geral da República, o Supremo Tribunal Federal autorizou a investigação de ilustres integrantes do PMDB gaúchos, acusados de envolvimento com um esquema de fraude na prefeitura de Canoas, administrada pelo tucano Marcos Ronchetti.[ . . . ]
O silêncio do senador acabou tornando-se ensurdecedor e ele acabou falando. Na manhã de 9 de setembro, em entrevista à rádio Gaúcha, Simon criticou as investigações considerando “infeliz” o momento em que ocorrem, referindo-se ao período das eleições municipais. “Esse problema de Canoas está aí há dois anos. Não é feliz iniciar uma discussão que nem essa há 30 dias da eleição. Podia ter tirado da gaveta há um ano e esse assunto já teria sido discutido”, disse o senador, que não tomou nenhuma iniciativa para “tirar esse assunto da gaveta” há um ano.[ . . . ]
Em uma conversa gravada por Paulo Feijó, Busatto afirmou que o Banrisul seria utilizado pelo PMDB para financiar campanhas eleitorais no Estado. A revelação do conteúdo da conversa provocou a demissão de Busatto e quase decretou o fim do governo Yeda que chegou a criar um gabinete de transição para iniciar um “novo governo”.[ . . . ]
Segundo Paulo Feijó, em 2006, o Banrisul teria repassado R$ 24 milhões para a Faurgs. No mesmo período, porém, teria sido contabilizada a entrada de apenas R$ 6 milhões na fundação. Uma empresa terceirizada que prestaria serviços exclusivamente para a fundação teria recebido o restante. Feijó disse que sua denúncia estava baseada em um documento resultante das investigações feitas pelo Ministério Público. Ele entregou esse documento à governadora Yeda Crusius.[ . . . ]
As novas denúncias envolvendo importantes lideranças do PMDB gaúcho obrigaram Simon a se manifestar mais uma vez. Os brasileiros que assistem aos discursos do senador na TV certamente estranhariam a sua crítica às investigações pelo fato de elas ocorrerem em um ano eleitoral. Em Brasília, o senador nunca fez essa reserva em seus discursos contra corruptos e corruptores. E a denúncia envolvendo peemedebistas gaúchos pode expor um desvio de recursos públicos três vezes superior aquele descoberto pela Operação Rodin, no Detran.[ . . . ]
O senador também foi indagado sobre se pediria o afastamento dos envolvidos de seus cargos (Padilha é secretário geral do PMDB gaúcho, Alceu Moreira é presidente da Assembléia e Marco Alba é secretário de Estado) como costuma fazer em Brasília quando ocorrem denúncias envolvendo integrantes do governo federal. Ao responder a pergunta, a retórica inflamada de Simon deu lugar a uma declaração evasiva: “A gente está na expectativa de saber o que está acontecendo”.A mesma expectativa é compartilhada pela população do Rio Grande do Sul, que também quer saber o que está acontecendo. O senador disse que tinha conhecimento dos “assuntos de Canoas” há dois anos. No entanto, nada fez neste período. Nenhum pronunciamento, nenhuma denúncia, nenhum pedido de esclarecimentos, nenhum pedido de afastamento. Na geografia moral de Pedro Simon, o Estado que ele representa no Senado parece não existir.
Marco Aurélio Weissheimer
é jornalista da Agência Carta Maior
(correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3975
Nenhum comentário:
Postar um comentário