Deu na revista Espaço Acadêmico, 86, jul. 2008:
Henrique Rattner
Nas últimas semanas, o mercado de petróleo e das “commodities” tem sofrido sérios abalos com o aumento do preço do barril para US$ 140.00, seguido por ondas de elevação de preços de alimentos e de inúmeros subprodutos, tais como plásticos, petroquímicos e fertilizantes pelo mundo afora.
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Soou patético o comunicado dos ministros de Energia do G-8, reunidos na semana passada no Japão, exigindo dos países exportadores de petróleo (OPEP), para que invistam mais na produção e na ampliação da oferta do combustível e reclamando também da falta de transparência sobre os níveis atuais de produção e de suas reservas.[ . . . ]
Na segunda metade do século XX, os dois choques de petróleo nos anos setenta causaram uma elevação radical dos preços, sobretudo nos países europeus e nos Estados Unidos, grandes consumidores e dependentes da importação do combustível para gerar energia e mover a rede de transportes, hoje composta por centenas de milhões de veículos alimentados por gasolina e/ou diesel. Nas duas décadas seguintes, houve um recuo e relativa estabilização dos preços nos mercados, para retomar o ritmo de alta com uma intensidade inédita, nesses primeiros anos do século XXI.Como explicar esse comportamento errático do mercado de petróleo?
Dois fatores parecem fundamentais para explicar a alta dos preços e seus impactos na economia mundial. Primeiro, a entrada no mercado da China e da Índia, grandes consumidores e importadores, devido às altas taxas de crescimento de suas economias. A pouca elasticidade da oferta – a perfuração de novos poços e as descobertas de novos campos de exploração não conseguem acompanhar o ritmo de expansão da demanda global – explica em parte o salto do preço do barril até US$ 140.00 (um barril equivale a 160 litros).
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Acrescenta-se a presença do cartel da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) que controla 78% das reservas mundiais e responde por 40% da produção e 60% das exportações, fica patente a cilada em que se encontra a imensa maioria dos países e da população mundial. Criado em 1960, para conseguir melhores preços para seu produto, a associação dos membros do cartel conta com 14 países membros. Na África são Argélia, Nigéria, Angola e Líbia; na América Latina, Venezuela e Equador; no sudeste asiático, a Indonésia e no Oriente Médio, a Arábia Saudita, os Emirados do golfo pérsico, o Irã, Iraque, Kuwait e Quatar.[ . . . ]
Estima-se que o total da produção mundial, neste começo de século XXI, se eleva a 24 bilhões de barris por ano, dos quais 23 bilhões são consumidos e um bilhão é retido para formar estoques. As reservas globais de petróleo são estimadas em um trilhão de barris, sendo que 67% encontram-se no Oriente Médio. Em várias partes do mundo, as reservas de gás e de petróleo estariam diminuindo (México, Mar do Norte), o que tem intensificado a pesquisa e o desenvolvimento de fontes energéticas alternativas. As respostas a esse dilema que afetará a todas as sociedades, mais cedo ou mais tarde, são complexas e intrincadas.[ . . . ]
Outro fato relevante neste contexto, é o aumento contínuo da frota de veículos movidos à gasolina e/ou óleo diesel, subprodutos de refino de petróleo cru. As refinarias existentes trabalham a plena capacidade e a construção de novas unidades exige tempo, investimentos e, sobretudo, precauções quanto aos possíveis impactos negativos no meio ambiente.[ . . . ]
O dilema vislumbrado por governos e empresas tem inspirado o renovado interesse pela energia nuclear e outras fontes de energia. Quanto à energia nuclear, alega-se que, além de ser mais “limpa” e de custo competitivo (?), sua fonte de matéria–prima, o urânio, está localizada em países politicamente estáveis e aliados (Austrália e Canadá), ao contrário de petróleo controlado por governos hostis ou autoritários, como o Irã, a Venezuela e todo o Oriente Médio.[ . . . ]
Por outro lado, as pressões sobre os países produtores de petróleo, para aumentarem sua produção, não têm surtido efeito. A oferta de petróleo ficou praticamente estagnada e não foi capaz de atender a demanda crescente, sobretudo dos países “emergentes”. Estima-se que somente a Arábia Saudita e os Emirados do Golfo estariam em condições de elevar sua produção, situação que pressiona os preços, dado o desequilíbrio entre demanda e oferta. Também, pequenos acidentes como a sabotagem por guerrilheiros dos oleodutos na Nigéria, tempestades no Golfo do México ou a ameaça constante de eclosão de novos conflitos nos Oriente Médio, pressionam os preços para alta.[ . . . ]
A postura nacionalista de certos governos – Rússia e Oriente Médio – tem desencorajado novos investimentos privados. As novas áreas de exploração no Brasil e na região ártica apresentam dificuldades técnicas além de políticas, o que tende a aumentar os preços finais do produto. Face à esta situação, os países ricos da OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – avaliam seriamente a redução do consumo de petróleo e sua substituição por fontes energéticas alternativas, tais como o etanol, veículos elétricos, plantas eólicas e usinas nucleares.[ . . . ]
Em resumo, parece que nossa civilização encontra-se em um beco sem saída: por um lado, as pressões representadas por um bilhão de veículos a motor que não param de expandir, sobretudo com a construção de novas fábricas para veículos populares na China e na Índia.[ . . . ]
A crise de petróleo tem o mérito de alertar os governos e as populações para o perigo de um colapso e a necessidade de se investir seriamente em pesquisa e desenvolvimento de soluções alternativas e sistêmicas, que abranjam o conjunto das atividades humanas, enfim, um novo paradigma civilizatório.Henrique Rattner. Professor na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA/USP); e na pós-graduação no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Fundador do Programa LEAD Brasil e da ABDL - Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças.
rattner@ipt.br
Outros textos do autor estão disponíveis na coluna IDENTIDADE em http://www.abdl.org.br
Leia na íntegra em http://www.espacoacademico.com.br/086/86rattner.htm
3 comentários:
É lamentável que o articulista não faça menção a tremenda especulação que está ocorrendo nas bolsas de futuros, que negociam contratos de prtróleo. Tal especulação nas bolsas Nymex em NY e London ICE Futures Exchange seria a principal causa da alta dos preços do barril, fato este apontado também na última reunião da OPEP.
Sem mida, não concordo com vc...
Paz e bem!
Wall Paper:
Seria bom se espusestes o por quê de não concordares com o comentário de Blog de um Sem-Mídia.
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