O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Israel: um importante marco foi ultrapassado

Deu no Resistir.info:
por
John Pilger

Os bantustans no apartheid de Israel. De uma colina calcárea sobre o campo de refugiados de Qalandia pode-se avistar Jerusalém. Observei uma figura solitária que ali se postava à chuva, com o filho a segurar o seu grande casaco esfarrapado. Ele estendeu a mão e não a largava. "Sou Ahmed Harnzeh, animador de rua", disse num inglês cuidadoso. "Lá, toquei muitos instrumentos musicais, cantei em árabe, inglês e hebraico e, como eu era bastante pobre, meu filho muito pequeno mascaria gomas elásticas enquanto o macaco fazia seus truques. Quando perdemos o nosso país, perdemos o respeito. Um dia um kuwaitiano rico parou o seu carro diante de nós. Ele gritou para o meu filho: "Mostre-me como um palestino apanha as suas rações de comida!". Assim, fiz o macaco aparecer para apanhar comida no chão, na sarjeta. E meu filho apanhou-a. O kuwaitiano atirou-lhe moedas e meu filho engatinhou de joelhos para apanhá-las. Isto não estava certo, eu era um artista e não um mendigo... Agora não sou nem mesmo um camponês....

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Isto foi há 40 anos atrás. Na minha última viagem à Cisjordania pouco reconheci de Qalandia, agora anunciada por um vasto posto de controle israelense, um zig zag de sacos de areia, tambores de óleo e blocos de cimento, com filas de pessoas, à espera, a espantar moscas com preciosos documentos. Dentro do campo, as tendas haviam sido substituídas por barracas firmes, embora as filas junto às poucas torneiras fossem longas e o pó ainda contribuísse para fazer lama com a chuva. No gabinete das Nações Unidas perguntei acerca de Ahmed Hamzeh, o animador de rua. Foram consultados registos, cabeças sacudiram. Alguém pensava que ele fora "levado embora... muito doente". Ninguém sabia do seu filho, cujo tracoma agora certamente transformara-se em cegueira. Do lado de fora, uma outra geração chutava na poeira uma bola de futebol furada.

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Em 2005, o espectáculo de fanáticos do Velho Testamento a choramingar quando deixavam Gaza foi uma fraude. A construção dos seus "colonatos" acelerou-se na Cisjordânia, juntamente com a muralha ilegal estilo Berlim que separa os agricultores das suas culturas, as crianças das suas escolas, as famílias uns dos outros. Agora sabemos que a destruição por Israel de grande parte do Líbano no ano passado foi previamente planeada. Tal como escreveu a antiga analista da CIA Kathleen Cristison, a recente "guerra civil" em Gaza foi realmente um golpe contra o governo eleito do Hamas, engendrado por Elliott Abrams, o sionista que dirige a política americana sobre Israel e um criminoso condenado desde o tempo do caso Irão-Contra.

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Mas alguma coisa está a mudar. Talvez o panorama de horror do último Verão irradiado do Líbano para os écrans de TV de todo o mundo funcionem como catalisador. Ou talvez o cinismo de Bush e Blair e a incessante utilização do discurso vazio sobre o "terror", juntamente com a disseminação diária de uma insegurança fabricada em todas as nossas vidas, tenha finalmente chamado a atenção da comunidade internacional para os estados bandidos (rogue states), a Grã-Bretanha e os EUA, voltando-a para uma das suas fontes principais: Israel.

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O maré do boicote está a crescer inexoravelmente, como se um importante marco houvesse sido ultrapassado, recordando os boicotes que levaram a sanções contra o apartheid sul-africano. Tanto Mandela como Desmond Tutu traçaram este paralelo, assim como o ministro sul-africano Ronnie Kasrils e outros ilustres membros judeus da luta de libertação. Na Grã-Bretanha, uma campanha muitas vezes conduzida por judeus contra a "destruição metódica do sistema de educação [palestino]" pode corroborar aqueles que descreveram a partir dos territórios ocupados o arbitrário encerramento de universidades palestinas, a perseguição e humilhação de estudantes em postos de controle e os disparos e as mortes de crianças palestinas no seu caminho para a escola.

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Isto é pouco habitual, pois outrora não se ouviam estas palavras. E que tão grave discussão de um boicote se tenha tornado "global" não estava previsto no Israel oficial, há muito confortado pelos seus mitos aparentemente intocáveis e o grande poder dos seus patrocinadores, bem como a confiança em que a mera ameaça de anti-semitismo asseguraria o silêncio. Quando a decisão dos académicos britânicos foi anunciada, o Congresso dos EUA aprovou uma absurda resolução descrevendo a UCU como "anti-semita". (Oitenta deputados foram a Israel este Verão, às custas dos dinheiros públicos)

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O corajoso historiador israelense Ilan Pappé acredita que um único Estado democrático, no qual seja dado aos refugiados palestinos o direito de retorno, é a única solução factível e justa, e que uma campanha de sanções e boicote é crítica para alcançar isto. Será que a população israelense ficaria comovida por um boicote mundial? Embora eles raramente admitissem isto, os brancos sul-africanos foram suficientemente abalados para apoiar uma mudança histórica. Um boicote de instituições, bens e serviços israelenses, afirma Pappé, "não mudará a posição [israelense] num dia, mas enviará uma mensagem clara de que [as premissas do sionismo] são racistas e inaceitáveis no século XXI... Eles teriam de optar".

E assim deveríamos fazer todos nós.

23/Agosto/2007

O livro dos mortos e desaparecidos

Deu no Correio da Cidadania:
Escreve Frei Betto
29 ago. 2007.


“Direito à Memória e à Verdade” registra o perfil dos mortos e desaparecidos sob a ditadura militar brasileira.

A obra resulta de cuidadoso trabalho da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, presidida pelo advogado Marco Antonio Rodrigues Barbosa. Editada pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da presidência da República, nesta gestão do ministro Paulo Vannuchi, é, com certeza, o mais importante documento histórico sobre os anos de chumbo, desde a publicação de “Brasil, Nunca Mais”, assinado por dom Paulo Evaristo Arns, hoje cardeal emérito de São Paulo, e o reverendo Jaime Wright.

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Quis a sorte, resultante das oscilações conjunturais de nossa política, que o processo que culmina na publicação do livro tenha sido iniciado, em 1995, por Nelson Jobim, então ministro da Justiça do governo FHC. Hoje, Jobim é ministro da Defesa, autoridade máxima, à exceção do presidente da República, sobre as Forças Armadas que insistem em não abrir seus arquivos sobre a repressão.

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Nenhuma vítima da ditadura, por questão de bom senso humanitário, encara esta iniciativa do governo Lula pela ótica da vingança. Não se trata de vingança, e sim de justiça. Aprendi no cárcere que o ódio destrói primeiro quem odeia e não quem é odiado.

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A memória brasileira tem sofrido tentativas de “apagão” quando os conjurados mineiros são qualificados de inconfidentes (que significa aqueles que não merecem confiança ou não são capazes de guardar confidências, leia-se dedos-duros) e em episódios históricos como a Guerra do Paraguai, o massacre de Canudos e tantas outras rebeliões que semearam a nossa independência e forjaram a nossa identidade. Não se pode admitir agora que um período trágico de nossa história como foi a ditadura militar fique relegado ao olvido com seus documentos tão desaparecidos quanto muitas de suas vítimas.


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“Direito à Memória e à Verdade” soma-se ao crescente esforço de trazer à luz a realidade dos anos de chumbo. Aplausos para o cinema nacional que exibe nas telas o caráter deletério do regime militar em produções recentes: “Zuzu Angel”, “Hércules 51”, “Quando nossos pais saíram de férias”, “ Batismo de Sangue”, “Ato de Fé”, “Conspiração do Silêncio – Araguaia”, “Serra do Caparaó”, “Quase Dois Irmãos”, “Barra 68”, “Cabra-Cega” etc.

A Secretaria Especial dos Direitos Humanos - cujo empenho no combate à exploração sexual de crianças e na defesa dos direitos de indocumentados e portadores de deficiência física mereceria amplo espaço na publicidade oficial - ostenta agora o mérito de fazer jus à memória nacional.


Frei Betto é escritor, autor de “Batismo de Sangue” (Rocco), entre outros livros.

Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/785/55/

O neoliberalismo à brasileira

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:
Artigo de Ricardo Luiz Chagas Amorim

"O governo Lula aparece numa encruzilhada. O continuísmo da era FHC no primeiro mandato manchou as esperanças da mudança. Porém, reeleito por assistir aos desassistidos, o presidente iniciou esforços com o PAC e reforçou os programas de distribuição de renda, incluindo aí a Previdência e o salário mínimo", escreve Ricardo Luiz Chagas Amorim, professor da Universidade Mackenzie, pesquisador ligado ao Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), membro da Sociedade Brasileira de Economia Política e autor, com outros pesquisadores, da série "Atlas da Exclusão Social no Brasil", em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, -08-2007. Segundo ele, "o problema é saber se estamos ante um governo capaz de evitar a sangria de bilhões em juros pagos aos mais ricos e se ele vencerá o desastroso neoliberalismo à brasileira".

Eis [partes d]o artigo.

"O Brasil dos anos 1980 não era para principiantes. Aqueles anos não foram só de crise ou difíceis. Ali se modificou algo mais profundo e grave para o futuro do país. A esperança do Brasil grande, país do futuro, a segurança com que se olhava o porvir e o quase atrevimento ao enfrentar pressões estrangeiras, de um momento para o outro, viraram fumaça e quase uma culpa.

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Contudo, cabe reparar que, por trás desse sentimento, havia grupos sociais fortes que reagiam aos constrangimentos da vida nacional empurrando o país na direção do seu interesse.

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Assim, divergindo do ex-ministro Velloso, o que se divisou à época foi a perplexidade desses proprietários que percebiam desmoronar um arranjo social que lhes garantia lucros e ganhos claramente sustentados nos gastos e investimentos do Estado.

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Ali, após forte endividamento e em meio a conturbada transição política, o Estado se viu inerte e pesado, abrindo espaço para a crítica oportunista e o renascimento de um pensamento liberal muito especial: o neoliberalismo à brasileira. Ou seja, um neoliberalismo que buscava apenas o desmonte de uma ordem que não mais permitia a continuidade dos lucros anteriores e, portanto, já não agradava as camadas proprietárias do país.

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A repetição constante de discursos e reportagens sobre a "ineficiência do Estado" e seu "elevado custo" transmutou o mantra em "verdade". O que ainda manteve o Estado com força naquele momento crítico foi a emergência do combate à inflação e a delicadeza da transição política. Mas foi nos anos 1990 que o neoliberalismo à brasileira se materializou. Primeiro com Fernando Collor e, depois, com Fernando Henrique, o Brasil viveu importantes transformações de corte neoliberal que, longe de reforçar a produção e o progresso social, consolidaram um novo padrão de capitalização no país, crescentemente financeiro e menos produtivo. Os investimentos produtivos privados, por exemplo, se estabilizaram bem abaixo do pico do final dos anos 1980, abrindo um novo caminho para obtenção de lucros por meio dos ganhos financeiros.

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É o Estado que continua a alimentar a acumulação de capital, mas de uma forma cada vez mais líquida, menos presa a máquinas e equipamentos. Hoje, os ganhos dos grandes proprietários são sustentados não pela demanda de bens e serviços, mas pelos volumosíssimos juros pagos pelo erário aos donos da dívida pública. De outra maneira, Sérgio Buarque de Holanda ("Raízes do Brasil") já falava sobre a apropriação que as elites fazem do Estado em benefício próprio.

É nesse ponto que o governo Lula aparece numa encruzilhada. O continuísmo da era FHC no primeiro mandato manchou as esperanças da mudança. Porém, reeleito por assistir aos desassistidos, o presidente iniciou esforços com o PAC e reforçou os programas de distribuição de renda, incluindo aí a Previdência e o salário mínimo. O problema é saber se estamos ante um governo capaz de evitar a sangria de bilhões em juros pagos aos mais ricos e se ele vencerá o desastroso neoliberalismo à brasileira."

Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=8804

Do Lugar da Miséria à Miséria do Lugar

Jaques Távora Alfonsin
advogado

acesso@via-rs.net

A Expointer quase sempre renova o debate sobre alguns temas que não deixam de gerar perplexidade. Um deles é o de excelente nível da produção rural gaúcha, assim apregoado pelos grandes proprietários da terra; outro é o dos maus-tratos que eles sofrem por parte do Estado; um terceiro é a denúncia de que o MST e a reforma agrária só fazem mudar a miséria de lugar. Algumas perguntas sobre tais afirmações exigem uma explicação mais atenta dos fatos. Se a nossa produção é tão boa, por que o índices que medem graus de utilização da terra e de eficiênciana sua exploração, previstos nas leis agrárias, têm de ser, hoje, os mesmo de décadas atrás, segundo os mesmos latifundiários? Se o Estado só atrapalha, que recursos financeiros lhe devem ser garantidos para mudar isso, sabendo-se que as dívidas tributárias dessas pessoas ou são sempre prorrogadas ou nem sequer pagas?

Se o MST e a reforma agrária somente mudam a miséria de lugar, o que explica o fato dos países considerados ricos terem realizado uma segunda, às vezes até com o uso da ocupação militar violenta, como o General Mac Arthur fez, em nome dos Estados Unidos da América, com os latifundios japoneses após a vitória Aliada na Segunda Guerra? Se o MST somente cria favelas rurais, ao que se deve o fato de a miséria, situar-se, aqui no Estado, justamente nas regiões onde o latifúndio mais impera? tinha assim razão Enio Guterres, quando sublinhou a diferença entre produtividade e produtivismo, na sua obra Agroecologia militante. A primeira procura preservar a terra como fonte de vida para toda/os, tentando garantir essa justa partilha universal, sem a morte dela; o segundo, além de não se importar com o egotamento e a depredação do solo, prefere que a miséria fique onde está, por mais que ele próprio seja o principal responsável pelo lugar dela.

Publicado no Jornal do Comércio. Porto Alegre, 30 ago. 2007. P. 4

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Comunicação interfere no processo democrático

n ChavesDoutor em Relações Internacionais, Marco Cepik leciona no
programa de pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Nesta entrevista ao Jornal do Comércio, ele comenta a efervescência política que vive a Venezuela, principalmente no que tange à
inserção da mídia no debate político.

Jornal do Comércio - Como a comunicação se insere no processo democrático?
Marco Cepik -
Ao longo do século XX, informações e imagens se tornaram cruciais na organização do sistema político. A televisão foi usada pela primeira vez pelos nazistas, na II Guerra Mundial, como arma de propaganda para formar consciências. Nos ambientes democráticos, a mídia é um dos sistemas mais importantes a influenciar a percepção do desempenho governamental e das alternativas colocadas pelos partidos políticos.

JC - Qual a avaliação da atuação da mídia na Venezuela?
Cepik -
Houve, desde a chegada de Chávez ao poder, uma oposição clara dos principais meios de comunicação. O presidente também passou a usar os meios estatais. E, desde o início, jogou-se com a carta da ameaça à liberdade de imprensa.

JC - A não-renovação da concessão da RCTV seguiu os meios constitucionais ou foi uma ação intempestiva de Chávez?
Cepik -
Não há dúvida de que foi legal, acho que mesmo no Supremo Tribunal venezuelano. A operação dos meios de comunicação é uma concessão pública e há a necessidade da renovação de tempos em tempos. O que causa espécie é que não é comum que alguém não renove a concessão de um canal de televisão tão poderoso, com cerca de um terço da audiência.

JC - Foi um erro político?
Cepik -
É uma questão de interpretação. Há um cálculo político da parte do governo em tentar fortalecer a televisão estatal e diminuir o poder dos grandes meios. Até para poder barganhar a atitude dos outros que continuam fazendo forte pressão contra o governo.

JC - Chávez pretende estatizar a mídia?
Cepik -
A idéia de que o fim da RCTV seria a partida para a estatização total é exagerada neste momento. Continua existindo um grande número de empresas independentes e oposicionistas. Os dados que o Le Monde Diplomatique compilou, em janeiro, mostram que as notícias contrárias a Chávez são bastante predominantes.

Publicado no Jornal do Comércio.
Porto Alegre, 29 ago. 2007. P. 20.
Extraído de
http://www.clipping.ufrgs.br/restrita.php?palavra=&data_ini=&data_fim=&filtrodata=&midia=jornal&cod=52684&cliente=14322&palavra

A festa do mensalão

Deu no Correio da Cidadania: Por Luiz Antônio Magalhães

Em tempos um tanto conturbados pela crise financeira nos Estados Unidos, começou um espetáculo novo, o tal julgamento do Mensalão.

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Aliás, não deixa de ser interessante, antes de entrar no mérito da questão, notar como o noticiário hoje obedece à velocidade e ritmo da cobertura em tempo real: o acidente com o avião da TAM levou os membros das CPIs do Apagão Aéreo à condição de xerifes da Nação, porém por poucos dias, até a entrada em cena do General Patton tupiniquim, o grande (enorme, na verdade, com seus quase 2 metros) Nelson Jobim, que tem mostrado bastante serviço à frente do ministério da Defesa.

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Voltando então para o julgamento em curso, a primeira observação que se pode fazer é a de que a imprensa está tratando do assunto de forma equivocada. Não existe nenhum mensaleiro sendo julgado, nem mesmo o inefável José Dirceu, verdadeira unanimidade na antipatia dos maiores veículos de comunicação do país. Sim, é isto mesmo, não há julgamento algum em curso. O que o Supremo está julgando é a admissibilidade das denúncias do Procurador Geral da República. As denúncias que forem admitidas vão se transformar em processos e, como este ainda é um país democrático, os acusados terão garantido o direito de se defender. É lento, é chato? Tem gente que acha, mas esta coluna admite que prefere a lentidão e a chatura a julgamentos e execuções sumárias.

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E se Renan manobrar mais um pouco, pode até conseguir adiar a votação da sua cassação no Plenário. Com sorte, Renan ganha mais um mês e o seu calvário terá como competidor o ensaio de Mônica Veloso na Playboy, isto se nenhuma outra namorada de políticos brasilienses aparecer por aí para tirar de Mônica seus 15 segundos de fama...

Luiz Antônio Magalhães é editor de política do DCI e editor-assistente do Observatório da Imprensa (www.observatoriodaimprensa.com.br).

Blog do autor: http://www.blogentrelinhas.blogspot.com/

Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/776/49/

Do foie gras ao desmatamento da Amazônia, a internet tem poder

Deu no Correio do Brasil:
Por Gilberto de Souza - do Rio de Janeiro

"Impressionante o poder de mobilização da internet". Essa frase deveria estar gravada em praça pública, por ser absolutamente lapidar. Sem dúvida, a rede mundial de computadores é, hoje, o meio mais abrangente e sedutor que a humanidade já pretendeu inventar. Por aqui, trafega tudo. É um corte vertical e simétrico na forma de ser, de pensar, de agir dos seres humanos. Por isso mesmo, demanda um certo cuidado conferir algum crédito ao que se lê e se assiste, aí na sua telinha de cristal líquido. Mas uma coisa é verdade absoluta: Não há maior poder mobilizador ao alcance das pessoas, de todas as pessoas, do que a internet. Só faltam os bons motivos para que homens e mulheres de todo o mundo se mobilizem.

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Sinto, porém - embora os gansos e patos mereçam toda a minha consideração -, que não tenha havido uma mobilização maior quando, no próprio Correio do Brasil, noticiamos os incêndios criminosos na Floresta Amazônica, a morte dos sem-terra no Pará, a miséria nas favelas do Rio de Janeiro, a violência surda na Grande São Paulo. A mesma internet que permite aos nossos milhares de leitores protestar pela morte rápida e indolor, após uma vida digna e frugal, dos patos de todo o mundo, também pode abrigar reações mais efetivas para a humanidade. A mesma indignação manifestada contra o foie gras deve ser canalizada também para ações que possam, por exemplo, acabar com o cinismo na política e nos políticos.

Imaginem o dia em que o CdB publicar a notícia de que milhões de brasileiros, por e-mail, protestaram contra a privatização da Vale do Rio Doce e, diante da avalanche de mensagens aos juízes do STF (a mesma corte de julga o caso do mensalão), o processo contra a maior expoliação do solo brasileiro seja julgado e a companhia devolvida à União. Essa manchete, com certeza, eu gostaria de publicar, com a mesma admiração com que vejo os defensores dos animais de um lado, e do foie gras, de outro, praticar o sentido mais direto e viceral de democracia, na sua literalidade.

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Gilberto de Souza é editor-chefe do Correio do Brasil.

Leia na íntegra em http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=124960


terça-feira, 28 de agosto de 2007

Televisão digital: uma nova era na TV Brasileira. Entrevista especial com Valério Brittos

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:

A televisão brasileira na era digital: exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes (São Paulo: Editora Paulus) é o título do mais recente livro de César Bolaño e Valério Brittos. Nele, os autores discutem os problemas atuais que mais envolvem a televisão digital no Brasil. Também traçam um diagnóstico sobre a produção televisiva, a indústria cultural, o estado da televisão digital no Brasil e no mundo e comentam sobre as falhas do governo em relação a essa nova tecnologia que chega ao país. A IHU On-LineValério Brittos sobre o tema. A entrevista foi realizada pessoalmente.
conversou com o professor

Valério nos fala sobre as possibilidades de democratização que a TV digital pode ou não proporcionar à indústria cultural e jornalística brasileira e, ainda, sobre as exclusões que a tecnologia pode trazer a um país em que 97% da população possui televisão em casa. Ele comenta também a respeito do modelo de TV digital que se instala no país e os avanços que os experimentos feitos já trouxeram às programações. “Essa TV digital acaba estruturando o mercado como um todo. Ela nem iniciou e ela já exerceu uma série de influências/provocações em outras mídias. E, quanto mais estiver avançada a TV digital, mais ela vai repercutir sobre as demais mídias, sobre a internet, o próprio jornal”, acredita.

Valério Cruz Brittos é formado em Direito, pela Universidade Federal de Pelotas, e em Jornalismo, pela Universidade Católica de Pelotas, com especialização em Ciências Políticas. É mestre em Comunicação, pela PUCRS, e doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é professor do PPG de Comunicação da Unisinos e presidente da ULEPICC - União Latino-americana de Economia Política da Informação, Comunicação e Cultura.

Confira [partes d]a entrevista.

IHU On-Line - O senhor acredita que a TV digital vai democratizar a produção cultural e jornalística da televisão brasileira?

Valério Brittos - Não, a TV digital, por ela própria, não democratiza nem transforma nada. Só haverá democratização se as pessoas a aproveitarem com o objetivo de realizar algumas mudanças importantes que precisam acontecer. E, para isso, é necessário haver regulamentação específica, participação da sociedade, enfim, mudança de comportamento. Até agora, por exemplo, no que diz respeito ao processo de concentração da televisão brasileira – na mão de alguns grupos muito fortes, que fazem o que querem -, nada vai mudar. Por outro lado, leis sobre o controle dos meios, como, por exemplo, a classificação indicativa, ainda não foram feitas.

Pequenos avanços foram dados, mas podemos aproveitar a tecnologia digital para fazer deste momento um momento de fazer mudanças. No entanto, não é a tecnologia sozinha que faz isso.

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IHU On-Line – É possível fazer uma previsão do tipo de TV digital que o Brasil está adotando?

Valério Brittos - Pode. Até agora, nós temos pouca ou nada de regulamentação sobre isso e, por conseqüência, não existe uma exigência por parte do Governo Federal em relação aos operadores televisivos sobre qual o tipo de televisão que se terá. Com isso, eles podem fazer o que quiserem. Então, o problema é sério. Para atender aos seus próprios interesses, num primeiro momento, o que os operadores querem é fazer chegar à alta definição. É não transformar a possibilidade da TV digital, os seis megahertz que eles recebem, em multiprogramação. A multiprogramação seria mais democrática, isto é, mais vozes poderiam falar sobre diversos fenômenos, sendo mais “aberta para a sociedade”.

Eu diria que os principais operadores tentarão fazer a programação em alta definição. Essa é a TV digital que nós teremos com alguma coisa de interação, num segundo momento. A TV digital começa em dezembro, por São Paulo, sem interatividade. Como essa legislação está em aberta, pode ainda ser construída alguma regulamentação que imponha obrigações aos operadores de fazerem um dado tipo de TV digital, especialmente através da chamada Lei de Comunicação de Massa. O Brasil vem esperando isso há mais de 10 anos. Se essa lei vier, pode tanto apenas reproduzir as coisas como estão quanto introduzir mudanças.

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IHU On-Line - Quais são, atualmente, os movimentos estruturantes que afetam a televisão e os demais meios de comunicação?

Valério Brittos - É que essa TV digital acaba estruturando o mercado como um todo. Ela nem está sendo usada e já exerceu uma série de influências/provocações em outras mídias. E, quanto mais estiver avançada a TV digital, mais ela irá repercutir sobre as demais mídias, sobre a internet, o próprio jornal. Tudo isso em movimentos de conexão, movimentos de convergência, mas que desestruturam.

Toda mídia provoca movimentos estruturantes, e a televisão mais do que qualquer outra. Isso porque ela é a principal mídia do Brasil e do mundo, tendo se tornado o meio de comunicação que as pessoas mais consomem. Internet é muito importante, é claro, mas o que as pessoas consomem mesmo é a televisão, que tem, portanto, um papel estruturante sobre os demais mercados e sobre a sociedade como um todo.

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IHU On-Line - O Ministério das Comunicações diz que o padrão japonês será adotado com inovações tecnológicas e com iniciativas de pesquisadores brasileiros, o que seria um padrão nipo-brasileiro?

Valério Brittos - Ele tem algumas inovações específicas com relação ao padrão japonês. Mas o problema é que esse grau de inovação me parece que não é tão diferenciado, não pelo menos para ser chamado de padrão nipo-brasileiro. Eu diria que, até se prove o contrário, chamá-lo de padrão nipo-brasileiro é marketing governamental. Trata-se de um padrão japonês adaptado às condições do Brasil. Foram feitas várias pesquisas no Brasil sobre a TV digital e se conseguiu avanços tecnológicos bastante interessantes. Mas o problema é o seguinte: qual é o grau de incorporação dessa tecnologia brasileira que vai haver no modelo brasileiro de TV digital? Num primeiro momento, parece que não haverá tanta incorporação desse modelo. Se houver, posteriormente, uma incorporação num grau mais elevado, aí sim pode-se pensar num padrão nipo-brasileiro.

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IHU On-Line - O que a população brasileira precisa saber sobre a TV Digital e ainda não foi ou foi pouco comunicada?

Valério Brittos - Precisa saber que essa é uma tecnologia que, por si só, não muda o mundo nem faz revolução. Mas ela pode trazer para o Brasil avanços que ele precisa fazer, resolvendo problemas estruturais do seu mercado de comunicação, que vem de sua origem, na década de 1950. Portanto, a sociedade deve saber que é necessário se mobilizar em torno de uma Lei de Comunicação de Massa, para que esse modelo de TV digital nos faça refletir sobre o ato de midiatizar. O ato de midiatizar deve ser marcado por lógicas públicas, de compromisso com a sociedade, de proteção da infância, enfim, por uma série de elementos para que se tenha a democratização do espaço eletromagnético. E que se possa, além disso, usar a televisão digital para levar conteúdos digitais a pessoas que não têm acesso a dados, a uma certa educação, digamos, eletrônica.

Eu acho que é isso que a sociedade precisa saber: que, se ela não se mobilizar, a TV digital reproduzirá as condições desiguais de acesso que nós temos não só na tecnologia, mas também na educação, na saúde, no transporte, ou seja, em muitas coisas.

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Notas:
(1) César Ricardo Siqueira Bolaño é doutor em Ciências Econômicas pela Unicamp e pós-doutor pela Universidade de São Paulo. Atualmente, é professor da Universidade Federal de Sergipe onde desenvolve pesquisas com os temas Ciência, Tecnologia, Economia e Comunicação.


Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=9086

Economista Explica Achatamento da Classe Média

Deu no Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim:
27/08/2007 13:22h


O professor do Instituto de Economia da Unicamp Waldir Quadros defende a tese de que, desde 1981, ocorre um achatamento da classe média brasileira (com renda entre R$ 1.250 e R$ 2.500).

Quadros disse em entrevista a Paulo Henrique Amorim nesta segunda-feira, dia 27, que desde a crise da dívida, em 1982, a estratificação social do Brasil piorou (clique aqui para ouvir o áudio).

“Desde a crise da dívida, como o país entrou numa rota de estagnação econômica também vai ocorrer a correspondente estagnação social. É uma questão prática, o país parou de crescer”, disse Quadros.

Segundo Waldir Quadros, “a alta e média classe média está estagnada e descendente e a miserável é assistida e mantida... Por isso ocorre um inchamento da chamada classe C”.

Waldir Quadros define a classe média:

“Então, nesses dados que eu coloquei aí, eu crio cinco estratos sociais... Eu tomei, em 2004, como referência o salário mínimo da época, que era R$ 240, eu coloquei um pouco acima, R$ 250. Então, abaixo de R$ 250 eu considerei ‘miserável’. Entre um e dois salários mínimos, um pouquinho acima desse R$ 250 a R$ 500 eu chamei de ‘massa trabalhadora’. Aí, de R$ 500 a R$ 1.250 eu chamei de ‘baixa classe média’. De R$ 1.250 a R$ 2.500, ‘média classe média’. Acima de dez salários mínimos, ‘alta classe média’”.

Leia a íntegra da entrevista de Waldir Quadros:

Paulo Henrique Amorim – Eu vou conversar agora com o professor Waldir Quadros, ele é professor do Instituto de Economia da Unicamp, pesquisador do Cesit, professor visitante da Facamp. Professor, o senhor vai bem?

Waldir Quadros – Vou muito bem.

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Paulo Henrique Amorim – Professor, eu li os trabalhos que o senhor teve a gentileza de me enviar: “Pnad 2005 – Exuberância Social Inexplicável”, “A Dinâmica da Classe Média”, “Notas sobre a Estratificação Social”. E nós vamos até tomar a liberdade, se o senhor concordar, colocar no nosso site, para que os nossos leitores aqui do Conversa Afiada possam ter acesso a ele. Eu gostaria de, antes de mais nada, tentar nesse espaço, evidentemente precário de uma entrevista por telefone, que o senhor nos expusesse a sua tese sobre o que efetivamente está acontecendo com a estratificação social no Brasil e por que o senhor diz que há uma exuberância social inexplicável com as análises mais comuns que se fazem da Pnad.

Waldir Quadros – Bom, em relação à exuberância inexplicável, ela diz respeito especificamente ao cenário apontado pela Pnad de 2005, pela Pesquisa Nacional de Amostra em Domicílios, do IBGE de 2005. Quando eu situo na série que eu estou analisando desde 1981, 2005 fica totalmente, como eu diria, inexplicável, porque apresenta uma melhoria na estrutura social que não tem nenhum respaldo na realidade. Nem na realidade que nós podemos, vamos dizer, observar a olho nu, então, é uma grande interrogação. Eu, nos meus estudos, estou deixando a Pnad de 2005 de lado. Quer dizer, ela não está interferindo na tendência. Eu estou esperando agora a Pnad de 2006, que vai ser publicada brevemente, deve ser publicada agora em setembro, outubro, e aí isso, (será verificado se o indicador) volta para uma linha normal, o que está acontecendo. Porque a melhoria da estrutura social, que é apresentada pela Pnad de 2005 realmente não tem base racional. Mas...

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Paulo Henrique Amorim – Vamos nos concentrar na sua opinião e não na opinião daqueles com quem o senhor não concorda. Qual é a sua tese?

Waldir Quadros – Olha, o que os dados demonstram, os dados oficiais do IBGE, mas bem analisados, eliminando alguns vieses que estão presentes, principalmente de natureza demográfica, a minha convicção, que os dados revelam, é que há uma piora gradativa da estrutura social. Se nós tomarmos como ponto de partida o final do milagre, o final dos anos 70, início dos anos 80, nós vamos perceber que gradativamente, como tendência geral decorrente do baixo crescimento econômico, que não gera oportunidades de trabalho e renda, o que nós notamos? Um gradativo encolhimento da classe média. Da alta e da média classe média. Como nós vamos estratificar, tem vários critérios, todos eles são aceitáveis, tem alguns critérios, porém, não há uma medida universal de classe média, principalmente quando se toma a renda declarada da Pnad. Mas, com todas as ressalvas, o que nós podemos observar então é isso: um encolhimento da alta e média classe média e, na miséria, fica um resíduo, que é brutal – quase um terço da população – e em torno disso vai oscilando: tem períodos que ela cai, tem períodos que aumenta, mas fica ali um problema sério de quase um terço dos declarantes abaixo do que nós podemos chamar de uma linha de miséria, que é abaixo do salário mínimo, mais ou menos mantido fixo ao longo do tempo. Quer dizer, então esse é o cenário, principalmente na década de 90, a política social tem sido capaz de evitar uma explosão da miséria, que seria esperável numa situação de estagnação econômica, como nós estamos vivendo já há quase 30 anos. A miséria não está explodindo porque as políticas sociais têm dado conta. Fala-se muito do Bolsa Família, ele é muito importante pela dimensão, mas nós temos outros mecanismos redistributivos até muito mais poderosos.

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Paulo Henrique Amorim – O senhor não concorda então com a tese segundo a qual está havendo uma migração das classes, digamos, D e E em direção às classes D e C?

Waldir Quadros – Olha, está ocorrendo alguma coisa embaixo, está ocorrendo. Pouco. E isso, fundamentalmente, porque nesses últimos anos o crescimento econômico avançou. Apesar de nós estarmos na rabeira do crescimento mundial e principalmente dos emergentes, crescer 4% é melhor do que 2,5%, 2,2%. Então, obviamente, isso tem um efeito. Agora, o efeito principal é de não conseguir subir. Na verdade, as classes C e D, a sociedade vai ficando represada, ela não sobe, ela está estagnada. E também tem a queda das classes A e B.

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Paulo Henrique Amorim – Professor, os estudos do Ipea mostram que há uma progressiva melhor na distribuição de renda. O senhor concorda com isso?

Waldir Quadros – Eu acho que aí, vamos dizer, é uma absorção estatística. Estatisticamente está ocorrendo. Agora, vamos explicar o que é isso. Primeiro, está se tomando a Pnad como base desses estudos, que é o dado que todos nós trabalhamos. Agora, não se faz o alerta de que a Pnad não capta a riqueza. Então, a renda gerada pela riqueza, a renda financeira principalmente, não está na Pnad. E essa só tem aumentado. Então, a concentração de renda está crescendo. Quando nós olhamos do ponto de vista da distribuição funcional, quer dizer, a renda nacional, lucros de ganhos financeiros e quando vai para trabalho, para salário e outras remunerações, a remuneração do trabalho vem caindo sistematicamente com os dados oficiais. A participação do trabalho na renda nacional vem caindo. Portanto, está aumentando a concentração funcional. A Pnad só pega a renda do trabalho. Então, nesse segmento de renda, daquilo que sobre da riqueza, vamos dizer assim, aí você tem realmente uma redução estatística da desigualdade. Agora, como nós vamos interpretar? Eles dizem que está melhorando e eu digo que está piorando. Por quê? Porque essa redução estatística da desigualdade significa tão somente: a classe média está sendo penalizada. É o afundamento da classe média e aquela proteção aos miseráveis que produz esse efeito de redução do indicador. A média oculta, na verdade, o cenário de crise. Isso não pode ser interpretado como melhoria das condições sociais.

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Paulo Henrique Amorim – O senhor diz que a renda do rico não é captada...

Waldir Quadros – Exatamente. Ela é subdeclarada. O rico nem recebe, de um modo geral, o recenseador da Pnad, que é uma amostra, não são todos os domicílios, ele se recusa a receber. Se ele receber ele vai transmitir uma imagem de uma pessoa de classe média, de um gerente ou de um diretor de uma empresa e nunca a sua situação social por razões até compreensíveis.

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Paulo Henrique Amorim – Então o senhor está dizendo que está havendo um achatamento do pessoal entre R$ 1.250 e R$ 2.500?

Waldir Quadros – Que declara isso, hein. Não é que ganha.

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Paulo Henrique Amorim – Então nós vamos ter que esperar setembro ou outubro para ter a prova dos nove?

Waldir Quadros – Apenas isso em relação à Pnad de 2005.

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Paulo Henrique Amorim – Então como houve a crise da dívida em 1982, a sua tese – se eu posso atribuir ao senhor o que o senhor não disse – mas a sua tese é que desde a crise da dívida a estratificação social no Brasil piorou?

Waldir Quadros – Exatamente. Desde a crise da dívida, como o país entrou numa rota de estagnação econômica também vai ocorrer a correspondente estagnação social. É uma questão prática, o país parou de crescer. Porque o que nós temos que comparar para ter uma idéia realmente do tamanho do nosso rombo, é o que está nesse artigo “A Dinâmica da Classe Média” e na verdade é um estudo que saiu num livro publicado pela editora da Unesp, Instituto de Estudos Econômicos Internacionais, dirigido pelo Dr. Gilberto Dupas – era bom pôr essa referência, porque eu só mandei o artigo, mas sem o crédito...

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Paulo Henrique Amorim – O senhor chama a atenção no cenário da estagnação para a letargia declinante da renda média familiar brasileira.

Waldir Quadros – Sem dúvida nenhuma.

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Paulo Henrique Amorim – Está bom. “Sofrível desempenho dos rendimentos médios”. Eu vou colocar à disposição dos nossos leitores os seus três trabalhos. Posso?

Waldir Quadros – Pode. Só dar esse crédito para o Instituto de Estudos Econômicos Internacionais.

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Paulo Henrique Amorim – Está ótimo. Professor Quadros, é sempre um prazer falar com o senhor.

Waldir Quadros – Eu que agradeço.


Artigos do professor Waldir Quadros:

Clique aqui para ler o texto "Notas sobre a estratificação social no Brasil - 1".

Clique aqui para ler o artigo "A dinâmica da classe média" que foi publicado no livro Espaços para o crescimento sustentado da economia brasileira, Gilberto Dupas (org.), Instituto de estudos Econômicos e Internacionais, São Paulo, Editora da Unesp, 2007.

Clique aqui para ler o texto "PNAD 2005: exuberância social inexplicável" que foi publicado no boletim eletrônico do Cesti - Carta Social e do Trabalho no. 5.

Leia também:

IPEA: Bolsa Família não é "fábrica de vagabundos"

IPEA: Classe média em vias de extinção

IPEA: Desigualdade e Pobreza no Brasil

Leia na íntegra em http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/451501-452000/451657/451657_1.html

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Eleições municipais e hegemonia

Deu no Vermelho:
por Luciano Siqueira*


As eleições são episódicas, a disputa pela hegemonia política - condição preliminar para interferir nos rumos do país – é permanente. Enquanto se pede o voto e se vota a cada dois anos, o conflito de idéias e o acúmulo ou a perda de forças acontece a toda hora, nas mais diferentes esferas da vida social.
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De fato, com a vitória de Lula em 2002 e a reeleição em 2006, pela primeira vez forças de esquerda aliadas a correntes progressistas assumem o comando da nação. Os perdedores, entretanto, nunca deixaram de resistir e prosseguem a quebra de braço pela hegemonia na sociedade brasileira usando de todos os instrumentos possíveis.
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Todas as forças se preparam intensamente para a batalha. Cada uma a seu modo, conforme sua natureza político-ideológica e sua perspectiva estratégica.
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Caso do Recife e cidades da Área Metropolitana. Há que considerar a variável geopolítica, ou seja, priorizar, além da capital e de cidades que os comunistas já governam (Olinda e Camaragibe; e Goiânia, muito próxima), cidades como Ipojuca e Cabo de Santo Agostinho, que protagonizam mudanças importantes na economia do estado – e onde devem se expandir o proletariado de ponta (metalúrgicos, químicos, petroleiros) e variados segmentos prestadores de serviços. Para que o acúmulo de forças que venha a ser obtido tenha base social e política consistente para a disputa pela hegemonia na sociedade pernambucana.
Luciano Siqueira, Médico
Leia na íntegra em
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=23642

Sem mudar a estratégia, o que muda?


Deu na ALAInet:

Brasil Terceiro Congresso do PT
Sem mudar a estratégia, o que muda?
Alipio Freire

O autodenominado "Campo Majoritário" - CM (ou que nome fantasia queira adotar - pois trata-se de prática já absolutamente "legitimada" do ponto de vista mercadológico desde que o PFL transubstanciou-se em DEM) criou a idéia, que pretende consensual, de que o projeto que impôs e capitaneou desde os anos 1980, e que culminou com os dois mandatos presidenciais, é um projeto vitorioso.

A questão, de tão singela, é cansativa. Até os tontos percebem:

Vitorioso para quem, cara-pálida?
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E mudanças estruturais para uma agremiação onde todas as correntes reafirmam, em suas 12 teses (inclusive o CM), a questão do "socialismo democrático", implica necessariamente discutir a questão das relações de propriedade, e da concentração de riquezas. Ou é isto, ou não há por que falar em socialismo. Ou é disto que falamos, ou mergulhamos todos no perigoso terreno da empulhação e da galhofa.
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Mas, se falamos a sério, a incompetância na formulação da estratégia é mais grave que a ambigüidade acima apontada. Ainda supondo, apenas para efeito do raciocínio abstrato, que o CM tem a intenção de proceder as tais mudanças estruturais, o mais espantoso e estarrecedor é a própria definição do terreno principal de luta: a instituição - onde o inimigo é o mais forte. Reza um velho princípio da arte da política e da guerra, que devemos sempre procurar trazer o inimigo para combater no terreno onde somos (ou podemos vir a ser) os mais fortes, subordinando as lutas em outras frentes às necessidades de avanço e consolidação das lutas travadas no terreno definido como principal. Pelo menos no contexto que vivemos, nos parece óbvio que o nosso terreno privilegiado de luta são as ruas e as praças, ou seja, o da organização e expressão do povo organizado, dos trabalhadores reunidos em suas organizações classistas autônomas e independentes, sejam de caráter sindical, de bairros etc.. E a estratégia do PT-CM inverte a equação. Quanta incompetência! - é a primeira expressão que nos ocorre: colocar o centro da luta no terreno onde a classe trabalhadora e o povo são mais fracos, subordinando o desenvolvimento das organizações e lutas de massa aos interesses da instituição controlada por adversários e inimigos.
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Mas foi sob a batuta dos dirigentes do CM, que o PT conseguiu a proeza de eleger um governo democrático e popular em pleno refluxo dos movimentos e organizações dos trabalhadores e do povo, contrariando tudo o que ensina desde sempre a história política (e política é a luta das classes, frações, setores, segmentos de classes na defesa e disputa dos seus interesses). Ou seja: o Partido dos Trabalhadores chega à Presidência da República sem movimentos populares fortes, sem a classe trabalhadora em cena. Mistério! - logo pensamos, abandonando os saberes acumulados a respeito do assunto e nos entregando às especulações mágicas, ou às tortuosas teorizações ad hoc, para justificar o "milagre" - há sempre um que outro teórico de plantão para o malabarismo circense do circular em torno do "poder" a qualquer preço, ainda que depois de usado e alijado se arrependa.
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Ou seja, para realizar o seu projeto, o CM mudou a base social do partido. E não poderia ser diferente.

Se alguns aspectos importantes da política de alianças que levou o partido à Presidência persistiram velados, a construção da governabilidade fez-se escancarada. Tendo escolhido chegar ao governo com um suposto programa democrático popular - declaração genérica de intenções que a " Carta aos brasileiros" de 2001 já desmentia in limine, agora é a corda bamba - e os resultados todos conhecemos.
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Ou seja: se o Terceiro Congresso do Partido dos Trabalhadores não for capaz de dar passos no sentido de um giro radical da sua estratégia, terá sido um rito vão, apenas uma legitimação do que vem sendo imposto há mais de duas décadas pelo CM, e cuja face agora se escancara.

E, não esqueçamos: os dirigentes do CM são responsáveis por todas essas mudanças na rota do PT e, embora aparentemente incompetentes para conduzir o partido numa política de garantia de direitos e conquistas para a classe trabalhadora e seus aliado (o povo), têm se demonstrado extremamente talentosos e competentes para garantir, a partir desse instrumento que foi criado ma serviço dos interesses da classe trabalhadora, para implementar e consolidar reformas e políticas neoliberais.

Certamente é essa vitória que cantam.

Alipio Freire é membro do Conselho Editorial do Brasil de Fato, é jornalista e escritor; fundador do PT, ao qual permence filiado.
Leia na íntegra em
http://www.alainet.org/active/19225〈=pt

Hora de reavaliar o movimento de desregulação financeira?

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:

Artigo de Fernando Cardim de Carvalho "Não deve surpreender ninguém que turbulências financeiras de maior ou menor gravidade fizeram sua reentrada no cenário mundial exatamente depois que a contra-revolução liberal persuadiu lideranças políticas de vários países a promover a chamada desregulação", afirma Fernando Cardim de Carvalho, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) em artigo publicado no jornal Valor, 24-08-2007.

Segundo ele, "as ineficiências de mercados financeiros insuficientemente regulados não são pragas apenas de países em desenvolvimento. A crise atual foi gerada nos Estados Unidos e expandiu-se pelos centros financeiros mais avançados da Europa e da Ásia. Países em desenvolvimento, como o Brasil, sofrem o impacto dessa crise porque também tomaram o bonde da desregulação, mas nada têm a ver com sua origem".

Eis [trechos d]o artigo.

A reação dos principais mercados financeiros nesta semana, após os repetidos acenos de altas autoridades, especialmente americanas, de que utilizariam os instrumentos que fossem necessários para impedir que as turbulências se agravassem, podem dar ao público em geral uma falsa sensação de segurança e conforto. Não é impossível que os mercados financeiros passem a se comportar de forma mais estável daqui para diante, mas é altamente improvável. As medidas tomadas pelos principais bancos centrais do mundo, especialmente o Federal Reserve e o BCE, foram até certo ponto surpreendentemente inspiradas, contribuindo para desacelerar a degradação do mercado de títulos imobiliários, mas, neste ponto, a probabilidade maior ainda é a de que estejamos vivendo no intervalo de duas ondas de um tsunami, em que a calmaria do mar é apenas temporária.

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Já para outros economistas, mercados financeiros são inerentemente instáveis, propensos a gerar exageros, seja exagerando altas até transformá-las em bolhas especulativas, seja exagerando as quedas, gerando as chamadas crises sistêmicas. Essa instabilidade não resultaria da intervenção pública, nem seria acidental, mas, sim, do fato da vida de que investimentos dependem de expectativas e essas, ao contrário da ficção proposta pelos adeptos das "expectativas racionais", são influenciadas por fatores subjetivos, como o estado de confiança e o animal spirits de que falava Keynes. Todo investimento implica na aceitação de um risco, muitas vezes incalculável, em troca da perspectiva de um ganho. A avaliação desse risco é inevitavelmente subjetiva, mas sofre também a influência da experiência do investidor. Os investidores que perderam o que tinham na crise das Bolsas brasileiras em 1971 certamente se tornaram instintivamente pessimistas. Já aqueles investidores e operadores americanos que se acostumaram com o longo impulso expansivo dos mercados nos anos 1990, naturalmente foram se tornando sempre mais ousados. A experiência desse período foi a de que não havia como perder dinheiro, por mais exótico que fosse o investimento.

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Neste quadro, a intervenção pública deve estar sempre dirigida à contenção de excessos, embora nem sempre isso seja viável. O primeiro instrumento a ser utilizado é a regulação financeira. Não deve surpreender ninguém que turbulências financeiras de maior ou menor gravidade fizeram sua reentrada no cenário mundial exatamente depois que a contra-revolução liberal persuadiu lideranças políticas de vários países a promover a chamada desregulação. As ineficiências de mercados financeiros insuficientemente regulados não são pragas apenas de países em desenvolvimento. A crise atual foi gerada nos Estados Unidos e expandiu-se pelos centros financeiros mais avançados da Europa e da Ásia. Países em desenvolvimento, como o Brasil, sofrem o impacto dessa crise porque também tomaram o bonde da desregulação, mas nada têm a ver com sua origem. Os já lendários fundos de hedge, que levaram o mundo à beira da catástrofe, em 1998, com a crise do LTCM, continuam atuando de forma livre e desimpedida, a ponto de incomodar até líderes conservadores como a primeira-ministra Merkel ou o presidente Sarkozy.

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Por outro lado, o impacto dessas turbulências em países como o Brasil devem levar também a uma nova reflexão sobre um aspecto importante do processo de desregulação, que foi o desmantelamento dos controles de capitais. O Brasil, com a liberalização da conta de capitais, se expõe aos efeitos dessa crise, com a entrada e saída repentina de capitais tanto de residentes quanto de não-residentes, a troco de nada. A crise, e seus desdobramentos futuros, abrem uma oportunidade de corrigir este erro."

Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=9111

'EUA perderam força e o Brasil ocupa espaços' Entrevista com Luiz Alberto Moniz Bandeira

Deu no Instituto Humanitas Unisisnos: Os Estados Unidos vêm perdendo força, já não são uma estrela de primeira grandeza e o Brasil aproveita o momento histórico para ocupar os espaços possíveis - coisa que seus vizinhos também procuram fazer. Isso não significa que a América Latina esteja indo para a esquerda: apenas que o equilíbrio é outro. Mas engana-se quem imaginar que essa “autonomia” é um fato novo: a agenda entre os dois países já era intensa e marcada por tensões e divergências em outros períodos do passado.

Um exemplo: o governo do Império rompeu relações três vezes com Washington, em meados do século 19. Outro, mais recente: o regime militar brigou muito e votou 185 vezes contra o interesse americano na ONU, entre 1964 e 1985. O afastamento a que se assiste hoje ocorre, porém, num cenário em que o País se industrializou e modernizou e já dilatou sua diplomacia para muitas outras regiões.

Episódios como esses são analisados com profundidade em Presença dos Estados Unidos no Brasil, um livro já considerado clássico do professor de História da Política Exterior Luiz Alberto Moniz Bandeira - trabalho que ele atualizou e está relançando esta semana. A reportagem e a entrevista são de Gabriel Manzano Filho e publicadas no jornal O Estado de S. Paulo, 24-08-207. Na entrevista, o professor, que já lançou mais de 10 livros sobre o tema, avalia a convivência entre os dois países.

Eis [trechos d]a entrevista.

O sr. diz que os EUA são hoje um país mais vulnerável. De que modo isso altera as relações entre os dois países?

Os EUA não são mais uma estrela de primeira grandeza. O advento de governos de esquerda no continente, como os de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, e mesmo o presidente Lula, no Brasil, não significa que a América Latina se tornou mais esquerdista. E nem que os Estados Unidos mudaram a sua política. Simplesmente os Estados Unidos perderam força. Na região eles tentaram planos de estabilização com os governos militares, não funcionou a contento. Depois tentaram com governos democraticamente eleitos, aplicando o Consenso de Washington, também não adiantou. Hoje, vêem o distanciamento desses países e se pudessem se livrariam de figuras como Hugo Chávez, na Venezuela, mas não vêem condições para isso.

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No seu livro, abordam-se outros momentos dessa história.

O livro, agora atualizado, mostra que o Brasil, ao contrário do que se imagina, nem sempre se submeteu à predominância americana. Ao contrário. Embora dependesse dos EUA como comprador de seu café, o principal produto, o Brasil reagia à predominância americana. Por exemplo, durante o período imperial, por três vezes o Brasil cortou relações com os EUA. Depois, eles tomaram posição contra o Brasil na guerra contra a Argentina (em 1827), de novo contra o Brasil na guerra do Paraguai (1865). Quiseram invadir a Amazônia (entre 1849 e 54), quando o Brasil quase foi à guerra contra eles.

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No regime militar, houve momentos críticos nas relações entre os dois países. Como o sr. analisa hoje aquelas divergências?

Dediquei um livro a essas relações desse período, chamado Rivalidade Emergente. O fato é que os interesses nacionais são definidos pelas necessidades da produção de um país. A partir dos anos 50 o Brasil tornou-se predominantemente industrial, o café diminuiu seu peso nas exportações, dando lugar às manufaturas. O País começou a buscar outros mercados e isso teria impacto na política exterior, que até então era alinhada como a Casa Branca. Daí aquela virada com o governo de Jânio Quadros (1961), depois com João Goulart (1961-64). Começaram os atritos.

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Então os conflitos sempre foram intensos?

A certa altura, os EUA temeram pelo futuro do Atlântico Sul. O Brasil apoiava Angola, Cuba também a apoiava até militarmente, o Atlântico Sul ameaçava virar um mar brasileiro. De 1968 a 1985, o Brasil votou 185 vezes com a União Soviética e países do chamado Terceiro Mundo, na Assembléia Geral das Nações Unidas - mais vezes do que a favor dos Estados Unidos. No governo Geisel, o Brasil até apoiou uma moção que considerava o sionismo uma forma de racismo. Como você vê, a dimensão e variedade dos problemas era até maior do que a que assistimos hoje.

Qual é, então, a diferença entre as relações hoje e naquele período?

Hoje, a situação é diferente porque, além de os EUA perderem força, o Brasil, por seu lado, está diversificando seus mercados. E vale lembrar: se não fizesse isso, a crise que vivemos hoje - surgida com os créditos podres no sistema habitacional americano e espalhada pelo resto do mundo - afetaria muito mais o Brasil. Uma recessão americana, hoje, afeta muito menos a economia brasileira porque o País dilatou sua política externa e se relaciona de forma mais diversificada com as mais diferentes regiões. É um avanço importante.

Mais informações sobre Luiz Alberto Moniz Bandeira: http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Alberto_de_Vianna_Moniz_Bandeira

Leia na íntegra em: http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=9116


quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A China e o equilíbrio do terror financeiro

Deu no Resistir.info: por Alejandro Nadal

Durante o apogeu da guerra fria, a doutrina da destruição mútua assegurada era fundamental: os Estados Unidos e a União Soviética mantinham seus arsenais em estado de alerta permanente e ambas as super-potências sabiam que não podiam pretender aniquilar todas as armas nucleares da outra num ataque surpresa. O arsenal sobrevivente seria suficiente para infligir danos intoleráveis ao atacante. A garantia da destruição mútua assegurada tinha em inglês a sugestiva sigla de MAD (mutual assured destruction). Como indica o acrónimo, era baseada numa loucura.
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O défice estado-unidense em conta corrente aumenta a cada mês em velocidade vertiginosa. Isso faz com que cresçam os temores quanto ao valor do dólar ou, para sermos mais precisos, sobre a duração da calma antes da tormenta. Com efeito, um cenário no qual se produza a fuga frente ao dólar e todo o mundo queira trocá-los por outro tipo de activos ou divisas não é impensável. Nesse contexto, surge a grande pergunta: estaria a China interessada em detonar esse processo?
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Na semana passada funcionários do governo chinês utilizaram a metáfora da "opção nuclear" ao insinuar que o seu país poderia utilizar suas reservas em bónus do Tesouro estado-unidense como arma de negociação, em resposta à imposição de sanções comerciais por parte de Washington.
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Mas os EUA continuam obcecados com a ideia de que o incremento do seu défice comercial com a China é devido à sub-avaliação do renminbi (que embaratece mais as exportações chinesas). Todos os políticos da Casa Branca, desde Bush até Obama e Hillary, repetem esta ideia: haverá que impor sanções comerciais aos chineses se não tratarem de reavaliar o renminbi a fim de eliminar esta fonte desleal de competitividade. Esta colocação ignora que nos últimos dois anos o renminbi valorizou-se uns 10 por cento contra o dólar, mas isso não travou o incremento no superávite comercial chinês, que em Junho último atingiu os 27 mil milhões de dólares.
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Na economia planetária os seus agentes sabem que estão contados (se é que já não se acabaram) os dias em que o dólar estado-unidense era a moeda de reserva internacional por excelência. Mas ainda se mantém uma situação na qual a maior parte das reservas dos bancos centrais está denominada nessa divisa.
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A China poderia iniciar uma mudança gradual na composição das suas reservas, digamos com 40 por cento em dólares, outros 40 por cento em euros, e uns 20 por cento em yenes. Isto levaria a uma apreciação do renminbi, que é o que Washington diz procurar. Também estaria mais de acordo com a diversificação geográfica do comércio chinês. Mas, ainda que isso pudesse permitir escapar ao dilema da destruição mútua assegurada, a ironia é que Washington não vê com bons olhos esta solução porque contribui para minar o papel do dólar a nível mundial. Os Estados Unidos insistem em jogar o tudo ou nada. Não é boa estratégia.

22/Agosto/2007
O original encontra-se em
http://www.jornada.unam.mx/2007/08/22/index.php?section=opinion&article=024a1eco
Leia na íntegra em http://www.resistir.info/asia/terror_financeiro.html

Reforma agrária e capitalismo

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por Wladimir Pomar 22-Ago-2007

As forças populares brasileiras jamais conseguiram reunir força suficiente para impor uma reforma agrária, mesmo limitada aos latifúndios improdutivos e às terras devolutas da União. Sequer foram capazes de unificar os pequenos proprietários rurais aos antigos camponeses sem-terra (rendeiros, foreiros, "agregados"), num só movimento de democratização da propriedade territorial.
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Como toda classe social só subsiste à medida que consegue transformar-se em porta-voz dos interesses da "sociedade", o movimento camponês pensa transformar sua defensiva em ofensiva, com o argumento de que a pequena agricultura pode atender às "demandas históricas da sociedade brasileira", em termos de saneamento, moradia e alimentos. Como a pequena agricultura não é dominante, a dificuldade é dupla: demonstrar que pode se tornar dominante e, ao mesmo tempo, que pode atender a tais "demandas históricas".
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Por outro lado, isso não significa que a necessidade da reforma agrária tenha sido superada. O próprio capitalismo a repôs na ordem do dia, ao concentrar ainda mais a propriedade fundiária e manter um número considerável de latifúndios improdutivos. Assim, embora não consiga atender àquelas "demandas históricas", nem competir com o agronegócio, a pequena agricultura é fundamental para democratizar a propriedade e, no estágio atual do capitalismo, para ampliar a presença da classe trabalhadora assalariada na sociedade.

É num quadro como esse que se impõe realçar o papel democrático e progressista que a reforma agrária pode desempenhar. Esta é, certamente, uma das missões estratégicas que o governo Lula pode realizar. Mas ela ainda é uma missão eminentemente "burguesa", de resgate da força da pequena propriedade camponesa, embora carregue junto um componente socialista, ao resgatar também a força social da classe trabalhadora.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Leia na íntegra em
http://www.correiocidadania.com.br/content/view/746/46/

Inépcia da gestão Bush no Oriente Médio fortalece grupos terroristas

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por
Virgílio Arraes
22-Ago-2007


Diante do insucesso militar e político no Iraque, o que havia motivado a ascensão de um governo xiita, a gestão Bush anunciou, há apenas poucos dias, a possibilidade de vendas significativas de armamentos de alto teor tecnológico para países aliados no Oriente Médio – basicamente Arábia Saudita, Israel, avaliado como a única democracia da região, e Egito -, sob a justificativa de oposição ao terrorismo e de contraponto ao Irã. Apenas para o governo saudita, a quantia está em torno de 20 bilhões de dólares.
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Registre-se que quinze dos seqüestradores dos quatro aviões do 11 de setembro de 2001 eram de nacionalidade saudita e haviam sido financiados a partir de seu próprio país – todos eles obtiveram seus passaportes e receberam seus vistos norte-americanos normalmente, sem nenhum tipo de aviso ou de intercâmbio entre os respectivos serviços de espionagem de ambos os governos. Ademais, a Arábia Saudita foi um dos poucos países a manter relações diplomáticas regulares com o Afeganistão, no período em que era administrado pelo Taleban.
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Na visão dos planejadores estadunidenses, o comércio bilateral de armas reiteraria os bons vínculos políticos entre os governos, de maneira que haveria melhores condições para conter a movimentação fundamentalista de teor anti-americano em território saudita e, por conseguinte, refrear o apoio à oposição de permanência de tropas estrangeiras.
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A despeito de o governo saudita não ter tido êxito até o momento em estancar o extremismo, ele será premiado com uma modernização tecnológica em seu setor bélico, o que, por sua vez, poderá desembocar em uma corrida armamentista regional vigorosa e de longo prazo, em função da alta contínua dos preços do petróleo desde o início da segunda versão da Guerra do Golfo.
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Quanto ao Egito, é factível indicar que o apoio ao governo Hosni Mubarak ocorre em face da repressão aos grupos extremistas, diferentemente da Arábia Saudita – lá, desde 1981, em função do assassínio do Presidente Anwar Al Sadat, administra-se o país, de maneira praticamente ininterrupta, por meio do estado de emergência, o que permite reforçar o poder Executivo em detrimento do Judiciário na execução de determinadas medidas, como a efetivação de prisões por tempo indeterminado, se ligadas a suspeitas de terrorismo. Em muitos casos, são meros opositores da gestão Mubarak.

Acrescente-se que há outros fatores como o livre acesso ao canal de Suez e o relacionamento regular com Israel. Democracia e direitos humanos, de modo similar à Arábia Saudita, são minimizados pela diplomacia norte-americana, ao valorizar a estabilidade. Nesse sentido, o modelo egípcio pode inspirar vários formuladores norte-americanos com vistas a esboçar uma saída menos vexaminosa do Iraque e do Afeganistão.

Virgílio Arraes é professor de Relações Internacionais na UnB
Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/748/9/

Crise dos mercados financeiros: vem aí o grande crash?

Deu no Abaixo e à Esquerda: por Michael R. Krätke [*]

Raras vezes terá sido tão repetidamente anunciado aquilo que agora está finalmente a acontecer. Há meses que os augures profetizam a grande queda, a próxima crise económica mundial. A recordação da crise nos mercados de valores que em Outubro de 2000 forçou a New Economy a uma aterragem de emergência das suas enormes altitudes de voo, destruindo num abrir e fechar de olhos milhões e milhões de capital fictício, ainda não se manifestou. Todos sabem ou intuem que o boom das borbulhas especulativas recebe estímulos deliberados. O que os governantes aplaudem é um auge que não só é fundamentado no viver do fiado como tem base especulativa. Na última vez, a borbulha ia junto com uma onda de inovações na tecnologia da comunicação e da informação; desta vez não. A actual conjuntura repousa sobre a especulação com preços imobiliários, com preços de matérias-primas e com derivados financeiros. Em Fevereiro/Março, e a seguir novamente em Maio, houve os primeiros anúncios do dilema que se foi abrindo caminho. [ . . . ] Nos EUA, a famosa Universidade de Harvard perdeu de um dia para outro 700 milhões de dólares num "investimento em dinheiro" desse tipo. Muitos bancos hipotecários norte-americanos estão na bancarrota e seus credores europeus, como o Deutsche Bank, o Commerzbank, p francês BNP Parisbas ou o belga Fortis, tem que contar as perdas em centenas de milhares de euros. [ . . . ] Mas não experimentámos senão o estalido de uma borbulha especulativa que ainda vai mais de 10 mil milhões de dólares, para não falar das restantes borbulhas especulativas que se formaram no último período. O acto seguinte no drama pela nova repartição do mundo entre os países capitalistas será com certeza representado, mas o intermezzo entre a actual crise do mercado monetário e a crise que vem aí do comércio mundial ainda pode durar semanas ou meses. Contudo, todos os "dados fundamentais" da economia mundial apontam para super-capacidades e super-produção.
19/Agosto/2007 [*] Estudou economia e ciência política em Berlim e Paris. Actualmente é professor em várias universidades alemãs e no estrangeiro, desde 1981 principalmente em Amsterdam. Co-editor da revista alemã SPW (Revista de política socialista e economia) e da nova edição crítica das Obras Completas de Marx e Engels (Marx-Engels Gesamtausgabe, nova MEGA). Investigador associado do Instituto Internacional de História Social, em Amsterdam. Autor de numerosos livros sobre economia política internacional. O original encontra-se em http://www.sinpermiso.info/

Quem fala em nome dos direitos universais?

Do Blog Do Emir: 20/08/2007

- Que bom vir tão longe para conhecer uma experiência tão importante, dizia um líder estudantil italiano ao então ministro de Relações Exteriores da China, Chu-En-Lai. E recebeu a resposta correspondente:
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Immanuel Wallerstein, em seu último livro publicado no Brasil – O universalismo europeu, da Boitempo – afirma: “A luta entre o universalismo europeu e o universalismo universal é a luta ideológica central do mundo contemporâneo.” Toda força hegemônica pretende falar em nome da universalidade. O ocidente o fez apropriando-se do conceito de “civilização”. O lema “civilização ou barbárie”, do argentino Domingos Faustino Sarmiento, segue sendo determinante no seu modelo hegemônico.
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Essa expansão seria “natural”, benéfica e historicamente inevitável.
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Quando os EUA conseguiram apenas 4 dos 15 votos do Conselho de Segurança da ONU ao propor a invasão do Iraque, alegaram que agiam “em legítima defesa” sob o pretexto de que o governo do Iraque possuiria armas de destruição massiva. Quando este argumento se revelou uma falácia, passaram a apelar para o argumento de que tirar um ditador do poder seria um “bem moral”. Se trataria de “defender inocentes”, argumento que levou a Norberto Bobbio, Jurgen Habermas e John Rawls defenderem a “guerra humanitária” na Bósnia.

“Na prática a intervenção é um direito apropriado pelos fortes”, diz Wallerstein. Como resultado, ninguém se atreveu a falar em punição – mesmo que moral – para os invasores do Iraque. A ênfase nos direitos humanos como eixo das políticas internacionais acabou sendo o instrumento dessas intervenções, sua cobertura “humanitária”, fortalecendo o argumento do “dever dos civilizados de suprimir a barbárie”.

Postado por Emir Sader às 10:44
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=132

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Não temos mais nem vergonha na cara

Deu no blog da Cintia Moscovich:

Prezados e queridos colegas e amigos,notícia saída agora no Diário Oficial: o conselheiro Luiz Paulo Faccioli é dispensado do Conselho Estadual da Cultura. A dispensa é assinada pela governadora Yeda Crusius, na forma da lei. Oficialmente, a governadora passa a alinhar fileiras com sua secretária de cultura, Mônica Leal. Não poderia ser diferente, mas deveria ser diferente, em nome da vergonha a que todos os membros da comunidade cultural estão passando. [ . . . ] Diz mais: que, mesmo o Conselho de Cultura sendo um órgão de Estado, o governo indica um terço dos membros, "que devem se posicionar em consonância com as diretrizes do governo". "Os conselheiros indicados têm compromisso com a administração e se esse compromisso os desagrada, devem se afastar da função, porquanto deixam de estar em sintonia com a política cultural desta gestão", reitera a secretária. [ . . . ] Além da postura autoritária, que é rechaçada desde sempre por nossa comunidade cultural, todos os órgãos vinculados à Sedac estão jogados às traças. Instituto Estadual do Livro, Teatro de Arena, Cinemateca Paulo Amorim, entre outros, são o mais perfeito espelho do descompasso entre interesses políticos e reais necessidades de nossa comunidade. Os quase 1 milhão de reais que estariam "disponíveis" à Jornada poderiam revitalizar os organismos esquecidos e que, infelizmente, não rendem votos e tapinhas nas costas. Hora de pensarmos no que tem acontecido. Para não esquecer, principalmente quando nos vierem pedir apoio eleitoral. Por favor, peço àqueles que estiverem de acordo que multipliquem esse texto aí de cima. Abraços a todos, daCíntia MoscovichPS: Aliás, falando em autoritarismo, parece que se juntou a fome com a vontade de comer. Mas a falta de senso de ridículo.