O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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sexta-feira, 30 de maio de 2008

A ópera, a guerra e a ressurreição russa

Deu no Le Monde Diplomatique Brasil:
Como já fizera três vezes, desde o século 18, o país ressurge, superando o trauma da derrota soviética na Guerra Fria. Além de grande potência geopolítica, recompôs sua base econômica e cresce aceleradamente. O "espírito russo" parece saltar da obra de Prokofiev direto para a vida real
José Luís Fiori
(30/05/2008)
Relembro, porque causou profunda impressão, uma montagem russa, da ópera Guerra e Paz, de Serguei Prokofiev, na Bastilha. Era 1998, a União Soviética havia desaparecido, e a Rússia estava humilhada e destruída. A ópera estreou no Teatro Maly, em Leningrado, no dia 12 de junho de 1946, pouco depois da expulsão das tropas alemãs e da vitória russa na Segunda Guerra Mundial. Conta a história da invasão e expulsão das tropas francesas e da vitória da Rússia na guerra contra Napoleão Bonaparte, em 1812. Na última cena, o povo e os soldados russos cantam juntos uma peroração apoteótica, proclamando a eternidade do “espírito russo”. Com força, emoção, convencimento: inesquecível. E, de fato, depois da destruição de 1812, a Rússia reconstruiu-se e se transformou numa das principais potências européias do século 19. Após 1945, a União Soviética voltou a levantar e se transformou na segunda potência militar e econômica do mundo, na segunda metade do século 20. A exemplo de como já havia acontecido antes, em 1709, depois invasão e expulsão das tropas suecas de Carlos XII, por Pedro o Grande, quando a Rússia começou sua fantástica modernização do século 18.
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Em 1991, imediatamente depois da dissolução da União Soviética, os Estados Unidos e a União Européia atribuíram-se a tarefa de “administrar” a desmontagem do “império russo”. Por causa das conseqüências econômicas da queda e do problema geopolítico da Europa Central. Para os Estados Unidos, o objetivo fundamental era impedir o surgimento de uma “terra de ninguém” no leste europeu. Por isso, lideraram a expansão imediata das fronteiras da OTAN e a ocupação das posições militares que haviam sido abandonadas pelos soviéticos na Europa Central. Tal ofensiva estratégica da OTAN e da União Européia, e sua posterior intervenção militar nos Bálcãs, foi uma humilhação para os russos e provocou uma reação imediata e defensiva, que começou exatamente pela vitória eleitoral de Vladimir Putin, em 2000, e a retomada de uma estratégia militar agressiva pelo seu governo, depois de 2001. Durante seus dois governos sucessivos, o presidente Putin manteve a opção pela economia de mercado, mas rescentralizou o poder e reconstruiu o estado e a economia russa. Refez o complexo militar-industrial e nacionalizou os recursos energéticos. A Rússia ainda detém o segundo maior arsenal atômico do mundo, e o governo Putin aprovou uma nova doutrina militar que autoriza o uso de armamento nuclear, mesmo no caso de um ataque convencional à Rússia, no caso em que fracassem outros meios para repelir o agressor.
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Ou seja, quinze anos depois da derrota e do colapso da União Soviética, o estado russo retomou o comando de sua economia e de sua inserção internacional. E tudo indica, nesse início do século 21, que está recuperando sua importância estratégica, como maior estado territorial do mundo, o único com capacidade de intervenção por terra, por meio de suas próprias fronteiras, em todo o continente eurasiano. Por isso, é uma rematada bobagem falar da Rússia como uma potência ou uma economia emergente, quando, na verdade, se trata de uma velha e grande potência que está reocupando sua posição tradicional, na Europa, Ásia Central e Oriente Médio.

Mas nenhum analista internacional consegue prever os caminhos futuros da nova ressurreição do “espírito russo”, até porque a Rússia sempre foi mais misteriosa e imprevisível do que a União Soviética. Há algumas semanas, Andre Klimov, líder liberal da Duma, afirmou que seria um erro grave, nesse momento, alguém pensar que possa "fazer com a Rússia o que bem entenda” [2]. Palavras que soam como uma advertência suave, como quem quisesse relembrar, às demais potências, a mensagem final de Serguei Prokofiev, na sua grandiosa ópera Guerra e Paz: o “espírito russo é eterno” e ressurgirá sempre, e com mais força, toda vez que o seu sagrado território for invadido; ou que o povo russo for humilhado, como aconteceu várias vezes, na história, e voltou a acontecer, no final do século 20.
José Luís Fiori é colaborador do Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique. Leia na íntegra em http://diplo.uol.com.br/2008-05,a2420

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Juventude e políticas sociais

"O desemprego é um problema cada vez mais grave para os jovens entre 15 anos e 29 anos, que já respondem por 46% do total de indivíduos nesta situação no país - a propósito, a razão desemprego juvenil/adulto aumentou para 3,5 nos últimos anos", constata Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor licenciado do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas em artigo, escrito conjuntamente com Jorge Abrahão de Castro, diretor da Diretoria de Estudos Sociais do IPEA, publicado no jornal Valor, 15-05-2008.

Eis [trechos d]o artigo.


O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicou recentemente um texto para discussão intitulado "Juventude e Políticas Sociais no Brasil", em que desvenda uma série de aspectos do relacionamento entre a população juvenil e o conjunto da sociedade brasileira.
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Apenas 48% das pessoas entre 15 anos e 17 anos cursam o ensino médio e somente 13% daquelas entre 18 anos e 24 anos estão no ensino superior - revelando o significativo descompasso existente entre a idade e a escolarização dos jovens.
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O desemprego é um problema cada vez mais grave para os jovens entre 15 anos e 29 anos, que já respondem por 46% do total de indivíduos nesta situação no país - a propósito, a razão desemprego juvenil/adulto aumentou para 3,5 nos últimos anos. A qualidade da ocupação é outro problema sério - 50% dos ocupados entre 18 anos e 24 anos são assalariados sem carteira, porcentagem que se mantém em 30% entre os que têm de 25 anos a 29 anos de idade.
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Esse cenário enfrentado pela juventude desperta preocupações na sociedade civil e também no Estado brasileiro. Desde - pelo menos - o final dos anos 1990, há uma extensa rede de organizações da sociedade civil que têm, entre seus focos de atuação, a temática juvenil.
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Mais do que uma etapa crítica na trajetória de vida dos indivíduos e, paralelamente, mais do que uma fase preparatória para a vida adulta, a condição juvenil possui "valor" por si mesma. Ademais, exige uma série de políticas públicas gerais, e também específicas, que se mostrem aptas a minimizar os riscos e os problemas já citados, bem como maximizar as oportunidades de inserção econômica, social, política e cultural dos jovens.
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No sentido de possibilitar a estruturação de uma Política Nacional de Juventude no país, o governo federal criou em 2005 a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), que atuaria com o apoio do Conselho Nacional de Juventude (Conjuve) na implementação do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem).
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Acerca disso, há relativo consenso entre os participantes do debate de que a condição juvenil demanda a articulação de políticas gerais com políticas específicas, além da integração de políticas coordenadas por diversas instituições, de distintos setores do Estado brasileiro. Aliás, um indicador da importância de se promover a articulação de políticas para a juventude pode ser medida pela atual multiplicidade de conceitos de "juventude" entre os programas estatais. A operacionalização de cada um desses programas conta com diferentes faixas etárias, cada qual focando em uma parcela da população juvenil.
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Enfim, os milhões de jovens enfrentam riscos e problemas que só serão superados com a mobilização social e política das organizações da sociedade civil, bem como com a estruturação de políticas públicas gerais e específicas, de diversas origens e naturezas, que devem se articular e integrar para a abertura de oportunidades de inserção dos jovens na sociedade brasileira.
Leia na íntegra em: http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=14156
Para ler mais:
Trabalho(?) imaterial - Algumas considerações sobre a entrevista de Marcio Pochmann

sábado, 17 de maio de 2008

Portugal aprova o acordo ortográfico

Notícia do Correio da Manhã, de Lisboa:
16 Maio 2008 - 14h47

Quadro deputados votaram contra

Parlamento aprova Acordo Ortográfico

O Parlamento aprovou esta sexta-feira o Segundo Protocolo do Acordo Ortográfico. PS, PSD, BE e sete deputados do CDS-PP votaram favoravelmente o diploma.

O documento tem suscitado alguma controvérsia e nem dentro do Parlamento as vozes foram unânimes. Do PS, Manuel Alegre votou contra, bem como dois deputados do CDS-PP e Luísa Mesquita, parlamentar independente.
No PSD, três deputados, Henrique Freitas, Regina Bastos e Zita Seabra, que invocou “conflito de interesses” por ser editora, além de Matilde Sousa Franco (PS) abandonaram o hemiciclo antes da votação.
PCP, PEV e três deputados do CDS, entre os quais Paulo Portas, abstiveram-se.

Extraído de acesso http://www.correiodamanha.pt/noticia.aspx?contentID=53CC62BD-2375-4EAB-9F06-0857490D0A94&channelID=00000021-0000-0000-0000-000000000021 em 17 maio 2008.

Quem ganhou no referendo de 4 de maio?


Deu na Agência Carta Maior:
Após aluns resultados e diagnósticos incertos, os dois lados em disputa reivindicam para si o triunfo no referendo sobre o Estatuto Autonômico realizado no Departamento de Santa Cruz no dia 4 de maio. Como determinar quem está com a razão? A análise é de Marta Harnecker.
Marta Harnecker- Rebelión
Para poder julgar ou medir os resultados de uma ação é fundamental levar em conta qual era o objetivo que cada ator buscava com ela. A oligarquia de Santa Cruz perseguia uma assistência massiva às urnas: era a única maneira de tirar força do argumento de peso do governo sobre a ilegalidade do processo; se conseguisse esse objetivo, poderia, então, argumentar que mesmo não sendo um processo legal era um processo legítimo, o povo teria, massivamente, manifestado seu sentir com respeito ao Estatuto Autonômico e o governo teria que levar em conta esse sentimento popular.
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A esta consigna da abstenção promovida pela propaganda oficial foi acrescentada posteriormente a consigna de votar NÃO, consigna que lançaram alguns setores pensando nas pressões que estava usando a oposição para obrigar a população a ir às urnas.
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A partir desta análise, o governo e seus seguidores podem se dar por satisfeitos. Contudo, terão que se perguntar se é possível falar em triunfo quando pouco mais da metade da população eleitoral de Santa Cruz foi contra o projeto de país que Evo Morales representa e apoiou, conscientemente ou sob manipulação, os grandes grupos oligárquicos que dominam econômica, ideológica e politicamente essa região.
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Parece mais provável que nisto também tenham pesado erros e fraquezas do próprio governo e do MAS, seu instrumento político fundamental (1). Por acaso não é verdade que Evo Morales não convocou a votar NÃO pelas autonomias no referendo autonômico de 2006, realizado no mesmo momento em que eram escolhidas as pessoas que formariam a Assembléia Constituinte, deixando a bandeira da autonomia em mãos da reação (algo que os próprios dirigentes do MAS reconheceram depois)? Por acaso não é verdade que foram aplicados à parte oriental do país esquemas organizativos e critérios que se chocam com a idiossincrasia própria dessas terras? Não é real a tendência a catalogar como oligarcas secessionistas todos aqueles que, seguindo um sentimento que vem de gerações, tem-se manifestado a favor da autonomia, ignorando as contradições que existem entre os grandes oligarcas pró-imperialistas e uma parte importante dos setores médios urbanos brancos que —apesar de serem críticos a determinadas políticas e ações do atual governo— em linhas gerais apóiam-no, porque representa, finalmente, a dignificação dos povos indígenas e a afirmação da soberania da pátria?
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O que essa oligarquia buscava, e continua buscando, é a derrocada do primeiro presidente indígena da América Latina, para voltar a controlar as imensas riquezas da região, que começaram a ser controladas pelo Estado, sendo ratificada em Primeiro de Maio a decisão do governo de avançar nesse sentido com os anúncios da recuperação do controle majoritário de quatro transnacionais petroleiras e a nacionalização de ENTEL, a companhia de telecomunicações. Uma oligarquia que nunca compreendeu o chamado a realizar uma verdadeira reforma agrária e a distribuir mais eqüitativamente a riqueza na América Latina, chamado feito, há quase meio século, pelo Presidente dos Estados Unidos, John Kennedy. É preciso considerar que quem fez esse chamado era um liberal burguês, que jamais poderia ser catalogado como comunista, e que o fez visando deter o avanço da revolução na nossa América.
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E por falar em unidade, gostaria de lembrar as seguintes palavras de Fidel, o grande artífice da unidade do povo cubano:

“Eu também pertenci a uma organização. Mas as glórias dessa organização são as glórias de Cuba, são as glórias do povo, são as glórias de todos. E eu, um dia —acrescenta—, deixei de pertencer a essa organização. Que dia foi esse? O dia [em] que nós fizemos uma revolução maior que a nossa organização [...] E ao marchar através de vilas e cidades, vi muitos homens e muitas mulheres; centenas, milhares de homens e mulheres tinham seus uniformes vermelhos e pretos do Movimento 26 de Julho; mas muitos outros milhares tinham uniformes que não eram vermelhos nem pretos, mas camisas de trabalhadores e de camponeses e de homens humildes do povo. E a partir desse dia, sinceramente, no mais profundo do meu coração, passei daquele movimento que todos amávamos, sob cujas bandeiras lutaram os companheiros, passei para o povo; pertenci ao povo, à revolução, porque realmente tínhamos feito algo superior a nós mesmos.” (2)

(1) Sobre esta organização política “sui generis” aparecerá muito em breve o livro-testemunho MAS IPSP de Bolivia. Partido que se construye desde los movimientos sociales, de Marta Harnecker e Federico Fuentes.

(2) Fidel Castro, Discurso de 26 de maio de 1962, em Obra revolucionaria Nº11, 27 março, 1962, pp.36—37. Texto citado em Marta Harnecker, La estrategia política de Fidel . Del Moncada a la victoria, várias edições na América Latina.

Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14998

Querida Marina


Deu na Adital:
Frei Betto *
Adital -
Caíste de pé! Trazes no sangue a efervescente biodiversidade da floresta amazônica. Teu coração desenha-se no formato do Acre e em teus ouvidos ressoa o grito de alerta de Chico Mendes. Corre em tuas veias o curso caudoloso dos rios ora ameaçados por aqueles que ignoram o teu valor e o significado de sustentabilidade.
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Por que foste excluída do Plano Amazônia Sustentável? A quem beneficiará este plano, aos ribeirinhos, aos povos indígenas, aos caiçaras, aos seringueiros ou às mineradoras, hidrelétricas, madeireiras e empresas do agronegócio? Quantas derrotas amargaste no governo? Lutaste ingloriamente para impedir a importação de pneus usados e transformar o nosso país em lixeira das nações metropolitanas; para evitar a aprovação dos transgênicos; para que se cumprisse a promessa histórica de reforma agrária.
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É importante salientar que os satélites não contabilizam queimadas, apenas o corte raso de árvores. Portanto, nem dá para pôr a culpa na prolongada estiagem do segundo semestre de 2007. Como os satélites só captam cerca de 40% da área devastada, o próprio governo estima que 7.000 km2 tenham sido desmatados. Mato Grosso é responsável por 53,7% do estrago; o Pará, por 17,8%; e Rondônia, por 16%. Do total de emissões de carbono do Brasil, 70% resultam de queimadas na Amazônia.
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Tu eras, Marina, um estorvo àqueles que comemoram, jubilosos, a tua demissão - os agressores ao meio ambiente, os mesmos que repudiam a proposta de se proibir no Brasil o fabrico de placas de amianto e consideram que "índio atrapalha o progresso". Defendeste com ousadia nossas florestas, biomas e ecossistemas, incomodando a quem não raciocina senão em cifrões e lucros, de costas aos direitos das futuras gerações.
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Retorna à tua cadeira no Senado. Lembra-te ali de teu colega Cícero, de quem estás separada por séculos, porém unida pela coerência ética, a justa indignação e o amor ao bem comum. Cícero se esforçou para que Catilina admitisse seus graves erros: "É tempo, acredita-me, de mudares essas disposições; desiste das chacinas e dos incêndios. Estás apanhado por todos os lados. Todos os teus planos são para nós mais claros que a luz do dia. Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso?"

Faz ressoar ali tudo que calaste como ministra. Não temas, Marina. As gerações futuras haverão de te agradecer e reconhecer o teu inestimável mérito.
* Frei Betto, dominicano, escritor, autor de "A Obra do Artista - uma visão holística do Universo", (Ática), entre outros livros.
Leia na íntegra em http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=33061

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Luzes da Terra

Deu no Esquerda.net:


Imagem de satélite da Terra iluminada durante a noite, em Junho de 2006.

Luz e sombra

Esta imagem satélite, através da luz artificial usada à noite no planeta, condensa algumas das informações que os mapas feitos com critérios de densidade populacional, acidentes naturais ou redes viárias apresentam de forma gráfica.

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Uma linha dorsal cheia de afluentes atravessa a Ásia de leste para oeste, correspondendo a cidades, estradas e linhas ferroviárias. No sudeste africano, a linha quase recta de sudeste para noroeste corresponde ao que se chama o corredor da Beira, a estrada que liga o porto da Beira a Harare, seguindo para Lusaka, rumando depois a norte para Lubumbashi na R.D. Congo.

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Tal como os recursos energéticos, outros recursos naturais e matérias primas são consumidos na sua maioria nos países mais desenvolvidos, independentemente da sua proveniência. Milhões de pessoas vivem ao lado, por cima ou à sombra de recursos e riquezas naturais de que nunca chegam a beneficiar.

Texto de Nuno Milagre

Imagem retirada daqui

Leia na íntegra em http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=6685&Itemid=1


quarta-feira, 14 de maio de 2008

Marina, que transversalidade queremos?

Deu na Agência Carta Maior:
A alegria dos representantes do agronegócio indica um dos principais significados da saída de Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente. É o caso de repensar se queremos a hegemonia ou pretendemos deitar eternamente no berço esplêndido de um “Estado de Compromisso".
Gilson Caroni Filho


Duas características marcaram a passagem de Marina Silva pelo governo Lula: o espírito missionário e a lealdade pessoal ao presidente. Com a têmpera de quem superou cinco malárias, duas hepatites e uma leishmaniose, a herdeira política de Chico Mendes travou, nem sempre com sucesso, vários "empates" durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente. Perdeu, sem dúvida, mas jamais recuou.
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O aumento de poder da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), cujos pareceres sobre pesquisa e comercialização passaram a ter caráter vinculativo, foi a maior derrota da ministra que um dia acreditou ser possível - através da prática de ações transversais para a construção de sustentabilidade - “interferir nos projetos de desenvolvimento, das rodovias aos leilões de petróleo."
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O meio ambiente, como destacou o ambientalista Fran Araujo, deve ser um fator de primeira ordem na tomada de decisão sobre políticas de desenvolvimento econômico. Imaginá-lo como algo que deve ser protegido depois que impactos adversos tenham ocorrido é confundir bagres com índios, caboclos e pescadores dentro de um imaginário produtivista que peca pela pouca inteligência.
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Talvez a questão seja mais complexa do que imagina o presidente. Transversalidade, quando a comunidade internacional financia projetos para contrapartidas de responsabilidade sócio-ambiental, não é uma “palavrinha mágica". E a companheira Marina se foi porque a política dela não conseguiu se viabilizar ante as pressões do agronegócio, o velho latifúndio remodelado semântica e politicamente.

Se um momento histórico pode ser avaliado pela reação dos atores diretamente envolvidos, convém observar quem festeja a saída da ministra. Uma rápida leitura da Folha de S. Paulo não deixa margem para dúvidas:
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"Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos líderes da bancada ruralista na Câmara, lembrou que Marina dificultou os avanços na área tecnológica. "Os problemas que ela criou o próprio governo é que tem de explicar.”
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A alegria desses personagens dá a exata dimensão da tragédia. É o caso de repensar se queremos a hegemonia ou pretendemos deitar eternamente no berço esplêndido de um “Estado de Compromisso".

Marina deixou o governo com a mesma dignidade em que nele atuou. Sai do cargo com a certeza de que a aposta no governo Lula ainda é a melhor alternativa. Novos empates a esperam no Senado e deles, mais uma vez, ela não fugirá.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3888

Desafios rurais chineses

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por Wladimir Pomar
13-Mai-2008
O desenvolvimento mais rápido da indústria e dos centros urbanos chineses, a partir de 1984, acelerou o tradicional desequilíbrio entre o valor dos produtos industriais e o valor dos produtos agrícolas, entre as rendas urbanas e rurais, e entre as regiões predominantemente agrícolas e as regiões predominantemente urbanas, além de pressionar as áreas agrícolas por mais terras, requeridas pelas novas zonas de desenvolvimento econômico.
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A questão agrária tornou-se, talvez, na mais séria. A expansão urbana fez as terras rurais convidativas, levando muitos governos locais a expropriá-las, para resolver seus problemas orçamentários e promover o desenvolvimento urbano. Porém, ao aproveitar-se do sistema coletivo de aldeia, que proíbe aos lavradores possuírem, comprarem ou venderem o solo que lavram, esses governos pagaram aos camponeses compensações miseráveis, excluíram parcelas camponesas dos ganhos do desenvolvimento, e causaram danos à produção agrícola.
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Esses procedimentos têm causado constrangimento aos governos locais, ao mesmo tempo em que encontram oposição dos governos provinciais e central. Eles estão gerando caos no mercado imobiliário, criando uma situação ameaçadora sobre o uso do solo na China, e espraiando um desequilíbrio social profundo. Enquanto algumas aldeias procuram resolver a situação estabelecendo contratos de aluguel em uso perpétuo com os camponeses, muitos destes se empobrecem, ao transformar-se em comerciantes de terras, e acabam engrossando o êxodo para as áreas urbanas.

Nessas condições, o desenvolvimento global do país, espraiando a urbanização das zonas rurais, acompanhada de um desenvolvimento mais lento da agricultura, num sistema que combina planejamento e propriedade estatal com mecanismos de mercado e propriedade privada, fez surgir uma nova questão agrária e uma nova questão camponesa na China.
Wladimir Pomar é escritor e analista político.
Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1801/46/

O preço da gasolina e o futuro

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por
Diomedes Cesário da Silva
13-Mai-2008
Você já deve ter lido que a gasolina nos postos dos EUA é mais barata que no Brasil. Mas, se lá os moradores têm poder aquisitivo superior ao daqui e se importam mais da metade do petróleo consumido internamente, por que isso acontece? Considerando nossa baixa estima de subdesenvolvidos, a resposta imediata poderia ser: porque são mais eficientes e capazes que nós. Na verdade, não é bem assim.
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A diferença, entretanto, aparece nos impostos: são cerca de US$ 1,20 na Europa, US$ 0,60 no Brasil, US$ 0,40 no Chile, US$ 0,30 na Argentina e apenas US$ 0,10 nos EUA. Os dados, com informações mais detalhadas sobre outros combustíveis e o detalhamento dos impostos pagos, podem ser vistos no sítio http://www.petrobras.com.br/, clicando no título ‘Para você e seu automóvel/Composição de Preços’.
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Os engarrafamentos cada vez maiores nas grandes cidades como Rio e São Paulo, o aumento desenfreado de venda de carros, os gastos com estradas, viadutos e desapropriações para abrir espaço para os novos veículos devem nos fazer parar para pensar qual o modelo que devemos seguir: o americano que está sendo forçado a mudar, ou o europeu, incentivando o transporte de massas?
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O petróleo é matéria prima para milhares de produtos, do plástico ao remédio e a química fina. Temos de ter em mente que é um recurso não renovável, formado ao longo de milhões de anos e não temos o direito de esgotá-lo predatoriamente em detrimento das futuras gerações, vendendo hoje o que terão que importar a um custo muito superior amanhã.
Diomedes Cesário da Silva é vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET). Leia na íntergra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1798/58/

terça-feira, 13 de maio de 2008

O Pentágono admite que cremou fuzileiros mortos no Iraque em crematórios para cachorros

El Pentágono admite que incineró a marines caídos en Irak en crematorios para perros

EFE. 11.05.2008 - 11:59h
  • El Departamento de Defensa de EE UU pide perdón a las familias y asegura que no volverá a ocurrir.
  • Ocurrió en el estado de Delaware, también con soldados de Afganistán.
  • Según la versión oficial, nunca se incineraron juntos cuerpos de animales y personas.
El Pentágono admitió ayer que ha incinerado cadáveres de soldados estadounidenses muertos en Irak y Afaganistán en un crematorio para animales de compañía, y ordenó modificar los procedimientos para la incineración de los cuerpos de los marines caídos.

"No hay misión más importante que el retorno digno a sus familias de nuestros héroes caídos", señaló Geoff Morrell, portavoz del Departamento de Defensa, al hacer el anuncio. Fuentes militares aseguraron que no se incineraron animales y seres humanos juntos, pero precisaron que de ahora en adelante, el Departamento de Defensa solo utilizará instalaciones de incineración de casas funerarias.

"Es insensible e inadecuado
para el tratamiento digno
de los caídos"

La instalación afectada por la medida era un depósito de cadáveres en la base Dover de la Fuerza Aérea, en el estado de Delaware, hasta donde son trasladados los restos mortales de militares fallecidos en Irak y Afganistán.

El secretario de Defensa, Robert Gates, piensa que es "insensible y totalmente inadecuado para el tratamiento digno de quienes han caído", dijo Morrell y agregó que "el secretario ofrece sus más profundas disculpas a los familiares" de quienes han muerto.

Sacrificio

"Este departamento hará todo lo posible para respetar el principio de que los restos de todos los miembros de las Fuerzas Armadas sean tratados con la dignidad y el respeto que exige su sacrificio", prometió. La denuncia se conoció después de que un soldado asistiera a la incineración de un militar que murió en combate, y dijese que el crematorio se encontraba en una zona industrial que anunciaba sus servicios para personas y animales.

Más de 4.070 soldados han muerto en Irak desde que las tropas estadounidenses invadieron ese país en 2003. Casi 500 han perecido en Afganistán desde que las tropas norteamericanas derribaron el régimen talibán a finales de 2001.

Extraído de http://www.20minutos.es/noticia/377557/0/cadaveres/soldados/irak/ acesso em 13 maio 2008.

“… e chamar-se-á Estado de Israel.”

Deu no Esquerda.net:
13 maio 2008

Por
Uri Avnery
Cada vez que ouço a voz de David Ben-Gurion pronunciando as palavras "Assim sendo, estamos hoje reunidos em assembleia...", lembro-me de Issar Barsky, irmão mais jovem de uma namorada que tive. A última vez que o vi, estávamos em frente ao refeitório do Kibbutz Hulda, numa 6ª-feira, dia 14 de Maio de 1948.
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Francamente, os discursos dos políticos em Telavive não nos interessavam muito. A cidade parecia-nos muito distante. O Estado, sabíamos, estava onde estávamos, em nós, connosco. Se os árabes vencessem, não haveria nem Estado, nem "nós". Se vencêssemos, haveria Estado. Éramos jovens e autoconfiantes, e nem por um momento duvidávamos de que venceríamos.
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Portanto, corri para o refeitório. A voz inconfundível de Ben-Gurion soava na rádio. Quando disse "...e chamar-se-á Estado de Israel"[1], que era o que me interessava saber, saí do refeitório.
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Issar foi morto alguns dias depois. Por isto lembro-me dele como estava naquele dia: 19 anos, sorridente, um Sabra cheio de inocência e alegria de viver.
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Veria um Estado que se desenvolveu muito mais do que nos seus mais entusiasmados sonhos de adolescente. De uma pequena comunidade de 635 mil almas (contados os 6.000 que morreriam com Issar naquela guerra), há hoje mais de 7 milhões de habitantes em Israel. Dois grandes milagres locais - o renascimento do idioma hebraico e a instituição da democracia israelita - continuam a ser realidade. A economia é forte e nalguns campos - a alta tecnologia, por exemplo - Israel está entre os primeiros do mundo. Issar sentir-se-ia entusiasmado e orgulhoso.
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Sobretudo, Issar descobriria, chocado, que a guerra brutal que o matou e me feriu, além de matar e ferir milhares de outros, continua, sem trégua. A guerra comanda toda a vida de Israel. Enche as páginas dos jornais e está nas chamadas de todos noticiários de televisão.
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Naquela noite realmente atacámos al-Qubab. Quando entrámos na vila, já estava vazia. Entrei numa das casas. A chaleira ainda estava quente, a mesa estava servida. Numa prateleira, havia fotos: um homem que visivelmente havia penteado cuidadosamente os cabelos, uma mulher em trajes locais, duas crianças. Guardo-os comigo, até hoje.
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Não há como escapar do facto histórico: o Dia da Independência de Israel e a Nakba ("catástrofe") dos palestinianos são dois lados da mesma moeda. Em 60 anos, Israel não conseguiu - de facto, Israel nem sequer tentou - criar outra realidade, para desatar este nó.
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Ao aproximar-se o 60º Dia da Independência, criou-se um comité para escolher um símbolo para o evento. Escolheram algo que teria hipóteses num concurso para escolher o símbolo da Coca-Cola ou do festival "Eurovisão" da canção.

O verdadeiro símbolo do Estado de Israel é outro, diferente, e não foi inventado por um comité de burocratas. Está posto no chão e pode ser visto de longe: o Muro. O Muro da Separação.
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Aparentemente, separa a israelita Kfar Sava e a palestiniana Qalqiliyah, fica entre Modi'in Illit e Bil'in. Entre o Estado de Israel (e mais terra roubada) e os Territórios Palestinianos Ocupados. Na realidade, separa dois mundos.
[ . . . ]
O Muro da separação é a fronteira entre estes dois mundos.

O Muro não é só uma estrutura de arame e betão. Mais que tudo, o Muro - como todos os muros - é uma declaração ideológica, uma declaração de intenção, uma realidade mental. Os construtores declaram-se proprietários, alinham-se de corpo e alma num dos lados, o lado ocidental; e declaram que do outro lado do muro, do lado de "lá", começa o mundo oposto, o inimigo, as massas de árabes e outros muçulmanos.
[ . . . ]
Há 102 anos, Theodor Herzl escreveu no seu livro-manifesto Der Judenstaat[3], do qual nasceu o movimento sionista, uma sentença carregada de significado: "Para a Europa, constituiremos lá [na Palestina] um sector do muro contra a Ásia, serviremos como linha da frente, uma vanguarda de cultura, contra a barbárie."
[ . . . ]
A imagem é clara, ofuscante: Israel é parte da Europa (como a América do Norte), é parte da cultura, que é exclusivamente europeia. Do lado de "lá", a Ásia, continente bárbaro, sem cultura, e "lá" é o mundo árabe muçulmano.
[ . . . ]
A máxima de Herzl não sobreviveu apenas como pensamento abstracto. O movimento sionista nasceu dela, no primeiro momento, e o Estado de Israel mantém-na viva até o dia de hoje.
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Um mês antes de eclodir a guerra de 1948, sete meses antes de o Estado de Israel ter sido oficialmente constituído, publiquei um folheto intitulado "War or Peace in the Semitic Region". Começava assim:
"Quando os nossos pais sionistas decidiram criar um "paraíso seguro" na Palestina, podiam escolher entre dois caminhos:

Podiam mostrar-se ao oeste da Ásia como o conquistador europeu, que se vê como cabeça-de-ponte da raça ‘branca' e senhor dos ‘nativos', como os conquistadores espanhóis e os colonialistas ingleses na América. Como, em seu tempo, os Cruzados, na Palestina.

A outra via era verem-se eles mesmos como um povo asiático que voltava à terra de origem - vendo-se como herdeiros da tradição política e cultural da região semita."
[ . . . ]
Houve as invasões que vieram do Oeste, os gregos, os romanos, os cruzados, Napoleão e os britânicos. Invasões deste tipo visaram implantar uma cabeça-de-ponte. Estes invasores pensavam como cabeça-de-ponte. A região é território hostil, a população é inimiga, é preciso oprimi-la ou destruí-la. No fim, todos estes invasores foram expulsos.
[ . . . ]
Os antigos israelitas classificam-se no segundo tipo. Embora haja dúvida sobre o Êxodo do Egipto narrado nos Livros de Moisés, ou sobre a Conquista de Canã narrada no Livro de Josué, pode-se aceitar que fossem tribos que vieram do deserto e se infiltraram-se nas cidadelas fortificadas de Canã que não poderiam conquistar, como se lê em Juízes1.
[ . . . ]
Uma das peculiaridades nacionais dos israelitas é uma modalidade de discussão na qual todos os participantes, sejam de esquerda ou de direita, argumentam ‘por clinch', como no boxe: "Se não fizermos tal e tal coisa, desaparecerá o Estado de Israel!" Alguém imagina este argumento na França, na Inglaterra, nos EUA?
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A existência do Estado de Israel não me preocupa. O Estado de Israel existirá enquanto existirem Estados. O problema é: que tipo de Estado haverá em Israel?
[ . . . ]
Ou um Estado que vive em paz com os Estados vizinhos, para benefício mútuo; uma sociedade moderna com direitos iguais para todos e sem miséria; um Estado que investe os seus recursos em ciência e cultura, na indústria e na preservação do meio ambiente; no qual as futuras gerações desejarão viver; fonte de orgulho para todos os cidadãos?

Que este seja o objectivo de Israel para os próximos 60 anos. Acho que este também seria o desejo de Issar, para o futuro de Israel.
Uri Avnery, 3/5/2008, "...Namely, the State of Israel", em Gush Shalom (GRUPO DA PAZ), na Internet, em http://zope.gush-shalom.org/home/en/channels/avnery/1209841842/
Tradução do blogue do Bourdoukan, adaptado para português de Portugal por Carlos Santos

[1] O texto da Declaração do Estabelecimento do Estado de Israel (14/5/1948) pode ser lido, em inglês, em http://www.mfa.gov.il/MFA/Peace%20Process/Guide%20to%20the%20Peace%20Process/Declaration%20of%20Establishment%20of%20State%20of%20Israel

[2] Entidades do folclore da região, que aparecem tanto na Bíblia hebraica quanto no Corão. Sobre "Gog e Magog" ver http://en.wikipedia.org/wiki/Gog_and_Magog (em inglês).

[3] O Estado judeu, 1896.

Leia na íntegra em http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=6711&Itemid=130

segunda-feira, 12 de maio de 2008

São Gabriel: relatos de um campo de concentração



Leiam também O intrépido Coronel Mendes

Empate catastrófico e o ponto da bifurcação

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:

A análise de Álvaro Garcia Linera sobre a Bolívia


O vice-presidente da Bolívia Álvaro Garcia Linera em uma aula na Escola do pensamento da Comuna em 17 de dezembro de 2007, analisa a crise do Estado boliviano e considera que o mesmo encontra-se numa situação de “empate catastrófico” – o conceito é gramsciano – que leva o país a um ponto de bifurcação. O ponto de bifurcação é a tensão entre as forças revolucionárias e as forças conservadoras na disputa pela hegemonia do Estado. O texto que reproduz a alocução de sua aula impressiona pela capacidade de predição do atual momento que vive o país e do que está em jogo. O texto foi publicado no sítio La Otra Movida em 04-052008. A tradução é do Cepat.

Eis [trechos d]o texto.


A crise do Estado

Na Comuna, com vários companheiros trabalhamos faz tempo a idéia da crise do Estado. Em vários escritos, do ano 2000 a 2001, caracterizamos o que estava acontecendo na Bolívia como uma crise do Estado neoliberal, Houve distintas interpretações de como entender a crise, mas, fundamentalmente, sustentamos que esta acontece quando há problemas na correlação de forças do Estado, ou seja, na estrutura de forças com capacidade de decisão, no conjunto de idéias dominantes ordenadoras da vida política da sociedade que permitem uma correspondência moral entre dominantes e dominados, e no âmbito das instituições (procedimentos, normas, burocracia) que objetiviza a correlação de forças e idéias.
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2000 também é o ano em que entraram em crise e já não conseguiram seduzir o conjunto da sociedade. As idéias dominantes que apresentavam os investimentos externos como motor da economia, a globalização e a exportação como horizonte inoxerável de nossa modernidade, e as coalizões de partidos políticos como condição sine qua non para definir a governabilidade, como entendimento do sentido comum da política. Nas instituições o mesmo acontecia: o Parlamento já não era um cenário de debate político, mas sim que se encontrava expropriado pelo executivo e, por sua vez, o executivo estava expropriado pelos lobbies de empresas estrangeiras e o núcleo político duro, por sua vez se encontrava expropriado pelos investimentos estrangeiros e um par de embaixadas que definia a situação do país. Uma primeira etapa da crise do Estado é a sua visibilização no ano de 2000.
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Empate catastrófico e construção de hegemonia

Toda crise estatal, então, pode ser reversível, ou bem, pode continuar. Se a crise continua, uma etapa seguinte é o empate catastrófico. Lênin falava de uma situação revolucionária. Gramsci, do seu modo, falou de empate catastrófico, ambos fazem referência a mesma coisa, porem com linguagem diferente. O empate catastrófico é uma etapa da crise do Estado. Se vocês querem, um segundo momento estrutural que se caracteriza por três coisas: confrontação no âmbito institucional – pode ser no âmbito parlamentar e também no social – de dois blocos sociais conformados com vontade e ambição de poder, o bloco dominante e o social ascendente; e em terceiro lugar, uma paralisia do mando estatal e a irresolução da paralisia. Este empate pode durar semanas, meses, anos; mas chega um momento em que se tem que produzir um desempate, uma saída.
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Esta construção hegemônica ascendente, por sua vez, terá três etapas e outras quatro sub-etapas. A primeira é a preponderância ou a vitória parcial de um projeto político nacional com capacidade de atração e mobilização social. No caso da Bolívia, esta preponderância apresenta vários momentos ou sub-momentos; a consolidação da agenda de outubro é um deles, porque marca um horizonte social capaz de atrair a vontade plebéia, indígena, campesina, popular, operária e das classes médias. E, digamos assim, a institucionalização da agenda de outubro é a vitória eleitoral do ano de 2005.
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O ponto de bifurcação faz com que haja uma contra-revolução desejosa de retornar ao velho Estado em novas condições, ou que se consolide o novo Estado, com conflitos, todavia, mas em um contexto de estabilização. A contra-revolução exige uma rearticulação hegemônica das resistências regionais com capacidade de expansão do regional ou do nacional, apoio internacional e o colapso de mando e de direção do bloco revolucionário.
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Um segundo momento do ponto de bifurcação acontece em 1986. O Estado nacional-popular entra em crise desde 1987. Golpe de Estado, eleições, golpe de Estado, eleições, golpe de Estado, governo democrático, problemas, eleições antecipadas. A direita ganha as eleições em 1985, mas o ponto de bifurcação se dá em 1986, com a Marcha pela Vida, quando o núcleo do velho Estado, o núcleo social e o ideário social do velho Estado, se desmorona, se rende ante à força, a vitalidade, o discurso e a capacidade de coerção e coesão do novo Estado neoliberal.
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Um ponto de bifurcação é, no fundo, um fato de força na mediação prática das coisas. É um acontecimento de liderança, de hegemonia no sentido gramsciano do conceito, de liderança moral sobre o restante da sociedade. Então, se os indígenas querem consolidar-se como núcleo do Estado, tem que mostrar que são capazes de recolher e levar adiante também os interesses da classe média, do empresariado boliviano, e isolar os poucos, os que são irredutíveis, mas tirando-os a sua base social. Por isso, é importante falar com os adversários, os indígenas obrigam-se a falar com eles.
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Em 2005, se confrontava a Assembléia Constituinte com uma demanda da sociedade frente ao Estado e a resposta do bloco decadente do Estado à sociedade era o referendo autonômico. Hoje as coisas inverteram-se. A proposta da sociedade frente à sociedade mediada pelo Estado é a nova Constituição Política do Estado, e a resposta do bloco afastado, já não desde o Estado, mas sim desde um pedaço da sociedade é o estatuto autonômico. Parece ser que é o mesmo, mas a ubiquação dos sujeitos sociais girou 180 graus.
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Na atualidade, o governo está apostando em uma terceira forma de bifurcação que seria uma espécie de resolução democrática mediante uma fórmula de interação, ou seja, de aproximação sucessiva. A proposta consiste em que se resolva o que é um momento de tensionamento de forças, mediantes vários atos democráticos. É uma das possibilidades que se tem aberto e que o governo procura impulsionar. A idéia é que o ponto de bifurcação não se resolverá nem mediante insurreição (a hipótese da guerra civil que sempre está latente), nem pela exibição das forças e a derrota moral do adversário, mas sim que se resolva mediante a manifestação reiterada do soberano a partir da reunificação dos poderes, das forças locais e regionais e do uso dos excedentes.
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Agora, basicamente, eu diria que este é um tempo de trégua que pode romper-se, no momento que se coloque em jogo a Renda Dignidade que redistribui 60% do IDH (Imposto Direto dos Hidrocarburos) às prefeituras. Ou dependendo da própria estratégia da direita, pode ser até o momento do referendo sobre autonomias, sobre o seu estatuto autonômico. Este referendo tem que ir ao Parlamento e se este o modifica ou rechaça, irão tentar um referendo por decisão de sua assembléia autonômica regional e se isto acontecer, irão querer aplicar o seu Estatuto e ao querer aplicá-lo sem a legalidade correspondente, vão chegar a uma confrontação com a estrutura do Estado. Isso pode ser outro momento.
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O provável é que em algum desses momentos se ponha à prova a capacidade de dissuasão do novo bloco social de poder e este fará que se visibilize a sua capacidade de decisão, a partir de sua capacidade de mobilização social a nível nacional, a nível departamental e, fundamentalmente, a nível regional; e será evidente na capacidade de manter o mando, o controle e o cumprimento das estruturas de coerção legítima que tem o Estado, vale dizer, a Policia Nacional e as Forças Armadas.

Assim vemos o panorama para os meses seguintes. Seguramente esta leitura inicial irá se modificar semana à semana, porque se trata de um momento em que a política e a correlação de forças está mudando muito a curto prazo. Novamente há uma condensação da política no espaço e no tempo, e isso nos obriga a alterar os esquemas de interpretação.
Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=13912

domingo, 11 de maio de 2008

Atuais desafios chineses

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por Wladimir Pomar
08-Mai-2008

As principais questões macroeconômicas com as quais a China se defronta consistem em evitar que o ritmo do crescimento econômico torne sua economia superaquecida e que o aumento estrutural dos preços se transforme em inflação. Em outras palavras, trata-se de reduzir realmente o ritmo de crescimento para 8%, manter a inflação no patamar máximo de 4,8% e o desemprego no nível de 4,5%, criando, em 2008, 10 milhões de postos urbanos de trabalho e 8 milhões de postos de trabalho nas zonas rurais.

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Isto exige, de imediato, uma forte intensificação da regulação sobre o mercado. Será necessário controlar o suprimento de terras e créditos, aumentar as exigências de acesso ao mercado, reajustar as políticas monetária e fiscal e reduzir tanto o ritmo de investimentos em ativos fixos quanto os superávits comerciais externos. Isso tudo num contexto em que o mercado não deve ser desestimulado a continuar desenvolvendo os meios de produção, mas deve ser contido em sua tendência anárquica de produção de lucros independentemente das conseqüências.

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Desse modo, atrair investimentos chineses e elevar as exportações para a China são dois itens importantes que o Brasil e os demais países emergentes precisam considerar seriamente. Além disso, os projetos chineses, relacionados com o fortalecimento da agricultura, novo padrão de desenvolvimento, economia de energia, redução das emissões, proteção ambiental, bem-estar social e desenvolvimento cultural, abrem inúmeras oportunidades que todos os países, especialmente os países em desenvolvimento, podem aproveitar com vantagens. O que os obriga a conhecer melhor o que a China pretende de fato realizar nos próximos anos.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1776/46/


Críticas - de direita e de esquerda - ao governo Lula

Deu no Blog do Emir:
O governo tem sido alvo de muitas críticas e elogios, de direita e de esquerda, contraditórios entre si, de forma alternada e, às vezes, simultânea. A virulência com que a direita critica e os massivos meios monopólicos de comunicação com que ela conta, provocam tanto uma defesa exacerbada de quem tem críticas, como a impressão de que essas posições são compartilhadas
por muita gente na sociedade.
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Suas críticas são tipicamente as da direita, as mesmas que compartilham com o bloco tucano-pefelista: menos Estado – o que significa, para eles, não menos financiamentos privados, isenções, mas menos contratações de pessoal, menos gastos com políticas sociais, menos impostos; trocar a integração latino-americana e com o Sul do mundo, por aquela tradicionalmente submissa com o Norte; nenhum tipo de regulamentação estatal, nem no mercado de trabalho, nem na política de comunicações, nem na circulação de capitais; mais privatizações. Sua utopia se realizava no governo FHC, com quem se identificaram plenamente. Gostam de qualquer candidato que derrote Lula ou tire votos de quem seja o candidato mais forte a dar continuidade ao seu governo.
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É fundamental situar essas posições, para que críticas de esquerda não se confundam com elas, porque estas são absolutamente contraditórias com aquelas. Cito um caso de confusão entre as duas, que favorece a direita: na discussão sobre a CPMF, na versão final da proposta, se tratava do que a esquerda deveria pregar: um imposto difícil de ser sonegado, pago por quem dispões de mais recursos e todo ele para a saúde pública. Tudo o que a direita não quer: tributação sobre os mais ricos, que não podem contornar e que vai para políticas sociais. O senador do Psol votou contra, cometendo um grave equívoco, somando-se à direita e ajudando a confundir ainda mais o quadro de polarização entre direita e esquerda.
[ . . . ]
Em lugar de ser um crítico de esquerda, que apóia o que governo tem de esquerda – como veremos na segunda parte deste artigo, entre outros, a política externa, a política social, a política cultural, etc. -, atacam tudo e rifaram a possibilidade de construir uma alternativa à esquerda do PT, ficando relegados à intranscendência política.
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As ambigüidades do governo são inúmeras e o próprio Lula afirma que nunca os ricos – e aqui é preciso dizer, antes de tudo os bancos – nunca ganharam tanto e nunca os pobres melhoraram tanto de vida. Condenável a primeira, elogiável a segunda. Uma não é condição da outra, ao contrário, quanto mais ganhe o pior capital possível – não cria bens, nem empregos, chantageia com ameaças de forjar crise com fugas, etc -, menos recursos para impulsionar o desenvolvimento, criar riqueza, gerar emprego, aumentar os recursos para políticas sociais, etc.
[ . . . ]
Manter as taxas de juros mais altas do mundo, atraindo o pior tipo de capital, não cobrar-lhe impostos para que circulem livremente para dentro e para fora do país, dar autonomia para que sua representação direta no governo defina uma variável fundamental para a economia do país, mas também para os recursos para políticas sociais, é um erro que tem que ser reiteradamente criticado pela esquerda. Mas como toda esquerda politicamente séria, não apenas crítica crítica e dogmática, é preciso apresentar alternativas e elas existem, recentrando a economia nos investimentos produtivos e as políticas sociais na criação de empregos.
[ . . . ]
Um terceiro aspecto central do governo, que deve ser objeto de crítica da esquerda, é a não caracterização dos EUA como cabeça do imperialismo mundial, com todos os danos que causa à humanidade, a começar pela política de “guerras infinitas”. O Brasil não pode se relacionar com os EUA como se fosse apenas um país rico, tem que levar em conta que é a cabeça do bloco imperialista que, de todos os pontos de vista – econômico, financeiro, tecnológico, político, militar, ideológico, mediático – representa o que de pior tem o mundo hoje, responsável pela concentração de renda, pelas políticas de livre comércio, pela miséria, pela degradação ambiental, pelas guerras, pela especulação financeira, pelos monopólios da mídia, pela propaganda de um estilo de vida mercantilista, etc, etc. Não tomar o imperialismo como referência central no mundo de hoje leva a cometer graves erros e a correr sempre riscos de se deixar levar pelas políticas do império.
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Esta a primeira parte do artigo, a segunda, com os aspectos positivos do governo, que deveriam ser apoiados e incentivados pela esquerda, vem em seguida. Mas também com os elogios da direita, contraditoriamente distintos do da esquerda.

Postado por Emir Sader às 20:04
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=180

Os navios fantasmas da Quarta Frota

Deu na Agência Carta Maior:
É o momento de amplificar o alerta de Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz: "O anúncio da recriação da Quarta Frota norte-americana, destinada a realizar missões navais agressivas nas regiões do Caribe, América Central e América do Sul é uma grave ameaça à paz, à segurança e à soberania de todos os povos e nações da América Latina".
Gilson Caroni Filho

Ao anunciar a reativação da Quarta Frota, desativada há 58 anos, para “patrulhar os mares da América Latina", a marinha estadunidense encena, em versão farsesca, a sina do capitão magistralmente criado por Wilhelm Richard Wagner, em 1841.

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A nova constelação governos latino-americanos que, assumindo posições contrárias às do governo dos Estados Unidos, opõe-se à concessão de bases para as forças militares do Império, é o mar revolto a ser vencido. Se o personagem wagneriano tinha em “Senta” sua possibilidade de redenção, ao governo americano resta apenas Uribe como promessa de rendição.

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O que movia o cenário internacional podia, sem riscos de reducionismo, ser descrito em poucas linhas. O maior império da história, governado por uma "junta" oriunda do segmento petrolífero, precisava desesperadamente invadir o Iraque, ex-aliado no Oriente Médio, para se apossar de uma reserva estimada em 112 bilhões de barris. Às voltas com um crescente déficit público e uma produção doméstica de combustível que correspondia a 50% do consumo interno, ao governo americano parecia não haver outra alternativa que não fosse o uso de sua inconteste supremacia militar.

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Tendo chegado ao poder em eleições marcadas por fortes evidências de fraude, George W. Bush, apoiado pela direita fundamentalista americana, é a expressão acabada de uma superpotência que, enfraquecida como projeto hegemônico, busca manter a supremacia pela truculência bélica e a chantagem econômica. Unilateralismo na política externa e a elisão de direitos civis são as duas faces da mesma moeda.

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Política expansionista e Estado policial são a marca distintiva dos Estados Unidos desde o fim da Guerra Fria. Ante-sala do horror contemporâneo, a cruzada americana teve em seu aparelho propagandístico o pânico interno como dispositivo para construção do consenso.

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Sua maior colaboração residiu, como ainda reside, na capacidade de transformar em evento o que é processo, tirando da história qualquer possibilidade de apreensão dialética. Operam em restrita lógica binária, usando, para potencializar sua eficácia , o que Ignacio Ramonet classificou como "fascínio pelo espetáculo do evento".

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É o momento de amplificar o alerta de Socorro Gomes, presidente do Conselho Mundial da Paz:

"O anúncio da recriação da Quarta Frota norte-americana, destinada a realizar missões navais agressivas nas regiões do Caribe, América Central e América do Sul é uma grave ameaça à paz, à segurança e à soberania de todos os povos e nações da América Latina. Recentemente, ao respaldar a ação militar da Colômbia em território equatoriano, o governo estadunidense intentou dar vigência em nosso continente aos pressupostos da guerra preventiva, uma doutrina fascista a serviço do terrorismo de Estado". O que os Estados Unidos anunciam é o fomento à militarização do continente, a corrida armamentista e a ameaça nuclear.

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O mais caro, sem dúvida, seria a retomada das discussões em torno de uma Nova Ordem Informativa. Mesmo levando-se em conta a mudança radical da configuração geopolítica existente à época e o surgimento de novas meios de produção, difusão e intercâmbio de dados, a atualidade do relatório produzido, em 1980, pela Comissão Internacional para o Estudo dos Problemas da Comunicação (a Unesco sediou os debates) é inconteste. Como não deixar de referendar as palavras do presidente da comissão, Sean MacBride, no prólogo do relatório?

"Gostaria de parafrasear H. G. Wells e dizer que a história humana se transforma cada vez mais numa corrida entre a comunicação e a catástrofe. O emprego total da comunicação é vital para assegurar que a humanidade venha a ter mais história (...) do que nossos filhos tenham futuro" (Um mundo e muitas vozes)"

É uma agenda inadiável.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa. Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3884

O intrépido Coronel Mendes

Deu na Agência Carta Maior:
No Rio Grande do Sul, subcomandante da Brigada Militar mobiliza um pequeno exército para reprimir MST e mobilizações de movimentos sociais. Defensor da pena de morte e da reação a assaltos por parte dos cidadãos, o coronel Paulo Mendes também é autor da máxima: "bandido tem que ir pro paredão mesmo".
Marco Aurélio Weissheimer
Os fatos relatados a seguir estão virando uma rotina no Rio Grande do Sul, Estado considerado por alguns como um dos mais politizados e civilizados do país:

Por volta das 13h, vários policiais começaram a se retirar da São Paulo 2. Mesmo assim, a identificação dos sem-terra continuou. No retorno, ruralistas que estavam na RS-630 saudaram o coronel Mendes, que desceu do carro para cumprimentá-los.
[ . . . ]
O relato acima é do jornalista Homero Pivotto Jr., do jornal Diário de Santa Maria, em matéria publicada dia 9 de maio sobre a operação de guerra que a Brigada Militar montou, no dia anterior, para revistar um acampamento de sem-terra no município de São Gabriel, Fronteira Oeste do Estado. Ao justificar o aparato de 700 homens, cães, cavalos, computadores, comunicação via satélite e helicóptero, o coronel Paulo Mendes, subcomandante da Brigada, disse que era “para a segurança de todos”. Sobretudo para os ruralistas que o saudaram como a um herói, ao final da ação.

Denúncias de autoritarismo, humilhação e sadismo

Já para os deputados Adão Pretto e Dionilso Marcon, do PT, não há nenhuma razão para saudar a atuação de Mendes e sua tropa. Pelo contrário. Segundo o relato dos parlamentares, que tentaram sem sucesso entrar no acampamento, a ação da Brigada Militar foi marcada pelo autoritarismo, pela humilhação dos sem-terra com requintes de sadismo e pela violação dos direitos humanos. Eis um trecho do relato dos parlamentares, que foram ameaçados fisicamente e agredidos moralmente pelos ruralistas da região, quando chegaram na área para tentar acompanhar a ação da Brigada:
[ . . . ]
Começaram lentamente, rasgaram barraco a barraco de cada agricultor. Após, de forma sórdida, colocaram pás de terra nas panelas com a comida cozida, inutilizando dezenas de quilos de arroz e de feijão. O restante da alimentação foi levado pela BM, tornando esse sim, ato criminoso.
[ . . . ]
Segundo os sem-terra relataram aos parlamentares, em um determinado momento, o helicóptero da Brigada ficou a poucos metros do solo e, num gesto teatral bem ao gosto do coronel Mendes, do seu interior saiu uma bandeira do Rio Grande do Sul. Dionilso Marcon anunciou que denunciará o governo Yeda aos organismos internacionais de Direitos Humanos e detalhará todos os casos de violação do direito à vida praticada pelo governo gaúcho.

A “filosofia” do coronel Mendes

Considerado uma espécie de “Capitão Nascimento” dos Pampas, o coronel Paulo Mendes é conhecido também por suas declarações polêmicas. Como subcomandante da Brigada Militar, já defendeu a pena de morte e a ida de bandidos para “o paredão”. Além disso, em 2007, defendeu que os cidadãos deveriam começar a reagir aos assaltos, contrariando as recomendações da própria polícia que não aconselham esse tipo de comportamento.
[ . . . ]
A tropa do coronel Mendes tem, de fato, proporcionado "muita ação" à vida política gaúcha.

Marco Aurélio Weissheimer é jornalista da Agência Carta Maior (correio eletrônico: gamarra@hotmail.com)
Leiam na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3883

Vejam também: São Gabriel: relatos de um campo de concentração

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Canção do Expedicionário (FEB)

Homenagem aos 63 anos da vitória sobre o nazi-fascismo:

Composição: Guilherme de Almeida
Música: Spartaco Rossi

Você sabe de onde eu venho ?
Venho do morro, do Engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Você sabe de onde eu venho ?
É de uma Pátria que eu tenho
No bojo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreno,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da Cruz!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Devolver a Cisjordânia aos Palestinos?

Deu no Vermelho:
por
Lejeune Mirhan*
De forma muito discreta, a imprensa noticiou nos últimos dias um possível encontro que teria ocorrido entre o primeiro Ministro israelense Ehud Olmert com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. O assunto foi a paz, claro, e um possível acordo pelo reconhecimento do Estado Palestino e suas futuras fronteiras. O furo jornalístico foi dado pelo jornal Haaretz. Será nosso tema da semana

O melancólico desfecho da gestão Bush

Diferente do que fez William Clinton em seus oito anos à frente da Casa Branca, onde pode ostentar ao mundo os famosos acordos de paz de Oslo, celebrados na Noruega entre a então OLP e Israel, o atual presidente republicano George W. Bush nada tem a mostrar em seus oito anos de mandato. Um verdadeiro fracasso em termos de diplomacia. O isolamento americano continua elevado, o ódio que parcelas imensas de muçulmanos sentem de americanos em todo o planeta é imenso e colhe fracassos especialmente na América Latina, que assiste hoje a uma onda de esquerda e mudancista muito grande.
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Quais são as linhas instransponíveis que os palestinos, através de seu presidente Abbas, não podem cruzar? Em resumo são três as mais importantes e fundamentais: 1. Estado Palestino com fronteiras demarcadas com base antes da Guerra dos Seis Dias de junho de 1967; 2. Jerusalém como capital desse Estado (pelo menos a parte árabe, oriental) e 3. Volta dos refugiados (Resolução 194 da ONU, que aceita um cronograma para o retorno).
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Nesse contexto, pode ser um balão de ensaio a notícia publicada pelo jornal israelense. Esta trata, de forma resumida, que em uma última reunião entre os dois líderes dos dois povos, Olmert teria feito a incrível oferta de devolver 98% da Cisjordânia e desmantelar todas as colônias judaicas na região. Isso poderia significar retirar quase 250 mil judeus, os mais radicais e ortodoxos possíveis. Esses dois por cento restantes seriam compensados com terras israelenses do plano de partilha original da Palestina histórica de 1947.
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Dizem que analistas internacionais não devem ser taxativos em suas afirmações e conclusões, até para se preservarem com possíveis alterações bruscas da correlação política de forças. No entanto, não vejo hoje a menor possibilidade dessa proposta ser implementada, exatamente pela fraqueza de ambas as partes que negociam e pela fragilidade do próprio governo Bush, que fechará mesmo de forma melancólica os seus oito anos de governo. Acordos de paz ocorrem por atos de vontade política e devem ter apoio amplo dos povos das partes que negociam. Hoje isso não esta dado.

60 anos de Israel
Na próxima quarta-feira, 14 de maio, completarão 60 anos da proclamação do Estado de Israel por Ben Gurion. Foi quando ocorreu a primeira de várias guerras entre árabe-palestinos e israelenses. Vamos tratar desse assunto que não passará em brancas nuvens.
*Lejeune Mirhan, sociólogo da Fundação Unesp, arabista e professor. Presidente do Sindicato dos Sociólogos, membro da Academia de Altos Estudos Ibero-árabe de Lisboa e da International Sociological Association Leia na íntegra em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=37284

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A propriedade ou a vida


Deu no Instituto Humanitas Unisinos:
"Bendito seja o MST, que continua a suscitar um salutar desassossego no coração de nossos grandes proprietários agrícolas". A afirmação é do jurista e professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, Fábio Konder Comparato ao comentar em artigo intitulado ‘A propriedade ou a vida’ para o jornal Folha de S.Paulo, 07-05-2008, as críticas do novo presidente do do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, ao MST.
Eis [trechos d]o artigo.
Em seu discurso de investidura, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal decidiu brandir a espada da Justiça contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Grande honra para o MST atrair assim, sobre si, o olhar venerável da nossa mais alta magistratura. É sinal de que temos, enfim, como agente político um grupo que contrasta vivamente com a mediocridade timorata e balofa dos nossos partidos.
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Até o século 18, nenhum sistema jurídico conheceu um direito individual tão completo e absoluto sobre coisas. No direito romano, havia três tipos de "dominium", com diferente conteúdo: o quiritário, o provincial e o pretoriano. Na Idade Média, proliferaram, em toda a Europa ocidental, as mais variadas espécies de direitos sobre coisas, correspondentes ao esfacelamento do poder político, típico do feudalismo.
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Aliás, todo o Código Civil francês é estruturado na oposição entre pessoas e propriedade (no singular). Se o livro primeiro trata das pessoas, os dois outros livros cuidam somente da propriedade: "Das diferentes modificações da propriedade" e "Das diferentes maneiras pelas quais se adquire a propriedade".
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A propriedade ainda deve hoje ser reconhecida como direito fundamental, quando necessária à manutenção de uma vida individual ou familiar dignas. Fora dessa hipótese bem demarcada, estamos diante de um direito ordinário, que não goza das garantias fundamentais previstas na Constituição. Mas, em qualquer hipótese, o direito de propriedade não deve ser confundido com o poder de controle empresarial, que é um direito sobre pessoas, e não só sobre coisas.
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Além disso, a regra constitucional de que "a propriedade atenderá a sua função social" (artigo 5º, inciso XXIII) influi decisivamente sobre a proteção desse direito. Em caso de descumprimento do preceito, o juiz não pode, sem violar frontalmente a Constituição, conceder mandado liminar de manutenção ou reintegração de posse ao proprietário.
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No quadro da reforma agrária, por exemplo, elas deveriam ser objeto de um direito de uso (Código Civil, artigos 1.225 e seguintes), concedido a lavradores ou sociedades cooperativas; direito que, em todos os casos, haveria de ser exercido segundo as diretrizes da política agrícola nacional.

Por todas essas razões, bendito seja o MST, que continua a suscitar um salutar desassossego no coração de nossos grandes proprietários agrícolas!
Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=13780

O Zoneamento da Silvicultura já nasce morto

Deu na EcoAgência:
O que era uma proposta pioneira e inovadora, foi transformada num documento sem eficácia e inócuo para garantir a conservação e uso sustentável do ambiente no Estado, frente à grande expansão da silvicultura.
Por Marcelo Machado Madeira*
Como membro do Conselho Estadual do Meio Ambiente, (onde represento o Ibama), não posso me omitir a fazer alguns comentários sobre o teor da proposta de Zoneamento Ambiental da Silvicultura (ZAS) aprovada na noite (!) do último dia 09 de abril pelo referido Conselho. A forma como foi votada e aprovada são um capítulo à parte e, que por si só, merecem uma análise mais profunda em outra oportunidade.
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Mas a esperada discussão técnica-científica sobre aspectos do documento não se deu na forma adequada, tendo sido substituída por uma discussão muitas vezes política e principalmente econômica, em que determinados setores buscavam desqualificar por completo o trabalho da equipes técnicas da Fepam e da Fundação Zoobotânica (FZB) sob o argumento de riscos aos vultosos investimentos já em implantação no Estado.
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As propostas de modificações aprovadas pelo Consema retiram do ZAS quase que a totalidade dos limites e restrições objetivos que poderiam representar mecanismos de salvaguarda da biodiversidade, águas e solos dos Biomas existentes em nosso estado, o Pampa e a Mata Atlântica.
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O que originalmente era proposto como algo pioneiro, inovador na gestão ambiental não somente de nosso estado mas no país, foi transformado num documento sem eficácia, inócuo para garantir a conservação e uso sustentável do ambiente no estado frente à grande expansão da silvicultura no RS, notadamente na metade sul do estado, área do Bioma Pampa.

Trata-se de um zoneamento "para inglês ver", tão ilusório quanto à unanimidade obtida em sua votação no Consema. Trata-se, infelizmente, de um Zoneamento que já nasce morto.

Marcelo Machado Madeira é analista ambiental, chefe da Divisão Técnica do Ibama/RS.
Leia na íntegra em http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=3233&Itemid=62

terça-feira, 6 de maio de 2008

Vilãos ou vilões, questão de opiniãos

Deu na Agência Carta Maior:
A crise provocada pelo aumento dos preços dos alimentos no mundo inteiro era previsível. Ninguém que tinha poderes para alterar o rumo dos acontecimentos fez nada para impedi-la. E agora querem por a culpa no etanol e no biodiesel, isto é, no futuro.
Flávio Aguiar
A crise provocada pelo aumento dos preços dos alimentos, que provocou revoltas populares no Caribe, na África e na Ásia, era previsível. Uma grande parte da produção de alimentos hoje depende de fertilizantes em que derivados do petróleo é componente importante. Com o crescimento das importações e das exportações, além da locomoção interna nos países, a produção, o abastecimento e o consumo de produtos agrícolas dependem cada vez mais do transporte. Na África e em muitas partes da Ásia a agricultura familiar foi completamente desorganizada pelas crises econômicas e financeiras das décadas passadas, e os estados da região tornaram-se impotentes quanto à possibilidade de investimentos em alternativas ou infra-estrutura, graças às políticas neo-liberais de desregulamentação e abertura dos mercados. O protecionismo correlato da Europa e dos Estados Unidos desestimulou a produção agrícola de exportação nesses países. O Haiti, no Caribe, palco de uma daquelas revoltas, é um país cujo solo foi erodido e destruído em termos de capacidade de produção. O empobrecimento, ainda ajudado pelas contínuas guerras ou crises políticas, foi generalizado. O problema maior é que a população não tem dinheiro para comprar alimentos. Tudo isso, em boa parte, gerado por uma política e uma visão unidimensionais de dependência dos combustíveis fósseis, e de um pensamento também fóssil quanto à ordenação do comércio mundial. E agora querem banir, como solução, o biodiesel e o etanol, dizendo que eles vão matar o mundo de fome. Boa parte do mundo já passa fome.
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Produzir empregos demanda energia, demanda transporte, demanda infra-estrutura. Preservar a natureza demanda tudo isso também. E as duas coisas demandam comunicação rápida e eficaz, além de investimento em saúde e educação, sem falar numa cultura de conhecimento do meio-ambiente em suas particularidades e detalhes. E demanda uma rediscussão dos padrões de produção e de consumo no e do mundo inteiro.
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Até o ano passado, o petróleo foi eleito o grande vilão do mundo. O petróleo era como o sistema colonial nas sociedades emergentes: era o vilão do “passado” que se abatia sobre nós. Agora o vilão passou a ser o futuro? Pode ser. Sabemos que é absolutamente necessário encontrar fontes agrícolas (além das hidrelétricas) de energia alternativas, combinando-as com a produção de alimentos. Ou se faz isso, ou a catástrofe vai se tornar inevitável. Mas sabemos também que temos de encontrar e consolidar padrões de consumo compatíveis com a sobrevivência do planeta e da espécie humana, e isso em todo e para todo o planeta.

Não há vilões na natureza. Os vilões não são nem serão “o etanol”, “o biodiesel”, “a cana de açúcar”, nem mesmo “o petróleo”. O problema é o que se faz com eles, quem faz, por quê, como, e como diziam os romanos, “cui prodest?”, isto é, quem lucra com isso. É hora de voltar à excelente entrevista que o professor Ignacy Sachs deu à Carta Maior no ano passado. Não há vilões na natureza, e o mundo já produz grãos suficientes para alimentar todo o mundo. O problema é que as pessoas pobres não têm dinheiro para comprar alimentos, e os países pobres não têm como subsidiar os seus pobres para que eles os comprem, enquanto os países ricos subsidiam os seus alimentos, e as agências por estes controladas desregulamentam e desorganizam as possibilidades daqueles se organizarem.
Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3881