O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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sábado, 18 de agosto de 2007

Estados Unidos: insolvência e liquidez na crise

Deu no Resistir.info:
por Alejandro Nadal


Os assessores de George W. Bush explicaram-lhe a crise muitas vezes, mas dizem que ele não entende. Na quinta-feira passada, a uma pergunta apresentada em conferência de imprensa na Casa Branca, o brilhante estadista disse que a culpa era dos devedores que firmaram hipotecas sem saber o que estavam a fazer. A conclusão está num programa de alfabetização financeira, concluiu o senhor Bush. Neste momento em que centenas de milhares (talvez até um milhão) estão a perder as suas casas, essas palavras estabelecem um novo padrão de estupidez no país que nos deu o Ídolo Americano.
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Por que há tanto lixo financeiro sob a forma de hipotecas de má qualidade (subprime) no mercado)? Esse lixo financeiro, surgido do sector imobiliário, nasce com a expansão de liquidez nos anos 90, parte da herança deixada por Greenspan. O importante é que muitas destas operações foram de má fé do lado dos credores: sabiam perfeitamente que as novas hipotecas seriam impagáveis e que mais adiante poderiam apropriar-se das garantias para rematá-las. Enquanto o Fed eliminava alegremente regulações para o sector bancário e financeiro, entre 1996 e 2005 os tubarões procuravam vítimas no mercado hipotecário dos créditos subprime.
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Os contratos hipotecários podem ser vendidos em mercados secundários e por isso foram objecto de um intenso processo de colocação em bolsa. Mas ao surgirem terrores de insolvência esses títulos só puderam continuar a refinanciar-se a taxas de desconto muito elevadas. Por fim, este mês, travaram-se as vendas. Hoje muitos grandes bancos estado-unidenses encontram-se a nadar num mar de títulos derivados ancorados em má qualidade creditícia (irrecuperáveis). Ao não poderem ser refinanciados, esses títulos devem ser incluídos nas suas folhas de balanço, o que implica perdas. A ironia é que a Reserva Federal manteve uma posição laxista frente às necessidades de reservas bancárias e hoje reverte todo o processo e vê-se obrigada a injectar liquidez. Este estado de coisas não vai mudar senão quando ressuscitar o segmento hipotecário do mercado financeiro.
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Que efeitos pode ter a injecção de liquidez feita pelos bancos centrais em face da crise? Se o problema fosse só de liquidez, essas medidas poderiam ter certa lógica. Mas desgraçadamente o diagnóstico aproxima-se mais de um quadro de insolvência. Neste contexto, a injecção de liquidez pode provocar um incêndio maior. De qualquer forma aumenta o risco moral, pois é um prémio aos especuladores ("aqui há mais dinheiro para que possam continuar a fazer as suas malfeitorias"). No fim, a única coisa que se consegue é adiar o ajuste. Sob estas condições, a aterragem não será suave e as repercussões serão muito graves.

O original encontra-se em http://www.jornada.unam.mx/2007/08/15/index.php?section=opinion&article=029a1eco
Leia na íntegra em http://www.resistir.info/eua/insolvencia_15ago07.html

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