O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Dilma no “Superpop”

Eduardo Guimarães
no seu blog Cidadania.com
analisou:
Na última quinta-feira, a ministra Dilma Rousseff foi entrevistada pelo programa Superpop, da Rede TV, cerca de dois meses depois de o programa ter recebido o governador José Serra. Quem não assistiu, perdeu a chance de ver como se apresentará na campanha eleitoral a candidata do presidente Lula à Presidência da República.

Antes de começar a escrever este texto, dei-me ao trabalho de assistir, via You Tube, a entrevista de Serra concedida àquele programa em novembro do ano passado. Quis saber se ele também foi alvo de questionamento de falhas que seus adversários apontam em sua gestão, tais como na Saúde, na Educação ou na Segurança, pois àquela época ainda não havia as enchentes para questionar.

No caso de Dilma, o questionamento foi quanto ao “apagão”. O Superpop colocou um jornalista desconhecido do Estadão para questionar a ministra usando essa terminologia (“apagão”) para o blecaute de 5 horas que começou na noite do dia 10 de novembro último e terminou na madrugada do dia seguinte.

No caso de Serra, só houve exaltação dele. A apresentadora Luciana Gimenez passou todo o programa inflando a bola do tucano, tecendo loas à lei antifumo e a supostas medidas em favor de deficientes físicos.

A diferença era esperada, claro. Não é novidade para ninguém que a mídia é partidarizada e é por isso que não gostei da entrevista de Dilma. Por ser mulher e por ser do PT, a pré-candidata à Presidência da República tem que entender que das mulheres, neste país, exige-se sempre o dobro do que dos homens.

Comportamentos aceitos como característicos de força e liderança em homens, nas mulheres são vistos como “arrogância”. Homens fortes são “corajosos”; mulheres fortes são “megeras”. É complicado.

Voltando, pois, à entrevista de Dilma ao Superpop. Em duas palavras: não gostei. E digo isso com tranqüilidade porque pretendo votar nela – menos por ela mesma do que por quem a indica e pelo que ela representa ao encarnar a continuidade do governo Lula. E sem esquecer que seu principal adversário é um dos políticos que mais repudio.

Dilma foi hesitante. Gaguejou e se perdeu em uma explicação técnica para aquilo que simplesmente não houve, o tal do “apagão”. E explicou muito mal a diferença entre o blecaute de novembro, causado por uma eventualidade, e a falta de capacidade de gerar energia que paralisou o país no fim do governo FHC.

Se eu fosse Dilma, diria que a pergunta fora boa porque oferecia a oportunidade de desmontar uma farsa. Diria que não se pode equiparar um acidente com uma situação vivida no governo anterior em que o Brasil não tinha capacidade de geração de energia, o que nos obrigou a racioná-la, a subir abusivamente seu preço e a punir quem não se enquadrasse num racionamento que durou quase um ano.

As frases de Dilma eram mal pontuadas, ela gaguejava. Davam aflição, pois parecia que a ministra não sabia o que iria dizer, ainda que o que dizia fizesse sentido. Mas, em política, o que se diz é muito menos importante do que a forma como se diz.

Ora, em um debate com uma raposa como Serra, se Dilma ficar tensa e se perder naquela prolixidade toda, ficará difícil. Quem se der ao trabalho de assistir à entrevista dele ao Superpop verá como ficou muito mais à vontade e como se comunicou muito melhor.

Vejam que Luciana Gimenez, tanto com Dilma quanto com Serra, foi a doçura e a complacência em pessoa. Deixou os entrevistados muito à vontade, de forma a poderem se comunicar com a mais absoluta desenvoltura. Apesar de ter havido um questionamento a Dilma que não houve a Serra, foi um questionamento gravado e o espaço concedido à resposta da ministra lhe teria permitido “detoná-lo”.

Devo explicar o seguinte: aqui não se faz torcida. Até porque, torcida não ganha eleição. Aqui se discute política e se oferece uma opinião clara e honesta, daquele tipo que não tenta se passar por “isenta”. Mas torcida, não. Sobretudo em política, torcida é uma droga que esconde o que deve ser corrigido em uma candidatura.

Estou absolutamente seguro de que o voto em Dilma é a melhor opção, pois significa a continuidade do processo benigno que o país empreende. Todavia, Dilma precisa entender que ou ela se comunica de forma mais eficiente ou poderá perder uma eleição relativamente fácil de ser vencida devido a seu adversário ser um desastre como administrador.

Extraído de http://edu.guim.blog.uol.com.br/arch2010-01-31_2010-02-06.html#2010_02-05_16_58_14-3429108-0 acesso em 05 fev. 2010.
Foto: A Chefe da Casa Civil da Presidência da República, Dilma Rousseff e Lula / Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr. [Brasília?] : Agência Brasil, 10 nov. 2009. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dilma_e_Lula_no_PAC.jpgcesso em 05 fev. 2010.
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