O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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domingo, 19 de agosto de 2007

Até onde irá o crash e o que faremos nós?

Deu no Resistir.info:
por
Richard C. Cook [*]
Os disparadores imediatos estão a ser descritos muito bem: o colapso do mercado de hipotecas subprime dos EUA; a vulnerabilidade do resto da economia à ressaca dos subprime, devido à "eficiência" dos mercados na diluição do risco; a super-extensão à escala mundial do crédito barato; o fracaso de grandes investidores institucionais e firmas de corretagem da Wall Street quanto ao comportamento responsável; e os efeitos a longo prazo dos défices comercial e fiscal dos EUA os quais agora retornam à casa de modo permanente.
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As causas do declínio do M1 são de duas ordens. Uma é o fraco poder de compra dos consumidores americanos, pois pelo menos a metade dos emprego pagos decentemente no sector manufactureiro foram eliminados pelo outsourcing, pelas fusões e pelas melhorias de produtividade durante as últimas duas décadas. A outra é que apesar de muitas das corporações americanas não conectadas ao sector habitacional terem estado a fazer tudo certo, o seu êxito dependeu de investimentos além mar, tais como a GE e a GM que investiram fortemente na China.
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Mas como relatou Barron no principio deste ano, grande parte dos lucros das corporações globais estão a ser mantidos como rendimentos retidos para crescimento futuro, ao invés de serem transferidos para os accionistas como dividendos. Devido à pesada carga de dívida que hoje oneram as corporações, elas actuam num modo crescer ou morrer. Mais uma vez, o resultado é o deficiente poder de compra que actua negando o já duvidoso efeito gotejamento.
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Estas bolhas menores reflectiram as grandes que estão a estourar quando os prestamistas perdem confiança na capacidade dos prestatários de reembolsar. Estas são a bolha imobiliária, que afecta os consumidores; a bolha da aquisição, que afecta os equity funds; e as bolha da especulação, que afecta os hedge funds.
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A enlamear as águas está o facto de que hoje o Dow Jones médio é muito menos confiável do que no passado como medição da saúde económica. Isto ocorre porque actualmente a grande maioria das transacções financeiras já se verifica dentro do segredo furtivo dos mercados equity, hedge e derivativos. Ninguém sabe realmente o que está em andamento, excepto quando um dia qualquer surge o anúncio de que mais um fundo ou companhia foram liquidados.
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O que parece estar a acontecer agora é que o Federal Reserve, que fiscaliza a economia americana em nome das elites financeiras, corporativas e governamentais, está deliberadamente a tentar retirar tanta dívida quanto possível para fora da economia. Ele está a fazer isto com taxas de juros que são elevadas nas actuais condições, enquanto tenta evitar o cenário do Armagedão.
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Mas "liquidez" é apenas um lindo nome para mais empréstimos. A única coisa de que podemos estar certos é que todo empréstimo tem encargos de juros os quais algum dia, de alguma forma, terão de ser pagos por uma pessoa que trabalha para viver.
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O perigo, que está a ser destacado por muitos comentadores, é que o Fed desencadeie uma hiper-inflação, a qual pode estar a acontecer e pode realmente ser intencional por desvalorizar dívidas. É o que acontece quando dívidas são utilizadas para pagar dívidas e isto é de facto um imposto invisível. Tal inflação é difícil de perceber, maQueda do valor dos imóveis nos EUA.is uma vez por causa das enganosas estatísticas do governo. O mais importante indicador a observar é o preço do petróleo, o qual não é mostrado no índice do chamado "núcleo inflacionário" ("core inflation").
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Enquanto isso, há um debate sobre se agências quase-públicas como Fannie Mae e Freddie Mac deveriam ser utilizadas para disseminar as perdas do mercado habitacional por toda a população contribuinte. Enquanto a sociedade como um todo é tornada mais pobre, muito indivíduos que podem ser perdido as suas casas ou os seus empregos são poupados de algum sofrimento. É difícil argumentar contra isto. Mas este tipo de salvação (bail-out) beneficiaria mais proprietários individuais de casas do que os grandes bancos, de modo que os políticos conservadores e os comentaristas opõem-se a isto.
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O Fed quer ver uma recuperação por essa altura de modo a que o público americano volte a dormir e eleja um outro político que proteja firmemente os privilégios e poderes dos magnatas que, através dele, dominam o mundo. Mesmo que um novo presidente tenha algumas ideias progressistas, ele ou ela não serão capazes de alterar muito se uma recuperação tiver começado.
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Os piores temores dos financeiros é que as coisas fiquem tão más que o povo americano reeleja um reformador em 2008. Até agora a imprensa corporativa tem mantido nas sombras dois dos tais reformadores — Ron Paul e Denni Kucinich. Agora que Hillary Clinton começa a soar mais progressista, ataca-a abertamente uma vez que é um actor demasiado grande para poder ser ignorado. O Washington Post já começou.
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Durante este período vimos vários fenómenos inter-relacionados: 1) taxas de juro muito mais altas do que no período anterior do New Deal e na sua sequência, que durou até a década de 1960; 2) inflação que corroeu 80 por cento do valor do dólar; 3) substituição da nossa economia de produção industrial por uma economia de serviços dominada pela alta finança; 4) guerra quase contínua com um objectivo claro de dominação mundial cujo propósito é escorar o dólar como a divisa de reserva do mundo; 5) dívida pública, privada e imobiliária sempre em aprofundamento; 6) o fosso sempre crescente entre ricos e pobres, com números em crescimento de pobres, sem casa e famintos que são relegados para fora da vida económica do país; 7) uma crise na infraestrutura em desmoronamento do país; e 8) a constante espoliação de mais de 200 milhões de pessoas comuns.
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É um quadro horrível criado por um sistema odioso. Eis porque líderes religiosos durante milhares de anos caracterizaram a usura, e uma cultura regida pela usura, como um crime contra Deus e a humanidade. O domínio monetarista do Federal Reserve é a usura legal e institucionalizada. Ao longo dos anos eles dominaram todas as ferramentas do comércio, cujo objectivo é permitir continuamente que a superestrutura financeira desnate a economia produtiva. Não é como a Mafia costumava trabalhar com a sua protecção e chantagens de empréstimos extorsivos?
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O crédito a baixo custo sob a fiscalização do governo federal foi bloco de construção básico do New Deal. Isto foi feito por pessoas fortes com um ideal de serviço público, embora sob muitos aspectos elas não fossem suficientemente longe e confiassem demasiado na Segunda Guerra Mundial e nos armamentos para alcançar uma economia de pleno emprego. Agora precisamos de um New Deal para o século XXI que corrigisse os viéses do anterior, resolvesse a crise actual e nos transportasse para um futuro que beneficiasse a todos, não apenas uns poucos privilegiados.

18/Agosto/2007

[NT 1] O Federal Reserve cessou de publicar os dados da oferta de moeda M3 do dólar americano em 23 de Março de 2006. Ver http://www.federalreserve.gov/releases/h6/discm3.htm . O M3 é a quantidade de moeda disponível numa economia para a compra de bens e serviços.

[*] Analista federal aposentado. Trabalhou na U.S. Civil Service Commission, na Food and Drug Administration, na Casa Branca sob Carter e na NASA, bem como 21 anos no Departamento do Tesouro dos EUA. Seus artigos sobre reforma monetária, teoria económica e política espacial tem aparecido em Global Research, Economy in Crisis, Dissident Voice, Atlantic Free Press e outras publicações. É autor de Challenger Revealed: An Insider's Account of How the Reagan Administration Caused the Greatest Tragedy of the Space Age Seu sítio web é www.richardccook.com .

O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=6575
Leia na íntegra em http://www.resistir.info/eua/crash_18ago07.htm

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