O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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quarta-feira, 30 de abril de 2008

A inflação alimentar resulta de calotes científicos e políticos

Deu no Vermelho:
por
Fatima Oliveira*
Em meu livro ''Engenharia Genética: o sétimo dia da criação'' (1995), analiso as lições da chamada Revolução Verde - política agrícola elaborada pelos Estados Unidos e exportada para os países pobres e em desenvolvimento na década de 60.
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Constatando que a engenharia genética focava o mundo vegetal alegando ser o caminho para o fim da fome e o paraíso da eterna abundância, escrevi ''Transgênicos: o direito de saber e a liberdade de escolher'' (2001), cujas bases científicas não caducaram. Ao contrário, aprofundaram-se os problemas e surgiram novos. Relembro: transgênico é um animal ou vegetal que teve adicionado ao seu patrimônio genético um ''gene estrangeiro''. Na revisão do ''Engenharia Genética'' (2004), há um novo capítulo: ''Transgênicos: 'varinha de condão' ou 'caixa de Pandora'?''.
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Os resultados práticos dessa ''revolução'' não foram nada animadores; demonstraram que a fome é muito mais uma questão de política do que de produção agrícola.
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Parecia que a trilha dos milagres havia sido encontrada! Os resultados práticos dessa ''revolução'' não foram nada animadores; demonstraram que a fome é muito mais uma questão de política do que de produção agrícola. O destaque à monocultura, tida como moderna diante da diversidade de cultivo, taxada de atrasada; a dependência aos fertilizantes e agrotóxicos; o desprezo do ''saber popular'' e o culto ao ''saber científico'' são marcas do desacerto do Banco Mundial, bem antes de desconsiderar a agricultura como setor estratégico para o desenvolvimento nos últimos 20 anos e da promoção aética da comida frankfood! Outra vez, cadê a moral para dizer que não foram seus calotes científicos e políticos que nos trouxeram à encruzilhada do fantasma da fome?

Artigo publicado em O Tempo
*Fatima Oliveira, Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania eReprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.
Leia na íntegra em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=36887

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O Brasil mudou de lugar

Deu na Agência Carta Maior:
Nas últimas décadas, e a passo acelerado nos últimos anos, “o Brasil mudou de lugar”, ou de plataforma. No cenário político nacional, porém, há um "turvamento" das vistas que se recusa a enxergar isso.
Flávio Aguiar
Um dos problemas mais graves da política brasileira é que há uma espécie de “turvamento” das vistas no que se refere às relações entre as questões nacionais e as internacionais. Acontece que nas últimas décadas, e a passo acelerado nos últimos anos, “o Brasil mudou de lugar”, ou de plataforma.
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Falemos da saúde. Com todas as mazelas, o SUS, como conceito e como realização média, é avançadíssimo, não só em relação aos países pobres, como também em relação a países ricos e mais organizados do que o Brasil. A situação da saúde pública nos Estados Unidos, por exemplo, para os mais pobres, é calamitosa. Para os remediados, é desorganizada e caríssima.
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Os “menos” iguais hoje são menos desiguais do que antes; e os “mais” iguais hoje se sentem “menos mais iguais”. Podem puxar as estatísticas de plantão, mas o clima cultural que essa afluência nova dentro da sociedade brasileira sugere é conspícuo. Pode até ser que, num segundo momento, consolidada a afluência desses 20 milhões a um patamar mais amplo de consumo, uma parte deles se volte para políticas conservadoras que fechem os caminhos para os que ainda não saíram da vala comum da miséria. Mas isso é apenas uma possibilidade. Até porque duvido que alguém, nas oposições, tanto à esquerda quanto à direita, esteja pensando nisso como preocupação. A preocupação maior é ainda a de negar que isso tenha acontecido, ou de negar a sua pertinência ou ainda sua importância.
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A China é a nova potência mundial, sem dúvida, mas a custo de uma exploração do trabalho de fazer corar um capitão de indústria do século XIX. Na América Latina e no Brasil está acontecendo o contrário: a exploração, sem desaparecer, “por supuesto”, recua, e os pobres tornaram-se, pelo menos de momento, afluentes política, econômica e culturalmente.
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Por tudo isso pode-se imaginar o desastre de proporções continentais que será a volta da coligação PSDB – DEM, aliás, PFL, ao Palácio do Planalto em 2010. Esse lado da nossa oposição perdeu completamente sua inserção internacional, ou, se a tem, é com o que há de pior, como quando, ao realizar sua convenção, o finado (ou transgenicamente transformado?) PFL teve Aznar como convidado de destaque (quem sabe da próxima vez vem Berlusconi?). Pautado por comentaristas da nossa grande imprensa, cuja visão, além de reacionária, é de todo anacrônica, esse lado da oposição simplesmente não consegue mais “ver” o mundo, tanto quanto aqueles jornalistas também não o “vêem”. Falam de um mundo da carochinha, um “primeiro mundo” que não existe mais. Falam de um mundo de “países sérios”, onde, é óbvio, o Brasil não entra, sem se darem conta de que estão cuspindo para cima. Defendem um ideário, baseado ainda no Consenso de Washington, que tentam dourar com pílulas sociais recém descobertas, cujo invólucro feito às pressas não consegue disfarçar as receitas fanadas que defendiam há poucos anos nem o amargo desprezo que sentem por que o povão, parece, não os escuta.

A oposição à esquerda também não consegue mais “ver” o Brasil nesse “novo mundo”, em que tudo, até o futuro, está em rediscussão. No plano ideológico aferra-se a um universo doutrinário do passado, que perdeu o pé diante dos fracassos dos países ex-comunistas e também diante dos fracassos das recentes receitas neo-liberais. Na prática, tornam-se caudatárias das proposições moralistas, ex-udenistas, de uma direita que não tem moral para falar mal de ninguém.
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Mas como sabemos, é mais fácil um rico entrar no céu do que mudar a visão de mundo de alguém, a menos que esse alguém esteja disposto a aprender, ou que passe por grandes hecatombes. Mas não percamos a esperança: o Brasil hoje é uma catástrofe positiva, em meio à contínua hecatombe do esboroamento de um sistema econômico e político mundial que não consegue mais ter controle sobre as contínuas crises que provoca. Esse sistema não vai mudar tão cedo nem de uma hora para outra, mas pelas fendas que deixa aparecer vislumbra-se, quem sabe, um outro mundo possível. Uma dessas fendas é o Brasil, com a América Latina.
Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3876

domingo, 27 de abril de 2008

Instituto Cultiva: Análise de Conjuntura janeiro-abril 2008

Deu no Instituto Cultiva:
1. A Crise dos EUA e a Era Lula

O ano começou com prenúncio de crise mundial. Na manchete do jornal Folha de S.Paulo aparece, em letras garrafais: “Cresce nos EUA temor de crise econômica em 2008”. Pesquisa Gallup informava que 70% dos norte-americanos avaliavam que já viviam em cenário recessivo. Os “detonadores” da crise seriam a crise habitacional, os custos de saúde e energia. A crise dos EUA foi tomando corpo ao longo do trimestre. Mas afetou pouco a economia dos BRICs (os quatro grandes emergentes: Brasil, Rússia, Índia e China).
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2. Uma crise que ainda não se globalizou

As incertezas do cenário internacional intensificaram, na primeira quinzena de janeiro, a venda de ações em países emergentes. Neste período, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou saldo negativo de 1,88 bilhão de reais.

Logo na segunda quinzena do primeiro mês do ano, o Presidente George Bush anunciou um pacote de medidas para conter a crise no curto prazo. O primeiro passo, anunciado em 18 de janeiro, foi a redução temporária de impostos no valor de 150 bilhões de dólares e incentivos fiscais às empresas. Em 23 de janeiro, o banco central dos EUA (FED ou Federal Reserve), em reunião extraordinária, reduziu a taxa básica em 0,75%. No Brasil, Delfim Netto avaliou que havia certo terrorismo no ar, já que as expectativas inflacionárias estariam bem “ancoradas”. Posição inversa a de Armínio Fraga, para quem a recessão atingirá o Brasil.
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Leia na íntegra em http://www.cultiva.org.br/mostradestp.php?id=1066

O retrato de um poder sem limites

Deu no Observatório da Imprensa:
Por Venício A. de Lima
em 22/4/2008
Até mesmo aqueles que conhecem a história da radiodifusão privada e sabem que na sua regulação – apesar de ser um serviço público concedido pelo Estado – sempre tem prevalecido o interesse dos radiodifusores, não deixaram de se surpreender.

O Congresso Nacional aprovou, na noite da sexta feira (11/4), projeto de lei que reduz de quatro para três os fusos horários no país e altera os efeitos da portaria da Classificação Indicativa no Acre e demais estados do Norte.

Como no Brasil os grandes grupos de comunicações são multimídia, isto é, abarcam empresas de radiodifusão (rádio e televisão), jornais e revistas, o lobby do setor se torna aqui mais robusto do que em outros países. E a cada nova vitória, naturalmente, esse lobby aumenta seu cacife para fazer pressão tanto junto ao Executivo quanto ao Legislativo.

Um pouco de história

O exemplo mais conhecido do poder dos radiodifusores talvez seja a derrubada, pelo Congresso Nacional, de todos os 52 vetos que o então presidente João Goulart impôs ao projeto de lei que viria a se transformar no CBT – Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4.117/1962). A ampla articulação de empresários de radiodifusão e parlamentares que permitiu tamanha façanha foi liderada pelo então diretor-geral dos Diários e Emissoras Associados, João Calmon (já falecido), e dela resultou a criação da Abert – Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, da qual ele se tornou o primeiro presidente.

Decorridos mais de 45 anos, o CBT (excluída a regulação da Lei Geral de Telecomunicações – Lei 9.472/1997) continua sendo a norma básica que rege a radiodifusão no Brasil e alguns dos seus vetos derrubados e omissões tornam a radiodifusão brasileira singular em todo o mundo: a duração das concessões de 15 anos para emissoras de TV e 10 anos para emissoras de rádio; a renovação automática das concessões e a ausência de qualquer norma que proíba a propriedade cruzada dos meios de comunicação.

Desde a promulgação do CBT em 1962, no entanto, são inúmeras as ocasiões em que o poder dos radiodifusores prevaleceu.

Na Constituinte de 1987-88, por exemplo, a "bancada da comunicação" conseguiu incluir normas que diferenciam a radiodifusão de outras concessões de serviço público: as concessões e suas renovações têm que ser aprovadas pelo Congresso Nacional, onde os grupos de mídia têm expressiva representação; o cancelamento das concessões só pode ser feito por decisão judicial e a não-renovação exige votação nominal de, no mínimo, dois quintos dos deputados e senadores. O Conselho de Comunicação Social, que deveria ser um órgão regulador, tendo como referência a Comissão Federal de Comunicações americana (FCC), se transformou num mero auxiliar do Congresso Nacional que, aliás, há quase dois anos sequer se reúne.

Por outro lado, nunca lograram ser regulamentados – e, portanto, não são cumpridos – os dispositivos da Constituição de 1988 que rezam não poder os meios de comunicação, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio; e que determinam a regionalização da produção cultural, artística e jornalística, a promoção da produção independente e a complementaridade entre os sistemas privado, público e estatal.

A lista das "vitórias" dos radiodifusores é longa. Lembro outras: a implantação das TVs pagas via satélite (DTH) e MMDS antes da existência de qualquer regulação; a norma restritiva e excludente das rádios comunitárias (Lei 9.612/1998); a interrupção do processo de transformação da Ancine em Ancinav; a escolha do padrão japonês para a TV digital que frustrou o potencial de democratização das concessões; na Lei 11.652/2008, que criou a Empresa Brasileira de Comunicação, o veto do presidente da República ao artigo que obrigava as emissoras de TV comerciais a entregar à TV pública os sinais de jogos de seleções nacionais contratados com exclusividade e não transmitidos em seus canais; e as recentes modificações do relator no substitutivo do PL 29/2007 em tramitação na Câmara dos Deputados, em relação às cotas de programação do conteúdo nacional na TV paga.

É ainda o interesse dos radiodifusores que tem impedido a materialização de um projeto de Lei Geral da Comunicação Eletrônica de Massa para regular o setor de forma integrada e coerente, contemplando a revolução digital e a conseqüente convergência tecnológica entre telecomunicações, comunicação de massa e informática.

A mudança nos fusos horários

Não creio, todavia, que o poder dos radiodifusores jamais tenha se manifestado de forma mais contundente e acintosa do que na recente aprovação do projeto do senador Tião Viana (PT-AC), apenas quatro dias após a entrada em vigor da Portaria 1.220/07 determinando que as emissoras de TV adaptem suas transmissões aos diferentes fusos horários do país em função da Classificação Indicativa. Note-se que, por pressão dos radiodifusores, houve cinco adiamentos da data para a entrada em vigor da portaria no período de 9 meses.

Quando se convenceram que não seria mais possível alterar a própria portaria, os radiodifusores passaram a trabalhar pela aprovação do projeto que muda os fusos horários.

O projeto de lei, apresentado em 2006, foi aprovado no Senado no início de 2007 e encaminhado à Câmara dos Deputados. Durante a tramitação na Câmara houve forte pressão da Abert, expressa pela deputada Rebecca Garcia (PP-AM), vinculada à TV Rio Negro Ltda. (afiliada da Rede Bandeirantes), que defendia a existência de um único fuso horário em todo o país. Foi da deputada Elcione Barbalho (PMDB-PA) – esposa do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), ambos vinculados à Rede Brasil Amazônia de Televisão Ltda. (RBA, afiliada da Rede Bandeirantes) – a alteração determinando que o estado do Pará tenha somente um fuso horário (hoje tem dois). Com essa modificação o projeto voltou para o Senado, onde foi novamente aprovado.

A jornalista Laura Mattos, em matéria publicada na Folha de S.Paulo ("Lobby das TVs está por trás da mudança", , 15/4) relata que "o lobby [das emissoras de TV] era tão claro que, na segunda passada [7/4], quando a obrigatoriedade de respeito aos fusos entrou em vigor, a Record, questionada pela Folha sobre quais alterações faria, disse aguardar `a tramitação do projeto de lei que iguala o fuso horário do Acre ao do Amazonas´".

Vale ainda registrar que um dos argumentos que têm sido usado pelos defensores da mudança do fuso horário no Congresso – e, de forma velada, pelos próprios radiodifusores – é que a Portaria 1.220/07 impediria a população do Norte de assistir ao vivo os jogos de futebol realizados no Sul do país. Obviamente esse argumento é falso porque a classificação indicativa do futebol é livre e não impede, portanto, sua transmissão ao vivo.

Interesse privado vs. interesse público

O projeto de lei que altera os fusos horários ainda terá que ser sancionado pelo presidente da República, o que o líder do governo no Senado garante acontecerá nos próximos dias.

Será que o interesse dos radiodifusores privados sempre coincide com o interesse público e, portanto, não há qualquer problema que prevaleça?

Será que é assim mesmo que funciona nas democracias: os grupos que reúnem mais força política devem sempre decidir o rumo das políticas públicas?

Ou será que a anedota "no Brasil, a televisão não é uma concessão do Estado, o Estado que é uma concessão da televisão" tem um fundo de verdade?

Ou será que o interesse público, mais uma vez, deixará de ser atendido para que prevaleçam os interesses privados dos radiodifusores, concessionários do serviço público de rádio e televisão?
Extraído de http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=482IPB001
Artigo sob a Licença Cerative Commons: http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br/

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Novas tecnologias: uma porta para a democratização dos meios de comunicação

Deu no Instituto Humanitas Unisinos:
Entrevista especial com Guillermo Mastrini
Pensar a relação da governabilidade com a comunicação na América Latina é sempre um desafio. Ainda mais quando sabemos que o acesso às novas tecnologias ainda é restrito, que a corrupção nos governos cresce muitas vezes com a ajuda dos meios de comunicação e que a participação da população nesses é ainda muito precária, para não dizer nula. Para debater algumas questões acerca dessa relação, a IHU On-Line conversou por telefone com o pesquisador argentino Guillermo Mastrini.

Mastrini fala sobre o papel dos meios de comunicação na América Latina e da “conivente” relação com os governos e políticas, além de destacar a importância do acesso às novas tecnologias por todos os cidadãos e da necessidade da criação de políticas públicas de acesso a essas tecnologias. “O custo de produção das tecnologias digitais é muito mais baixo do que nas tecnologias analógicas. Isto abre uma porta”, disse.

Guillermo Mastrini é licenciado em Ciências da Comunicação, pela Universidade de Buenos Aires (UBA), e doutor em Comunicação, pela Universidade Complutense de Madrid. É professor na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires (UBA).

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como o senhor analisa o papel dos meios de comunicação latino-americanos na vigilância dos atos dos governos e dos partidos políticos?

Guillermo Mastrini – A história da América Latina em relação à vigilância dos partidos políticos e dos meios é muito diferente. O grande problema aqui é que os meios de comunicação mais importantes têm fortes vínculos com os governos políticos. A função de vigilantes que os meios de comunicação estadunidenses possuem é muito relativa aqui na América Latina. Basta lembrar-se dos notórios casos de corrupção e de controle que tiveram a participação da imprensa e dos meios de comunicação. Eu diria que não se pode comparar a lógica estadunidense ou européia com a lógica latino-america, pois esta última compreende os vínculos estreitos entre os meios de comunicação e os governos e políticos. Há, geralmente, uma conivência entre essas partes, algo como um pacto não escrito, em que, em geral, os governos permitem que os meios de comunicação realizem importantes negócios econômicos e, em troca, eles não se envolvam na organização política e nas negociações econômicas dos governos.
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IHU On-Line – Que tipo de políticas públicas devem ser criadas para a utilização das TIC’s (tecnologias de informação e comunicação), para a obrigatoriedade da prestação de informações de interesse público? Essas políticas públicas deveriam ser unificadas ou trabalhadas país a país?

Guillermo Mastrini – Eu acredito que um dos déficits na América Latina seja a falta de serviços públicos fortes. Por isso, acredito que precisamos desenvolver, e jamais descartar, uma política pública para as novas tecnologias da informação. Creio que seria muito proveitosa para as políticas públicas a utilização das novas tecnologias da informação, e vice-versa. Eles podem ser utilizados para que os governos se aproximem da população e não implicam em um investimento tão alto quanto poderia ser o investimento feito para a criação e manutenção de um canal de televisão público. Obviamente que não é apenas para isso que as novas tecnologias e essa relação servem. Uma política de serviço de público não é suficiente se não for complementada com políticas muito forte no setor privado em relação à informação cultural. Precisamos, aqui na América Latina, de política de acesso, no sentido de estimular o acesso da sociedade às novas tecnologias da informação, isso sem falar de políticas públicas de alfabetização – tanto no sentido literal, ou seja, de aprender a ler, quanto no sentido de compreender o que são essas novas tecnologias da informação e o que implicam seus discursos e saber. Creio, também, que deve haver políticas públicas de descentralização, à medida que um dos problemas graves na América Latina é que o consumo se materializou em tecnologias, daí ser importante uma distribuição equilibrada em nossos países.
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IHU On-Line – Quais são as possibilidades e limites dos Conselhos de Comunicação Social?

Guillermo Mastrini – Creio que a criação dos Conselhos de Comunicação Social seja uma questão que seria muito interessante, no sentido de estimular a participação da cidadania em relação aos meios de comunicação. A história nos mostra que até agora seria impossível implementar isso, o que pode ocorrer ainda no futuro. Tanto acadêmicos quanto militantes políticos e movimentos sociais têm fracassado em relação à implementação disso. Isso porque, como falei no início da entrevista, os grandes meios possuem uma conivência com os governos e políticos e historicamente têm conseguido frear qualquer iniciativa que implicaria numa maior participação da população nos meios de comunicação. Mas precisamos ter consciência de que os Conselhos de Comunicação Social poderão contribuir enormemente para a democratização dos meios de comunicação.

IHU On-Line – Os meios de comunicação na América Latina, em especial o Brasil, estão nas mãos de poucas e poderosas pessoas. O senhor vê alguma forma de democratizar esse formato existente hoje?

Guillermo Mastrini – Percebo que há duas instâncias: uma delas tem a ver com a estrutura legal e política econômica, que irá ajudar a criar recursos em setores minoritários, como a comunicação comunitária e aproveitar todos os resquícios dos grandes meios. A outra teria, evidentemente, relação com o uso das novas tecnologias, a partir de uma produção mais democrática do que a proporcionada pelas tecnologias analógicas. O custo de produção das tecnologias digitais é muito mais baixo do que nas tecnologias analógicas, abrindo uma porta. Precisamos mudar a lógica também do consumo digital, pois sabemos que o consumo está concentrado em muito poucos sites, mas a internet é uma instância em que se pode colocar muitos projetos, processos e informações que, evidentemente, teriam uma dificuldade enorme para transitar nas tecnologias tradicionais no mundo analógico.
Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=13452

A herança racista e oligarca da elite de Santa Cruz

Deu no Brasil de Fato:
Para autores do livro “Los Barones del Oriente. El Poder en Santa Cruz Ayer y Hoy”, elite crucenha mantém seu poder através de uma lógica econômica anti-nacional e baseada no latifúndio e em um capitalismo colonial, que tolera o trabalho servil
24/04/2008
Igor Ojeda
Correspondente do Brasil de Fato em La Paz (Bolívia)
Dois acontecimentos esclarecedores vêm agitando a Bolívia nos últimos dias. Pois dão conta de descrever, como poucos analistas, o perfil da oligarquia do oriente boliviano. Um deles ocorre no chaco boliviano, em Alto Parapetí, no departamento de Santa Cruz. Desde o dia 4 de abril, grupos de criadores de gado impedem, à força, o início das vistorias, pelo governo, de 157 mil hectares de terras da região. O objetivo é verificar se as propriedades rurais cumprem a função econômica e social; no caso negativo, deverão ser distribuídas para camponeses guaranis. Nas fazendas da área, de acordo com o governo, a ONU e entidades de direitos humanos, entre outros, pelo menos mil famílias de guaranis são submetidas a regime de servidão. O outro acontecimento teve início em 19 de março, quando o governo do presidente Evo Morales emitiu um decreto proibindo provisoriamente a exportação de óleo de cozinha, com a finalidade de garantir o fornecimento à demanda interna e baixar o preço do produto. Os produtores do oriente, desde então, protestam veementemente, enquanto o Executivo lembra que a soja, matéria-prima do óleo de cozinha, recebe vultosos subsídios do Estado. Lógica econômica extrativista, anti-nacional e baseada na propriedade privada da terra, total subordinação ao mercado internacional, e a prática de um capitalismo colonial, onde a servidão nos latifúndios é permitida e tolerada. As características da elite de Santa Cruz saem à tona em exemplos concretos como os dois mencionados acima. As tensões na Bolívia se agravam com a aproximação da data da realização do referendo autonômico promovido pelas autoridades e o comitê cívico do departamento. A consulta, marcada para 4 de maio e considerada ilegal pelo governo e rechaçada pelos movimentos sociais, tratará da aprovação ou não do estatuto autonômico crucenho (de Santa Cruz), que propõe o controle departamental sobre, por exemplo, a terra e os recursos naturais. Tais fatos conjunturais encontraram uma sólida análise teórica com o lançamento do livro “Los Barones del Oriente. El Poder en Santa Cruz Ayer y Hoy” (Os Barões do Oriente. O Poder em Santa Cruz Ontem e Hoje), dos sociólogos Ximena Soruco Sologuren e Wilfredo Plata e do economista agrário Gustavo Medeiros (Faça o download aqui do livro lançado no dia 8 ) . Os autores partem do estudo da constituição histórica da oligarquia crucenha (de Santa Cruz) para analisar suas características atuais. A conclusão é curiosa: nada mudou. O perfil político, econômico e social dessa elite continua o mesmo de 130 anos atrás. A diferença é que, se antes o grande produto de exportação era a borracha, hoje é a soja. “Seu modelo econômico é o extrativo do século 19. E o racismo contra a população indígena é da mesma época. Que, se não for para exterminá-la, deve-se assimilá-la como mão-de-obra”, afirma Ximena, que, junto com Wilfredo, concedeu a entrevista abaixo para o Brasil de Fato.

Brasil de Fato – Por que o termo “barões do oriente”?

Ximena Soruco –
É um termo que procura mostrar que a lógica de constituição desse grupo assentado em Santa Cruz é igual a dos barões do estanho. É de significado muito nacional. É um termo que a revolução de 1952 usa para questionar essa oligarquia mineradora que controlou o país por pelo menos 50 anos. Nossa hipótese é a de que os barões do oriente surgem na mesma época e com as mesmas características, mas, diferentemente aos do estanho, não são questionados pela revolução. Se no ocidente vem a reforma agrária que acaba com as haciendas [propriedade rural, comum na época colonial, cujo proprietário explorava as diversas formas de trabalho subordinado], no oriente, o processo se inverte: estas são constituídas a partir de 1952. Hoje, funcionam a hacienda e a empresa agrícola capitalista, e o latifúndio se complementa à hacienda. O modelo da soja, que é compartilhado com o Brasil, a expansão da fronteira agrícola, precisam do latifúndio para viver, precisa quem lhe dê terra. Não podemos pensar no latifúndio como um vício do passado, feudal. É produto dessa modernidade, desse capitalismo dependente.

Wilfredo Plata – A semelhança está no fato de que ambos os grupos surgem na mesma época, fim do século 19. Na mesma época em que se começa a explorar estanho no ocidente, tem início a produção da borracha no nordeste boliviano. Ambos estão ligados ao mercado internacional. O boom da borracha dura 30 anos, enquanto a mineração dura por quase todo o século 20.

Ximena – O boom da borracha se dá na Amazônia peruana, boliviana e brasileira. É época também da imigração européia, de imigrantes pobres, sobretudo para a Argentina, Uruguai... mas muitos se assentam também na Bolívia, chegando desde a Amazônia brasileira e peruana. E a saída principal da borracha era Belém do Pará. E de fato, a guerra do Acre, entre Brasil e Bolívia, se dá pela borracha, e o Tratado de Petrópolis diz que, em troca de sua assinatura, se construiria uma ferrovia Madeira-Mamoré, para tirar a borracha. É o mesmo que aconteceu com o Pacífico para tirar o estanho.

Wilfredo – Ou seja, podemos dizer que ambas as regiões exportam matéria-prima, para ser convertida em produto de valor agregado na Europa.
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Brasil de Fato – Então, com os agrocombustíveis, a oligarquia de Santa Cruz só tende a ganhar mais força.

Wilfredo – Nós fizemos uma investigação e a conclusão nos diz que essa burguesia nacional, que foi criada pelo Estado nacional, tem uma visão local, regional. Está olhando o exterior, mas localmente. Não olha para o ocidente. É uma visão anti-nacional. Em outras palavras, se apropriam da região mais rica da Bolívia, em termos de recursos naturais.

Ximena – E sua lógica econômica condiciona sua lógica política. Não podem produzir um projeto político nacional. Esse é o limite. O que pode levar a um processo de separação política e administrativa da Bolívia. E a um suicídio coletivo.
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Brasil de Fato – E como se inserem, nesse contexto, os acontecimentos recentes no chaco boliviano, em Alto Parapetí?

Wilfredo –
Tem relação direta, tem a ver com a terra. E aí, existe um tema de longa data, o da servidão dos povos guaranis. Há uma espécie de manto que cobre isso, mas isso está demonstrado, há trabalhos a respeito. O que acontece é que existe essa relação de servidão, de famílias que estão cativas, que não recebem salários, que não tem horários estabelecidos.

Ximena – E aí que se mostra que é uma lógica econômica. Assim como vivem juntas a empresa agrícola e o latifúndio, podem conviver o salário ao camponês com a servidão. É uma lógica que nos mostra porque hoje as instituições crucenhas, como os comitês cívicos e o governo departamental, defendem os proprietários de terra de Alto Parapetí e do resto do chaco boliviano. Não é um capitalismo pleno, é um capitalismo colonial. Que pode usar escravidão, servidão e salário. Não há contradição nisso, porque não lhes interessa chegar a um capitalismo pleno, como queria a burguesia nacional em 1952, e sim extrair matéria-prima, excedente e lucro da melhor maneira possível. Como não existia um Estado forte, que defendesse os interesses de seus trabalhadores, no século XXI, ainda se mantém a servidão na Bolívia. E a elite crucenha defende esse modelo.
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Brasil de Fato – Então se pode dizer que esta elite é a mesma de 130 anos atrás.

Ximena – A lógica é a mesma. Não é um problema de família. Há famílias que entram e que saem. As que empobrecem e as que enriquecem. Há, claro, sobrenomes que continuam, mas o que conta é a lógica. Seu modelo econômico é o extrativo do século 19. E o racismo contra a população indígena é da mesma época. Que, se não for para exterminá-la, deve-se assimilá-la como mão-de-obra.

Wilfredo –
Além disso, é uma elite voltada para si mesmo, porque se concebe nos EUA, na Europa, uma elite branca, de língua espanhola, que no fundo despreza o indígena, a língua indígena. Especialmente, nos últimos tempos, eles até criaram sua própria etnia, a “nação camba” [os originários do oriente são chamados de camba]. Criaram um espaço geográfico, a meia-lua, e viram no seu horizonte como adversário o outro, o imigrante indígena colla [como são chamados os indígenas do ocidente], aymara e quéchua, basicamente. Eles são os inimigos, os que querem disputar seu espaço geográfico, seus recursos econômicos, e que, portanto, devem ser combatidos. Essa é a autonomia. A resposta política ao levantamento colla. E, para isso, criaram uma etnia sui generis.

Ximena – E isso é útil porque encobre as desigualdades no interior da região. Falar de um adversário político que se torna inimigo. O discurso regional, oriente contra ocidente, cambas contra collas, encobre a luta pelo excedente, pelas riquezas naturais, e quem se apropria desses recursos. É um discurso de moda, fácil, que encobre processos econômicos mais profundos e de mais longa duração.
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Brasil de Fato – O livro diz também que, para a manutenção da elite crucenha, o Estado boliviano deve cumprir seu papel de garantidor da propriedade privada da terra, de incentivador do modelo agroexportador e de repressor das revoltas populares. Então, quando esses “barões do oriente” se rebelam contra o governo Evo Morales, e impulsionam, por exemplo, o processo autonômico, isso quer dizer que eles temem que o governo busque fazer com que o Estado boliviano não cumpra mais esse papel?

Ximena – Sim, porque desde 1952 até 2005, é a primeira vem que existe um Estado que não responde a seus interesses. Daí o medo. Porque, por não ser um processo plenamente capitalista, se necessita do Estado. A soja é exportada à CAN [Comunidade Andina de Nações], à Colômbia. Precisa de acordos internacionais, precisa de um respaldo. Esse modelo precisa de um Estado. O problema é, o que acontece se o governo de Evo Morales não lhes dá um espaço nesse Estado? Será que as coisas apontam para a criação de um Estado independente? A lógica mostra que sim. Se essa elite não conseguir que seus interesses sejam atendidos no Estado nacional boliviano, é possível que aposte na construção de um separado. Esperamos que não. A pergunta seria: como fazer essa elite se voltar para o mercado interno? Não é uma briga contra a exportação. Mas é que primeiro se deve pôr os interesses nacionais, e depois o mercado internacional. Mas isso não será uma coisa voluntária de uma elite. E sim produto dos movimentos sociais, que, no interior da região, podem questionar isso.

Wilfredo –
Na história, a elite cruceña sempre teve cunho separatista. Isso sempre esteve latente. Desde a fundação de Santa Cruz, no século 16. Eles têm uma origem distinta do Alto Peru, porque vêm de La Plata. Então, o separatismo fomentado por grupos radicais está presente na história. E isso vem sendo usado para se negociar com o Estado. Ou seja, em momentos de conflito como o atual, sempre se abre a possibilidade do separatismo, “finalmente poderemos ser livres”, “ser independentes”.

Ximena – O problema é que eles não fazem sequer um bom cálculo econômico. Hoje, eles se vinculam com Brasil, Argentina e Peru, e não La Paz. A pergunta econômica é: a saída para o Pacífico, a China, Índia, é pelo Chile, e passa pelo ocidente boliviano. Então, até que ponto é viável um Estado que não tenha uma saída garantida ao Pacífico? Eu acredito que não seja. Não é suficiente a saída ao Atlântico. Então, a ação de Santa Cruz pode ser mais uma negociação para obter um espaço de representação dentro do Estado via um Estado federal, autônomo, mas quase independente, porque o estatuto questiona o aspecto fiscal, o controle de terras, âmbitos chaves que sempre foram manejados pelo Estado central.

Wilfredo – O estatuto tem um epicentro. É a terra. A terra e os recursos naturais. Eles querem ter sua própria lei departamental. Que o governador assine os títulos, distribua as terras... aí não tem reforma agrária. Simplesmente é validar o que está. Nada a ver com o Estado boliviano. Ou seja, se eles propuserem isso, não teremos mais um Estado unitário, boliviano.
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Brasil de Fato – No livro é dito também que, diferentemente dos barões do estanho, os do oriente não se apropriaram do Estado boliviano. Mas, mantêm uma influência muito grande sobre ele, não é mesmo? Como era essa relação da elite do oriente com o poder central?

Ximena –
A diferença é que uma burguesia clássica se constrói a partir de um processo econômico e toma o Estado, como na Revolução Francesa. Nos casos dos barões do estanho, é semelhante. Essa burguesia surge com o boom do estanho, processo de acumulação originária, e, na Revolução Federal de 1899, tomam o Estado. Chegam a mudar a sede de governo de Sucre a La Paz. Já a burguesia do oriente tem como momento dourado 1952, com as dotações de terras pelo governo e a agroindústria. Mas não tomam o Estado. É este, produto de um movimento social da Revolução, que investe capital para fortalecer essa burguesia constituída no oriente. Um Estado minerador constrói uma burguesia agroindustrial. Esta participa no Estado, mas não é ele. E tampouco têm a capacidade de se apropriarem dele. Não existe uma liderança ou um projeto político nacionais. Mas o controle sobre a região lhes permite negociar com o Estado. Brigam desde os anos 1950, quando surgiu o comitê cívico. Desde então, há uma acumulação de demandas. Para eles, a culpa por todos os problemas de Santa Cruz é do Estado central.

Wilfredo – Mas podemos enunciar algumas hipóteses. Por que não possuem uma visão nacional? Pode ser devido ao repúdio ao indígena. O rechaço ao indígena, ao outro, que deve ser excluído. Os limites geográficos do que seria a nação camba exclui toda a região andina. Onde estão os índios. O resto dos indígenas pode ser cooptável, assimilável.

Ximena – Os barões do estanho conseguem um projeto político nacional porque, até 1952, os indígenas estavam excluídos das votações. Não eram atores políticos, só mão-de-obra. Pongos [como eram chamados os indígenas que trabalhavam em regime de servidão]. Hoje, ao contrário, para se criar um projeto nacional, esta elite teria que reconhecer a cidadania da população indígena majoritária, e não estão dispostos a isso.

Brasil de Fato – E como se deu o processo de transformação da direita boliviana de um caráter político-partidário a um regional?

Ximena –
Esta elite se afinca no tema cívico, porque está incrustado na região. Por isso que os processos regionais na Bolívia estão hoje mais vinculados a comitês cívicos do que a partidos políticos. Porque a característica de um partido político é ter que lutar num terreno público nacional, e o comitê cívico não. Além disso, os comitês são estruturas não democráticas. E não se submetem ao voto. Se elegem entre eles e ficam ali.

Wilfredo – São clãs. A pele, o apelido, a família. São estruturas corporativas, por interesse, não têm um caráter classista, que defendam ideais, uma visão de país. São corporações, fundamentalmente econômicas.

Ximena – Outro aspecto é que, durante as ditaduras na Bolívia, sobretudo a de Banzer [Hugo Banzer, ditador entre 1971 e 1978 e presidente constitucional de 1997 a 2001], a única organização da sociedade civil que podia agir eram os comitês cívicos. Nem partidos, nem sindicatos, nenhuma outra instituição. Os anos 1970 conformam um momento de fortalecimento dos comitês cívicos. E nos anos 1980 podem planejar todo um projeto cultural, identitário.

Wilfredo – A política hoje na Bolívia se etnizou, foi posta em territórios. De um lado, os indígenas, de outro, o resto, as elites. Se partiu em dois. O tema indígena se levou ao extremo no ocidente, se etnizou aqui. E no oriente também, com o tema das autonomias. A região, o crucenho. Não há um discurso de esquerda etc. A Bolívia está partida por territórios étnicos.
Leia na íntegra em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/entrevistas/a-heranca-racista-e-oligarca-da-elite-de-santa-cruz

O preço do aumento dos juros

Deu na CTB:
Por
Paulo Nogueira Batista Jr*
Peço ao leitor licença para voltar ao tema dos juros e publicar hoje um artigo um pouco mais técnico. Há uma razão para mudar o registro. É que os defensores dos juros altos costumam se refugiar no argumento de que é deles o monopólio do saber técnico. Os críticos da política monetária seriam economistas desencaminhados ou pessoas politicamente motivadas -"populistas", em suma, que não conhecem a importância do combate à inflação e o papel dos juros.
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Ao desacelerar a demanda interna, o aumento dos juros reduz a pressão sobre os preços dos "non-tradeables", isto é, dos bens e serviços que são determinados domesticamente pela interação entre oferta e demanda. Ao provocar apreciação cambial, juros mais altos diminuem os preços dos "tradeables", isto é, dos bens e serviços importados ou exportáveis, cujos preços em reais refletem essencialmente os preços internacionais e a taxa de câmbio.
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Em outras palavras, juros mais elevados costumam cobrar o seu preço em termos de crescimento da economia e desemprego. Normalmente, o efeito antiinflacionário se faz sentir quando ocorre a redução da demanda interna, deprimindo as vendas e a produção. Ou seja: as quantidades se ajustam antes dos preços. Enquanto isso, o efeito antiinflacionário da apreciação cambial induzida pelos juros mais altos se traduz em perda de competitividade dos setores que exportam e dos que competem com importações no mercado interno. O produto e o emprego acabam prejudicados pela contração da demanda, pela perda de dinamismo das exportações e pela substituição de produção doméstica por importações.
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Concentram a renda, pois beneficiam a minoria de privilegiados (brasileiros e estrangeiros) que são credores diretos e indiretos do governo. E, como se isso tudo não bastasse, contribuem para agravar a valorização do real, ameaçando recriar o problema da vulnerabilidade externa no médio prazo.
*Economista e diretor-executivo do FMI Fonte: jornal Folha de S. Paulo, edição do dia 24 de abril de 2008 Leia na íntegra em http://portalctb.org.br/site/index.php?option=com_content&Itemid=&task=view&id=166

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Bloqueios do crescimento

Deu no Vermelho:
por
Luciano Siqueira*
O Banco Central, conluiado com o sistema financeiro privado e com amplo apoio da mídia conservadora, fomenta o ambiente para o bloqueio do crescimento da economia. E avança: fez com que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentasse a taxa de juro básica (Selic) em 0,5 ponto – de 11,25% para 11,75% –, e agora comemora cortes substanciais no Orçamento da União.

Segundo o Decreto nº 6.439, publicado ontem no Diário Oficial da União, estão contingenciados R$ 19,2 bilhões no Poder Executivo, com destaque para o Ministério das Cidades, que terá o maior corte nominal no orçamento do Executivo neste ano: R$ 2,720 bilhões – prejudicando programas de ciclovias, de habitações de interesse social e de infra-estrutura. Péssimo para nossas cidades, tão carentes de recursos para investimentos em intervenções físicas em favor da melhoria da qualidade de vida dos seus habitantes.
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O pretexto é falacioso: pressão inflacionária. Entretanto, a rigor não se pode afirmar que o país esteja ameaçado pela inflação. Há, sim, uma expansão expressiva do consumo impulsionado pelos aumentos reais do salário-mínimo e da massa salarial, e pela ampliação do crédito. Porém nada que a base produtiva em incremento não suporte.
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E os banqueiros, como ficam? Segundo informa o Valor Econômico, nem esperaram o anúncio do aumento da Selic, na semana passada, para elevar os juros. Novas tabelas das taxas para financiamento de veículos chegaram às revendas de automóveis um dia antes. Enquanto o crédito para empresas também ficou mais caro, com elevação média de 0,12 ponto percentual na taxa efetiva do capital de giro e desconto de duplicatas.

Enquanto isso, no noticiário dominante pontificam o denuncismo irresponsável e a seqüência de factóides fabricados pela oposição, como se o Brasil real fosse movido a dossiês e a cartões corporativos.
*Luciano Siqueira, Médico
Leia na íntegra em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=36522

Carter no Oriente Médio

Deu no Vermelho:
por
Lejeune Mirhan*
Um dos fatos mais importantes na política do Oriente Médio, ocorrido na semana passada, foi um giro que o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter fez no Oriente Médio, na semana passada. Passou pela Palestina e por Damasco, capital da Síria, que ainda é considerada como um país, pelo governo Bush, que apóia o terrorismo. Irritou profundamente o atual presidente estadunidense. Não poderíamos deixar de repercutir a visita.

Jimmy Carter

A história política desse ex-presidente americano (nascido em 1924) tem a sua marca maior quando ele derrota Gerald Ford nas eleições americanas de novembro de 1976. Ford, como sabemos, era vice-presidente de Nixon, Republicano, que assumiu a presidência quando este renunciou para evitar ser cassado em 1973, no escândalo de Water Gate. Carter o derrota fragorosamente em 1976 e assume a presidência dos Estados Unidos em janeiro de 1997 e governa até 1981. Ele não consegue ser reeleito, pois é derrotado por Ronald Reagan nas eleições de 1980. Ai, a história nós conhecemos bem, o sistema e modelo neoliberal ganham força não só nos estados Unidos, como no mundo todo, pois desde o ano anterior, em 1979, Margareth Thatcher havia vencido as eleições na Inglaterra com o Partido Conservador.
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Esses acordos de paz fizeram com que Israel devolvesse ao Egito essas terras. Em troca disso, o Egito reconheceria o Estado de Israel. Foi o primeiro país árabe a fazer isso. Na verdade, até hoje o único que reconhece. Tais acordos de paz renderam duas coisas: o prêmio Nobel da Paz para os três artífices dessa paz muito específica (e discutível inclusive, na medida em que não foram devolvidas as terras palestinas, nem as sírias ao norte de Israel) e a morte de Sadat em um grande e cinematográfico atentado realizado por fundamentalistas islâmicos.
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A segunda crise que ocorre, é a ocupação soviética do Afeganistão. Essa ocupação, dizem alguns analistas, foi para a URSS o que o Vietnã foi para os EUA. Um desgaste imenso. Foi o período que a CIA financiou os guerrilheiros muçulmanos afegãos, sob comando de Osama Bin Laden, para resistirem à ocupação soviética. Era a época que esses guerrilheiros eram saudados pela imprensa norte-americana como “guerreiros da liberdade”, pois lutavam contra a URSS (hoje são todos terroristas).
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Não poderíamos deixar de registrar a tal política de direitos humanos implementada pelo governo Carter. Ainda que isso pudesse ter como objetivos atingir a China, como ainda hoje se tenta atingir, especialmente agora com as olimpíadas, isso atingia frontalmente as ditaduras latino-americanas que foram se enfraquecendo, apesar de Reagan em seguida vir a fortalecer algumas delas. Há quem diga que a partir do encontro com Geisel em 1977, teria iniciado o processo de abertura política no Brasil.

O giro no Oriente de Carter

O que mais surpreende a visita que Carter fez à Damasco é a escolha do país que esta na lista americana dos que apoiariam o “terrorismo”. Encontrou-se com duas pessoas emblemáticas na política do mundo árabe. Uma delas é o próprio presidente da Síria, Bashar Al Assad, que é odiado pelos americanos. E outra ninguém menos que o líder e uma espécie de mentor intelectual do Hamas, que é o Khaled Meshaal, considerado um dos maiores “terroristas” pelos americanos.
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Carter fez dois pedidos expressos ao líder do Hamas. O primeiro deles é que o grupo libertasse o soldado israelense seqüestrado em junho de 2006, chamado Gilad Shalit. A segunda proposta é que o Hamas reconhecesse Israel. É sabido por todos que a carta de princípios do Hamas, de fundação do grupo, nega o direito de Israel existir. Até mesmo quando de sua passagem por Israel, Carter sofreu boicote do gabinete israelense. O único ministro que aceitou conversar com ele foi Eli Yishai, do Ministério do Comércio, que é ligado ao partido religioso chamado Shas. Ninguém mais aceitou conversar com o ex-presidente americano.
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A grande imprensa demonstrou má vontade com essa visita. Mas claro, eles fazem o jogo dos sionistas e de Bush. Anunciaram o fracasso da visita, quando na verdade, houve avanço. O Hamas, mesmo que não reconheça Israel, anunciou que poderia aceitar a decisão de reconhecer, desde que tomadas em um plebiscito que participassem os palestinos e desde que Israel retornem às fronteiras de 1967, que é a grande reivindicação da Autoridade Nacional Palestina, desocupando todas as terras e desmontando todas as colônias judaicas (mais de 230 com 250 mil moradores, ao que acho quase impossível de ocorrer). Mas, foi a primeira vez que veio esse sinal do lado do Hamas.

Não tenho nenhuma ilusão e não podemos nos enganar e tomar posições sectárias e esquerdistas. Foi positiva essa visita e isso coloca em cheque total a política externa dos Estados Unidos, nos ajuda a ampliar as contradições no campo adversário e colocam Bush e seus acólitos na defensiva e os isolam cada dia mais. Fortalece nosso campo no Oriente Médio. Vamos monitorar os desdobramentos.
*Lejeune Mirhan, sociólogo da Fundação Unesp, arabista e professor. Presidente do Sindicato dos Sociólogos, membro da Academia de Altos Estudos Ibero-árabe de Lisboa e da International Sociological Association Leia na íntegra em http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=36528

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Provavelmente, Deus não é africano

Deu no Brasil de Fato:
A África é, hoje, o grande espaço de "acumulação primitiva" asiática e uma das principais fronteiras de expansão econômica e política da China e da Índia
23/04/2008 José Luis Fiori
A África ocupou mais da metade do tempo da última reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas nesta terceira semana do mês de abril de 2008. Na pauta: o impasse nas eleições presidenciais do Zimbabwe e as crises políticas da República Democrática do Congo e da Kenya, além dos conflitos armados, na Somália, e em Darfur, no Sudão. Trazendo de volta a imagem de um continente aparentemente inviável com "Estados falidos", "guerras civis" e "genocídios tribais", com apenas 1% do PIB mundial, 2% das transações comerciais globais e menos de 2% do investimento direto estrangeiro dos últimos anos.
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A independência africana, depois da Segunda Guerra Mundial, despertou grandes expectativas com relação aos seus novos governos de "libertação nacional" e seus projetos de desenvolvimento, que foram muito bem-sucedidos - em alguns casos - durante os primeiros tempos de vida independente. Este desempenho inicial, entretanto, foi atropelado por sucessivos golpes e regimes militares e pela crise econômica mundial da década de 1970, que atingiu todas as economias periféricas e provocou um prolongado declínio da economia africana até o início do Século XXI. Mesmo na década de 90, depois do fim do mundo socialista e da Guerra Fria e no auge da globalização financeira, o continente africano ficou praticamente à margem dos novos fluxos de comércio e de investimento globais.

Novo ciclo

Depois de 2001, entretanto, a economia africana ressurgiu, acompanhando o novo ciclo de expansão da economia mundial. O crescimento médio, que era de 2,4% em 1990, passou para 4,5, %, entre 2000 e 2005, e alcançou as taxas de 5,3% e 5,5%, em 2007 e 2008. E, no caso de alguns países produtores de petróleo e outros minérios estratégicos, estas cifras alcançaram níveis ainda mais expressivos, como em Angola, Sudão e Mauritânia. Esta mudança da economia africana - como no resto do mundo - deveu-se ao impacto do crescimento vertiginoso da China e da Índia, que consumiam 14 % das exportações africanas no ano 2000 e hoje consomem 27%, igual à Europa e aos Estados Unidos, que são velhos parceiros comerciais do continente africano.
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Depois da frustrada "intervenção humanitária" dos Estados Unidos na Somália, em 1993, o presidente Bill Clinton visitou o continente e definiu uma estratégia de "baixo teor" para a África: democracia e crescimento econômico, através da globalização dos seus mercados nacionais. Mas, depois de 2001, os Estados Unidos mudaram radicalmente sua política africana em nome do combate ao terrorismo e da proteção dos seus interesses energéticos, sobretudo na região do "Chifre da África" e do Golfo da Guiné, que até 2015 deverá fornecer 25% das importações norte-americanas de petróleo.
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Interesse europeu

Este aumento da presença militar americana, entretanto, não é um fenômeno isolado porque a União Européia e a Grã-Bretanha, em particular, têm dedicado uma atenção cada vez maior à África. E a Rússia acaba de assinar um acordo econômico e militar com a Líbia e, logo em seguida, assinará um outro, com a Nigéria, envolvendo venda de armas e dois projetos bilionários de suprimento de gás para Europa, através da Itália e do deserto do Saara. Num jogo de xadrez que se complicou ainda mais nos últimos dias com a descoberta de um carregamento de armas chinesas enviadas para o governo de Robert Mugabe, no Zimbabwe, através da África do Sul, e com o apoio do governo sul-africano de Thabo Mbeki, segundo denúncia do líder da oposição, no Zimbabwe, Morgan Tsvangirai.
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Depois, de novo, na "Era dos Impérios", no final do século XIX, as potências européias conquistaram e submeteram - em poucos anos - todo o continente africano, com exceção da Etiópia. E agora, neste início do século XXI, tudo indica que a África será - pela terceira vez - o espaço privilegiado da competição imperialista que está recém começando. A menos que exista um outro Deus, que seja africano.

José Luís Fiori é professor titular do Instituto de Economia da UFRJ
Leia na ítegra em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/provavelmente-deus-nao-e-africano

IIRSA: neoliberalismo físico ou a versão territorial do livre comércio

Deu no Correio da Cidadania:
Escrito por
Luis Fernando Novoa Garzon
22-Abr-2008
Redesenhar o continente sul-americano, com vistas a uma meticulosa redefinição de seu papel na divisão internacional do trabalho, a partir da montagem de uma infra-estrutura regional especializada. Esse é o objeto da IIRSA – Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana. Nada menos que a contrapartida física das políticas de livre comércio. Nada mais que uma integração regional facultada a alimentar os fluxos mundiais de capitais.
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Diferentemente da ALCA, cujo referencial era a reestruturação hemisférica da economia norte-americana, a IIRSA surge em terreno latino, sul-americano, pós-colonizado, como tenebrosa flor de Lácio que brotou em meio à decomposição dos projetos nacionais nas décadas perdidas dos 80 e dos 90. Formalmente, a IIRSA é um instrumento de cooperação intergovernamental, mas, na prática, o que pode ser intersecção de governos que se fizeram rechear por interesses forâneos, ao longo desses anos, senão uma conjunção ampliada desses mesmos interesses?

Vocacionados ou condenados

Sem dúvida, a América do Sul precisa e quer se encontrar, mas não em script alheio, batendo em retirada de uma outra América possível, na porta de saída, como amálgama de peças acessórias em busca disciplinada do encaixe perdido. O ciclo neoliberal que tentou converter nossos países em meras engrenagens dos circuitos produtivos e financeiros mundiais não se consolidou, sofreu reviravoltas na Bolívia, Venezuela e Equador; teve, em maior ou menor grau, ritmo e forma alterados na Argentina, Uruguai, Brasil e Chile. As políticas unilaterais de abertura e de subordinação passiva descarrilaram pouco depois de dez anos de aplicação. Estão em jogo nesse momento memórias conflitantes acerca dessa trajetória. Para saber aonde vamos é preciso concluir primeiro aonde chegamos. Descaminhos de repente se tornam caminhos irreversivelmente impingidos ao território. Inscrita na pele, a condenação de imediato passa por vocação.
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A depender da estrutura administrativa herdada e reciclada pelo sistema de financiamento multilateral da Iniciativa, cujo ponto focal é o BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento -, a IIRSA será um instrumento privilegiado de expansão dos oligopólios postados no continente ou fora dele. As translatinas, em especial as "brasileiras", já vêem a IIRSA como plataforma de consecução de suas estratégias regionais e o BNDES tem se colocado a serviço delas, revelando até onde pode ir seu conteúdo "público". A integração dos negócios avança sem anteparos, sem que amadureçam políticas e instituições comuns indispensáveis a uma verdadeira integração. As mediações intergovernamentais processadas pelo Mercosul, CAN e mais recentemente pela UNASUL procuram desobstruir o comércio intra-firma na região e respaldar a multiplicação de plataformas de exportação.

A IIRSA, portanto, se move

Com a IIRSA, as regras pró-mercado ganham caráter impositivo e inapelável à medida que o continente vai sendo talhado "fisicamente" como uma zona de livre comércio. Para tanto, sua estrutura administrativa foi erigida como uma agência para-estatal a balizar as políticas econômicas, de infra-estrutura e de comércio exterior dos nossos 12 países. Para se ter uma idéia, o Comitê de Coordenação Técnica (CCT), composto pelo BID, CAF e FONPLATA, é que dita o escopo e as funções do CDE, o órgão inter-governamental supremo em tese. Segundo os "assessores técnicos" do CCT, o CDE precisa incluir os ministérios-chave. A saber, o de Economia, de Infra-Estrutura e de Relações Exteriores, de acordo com as deliberações em questão. "Este enfoque permitiria que as iniciativas que envolvam decisões vinculadas a negociações internacionais com outros países e/ou referidas ao financiamento de projetos e à implementação de marcos regulatórios e regulamentadores que facilitem a participação do setor privado, contem com o aval político integral, ao nível de cada governo, correspondente ao perfil e ao alcance das iniciativas a serem impulsionadas pelo Plano de Ação."
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O Plano de Ação 2008 da IIRSA, apresentado na última reunião do CDE, não nos deixa esquecer. Preconiza-se como elemento indispensável para o fortalecimento da IIRSA a sua articulação com outros processos de integração, a exemplo da experiência colombiana ao compor o PPP - Plano Puebla Panamá. Plano que faz do México avassalado ao Império, cabeça de ponte para a extensão do Nafta - e suas redes de maquiladoras, cinturões primário-exportadores e estoques de mão-de-obra temporária -, a toda a América Central.

Dentro da noite veloz

Projetos como o PPP e a IIRSA pressupõem um estágio avançado dos processos de privatização e de liberalização econômica. As estratégias de deslocalização dos capitais e de formação de cadeias globais de suprimentos na periferia são definidas cada vez mais pelo perfil da infra-estrutura oferecida pelos países periféricos que disputam a condição de alvos preferenciais de investimentos. O oferecimento de vantagens regulatórias e logísticas em setores tão sensíveis como os de infra-estrutura funcionaria como um salvo-conduto para os investimentos nas demais áreas.
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Do total dos investimentos já empenhados nos projetos da IIRSA, 60% são oriundos dos tesouros nacionais, enquanto os 40% restantes são divididos igualmente entre a iniciativa privada e as IFIS. As populações estão arcando com sua própria descartabilidade sem saberem disso. A sedimentação das zonas de prosperidade nos países centrais depende da rotatividade de territórios na periferia e semi-periferia em competição auto-desfigurante. "Vencem" aqueles países/regiões capazes de antecipar potenciais instrumentalizações de seus territórios através de infra-estruturas especializadas e de marcos regulatórios maleáveis.
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A EASE, tal qual profecia auto-cumprida, parte de fragmentos - os grupos de projetos que compõem cada "eixo de integração" - para fragmentos conjugados - as "unidades territoriais intermediárias". A EASE serviria, em suma, para orientar a "tomada de decisões ambientais, sociais, institucionais e econômicas para o melhor desenvolvimento possível dos Grupos de Projetos e a gestão de suas conseqüências." "Melhor possível", na ótica dos formuladores e patrocinadores. E que meio ambiente e povos circunscrevam-se à "gestão das conseqüências" dos projetos.

Aterrissar as alternativas

Caracterizar a IIRSA como um vetor de agregação de coerência às políticas de liberalização comercial e de financeirização, em prol de sua efetividade, não é suficiente. Inútil reivindicar uma outra integração fundada no compartilhamento de habilidades, riquezas e potencialidades comuns sem que tenhamos estratégias, sujeitos e ferramentas que façam tais virtualidades descerem ao chão. Um marco alternativo de integração será resultado de experiências concretas de integração dos povos, acumuladas no exercício do controle de territórios e bens comuns. Como ainda não temos um programa de navegação fluvial na bacia amazônica voltado para a dinamização e fortalecimento dos povos amazônicos? Como ainda não concebemos matrizes energéticas diferenciadas por bioma, propiciadoras de múltiplas pequenas escalas até agora relegadas? Como podemos permitir que o agronegócio e agências multilaterais se encarreguem da gestão de nossas bacias hidrográficas e aqüíferos transfronteiriços?

Não basta proferir alternativas, precisamos salvá-las entrincheirando-nos diante do que pode torná-las impeditivas. Além da denúncia no atacado é preciso escancarar os interesses que se cruzam em cada projeto na IIRSA. Expor os grupos econômicos envolvidos e suas práticas predominantes. Provar no curso da edificação desses territórios empresariais o que eles são sem disfarces, desgastando-os, retirando-lhes legitimidade. É preciso desmistificar expectativas de parte considerável da população, já desenraizada e por isso mesmo disposta a aceitar qualquer tipo de crescimento. E produzir conhecimento crítico enquanto mantemos vivas as trincheiras que sustentam o impasse no continente e seu futuro entreaberto.
Luis Fernando Novoa Garzon é sociólogo, professor da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), membro da ATTAC, da RBJA, da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais e da REBRIP. Contato: l.novoa@uol.com.br
Leia na íntegra em http://www.correiocidadania.com.br/content/view/1711/58/

terça-feira, 22 de abril de 2008

Sistema alimentar na era pós-petroleira

Deu na Agência Carta Maior:
Há 33 países hoje à beira da instabilidade social devido à falta e ao preço dos alimentos. Essa crise que ameaça a segurança alimentar de milhões de pessoas é o resultado direto do atual modelo industrial de agricultura dependente do petróleo.
Miguel A. Altieri - Alai Amlatina
A agricultura mundial está numa encruzilhada. A economia global impõe demandas conflitantes sobre os 1,5 bilhão de hectares cultivados. Não só se pede à terra agrícola que produza alimento suficiente para uma população crescente, mas também que produza biocombustíveis, e que faça isso de um modo que seja saudável para o meio ambiente, preservando a biodiversidade e diminuindo a emissão de gases de efeito estufa, e que, ainda, seja uma atividade economicamente viável para os agricultores.
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Antes do fim da primeira década do século XXI, a humanidade está tomando consciência rapidamente de que o modelo industrial capitalista de agricultura dependente de petróleo não mais funciona para suprir os alimentos necessários. Os preços inflacionários do petróleo inevitavelmente aumentam os custos de produção e os preços dos alimentos subiram a tal ponto que hoje um dólar compra 30% menos alimento do que há um ano. Uma pessoa na Nigéria gasta 73% da sua renda em alimento, no Vietnã 65% e na Indonésia 50%. Essa situação está piorando rapidamente, na medida em que a terra agrícola vai sendo destinada para biocombustíveis e na medida em que a mudança climática afeta o rendimento da terra pelas estiagens ou inundações.
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O desafio imediato de nossa geração é transformar a agricultura industrial e iniciar uma transição dos sistemas alimentares para que não dependam de petróleo.

Precisamos de um paradigma alternativo de desenvolvimento agrícola, que propicie formas de agricultura ecológica, sustentável e socialmente justa. Redesenhar o sistema alimentar para formas mais eqüitativas e viáveis para agricultores e consumidores vai requerer mudanças radicais nas forças políticas e econômicas que determinam o que vai ser produzido, como, onde e para quem. O livre comércio sem controle social é o principal mecanismo que está expulsando os agricultores de suas terras e é o principal obstáculo para alcançar desenvolvimento e uma segurança alimentar local. Só desafiando o controle que as empresas multinacionais exercem sobre o sistema alimentar e o modelo agroexportador patrocinado pelos governos neoliberais será possível deter a espiral de pobreza, fome, migração rural e degradação ambiental.
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Não há duvida que uma aliança entre agricultores e consumidores é de importância estratégica. Ao mesmo tempo que os consumidores devem descer na cadeia alimentar ao consumir menos proteína animal, precisam tomar consciência de que sua qualidade de vida está intimamente associada ao tipo de agricultura que é praticada nos cordões verdes que circundam povoados e cidades, não só pelo tipo e qualidade de cultivos que aí são produzidos, mas pelos serviços ambientais, como qualidade da água, microclima e conservação da biodiversidade, etc., que esta agricultura multifuncional proporciona.
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No estado de São Paulo, no Brasil, cidades rodeadas por grandes extensões de cana-de-açúcar são mais quentes do que cidades rodeadas por propriedades médias e diversificadas. Deveria ser óbvio, então, para os consumidores urbanos, que comer constitui ao mesmo tempo um ato ecológico e político, pois ao comprar alimentos em mercados locais ou feiras de agricultores, há um retorno a um modelo de agricultura adequada para a era pós-petroleira, enquanto ao comprar nas grandes redes de supermercados, perpetua-se o modelo agrícola não sustentável.

A escala e urgência do desafio que a humanidade enfrenta é sem precedentes e o que é preciso fazer é ambiental, social e politicamente possível. Erradicar a pobreza e a fome mundial requer um investimento anual de aproximadamente 50 bilhões de dólares, uma fração se comparado com o orçamento militar mundial, que chega a mais de um trilhão de dólares por ano. A velocidade com que essa mudança deve ser implementada é muito rápida, mas o que está em questão é se existe realmente vontade política de transformar radical e velozmente o sistema alimentar, antes que a fome e a insegurança alimentar alcancem proporções planetárias irreversíveis.
Miguel A. Altieri é professor na Universidade da Califórnia (Berkeley) e membro da Sociedade Científica Latino-americana de Agroecologia (SOCLA)
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14955

Privatizar para tornar público

O discurso dos jornais brasileiros. Entrevista especial com Fernando Felício Pachi Filho
Deu no Instituto Humanitas Unisinos:

“Você não acaba com o monopólio público dizendo, simplesmente, que ele vai se tornar privado. Você diz apenas que ele vai ser público e mais eficiente.” Essa é a conclusão de
Fernando Felício Pachi Filho depois que analisou os discursos publicados nos jornais mais destacados no país sobre a privatização das telecomunicações em sua tese de doutorado. Sobre esse assunto, Fernando conversou com a IHU On-Line, por telefone. Ele acredita que “quem falava em soberania era basicamente quem se opunha ao projeto de privatização, porque, dentro do discurso de quem era pró-privatização, a soberania não era colocada nem como assunto principal nem como assunto polêmico”.

Fernando Felício Pachi Filho
é jornalista, pela PUC-SP, e licenciado em Lingüística, pela Universidade de São Paulo (USP). Também é mestre em Semiótica e Comunicação, pela PUC-SP, e doutor em Lingüística, pela Universidade de Campinas com período sanduíche em Universidade Paris 12, com a tese intitulada “Privatizar para tornar público: uma análise do discurso sobre a privatização das telecomunicações em jornais”. Atualmente, é professor na Fundação Instituto Tecnológico de Osasco.

Confira a [trechos da] entrevista.
IHU On-Line – Com que sentido você utilizou a expressão “privatizar para tornar público”, em seu trabalho? Fernando Felício Pachi Filho – Na verdade, eu fiz um trabalho na área de análise de discursos. Nesse ramo de estudos da linguagem, os sentidos não são fixos. Eles têm uma determinação histórica e também uma determinação que é pelo uso que se faz. Eu percebi, analisando o material, que não existia um discurso social, principalmente no discurso da mídia, sobre as privatizações. No caso da Telebrás, houve uma oposição entre público e privado. Por isso, o título da tese acabou sendo “Privatizar para tornar público”. Porque foi a partir dessa identificação que o discurso ganhou a sua eficácia conectativa.
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IHU On-Line – A quem serviu a privatização das telecomunicações? Fernando Felício Pachi Filho – Na verdade, o que você tem, por conta desse movimento discursivo, é um grande apagamento das questões políticas das privatizações. Com isso, se reduz a discussão a uma prestação de serviços. Também diminui a importância de quem é a posse, ou seja, se pertence ao estado ou a grupos privados. Acaba existindo uma discussão reduzida a como privatizar e não a porque privatizar. Então, a privatização é tomada sempre como uma lógica inevitável dentro de nosso contexto histórico. Dentro de tal lógica inevitável, não há como discutir o que se deve ou não fazer, mas como fazer. Acaba existindo uma diminuição da discussão política. Quando ela se estabelece como verdade inevitável, existe uma lógica econômica que predomina. Desse modo, o político em si está em segundo plano porque os rumos da sociedade já estão definidos, não havendo, com isso, possibilidade de mudança. Toda a discussão não leva nunca em consideração o fato de que seja possível mudar esse cenário. O que acontece é justamente que a oposição a esses processos acaba sendo considerada e identificada com todos os valores do passado. Ela acaba, portanto, servindo de fato a todos os grupos que tinham interesses na privatização das telecomunicações.
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IHU On-Line – A privatização das telecomunicações gerou algum tipo de prejuízo para a soberania? Fernando Felício Pachi Filho – Essa questão da soberania acabou também sendo diminuída. No Brasil, ela não foi tratada dentro do universo de crenças colocado no discurso da privatização, aparecendo apenas como assunto da oposição. Quem falava em soberania era basicamente quem se opunha ao projeto de privatização, porque, dentro do discurso de quem era pró-privatização, a soberania não era colocada nem como assunto principal nem como assunto polêmico.
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IHU On-Line – Então, os discursos se mostraram positivos em relação à privatização? Fernando Felício Pachi Filho – Eu não gostaria de apresentá-los como discursos positivos. Você tem em torno da privatização toda uma construção discursiva de que ela é o melhor para o conjunto do país. O melhor para todos parece ser o privado.

IHU On-Line – A privatização influenciou de alguma forma para a democratização dos meios de comunicação? Fernando Felício Pachi Filho – Se você olhar hoje, de fato você teve um acesso muito ampliado, mas também porque o Estado fez grandes investimentos antes na infra-estrutura. O que existe, atualmente, é uma expansão de serviços, pois o Estado não investiu nisso, mas a infra-estrutura acabou sendo um investimento estatal. É mera conseqüência. O Brasil teve a chance, em algum momento, de atualizar sua tecnologia de telecomunicações. Isso é inegável, mesmo porque no mundo em que estamos hoje ninguém mais concebe ficar, por exemplo, sem internet. Isso foi necessário. Os capitais foram gerados a partir do investimento externo, o que nos faz ver que, de fato, o benefício foi ampliado. No entanto, a questão que também precisa ser analisada é o quanto nós também como nação investimos nisso.
Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=13325

A amorosa e solidária jornada de lutas pela reforma agrária

Deu no Brasil de Fato:
Jornada não pode deixar de expor as dimensões da amorosidade e da solidariedade que tingem a vida do MST de vermelho, "por pulsar em demasia o coração"
22/04/08
Horácio Martins*
Ao se rememorar no 17 de abril o massacre de Eldorado de Carajás não se busca tão somente a permanente solidariedade às famílias dos trabalhadores e trabalhadoras sem terra assassinados, mutilados e feridos nesse episódio de anos atrás. Nesta data se reafirma emblematicamente que a luta social pela reforma agrária e por justiça social no campo continua viva e revivificada pelo desprendimento de milhões de famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra e de camponeses e camponesas com pouca terra.
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Os interesses do capital e, portanto, da sua reprodução na busca incessante do lucro, não são critérios capazes de balizar a necessidade de reforma agrária no país. Menos ainda o são os interesses e desejos dos grandes e reacionários empresários que constroem a hegemonia dessa classe social. A herança da 'grande fazenda' e a mentalidade (que se renova) discriminatória social, étnica e de gênero desses empresários travestidos de modernos apenas ressaltam as manchas éticas que neles permaneceu da cultura e economia escravagista onde o outro, seja o índio, o negro, o branco ou o mulato, foi e ainda permanece um objeto, por vezes elevado à categoria de mercadoria, passível de ser disposto conforme os interesses de seus donos.
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A luta pela garantia da vida e da sua reprodução com dignidade é antes de tudo um gesto de amor. As práticas das lutas sociais, ainda que endurecidas pelos desaforos daqueles que deveriam as compreender melhor, é a expressão extremada da amorosidade pelo viver, por essa paixão que a esperança alimenta e que a solidariedade reafirma a cada gesto social.
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Quando empresas privadas como a Vale, a Syngenta, a Monsanto, a Cargill, a Aracruz, a Votorantin, a HSBC, a Itaú, a Bradesco, a Rede Globo, entre tantas outras que se fazem emblemáticas do comportamento que defende a manutenção da desigualdade social, o atraso cultural das massas, a discriminação étnica e de gênero e a depredação do meio ambiente, quando essas empresas ensaiam criminalizar as ocupações, e reproduzem a ideologia de que esses trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra são terroristas, o que estão acentuando nas suas práticas empresariais e nos discursos políticos que querem fazer passar aos olhos da opinião pública como lições éticas - supostas no fundo de todas as razões que as iluminam, é que os interesses das classes populares são antagônicos aos interesses de classe da burguesia.
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Ora, isso é aviltante para o empresariado. Contraria a ordem capitalista neoliberal das coisas. Ao povo o salário, a bolsa-família ou a misericórdia. Aos ricos, aos empresários capitalistas, o lucro, os juros, a renda da terra, a apropriação privada do patrimônio público, a liberdade de degradação ambiental, o usufruto privado e comercial da natureza, o controle do saber científico e tecnológico, as patentes, a globalização da circulação das mercadorias e dos capitais. Enfim, o aumento continuado da renda e da riqueza nas mãos de poucas e grandes empresas e a manutenção da desigualdade social, então compreendida pela ideologia dominante como uma determinante histórica.
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Quem bom seria se o MST se esvaecesse no ar, porque já não mais seria socialmente necessário. Mas, enquanto isso não sucede desejo longa vida ao MST, e que a Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária não deixe de salientar as dimensões da amorosidade e da solidariedade que lhe tingem a vida de vermelho por pulsar em demasia o coração.
* Horácio Martins é engenheiro agrônomo, membro da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA) e assessor da Via Campesina
Leia na íntegra em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/a-amorosa-e-solidaria-jornada-de-lutas-pela-reforma-agraria

segunda-feira, 21 de abril de 2008

A direita hoje

Deu no Blog do Emir:
As vitórias eleitorais de Angela Merkel na Alemanha, de Sarkozy na França e de Berlusconi na Itália, servem para lembrar-nos da força da direita hoje no mundo. Na Europa ocidental, com as exceções da Espanha e da Noruega, a direita está no governo. Aqui mesmo, na América Latina, os governos do PAN no México, de Uribe na Colombia, são representantes indiscutíveis da direita latino-americana. No Brasil, a direita está representada politicamente pelo bloco tucano-pefelista e ideologicamente pelas grandes empresas mercantis da mídia.
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O primeiro dos seus pontos programáticos é o privilégio do mercado em relação ao Estado e, em particular, a qualquer tipo de regulação estatal, favorecendo a livre circulação do capital. O que significa o privilégio do dinheiro em relação aos direitos, do consumidor em relação ao cidadão, dos interesses privados em relação aos interesses públicos. Um de seus corolários mais importantes é o papel estratégico que atribuem às grandes empresas privadas, identificadas com o dinamismo e a eficiência econômica, em contraposição ao Estado, desqualificado como ineficiente, burocrático, corrupto.
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A direita está pelas alianças – sempre subordinadas, pela força que tem esses possíveis – com as grandes potências do centro do capitalismo, às expensas das alianças latino-americanas e no Sul do mundo. São adeptos da grande imprensa privada – isto é, não pública, da imprensa mercantil - e contrários à mídia pública, democrática.
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Odeia os movimentos sociais, a reforma agrária, a demarcação de terras indígenas, a sindicalização dos trabalhadores, os programas de alfabetização popular, a politização como forma de acesso à consciência social do que passa no país e no mundo. São conservadores, gostam do mundo tal qual eles mesmos o produziram ao longo de toda a história, com todas suas iniqüidades, e lutam ferozmente contra qualquer mudança nas relações de poder que afete seus interesses.
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Em suma, a direita é de direita – se me permitem a tautologia. Resta que a esquerda seja de esquerda, para combatê-la e fazer avançar a democracia política, a justiça social, a soberania nacional e a integração regional.
Postado por Emir Sader às 08:07 Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=176