O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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sábado, 18 de agosto de 2007

A Urgência e o Infinito

Deu no Correio do Brasil:
Por Boaventura de Sousa Santos - de Coimbra

Todos os dias nos chegam notícias perturbadoras: o aquecimento global e a catástrofe ecológica cada vez mais iminente; a conspícua preparação de uma nova guerra nuclear; os milhões de pessoas que morrem anualmente de doenças que com um pequeno investimento mundial podiam ser erradicadas, como, por exemplo, a malária, a tuberculose e a SIDA; a manipulação da preocupação com um bem essencial à nossa sobrevivência, a água, para a privatizar e a transformar em mais uma fonte de lucro, tornando-a inacessível aos mais pobres; a bárbara destruição da vida no Médio Oriente e em Darfur em nome da democracia, do petróleo e da religião.
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O primeiro sentimento impele-nos a pensar que algo tem de ser feito a curto prazo, pois de outro modo será provavelmente tarde demais. Parece ser do senso comum que se não atuarmos a curto prazo talvez não haja longo prazo. A angústia que este sentimento nos provoca aumenta quando verificamos que este senso comum não parece partilhado pelas instituições políticas que nos governam. As instituições nacionais não se sentem responsáveis por nada do que se passa além-fronteiras e os problemas globais com impacto nacional (como as mudanças climáticas), sendo da responsabilidade de todos, não são afinal da responsabilidade de nenhum país em particular. Por sua vez, as instituições internacionais reforçam-nos, no seu melhor, o nosso senso comum, mas o discurso da urgência é neutralizado pela prática da impotência já que, afinal, são reféns das instituições políticas nacionais.
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Perante estes sentimentos contraditórios de urgência e de mudança civilizacional, de curto prazo e de longo prazo, estamos mais sós do que nunca. E se ninguém pode pensar ou agir por nós, porque não começarmos a pensar com mais autonomia e a agir coletivamente com mais inovação e ousadia? Por mais contraditório que pareça, será em nós que tanto as ações urgentes como as mudanças civilizacionais começarão. Ou então não começarão nunca.

* Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal). Leia na íntegra em http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=124465

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