O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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sábado, 11 de agosto de 2007

Em foco, os lobbies no Congresso

Do CongressoEmFoco: Por Márcia Denser, escritora paulistana,
Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP,
pesquisadora de literatura brasileira contemporânea,
jornalista e publicitária


A revista Caros Amigos publicou recentemente uma grande reportagem do jornalista João de Barros sobre como funcionam os lobbies no Congresso em Brasília (1), matéria bastante ampla, complexa, que ilumina a questão de vários ângulos.

Como linha tênue que separa a cooptação da corrupção, os lobistas têm inúmeras formas de abordar políticos e funcionários públicos – desde o envio de correspondência, passando por visitas, promoção de eventos, viagens, oferta de presentes, festas de arromba, até orgias em hotéis cinco estrelas incluindo suítes/jantares/bebidas e garotas idem. Isso, por bem. Quando não, usa-se a intimidação, o abuso do poder econômico, a concorrência desleal ou fraudulenta etc.

Existem lobbies para tudo, mas certas bancadas suprapartidárias facilitam a ação dos grupos de pressão, trabalhando abertamente na defesa de alguns interesses, tais como dos ruralistas, da comunicação, da saúde, da educação, dos evangélicos. Mas as três que atuam mais fortemente junto ao Congresso Nacional são as dos empreiteiros, chefiada pelas “cinco irmãs” – Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Mendes Júnior –, a dos bancos cacifados pela Febraban e, recentemente, a da informática.

Mas o que mais me impressionou foi o depoimento dum funcionário com 20 anos de serviço público que, segundo João de Barros (a quem cruzei por e-mail)... “embora a entrevista tenha sido gravada, firmei o compromisso com o entrevistado de não revelar a fonte. Posso dizer apenas que é assessor de um influente senador da República.”

Assinalo que o texto a seguir não está disponível no site www.carosamigos.com.br, nem mesmo para assinantes da revista, como eu:


[trechos do depoimento que foi publicado por Márcia Denser]
“Quando cheguei aqui 20 anos atrás, muitos jornalistas tinham mais de 45 anos, eram pessoas experientes, que discutiam, praticavam jornalismo investigativo. Hoje, principalmente na televisão, tem uma meninada que entra aqui e quer saber só aquilo que o editor pediu. Hoje, você corre o risco de não ter uma leitura da verdade. A visão do Brasil real nós perdemos. A imprensa cuida de levar a população ao diversionismo. Não é só a gente conhecer como funciona o lobby, há lobby dentro da imprensa, fazendo a gente não conhecer, também, quem está escondido lá atrás. (...)”

[ . . . ]


“Sabe onde existe um grande lobby no Brasil? Na imprensa. Muitos jornalistas agem como lobistas, conscientes ou não. Há certos comentários econômicos que se ouve e se percebe que, por trás, há um interesse envolvido. Se houvesse uma grande operação Mãos Limpas, seria necessário quebrar também os sigilos bancários e fiscal de uns dez ou 20 jornalistas.”


[ . . . ]


“Será, por exemplo, que tantos comentários sobre a necessidade de uma nova reforma do regime geral de previdência não tem, por trás, os interesses dos capitães da previdência complementar? Ora, no momento em que você tiver a perspectiva de só se aposentar com três salários mínimos, vai recorrer à previdência complementar de quem? Do Estado? Ou do banco? Quantas pessoas, com medo da reforma, já não correram para os grandes bancos? Não estou discutindo o déficit da Previdência, mas o grande lobby pró-previdência complementar. Quero discutir esse lobby que faz com que você corra para a previdência complementar porque estão dizendo que você é o grande responsável pela quebra da Previdência, que não vai poder se aposentar com mais de três salários, que vai precisar ter 65 anos para se aposentar, mas, pois é, discutir o pequeno lobby também é diversionismo, para escamotear quem vem lá atrás, escondido.”

Realmente é um depoimento impressionante. E revelador.

Deixo aos leitores os comentários.

(1) Caros Amigos, número 123, junho/2007, pág. 26.

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