O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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quarta-feira, 25 de julho de 2007

Castaneda, J - O fracasso da reforma migratória de Bush

http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=8514 acesso em 25 jul. 2007

O fracasso da reforma migratória de Bush
Artigo de Jorge Castañeda

“O fracasso da reforma migratória do presidente Bush e dos democratas liberais no Senado norte-americano representou uma derrota para todos”, diz Jorge Castañeda, ex-ministro de Relações Exteriores do México entre 2000 e 2003. E aponta três estratégias sucessivas dos países da região em relação à problemática da migração: a primeira estratégia consistiu na “bilateralização” do assunto; a segunda postura tratou de “desbilateralizar” o tema; e, finalmente, uma terceira postura consiste simultaneamente em “desmigratizar” a agenda política com os Estados Unidos e em “desmexicanizar” o tema das migrações dentro daquele país. Com Calderón possivelmente se pode estar à beira de uma quarta postura.

Faz-se necessário e urgente um novo acordo, “porque tudo indica que os países geradores de fluxos migratórios na América Latina podem se encontrar rapidamente no pior dos mundos possíveis”, acredita Castañeda. E isso porque Bush está atendendo às solicitações da ultradireita norte-americana e ignorando as concessões a setores mais ligados aos democratas liberais.

Jorge Castañeda é atualmente professor de Estudos Latino-americanos na Universidade de Nova York. É autor de vários livros, entre os quais se encontram Utopia desarmada. Intrigas, dilemas e promessas de esquerda latino-americana e Che Guevara. A vida em vermelho, ambos publicados pela Companhia das Letras, respectivamente em 1994 e 1997. Segue o artigo do sociólogo mexicano publicado no El País, 23-07-2007. A tradução é do Cepat.
O fracasso da reforma migratória do presidente Bush e dos democratas liberais no Senado norte-americano representou uma derrota para todos: para o próprio Bush; para o senador Edward Kennedy, principal defensor da reforma; para os presidentes mexicanos Calderón e Fox; para o México, e todos os demais países expulsores da América Latina; para aqueles que depositam nos Estados Unidos a confiança para superar o enorme desafio contemporâneo da migração, legal e ilegal em outros países, sobretudo na Europa; e, sobretudo, para os 12 milhões a 15 milhões de indocumentados que vivem ao norte do Rio Bravo.
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A segunda postura, que durou de mediados de 2003 ao outono de 2006, consistiu em “desbilateralizar” o tema, baixar o perfil público do ativismo mexicano e latino-americano nos Estados Unidos, mas sem tirar o dedo da linha. A migração continuou sendo o assunto central durante este período, mesmo que o México tenha posto todos os ovos na cesta de Bush: ele se comprometeu em tirar uma reforma unilateral no Congresso, e se fazia necessário deixar-lhe as mãos livres para fazê-lo. Por um lado, talvez a política anterior era inviável sem seus artífices, e por outro, diante da insistência de Washington, talvez não houvesse mesmo outro caminho. Durante este lapso de tempo, realizaram-se esforços maiores para “latino-americanizar” o esforço; em diversas ocasiões funcionários mexicanos viajaram a Washington em companhia de seus pares centro-americanos ou do Caribe.
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Os norte-americanos são estranhos. Em vez de se congratularem por poderem contar com uma imigração extraordinariamente suscetível de ser assimilada, em comparação com a que vivem e necessitam outros países – ver a Europa inteira hoje – lamentam e rechaçam a que recebem, saudosistas daquela imigração que acreditam ter admitido há mais de um século. Em vez de responder com habilidade à ofensiva castro-chavista na América Latina, que procura com inteligência e audácia tornar realidade a velha utopia de Che Guevara, preferem enterrar a cabeça na areia. Sem dúvida, sobreviverão à sua miopia, mas poderiam facilmente evitar-nos tragédias e dramas como os que virão.

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