O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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quarta-feira, 18 de julho de 2007

Aguiar, F - A nova sucessao

http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3670 acesso em 18 jul. 2007.

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DEBATE ABERTO
A nova sucessão
Flávio Aguiar

A verdadeira sofreguidão com que a mídia oligárquica comemorou o episódio da vaia orquestrada no Maracanã, negando-lhe a orquestração, e prolongando o episódio, é um prenúncio do que será o próximo episódio sucessório.

O tucanato também abriu as asas, para não dizer o bico, alardeando a vaia. Pelas esquerdas das esquerdas também houve comemorações, como se um hipotético povão fosse o responsável pelas vaias.

O quadro que pinta seus esboços, portanto, é muito diverso daquele do segundo turno de 2006. Desta vez espera-se maior união à direita, maior divisão à esquerda. A direita tem mais três anos e pico para afinar seu discurso. As esquerdas têm outro tanto para desafinar o seu.

O PCdoB anuncia que vai discutir deixar – ou seja, fazer deixar os sindicatos que dirigentes seus liderem – a CUT. Isso é o prenúncio de uma posição mais independente pelo menos nas eleições para as prefeituras em 2008, quando o partido poderá ter candidaturas próprias em Porto Alegre, S. Paulo, Fortaleza e outras praças também.

Enquanto isso, a direita vai se alinhar na tecla da desmoralização de Lula. Não se trata apenas de repetir ad nauseam a falácia de que seu governo é o mais corrupto da história brasileira. Trata-se de negar-lhe, ao governo e a Lula (que nessa altura já não concorrerá), o status a que têm direito, o de governantes do maior país da América Latina.

Não haverá quartel, a idéia será não atacar, mas avacalhar, como tentaram em 2006, o presidente e quem se apresente como continuidade a ele. Em 2006 a direita e seus arautos na mídia aprenderam a lição: foram surpreendidos pela internete, e a campanha orquestrada contra a reeleição naufragou na praia. Pelo menos essa foi a sensação que ficou, quando a tramóia das fotos do dinheiro apreendido na escusa operação do dossiê tucano foi denunciada e neutralizada a partir de Carta Maior, os blogues de Paulo Henrique Amorim, Luis Nassif, por Carta Capital e outros veículos, páginas e milhares de mensagens que correram o espaço virtual.

Desde então não tenho dúvidas de que Carta Maior, por exemplo, entrou para a lista dos “não pode nem se falar” nos espaços mais cortesãos da mídia oligárquica. A não ser para eventualmente fazer alguns ataques pessoais e pretensamente avacalhantes contra alguns de seus membros.

A direita aprendeu a lição. E vai se unir, se os egos, é claro, permitirem. As esquerdas, dentro e fora do governo, terão aprendido? Não sei. Tenho minhas dúvidas. Para muitos membros das esquerdas, disputar um espaço naquela mídia que sempre que pode chuta as idéias deles (ou quer faze-lo) para o lixo da história, é mais importante do que fazer um combate ideológico na mídia alternativa, que se opõe à hegemonia liberal ou neoliberal. É uma atitude que tem algo até de perversão psicológica, uma espécie de “me chuta que eu gamo”.

O tempo está passando. Eu diria que governo e esquerdas de um modo geral têm mais um ano, se tanto, para montar as suas, ainda que diversas, políticas e estratégias de comunicação. Porque aí já estaremos à beira das eleições municipais, e a partir desse ponto será pau na máquina para todo mundo. Eles, com seus maquinões e suas maquinações manipulativas, como nesse episódio da pretensa “vaia popular”. Nós, com nossas maquininhas e minigâncias ideológicas, sempre colocadas no primeiro plano em troca dos grandes debates definidores dos rumos do novo século.

Como em 2006, minha esperança é que o povão não se deixe enganar. Nem pelas maquinações da direita, nem pelas diatribes envenenadas e narcísicas às esquerdas (todas as esquerdas, não só as extremas), sabendo ler a significância daquelas e a insignificância destas, optando pelo que for melhor para suas condições de vida e para defender o seu direito a ter direitos.

* Flávio Aguiar é editor-chefe da Carta Maior.

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