Deu no Brasil de Fato:O conflito entre o governo de Cristina Kirchner e os proprietários rurais começou pelo aumento das retenções (impostos) à exportação de cereais. Com o aumento, o governo pretendia tirar para o Estado uma fatia dos imensos lucros resultantes dos preços favoráveis no mercado internacional e também conter o aumento aos preços internos para os alimentos. O que estava em jogo, então, não era qualquer mudança no modelo agroexportador. Porém, o agronegócio e os tradicionais proprietários rurais querem aproveitar a ocasião propícia e não estão dispostos a perder nem um pouco dos seus grandes ganhos.O agronegócio e os tradicionais proprietários rurais não estão dispostos a perder nem um pouco dos seus grandes ganhosSilvia Beatriz Adoue
19/06/2008
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Os grandes encabeçaram então um grande movimento de “El campo”, com poucas e frágeis vozes destoantes, como a da Frente Nacional Campesina, que reúne pequenos produtores de algumas províncias e propõem um modelo de agricultura baseado no incentivo à produção de alimentos.[ . . . ]
O governo de Cristina Kirchner aposta numa radicalização nas negociações pelo recurso de acusar seus adversários de golpistas e apresentar esta tensão como uma reedição da disputa do primeiro peronismo com a tradicional oligarquia agroexportadora. Durante o primeiro período do governo peronista, o comércio exterior era controlado por meio do IAPI (Instituto Argentino de Promoción para el Intercambio), órgão do Estado que comprava a produção agrícola a preço definido por ele e assim monopolizava a venda no mercado mundial. Com a renda assim obtida, financiava o desenvolvimento industrial. As retenções agrícolas de Cristina Kirchner não são nem a sombra dessa política de incentivos à produção industrial, mas o discurso dela usa as roupas do peronismo de outrora.[ . . . ]
É a esta amálgama é atribuído o nome genérico de “El campo” nos meios de comunicação. Perante a perspectiva de desabastecimento e a “crise de autoridade” –promovida por esses setores do campo, diga-se de passagem-, as classes média e alta urbanas, as mesmas que acusavam aos trabalhadores desempregados que trancavam estradas para protestar, estão apoiando a “El campo”.[ . . . ]
Kirchner convoca aos plebeus para apoiar o governo. É pouco o que oferece para aqueles que nada têm. As medidas impositivas não garantem o abastecimento e nem a contenção dos preços dos alimentos e as políticas sociais tendem para o clientelismo, distribuindo “planes sociais” (bolsas-família) e com um crescimento do emprego que não comporta nem minimamente as demandas.Silvia Beatriz Adoue é argentina radicada no Brasil. É mestre em Integração da América Latina pela Universidade de São Paulo (2001) e doutoranda em Letras pela FFLCH-USP. É professora titular do Centro Universitário Claretiano.
Leia na íntegra em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/cristina-kirchner-x-201cel-campo201d
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