O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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segunda-feira, 17 de março de 2008

Coisas da política: As listas e as prévias

Deu no Jornal do Brasil:
Mauro Santayana
Algumas idéias continuam a flutuar na atmosfera política. Uma delas é a da democratização da escolha dos candidatos aos cargos majoritários, mediante consultas prévias às bases partidárias. Principal partido de oposição, o PSDB divide-se em duas correntes eleitorais. O Partido da Social Democracia Brasileira nada tem a ver com seu nome - o que ocorre também com quase todos os outros partidos. Ao escolher Minas a fim de acolher o primeiro congresso, talvez tenham buscado associar o nome do novo partido ao velho PSD, criado pela inteligência política de Benedito Valadares, com a ajuda de alguns homens públicos e intelectuais mineiros. Ao encomendar, ao professor Mário Casasanta, a tarefa de redigir o rascunho do programa e estatutos do partido, em 1945, Benedito recomendou-lhe, que pusesse no texto "alguma coisa de comunismo, porque está na moda".
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No momento, tanto Aécio quanto Serra agem dentro dos ritos da elegância. Sob a necessária conveniência, a disputa não se expressa com clareza. Cresce a proposta de que o partido faça consultas prévias aos filiados. Se se fizerem como nos Estados Unidos, dificilmente um candidato de São Paulo será o escolhido. Como disse o ex-presidente Itamar Franco, o resto do Brasil não parece disposto a aceitar a continuação da hegemonia paulista por mais oito anos. Isso significaria um quarto de século de presença do estado no centro do poder da República.
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A Revolução de 30 surgiu, entre outros fatores, da rebelião contra a hegemonia econômica e política de São Paulo. Getúlio iniciou o processo de descentralização da economia, mediante a intervenção do Estado. Juscelino lhe deu continuidade, na Operação Nordeste. Lula, com dupla identidade - de nordestino e paulista - vem promovendo a ascensão social e econômica dos Estados pobres, mediante os programas conhecidos, ao mesmo tempo em que cultiva os banqueiros de São Paulo e é por eles cultivado. Entre os paulistas mais lúcidos - e eles são muito mais numerosos do que parece - existe a consciência de que chegou a hora de buscar, no resto do país, chefe de Estado que veja a nação como um todo. Essa postura eles a tiveram em 1984, quando somaram-se à candidatura de Tancredo Neves contra Maluf. Sabem que se não houver a descentralização de sua prosperidade, São Paulo continuará a atrair, para a inquietadora periferia de sua capital, a pobreza do resto do país - e, com a desigualdade, o desespero da violência.

Outra idéia é a da reforma política. Uma das recomendações do PSDB é a do voto em lista fechada. Nos países europeus que o adotam, a opinião pública se levanta contra o sistema, por sua natureza antidemocrática, porque confere ao arbítrio ditatorial das direções partidárias a escolha dos candidatos. Há dias, Juan Luis Cebrián - um dos fundadores de El País - publicava lúcida e concisa análise política, em que prega reforma constitucional para assegurar a democratização efetiva do sistema político espanhol. Entre outras de suas idéias, está a do fim da lista fechada e a adoção do voto aberto e uninominal, como ocorre entre nós. Os neoliberais brasileiros, com sua fobia ao povo, querem a lista fechada para consolidar o controle do poder econômico sobre os partidos e a República.
Leia na íntegra em http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2008/03/17/pais20080317001.html
ou em http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/481001-481500/481337/481337_1.html

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