O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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domingo, 9 de março de 2008

Balcanizar os Bálcãs

Deu no Via Política:
Por Juan Gelman
Parecia impossível recortar ainda mais a diminuída ex-Iugoslávia, mas não: com o reconhecimento imediato dos EUA e da maioria da União Européia, a chamada independência de Kosovo é coisa feita. Pouco importa que este ato viole o direito internacional, a Carta das Nações Unidas e resoluções de seu Conselho de Segurança. O decisivo é que assim o quiseram os “falcões-galinha” de Washington, com o apoio de uma porção bem armada da OTAN e o olhar voltado para outro lado da ONU. As conseqüências são inimagináveis e faz recordar a profética frase que Otto von Bismarck cunhara em fins do século XIX: “Quando explodir a Grande Guerra, será por alguma maldita coisa nos Bálcãs”. Assim foi.
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Os EUA começaram o trabalho kosovar já há alguns anos. Belgrado combatia contra o braço armado dos separatistas sérvio-albaneses, o Exército de Liberação do Kosovo (ELK), uma criatura da CIA, como Osama bin Laden. Isto foi reconhecido pela própria agência de espionagem, que lhe proporcionou treinamento, armas e dinheiro, especialmente em 1998 e 1999, pouco antes de que os EUA e a OTAN bombardeassem a ex-Yugoslávia durante 11 semanas. O Departamento de Estado qualificou oficialmente o ELK de “movimento insurgente”, embora seus altos funcionários falassem off the record que eram terroristas. Sim. Milosevic não foi nenhuma rosa cândida, mas a minoria sérvia de Kosovar não esquecerá o 17 de março de 2004: o ELK atacou, matou duas dezenas de civis, queimou todas as igrejas ortodoxas e deixou na rua 60.000 sérvio-kosovares. Frente à indiferença das forças de paz da ONU estacionadas em Pristina, a capital, e na província.
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Há dias, muitos jornais do mundo reproduziram una fotografia célebre tomada em 1999: mostra o chefe terrorista, Hashim Thaci, o observador da ONU em Kosovo e hoje ministro das Relações Exteriores da França, Bernard Koucher, Sir Mike Jackson, então comandante das tropas de ocupação da OTAN em Kosovo, Agim Ceku, chefe militar albano-kosovar acusado de crimes de guerra pelos militares canadenses, e o general Wesley Clark, naquele momento comandante supremo da OTAN, unindo suas mãos em montinho jurando alcançar a independência do Kosovo. As atividades de Hashim Thaci já eram bem conhecidas.

O muito francês Observatório Geopolítico de Drogas informou que o ELK ajudava a introduzir na Europa Ocidental heroína e cocaína no valor de dois bilhões de dólares a cada ano. Os agentes alemães que combatem os narcotraficantes afirmaram que os do Kosovo “lavam anualmente um bilhão e meio de dólares por intermédio de 200 bancos privados ou agências de câmbio” (The Washington Times, 4-5-99). São os aliados de W. Bush na pretensiosa tarefa de expandir a democracia e a liberdade no mundo. De passagem, anuncia que vetará qualquer projeto de lei que impeça as forças de segurança norte-americanas de aplicar a tortura. Por que não?

24/02/2008
Fonte: La Bitácora de Gelman http://www.juangelman.com/wordpress
Link: http://www.juangelman.com/wordpress/?p=357#more-357

Juan Gelman
É considerado um dos mais importantes poetas contemporâneos da Argentina e da América Latina. Gelman nasceu em Buenos Aires, no bairro de Villa Crespo, em 1930, terceiro filho de imigrantes russos, José e Paulina. Aprendeu a ler aos três anos e passou sua infância andando de bicicleta, jogando futebol e lendo. Durante sua juventude, participou de diversos grupos e movimentos literários.

Ocupou importantes funções como jornalista. No período da ditadura militar na Argentina, e devido a sua militância nos Montoneros (organização da qual se afastou por divergências com a direção), teve que se que exilar em diferentes países da Europa e América Latina. Durante a ditadura, foram seqüestrados e assassinados pelo regime militar seu filho Marcelo, morto sob tortura, e sua nora, Maria Claudia García Irureta de Gelman, que estava grávida. Há poucos anos, e somente depois de intensa busca, Gelman conseguiu se reunir com sua neta no Uruguai.

Atualmente, está preso na cidade brasileira de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, sob tratamento médico, o coronel reformado uruguaio Manuel Cordero, implicado no seqüestro, translado para o Uruguai, prisão, tortura, assassinato e desaparecimento de Maria Claudia. A argentina Maria Claudia foi levada grávida para o Uruguai, e, no cativeiro, deu a luz a uma menina. Logo em seguida foi executada por algozes argentinos, entre eles o uruguaio Manuel Cordero, hoje sob custódia da Polícia Federal do Brasil. Cordero também é acusado pelo assassinato político do senador uruguaio Zelmal Michelini. Um diplomata argentino em Brasília afirmou que o militar deverá ser extraditado para a Argentina, onde é acusado de cometer vários crimes. O coronel Manuel Cordero também é acusado de haver participado do assassinato de Hector Gutierrez Ruiz, ex-presidente da Câmara dos Deputados do Uruguai.

Juan Gelman recebeu, em 1997, o Prêmio Nacional de Poesia da Argentina e atualmente vive no México.

(por Omar L. de Barros Filho, a partir da Wikipédia e de informes atualizados do Movimento de Justiça e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul)

Tradução do espanhol para o português de Omar L. de Barros Filho, editor de ViaPolítica e membro de Tlaxcala, a rede de tradutores pela diversidade lingüística. Esta tradução pode ser livremente reproduzida, na condição de que sua integridade seja respeitada, bem como citados o autor, o tradutor e as fontes.
Para ler em Tlaxcala o artigo traduzido ao francês: http://www.tlaxcala.es/pp.asp?reference=4704&lg=fr

Leia na íntegra em http://www.viapolitica.com.br/fronteira_view.php?id_fronteira=147#

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