O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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terça-feira, 22 de abril de 2008

Privatizar para tornar público

O discurso dos jornais brasileiros. Entrevista especial com Fernando Felício Pachi Filho
Deu no Instituto Humanitas Unisinos:

“Você não acaba com o monopólio público dizendo, simplesmente, que ele vai se tornar privado. Você diz apenas que ele vai ser público e mais eficiente.” Essa é a conclusão de
Fernando Felício Pachi Filho depois que analisou os discursos publicados nos jornais mais destacados no país sobre a privatização das telecomunicações em sua tese de doutorado. Sobre esse assunto, Fernando conversou com a IHU On-Line, por telefone. Ele acredita que “quem falava em soberania era basicamente quem se opunha ao projeto de privatização, porque, dentro do discurso de quem era pró-privatização, a soberania não era colocada nem como assunto principal nem como assunto polêmico”.

Fernando Felício Pachi Filho
é jornalista, pela PUC-SP, e licenciado em Lingüística, pela Universidade de São Paulo (USP). Também é mestre em Semiótica e Comunicação, pela PUC-SP, e doutor em Lingüística, pela Universidade de Campinas com período sanduíche em Universidade Paris 12, com a tese intitulada “Privatizar para tornar público: uma análise do discurso sobre a privatização das telecomunicações em jornais”. Atualmente, é professor na Fundação Instituto Tecnológico de Osasco.

Confira a [trechos da] entrevista.
IHU On-Line – Com que sentido você utilizou a expressão “privatizar para tornar público”, em seu trabalho? Fernando Felício Pachi Filho – Na verdade, eu fiz um trabalho na área de análise de discursos. Nesse ramo de estudos da linguagem, os sentidos não são fixos. Eles têm uma determinação histórica e também uma determinação que é pelo uso que se faz. Eu percebi, analisando o material, que não existia um discurso social, principalmente no discurso da mídia, sobre as privatizações. No caso da Telebrás, houve uma oposição entre público e privado. Por isso, o título da tese acabou sendo “Privatizar para tornar público”. Porque foi a partir dessa identificação que o discurso ganhou a sua eficácia conectativa.
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IHU On-Line – A quem serviu a privatização das telecomunicações? Fernando Felício Pachi Filho – Na verdade, o que você tem, por conta desse movimento discursivo, é um grande apagamento das questões políticas das privatizações. Com isso, se reduz a discussão a uma prestação de serviços. Também diminui a importância de quem é a posse, ou seja, se pertence ao estado ou a grupos privados. Acaba existindo uma discussão reduzida a como privatizar e não a porque privatizar. Então, a privatização é tomada sempre como uma lógica inevitável dentro de nosso contexto histórico. Dentro de tal lógica inevitável, não há como discutir o que se deve ou não fazer, mas como fazer. Acaba existindo uma diminuição da discussão política. Quando ela se estabelece como verdade inevitável, existe uma lógica econômica que predomina. Desse modo, o político em si está em segundo plano porque os rumos da sociedade já estão definidos, não havendo, com isso, possibilidade de mudança. Toda a discussão não leva nunca em consideração o fato de que seja possível mudar esse cenário. O que acontece é justamente que a oposição a esses processos acaba sendo considerada e identificada com todos os valores do passado. Ela acaba, portanto, servindo de fato a todos os grupos que tinham interesses na privatização das telecomunicações.
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IHU On-Line – A privatização das telecomunicações gerou algum tipo de prejuízo para a soberania? Fernando Felício Pachi Filho – Essa questão da soberania acabou também sendo diminuída. No Brasil, ela não foi tratada dentro do universo de crenças colocado no discurso da privatização, aparecendo apenas como assunto da oposição. Quem falava em soberania era basicamente quem se opunha ao projeto de privatização, porque, dentro do discurso de quem era pró-privatização, a soberania não era colocada nem como assunto principal nem como assunto polêmico.
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IHU On-Line – Então, os discursos se mostraram positivos em relação à privatização? Fernando Felício Pachi Filho – Eu não gostaria de apresentá-los como discursos positivos. Você tem em torno da privatização toda uma construção discursiva de que ela é o melhor para o conjunto do país. O melhor para todos parece ser o privado.

IHU On-Line – A privatização influenciou de alguma forma para a democratização dos meios de comunicação? Fernando Felício Pachi Filho – Se você olhar hoje, de fato você teve um acesso muito ampliado, mas também porque o Estado fez grandes investimentos antes na infra-estrutura. O que existe, atualmente, é uma expansão de serviços, pois o Estado não investiu nisso, mas a infra-estrutura acabou sendo um investimento estatal. É mera conseqüência. O Brasil teve a chance, em algum momento, de atualizar sua tecnologia de telecomunicações. Isso é inegável, mesmo porque no mundo em que estamos hoje ninguém mais concebe ficar, por exemplo, sem internet. Isso foi necessário. Os capitais foram gerados a partir do investimento externo, o que nos faz ver que, de fato, o benefício foi ampliado. No entanto, a questão que também precisa ser analisada é o quanto nós também como nação investimos nisso.
Leia na íntegra em http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=13325

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