O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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terça-feira, 22 de abril de 2008

A amorosa e solidária jornada de lutas pela reforma agrária

Deu no Brasil de Fato:
Jornada não pode deixar de expor as dimensões da amorosidade e da solidariedade que tingem a vida do MST de vermelho, "por pulsar em demasia o coração"
22/04/08
Horácio Martins*
Ao se rememorar no 17 de abril o massacre de Eldorado de Carajás não se busca tão somente a permanente solidariedade às famílias dos trabalhadores e trabalhadoras sem terra assassinados, mutilados e feridos nesse episódio de anos atrás. Nesta data se reafirma emblematicamente que a luta social pela reforma agrária e por justiça social no campo continua viva e revivificada pelo desprendimento de milhões de famílias de trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra e de camponeses e camponesas com pouca terra.
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Os interesses do capital e, portanto, da sua reprodução na busca incessante do lucro, não são critérios capazes de balizar a necessidade de reforma agrária no país. Menos ainda o são os interesses e desejos dos grandes e reacionários empresários que constroem a hegemonia dessa classe social. A herança da 'grande fazenda' e a mentalidade (que se renova) discriminatória social, étnica e de gênero desses empresários travestidos de modernos apenas ressaltam as manchas éticas que neles permaneceu da cultura e economia escravagista onde o outro, seja o índio, o negro, o branco ou o mulato, foi e ainda permanece um objeto, por vezes elevado à categoria de mercadoria, passível de ser disposto conforme os interesses de seus donos.
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A luta pela garantia da vida e da sua reprodução com dignidade é antes de tudo um gesto de amor. As práticas das lutas sociais, ainda que endurecidas pelos desaforos daqueles que deveriam as compreender melhor, é a expressão extremada da amorosidade pelo viver, por essa paixão que a esperança alimenta e que a solidariedade reafirma a cada gesto social.
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Quando empresas privadas como a Vale, a Syngenta, a Monsanto, a Cargill, a Aracruz, a Votorantin, a HSBC, a Itaú, a Bradesco, a Rede Globo, entre tantas outras que se fazem emblemáticas do comportamento que defende a manutenção da desigualdade social, o atraso cultural das massas, a discriminação étnica e de gênero e a depredação do meio ambiente, quando essas empresas ensaiam criminalizar as ocupações, e reproduzem a ideologia de que esses trabalhadores e trabalhadoras rurais sem terra são terroristas, o que estão acentuando nas suas práticas empresariais e nos discursos políticos que querem fazer passar aos olhos da opinião pública como lições éticas - supostas no fundo de todas as razões que as iluminam, é que os interesses das classes populares são antagônicos aos interesses de classe da burguesia.
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Ora, isso é aviltante para o empresariado. Contraria a ordem capitalista neoliberal das coisas. Ao povo o salário, a bolsa-família ou a misericórdia. Aos ricos, aos empresários capitalistas, o lucro, os juros, a renda da terra, a apropriação privada do patrimônio público, a liberdade de degradação ambiental, o usufruto privado e comercial da natureza, o controle do saber científico e tecnológico, as patentes, a globalização da circulação das mercadorias e dos capitais. Enfim, o aumento continuado da renda e da riqueza nas mãos de poucas e grandes empresas e a manutenção da desigualdade social, então compreendida pela ideologia dominante como uma determinante histórica.
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Quem bom seria se o MST se esvaecesse no ar, porque já não mais seria socialmente necessário. Mas, enquanto isso não sucede desejo longa vida ao MST, e que a Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária não deixe de salientar as dimensões da amorosidade e da solidariedade que lhe tingem a vida de vermelho por pulsar em demasia o coração.
* Horácio Martins é engenheiro agrônomo, membro da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA) e assessor da Via Campesina
Leia na íntegra em http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/a-amorosa-e-solidaria-jornada-de-lutas-pela-reforma-agraria

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