O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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sexta-feira, 18 de abril de 2008

Estados Unidos: O pior da crise está por vir

Deu na Agência Carta Maior:
Os dois maiores temores atuais são a corrida bancária e uma queda ainda mais pronunciada do dólar. O montante da moeda em circulação nos Estados Unidos é mantido em segredo, sinal seguro de está sendo impresso dinheiro dia e noite e que cedo ou tarde a inflação vai disparar.
Johan Galtung*
TÓQUIO (IPS) – Dia a dia recebemos notícias que soam velhas sobre a crise econômica. E, como é habitual, essas notícias se referem à crise para os ricos e à "economia" como um sistema, mas nunca à miséria no fundo desse sistema. A esta crise dão nomes como “restrições ao crédito”, “falta de liquidez” ou “crise de investidores’. Naturalmente existe uma restrição de crédito e não há dinheiro disponível porque as pessoas da área financeira sabem melhor que ninguém quanto se tornou instável a economia e de que modo as dívidas, incluindo as hipotecas, são empacotadas, vendidas e revendidas até que a dívida original se torne irreconhecível.
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Por que fazem tudo isto? Por que são ardilosos e ambiciosos? Essa é parte da verdade, mas, também procuram garantir seus próprios interesses antes que venha a crise verdadeira. Por boas razões: as instituições financeiras já estão quebrando, os juros das dívidas não estão sendo pagos e a cadeia de instrumentos financeiros (incluindo os seguros) também está desmoronando. Então, por que não tentar obter algum reembolso enquanto existe algum dinheiro e muito poucas normas?
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O mesmo ocoreu nos Estados Unidos, com fundos privados ou federais, com a tentativa de cortar pela raiz uma profecia que por sua própria natureza contribui para não se concretizar. Não se pode saber se terão êxito, ou não. Deve-se dizer que a corrida bancária dos anos 30, não a crise econômica de 1929, esteve na raiz da depressão. O pior está por vir. O dinheiro retirado dos bancos pode se desvalorizar drasticamente, pelo menos por três razões:

Primeiro, o montante da moeda em circulação nos Estados Unidos é mantido em segredo, sinal seguro de está sendo impresso dinheiro dia e noite e que cedo ou tarde a inflação vai disparar.
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Terceiro. Essa dívida é sustentada por bônus norte-americanos em mãos de estrangeiros que estão ansiosos para se livrarem deles. Assim, o mercado se verá inundado de dólares que se agregarão aos recém-impressos, o que depreciará os bônus, os dólares e os Estados Unidos.

As exportações podem se beneficiar se a redução de preços for embolsada pelo comprador e não pelo comerciante. Mas, quanto atraente são atualmente os bens norte-americanos, especialmente os serviços, a qualquer custo? Em sua maioria, o que está subjacente nisto é a “especulação”. O que é isso. Uma expressão mais de uma economia enferma que leva a riqueza para os ricos, de modo que as pessoas morrem abaixo e nadam na liquidez acima. Eles usam a liquidez para obter mais dinheiro, mas, já que a economia real é lenta giram a economia financeira em bens para comprar e vender, não para o consumo, que valorizam rapidamente. Com essa grande liquidez extraída criam uma bolha destinada a se desfazer. Assim foi há alguns anos com as empresas.com e agora com as moradias.
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E o que ocorre? Os bancos que foram, inclusive, criminosos são recompensados com resgates financeiros, enquanto as pessoas, a maior parte delas honesta, são castigadas pela má ação dos bancos. Isto é abominável. Todo dinheiro deveria ser usado pelo menos para amortizar as hipotecas, beneficiando, dessa forma, tanto devedores quanto credores.
* Johan Galtung, professor de Estudos sobre a Paz e fundador da Transcend, rede global sobre paz e desenvolvimento. Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14941

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