O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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quarta-feira, 14 de maio de 2008

Marina, que transversalidade queremos?

Deu na Agência Carta Maior:
A alegria dos representantes do agronegócio indica um dos principais significados da saída de Marina Silva, do Ministério do Meio Ambiente. É o caso de repensar se queremos a hegemonia ou pretendemos deitar eternamente no berço esplêndido de um “Estado de Compromisso".
Gilson Caroni Filho


Duas características marcaram a passagem de Marina Silva pelo governo Lula: o espírito missionário e a lealdade pessoal ao presidente. Com a têmpera de quem superou cinco malárias, duas hepatites e uma leishmaniose, a herdeira política de Chico Mendes travou, nem sempre com sucesso, vários "empates" durante sua gestão no Ministério do Meio Ambiente. Perdeu, sem dúvida, mas jamais recuou.
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O aumento de poder da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), cujos pareceres sobre pesquisa e comercialização passaram a ter caráter vinculativo, foi a maior derrota da ministra que um dia acreditou ser possível - através da prática de ações transversais para a construção de sustentabilidade - “interferir nos projetos de desenvolvimento, das rodovias aos leilões de petróleo."
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O meio ambiente, como destacou o ambientalista Fran Araujo, deve ser um fator de primeira ordem na tomada de decisão sobre políticas de desenvolvimento econômico. Imaginá-lo como algo que deve ser protegido depois que impactos adversos tenham ocorrido é confundir bagres com índios, caboclos e pescadores dentro de um imaginário produtivista que peca pela pouca inteligência.
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Talvez a questão seja mais complexa do que imagina o presidente. Transversalidade, quando a comunidade internacional financia projetos para contrapartidas de responsabilidade sócio-ambiental, não é uma “palavrinha mágica". E a companheira Marina se foi porque a política dela não conseguiu se viabilizar ante as pressões do agronegócio, o velho latifúndio remodelado semântica e politicamente.

Se um momento histórico pode ser avaliado pela reação dos atores diretamente envolvidos, convém observar quem festeja a saída da ministra. Uma rápida leitura da Folha de S. Paulo não deixa margem para dúvidas:
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"Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos líderes da bancada ruralista na Câmara, lembrou que Marina dificultou os avanços na área tecnológica. "Os problemas que ela criou o próprio governo é que tem de explicar.”
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A alegria desses personagens dá a exata dimensão da tragédia. É o caso de repensar se queremos a hegemonia ou pretendemos deitar eternamente no berço esplêndido de um “Estado de Compromisso".

Marina deixou o governo com a mesma dignidade em que nele atuou. Sai do cargo com a certeza de que a aposta no governo Lula ainda é a melhor alternativa. Novos empates a esperam no Senado e deles, mais uma vez, ela não fugirá.
Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, e colaborador do Jornal do Brasil e Observatório da Imprensa.
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=3888

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