O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

O povo, a guerra e a paz de Portinari

11/09/2007
Do Blog Do Emir:

Neste ano, cumprem-se 40 anos da inauguração dos painéis Guerra e Paz, de Candido Portinari, no prédio da ONU, em Nova York. Quadros que não puderam ser inaugurados pelo pintor brasileiro, que teve sua entrada nos EUA impedida por negação de visto de parte do governo estadunidense, sob acusação de “comunista”. Até hoje os quadros estão no Conselho de Segurança, sem identificação, a ponto que os guias não sabem inidicar aos visitantes a autoria dos painéis. Este ano está prevista uma cerimônia que “inaugure” uma das obras primas do maior pintor brasileiro, 50 anos depois. Este artigo celebra os quadros, mais do que atuais, de Portinari.



O POVO, A GUERRA E A PAZ DE PORTINARI

Desde que Portinari pensou na idéia dos painéis de guerra e paz, muitos canhões dispararam, muitos acordos de paz foram obtidos. Mas o que aconteceu com esses dois temas cruciais que têm cruzado toda a história da humanidade, desde então?

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Em 1967 o Che se referia a esse período:

"Já se cumpriram vinte e um anos desde o fim da última conflagração mundial e diversas publicações, em infinidade de idiomas, celebram o acontecimento simbolizado pela derrota do Japão. Há um clima de aparente otimismo em muitos setores dos distintos campos em que o campo se divide.”

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Enquanto Portinari escolhia o tema dos seus painéis e começava a ideá-los, segundo o Che:

Na Coréia, “depois de anos de luta feroz, a parte norte do país ficou submetida à mais horrível devastação que figure nos anais da guerra moderna; devastada por bombas; sem fábricas, escolas ou hospitas; sem nenhum tipo de casa para abrigar a dez milhões de habitantes.”

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E concluia o Che:

“Tudo parece indicar que a paz, essa paz precária a que se deu esse nome, só porque não se produziu nenhuma conflagração de caráter mundial, está outra vez em perigo de ser rompida diante de qualquer passo irreversível e inaceitável, dado pelos estadunidenses.”

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Ficam claras, nesse cenário, as razões que levaram Portinari a - convidado, em 1950, a fazer os painéis -, tivesse escolhido o tema da guerra e da paz. Consciente politicamente do período que a humanidade passava a enfrentar, apesar do fim do conflito mundial, um ano antes, ele escrevia:

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Vítima, ele também, entre outros, da repressão advinda dos inícios da “guerra fria” - quando os partidos comunistas foram ilegalizados, conforme a linha ditada por Washington -, Portrinari buscou, em 1948, refúgio no Uruguai. Não faltava a Portinari a consciência do vínculo entre seu destino individual e os maiores enfrentamentos do novo período histórico, que fazia enfrentar a paz e a guerra.

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O historiador britânico Eric Hobsbawn, depois de analisar as guerras no século XXI, se arrisca a prever:

“...no século XXI, a guerra não será tão sangrenta como foi no século XX, mas a violência armada, que dará lugar a um grau de sofrimento e umas perdas desproporcionais, continuará onipresente e será um mal endêmico e epidêmico por momentos, em grande parte do mundo. Fica longe a idéia de um século de paz.”

Assim, os painéis de guerra e paz de Portinari continuam dramaticamente atuais no século XXI. Não apenas seus riscos, mas principamente as caras, as expressões humanas dos seus indizíveis sofrimentos de mulheres chorando, com filhos mortos, ajoealhadas diante dos seus corpos. As caras do povo – vítima da guerra e sujeito da paz -, que ninguem soube retratar melhor do que Portinari - o pintor da guerra e da paz, o pintor do povo.

Postado por Emir Sader às 10:30
Leia na íntegra em http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=136

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