O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Quem não quer democracia?

Deu no Correio do Brasil:
Por Gilson Caroni Filho - do Rio de Janeiro

Sábado, 15 de setembro de 2007. Uma data para ficar registrada. O embrião de um grande salto. Uma manifestação que ocupou a frente principal do jornal Folha de S.Paulo, no centro da capital paulista, marcou a criação do Movimento dos Sem Mídia (MSM). Faixas usadas na manifestação continham dizeres como: "Quero que a mídia fale, mas não me cale"; e "Imprensa plural, país igual". Algo impensável para o consenso estabelecido no campo jornalístico alguns anos antes. Um breve interregno em que editores se confraternizavam pelo "bom jornalismo" que julgavam praticar. E não lhes faltavam aplausos de conhecidos "observadores da imprensa". Como vimos, esse clima não demoraria muito, mas enquanto perdurou foi intenso.

Que toda unanimidade é burra já sabíamos desde Nélson Rodrigues. Que sua arquitetura requer a rápida desconstrução do passado e mergulho açodado em um jogo tolo de aparências continuamos a aprender no curso de uma campanha eleitoral que, para a grande imprensa, nunca terminará até que os tucanos voltem ao poder.
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Bastaram a eleição de Lula, em 2002, e as derrotas subseqüentes das velhas oligarquias na Venezuela, Bolívia, Equador para a reluzente "carruagem democrática” regredir ao seu estágio de abóbora das forças mais reacionárias do continente. E o que era deslocamento sutil dentro dos marcos do bloco histórico se fez ataque sem tréguas contra o governo eleito, sem qualquer refinamento de edição. O noticiário editorializado, os conhecidos direcionamentos de títulos, e as coberturas viciadas mostraram à cidadania a urgência de resgatar a política do espetáculo editado. E era isso que pulsava na calçada da Alameda Barão de Limeira.
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De sustentáculo da ditadura, a TV Globo se transformou, como que por encanto, em fiadora da lisura do processo democrático. Bombas que sumiram de uma edição para a outra (Riocentro, 1981), censura ao movimento por eleições diretas para a Presidência da República (1985), edição de debates eleitorais para favorecer o candidato da direita (1989), expurgo de notícias que pudessem comprometer a candidatura à reeleição de FHC (1998) eram fatos que deveriam ser relevados. O momento, para jornalistas experientes, só comportava elogios. Todos exultavam a própria fantasia transformada em axioma: a mídia era, até 2006, a vencedora de qualquer pleito. E a democracia definida como festa cíclica, com dia e hora para acabar. Uma ironia histórica que insistia em eternizar o baile da ilha fiscal. As eternas bodas entre a classe dominante e sua imprensa confiável.
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A grande imprensa é, como afirmamos, em nossos últimos artigos para Carta Maior um campo dominado por forças que só compreendem o jogo político quando restrito a pactos oligárquicos ou transições por alto. Algo a ser combatido quando ameaça se ampliar. Para o êxito do empreendimento é necessário, paradoxalmente, despolitizar o texto, em procedimento registrado por Bourdieu:
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Trata-se de, à custa do sacrifício de uma análise diacrônica, registrar o fazer político em termos pontuais e sem qualquer conexão com a historicidade do local em que ocorre ou com aspectos caros à vida do leitor/telespectador. Teríamos o primeiro passo para o que, à falta de melhor termo, chamaremos aqui de o "eterno sincrônico". Um presente que se autodefine, positivado e decantado de qualquer promessa utópica. Uma farsa vendida como bem informar em nome do "interesse público".
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Nada mais sem fundamentação teórica que as palavras acima. Um olhar ligeiro sobre a conjuntura política mostra a impostura de afirmações que não encontram o mais leve respaldo empírico na história recente. Mas uma perguntinha inconveniente surge no cipoal da insensatez. Quem, através de cobertura negativa, tem desgastado a imagem do parlamento? Quem detém o monopólio da produção simbólica do desprestígio? Quem, em suma, quer libertar a besta fera? Respostas para as redações. E, em se tratando do eixo Rio-São Paulo, nunca esquecendo a RBS, no sul do país, qualquer uma será excelente destinatária.
Leia na íntegra em http://www.correiodobrasil.com.br/noticia.asp?c=128016

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