O verdadeiro patriotismo é o que concilia a pátria com a humanidade.
Joaquim Nabuco, 1849-1910

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Esquerda e direita na América Latina

Deu no Blog do Emir:
Como julgar um governo hoje na América Latina? Como não se julgam as pessoas pelo que elas dizemque são, não se deve julgar um governo pelo que ele diz que é, nem pelo que se diz que ele é, nemtampouco pelo que gostaríamos que ele fosse.
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No período histórico atual, o poder dominante se assenta sobre a hegemonia imperialnorte-americana e o modelo neoliberal. Cada governo deve ser julgado pela medida em que seenfrente a elas e aja concretamente na construção de alternativas que as superem.

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Nesta lista estão os governos do México, do Chile,da Costa Rica e do Peru – que, recentemente,decidiram essa adesão – e da Colômbia – quepleiteia o tratado de livre-comércio com os EUA,mas teve sua solicitação rejeitada pela oposiçãodos democratas no Congresso norte-americano.

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Essa é linha divisória na América Latina e oCaribe, aquela que divide governos que aderiramaos tratados de livre-comércio, se articulamdiretamente com os EUA, se distanciam dos outrospaíses do continente e hipotecam o futuro dosseus países, renunciando à soberania para definirtemas fundamentais do país.

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Isto é possível pelas mudanças nas políticasinternacionais desses países em relação às deseus antecessores, assim como por flexibilizaçõesdo modelo econômico, o que lhes permitedesenvolver políticas sociais redistributivas,com revigoramento do Estado em alguns aspectos,assim como aumento do trabalho formal – mesmo semajoritariamente com empregos de baixa qualificação –, elevação do poder aquisitivo dos saláriose expansão do mercado interno de consumo, entre outros aspectos positivos.

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Tudo isso, em detrimento da democratização econômica e social, da mobilização e da consciênciapopular, da democratização da formação da opinião pública, de políticas econômicas centradas noconsumo interno de caráter popular, na criação de empregos, na diminuição da jornada de trabalho,na reforma agrária, no fortalecimento da economia camponesa, na segurança alimentar, na regulaçãoda circulação do capital financeiro, no apoio às pequenas e medias empresas.

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Em outro grupo se situam países que romperam ou nunca haviam aderido ao neoliberalismo – comoCuba – ou que estão em processo de ruptura com o neoliberalismo – como a Venezuela, a Bolívia, oEquador –, que, além de participarem integralmente nos processos de integração citados, puderamcriar um espaço superior de integração – a Alba –, em que cada país dá o que tem e recebe o quenecessita, no melhor exemplo alternativo ao “livre-comércio” da OMC, como exemplo do que o FSMchama de “comércio justo”, um embrião do “outro mundo possível”.

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A luta central deve ser pela revogação dos tratados de livre-comércio, mediante mobilizações populares que reivindiquem consultas populares e proponham alternativas de integração regionalcomo opção popular e democrática, recuperando a soberania dos Estados e a participação no Mercosule na Alba.

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O objetivo é reconstruir a unidade da esquerda, buscando evitar tanto a subordinação ao governo,assumindo e justificando tudo o que ele faça, quanto o erro oposto, o de perder a visão global doquadro política – incluindo centralmente a direita nacional, regional e o imperialismo – e exerceroposição frontal a tudo o que o governo faça, até mesmo a posições progressistas – como as defortalecimento do papel do Estado, de integração regional, de resistência às políticas de Guerrados EUA – e confundir-se, assim, com as posições da direita.

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Daí a necessidade das mais amplas formas de mobilização, consciência política e organização,assim como de crítica construtiva, desde dentro desses processos. Nunca somar-se, conscientementeou não, às posições da direita, sempre buscar fortalecer o processo, atuando desde o seu interior.Nunca a América Latina teve, simultaneamente, um número tão grande, diverso e expressivo degovernos progressistas. Tem que saber zelar pela unidade interna da esquerda, pelo enfrentamento àhegemonia imperial dos EUA e ao neoliberalismo, e trabalhar na perspectiva de construção de umaAmérica Latina pós-neoliberal.

Postado por Emir Sader às 14:12

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